terça-feira, 31 de julho de 2018

CONSCIÊNCIA E VIDA


CONSCIÊNCIA E VIDA[1]
INCURSÃO NA CONSCIÊNCIA
Remontando-se à origem da vida nos seus mais remotos passos, encontra-se a presença do psiquismo originado em Deus, aglutinando moléculas e estabelecendo a ordem que se consubstanciou na realidade do ser pensante.
Etapa a etapa, através dos vários reinos, essa consciência embrionária desdobrou os germes da lucidez latente até ganhar o discernimento vasto, plenificador.
À medida que a complexidade de valores se torna unificada na sua atualidade, surgem, no comportamento do indivíduo, por atavismo das experiências anteriores, os conflitos e os distúrbios que respondem na área psicológica pelos muitos problemas que o afligem.
Faz-se então indispensável, ao adquirir-se o conhecimento de si, o aprofundamento da busca da sua realidade, deslindando os complicados mecanismos viciosos que impedem a marcha ascencional e não o levam à realização total.
Os impulsos orgânicos propelem sempre para a comodidade, a satisfação dos instintos, o imediatismo do prazer, a prejuízo da meta essencial: a libertação dos processos determinantes dos renascimentos carnais, que são as paixões primitivas.
A atração pelo mundo exterior conduz, por sua vez, a inumeráveis distonias emocionais, que atormentam e desvairam o indivíduo, afugentando-o de si mesmo num rumo difícil de ser mantido.
Somente através de um grande empenho da vontade é possível olhar para dentro e pesquisar as possibilidades disponíveis para melhor identificar o que fazer, quando e como realizá-lo.
Trata-se, essa tarefa, de um desafio que exige intenção lúcida até criar o hábito da interiorização, partindo da reflexão para o mergulho no oceano do Si, daí retirando as pérolas preciosas da harmonia e da plenitude, indispensáveis à vivência real de ser pensante.
A mente não adestrada nessa busca hesita e retrai-se se impedindo o descobrimento dos recursos inimagináveis, que esperam para ser desvelados.
As tendências ao relaxamento e ao menor esforço, inerentes ao processo da evolução pelo trânsito nas fases anteriores, dificultam os procedimentos iluminativos imprescindíveis.
Na excursão ao mundo objetivo o ser adquire conhecimentos intelectuais e experiências vivas das realizações humanas; no entanto, apenas no esforço de interiorização conseguirá identificar-se com os objetivos essenciais da sua realidade, harmonizando-se.
Adquirir a consciência plena da finalidade da existência na Terra constitui a meta máxima da luta inteligente do ser.
O Evangelho refere que Jesus asseverou, conforme as anotações de Mateus 6: 22-23, - “A candeia do corpo são os olhos; de sorte que, se os teus olhos forem bons, todo teu corpo terá luz; se, porém, os teus olhos forem maus, o teu corpo será tenebroso. Se, portanto, a luz que em ti há são trevas, quão grandes são tais trevas".
Nessa figura admirável, o Psicoterapeuta por excelência estabeleceu a essencialidade da vida nos olhos, encarregados da visão, a fim de que, despretensiosos dos aparatos transitórios do mundo, mergulhem na luz interior, de modo que tudo se faça claridade.
O reino da luz é interno, sendo imperioso penetrá-lo, para que as trevas da ignorância não predominem densas e perturbadoras.
Os olhos espirituais - a mente lúcida - são a chama que desce ao abismo da individualidade para iluminar os meandros sombrios das experiências passadas, que deixaram marcas psicológicas profundas, ora ressumando de forma negativa no comportamento do ser.
Insatisfação, angústia, fixações perturbadoras são o saldo das vivências perniciosas, cujas ações deletérias não foram digeridas pela consciência e permanecem pesando--lhe na economia emocional.
Manifestam-se como irritabilidade, mal-estar para consigo mesmo, desinteresse pela vida, ideias autodestrutivas, em mecanismos de doentia expressão, formando quadros psicossomáticos degenerativos.
Quaisquer terapias, para fazê-los cessar, terão que alcançar-lhes as raízes, a fim de extirpá-las, liberando os núcleos lesados do psiquismo e restaurando-lhes a harmonia vibratória ora afetada.
Trata-se de uma experiência urgente quão desagradável nas primeiras etapas, porquanto, a exemplo de outros exercícios físicos, causam cansaço e desânimo, resultantes da falta desse hábito salutar, até que, vencida essa primeira fase, comecem a produzir leveza e rapidez de raciocínio, lucidez espiritual e inefável bem-estar.
Cada vez que é vencido um patamar e superados os impedimentos castradores e de culpa, mais amplas possibilidades se apresentam, liberando o indivíduo dos conflitos habituais e equipando-o de legítimas alegrias. A vida se lhe torna ideal, e a morte não se afigura desagradável, por vivenciá-la nos estados de meditação, sentindo-se o mesmo no corpo ou fora dele.
Interiorizar-se cada vez mais, sem perder o contato com o mundo físico e social, deve ser a proposta equilibrada de quem deseja realizar-se no encontro com os valores legítimos da existência.
Podemos considerar que este tentame leva o experimentador do mundo irreal - o físico - para o real - o transpessoal - gerador e causal de todas as coisas.
CONSCIÊNCIA RESPONSÁVEL
Responsabilidade, em bom vernáculo, é a qualidade ou condição de responsável. O ser responsável, por extensão, é aquele que se desincumbe fielmente dos deveres e encargos que lhe são conferidos, que responde pelos próprios atos ou pelos de outrem, tornando-se de caráter moral, quando defende os valores éticos pertencentes aos outros e à vida.
A responsabilidade pode ser deferida, desde quando é delegada por uma autoridade ou lei, a fim de ser cumprido o estatuto que estabelece e caracteriza os valores e compromissos a serem considerados.
Essa é a mais comum, encontrada em toda parte.
Além dela, existe aquela que é conquistada pelo amadurecimento psicológico, pela conscientização inerente às experiências resultantes da evolução.
Muitas vezes, a responsabilidade que se torna atributo do caráter moral do indivíduo faz-se grave empecilho ao processo de engrandecimento do ser, caso o seu portador se atenha à letra ou ao limite do estabelecido, sem examinar a necessidade que lhe é apresentada, do ponto de vista da compreensão.
Graças à conceituação de responsabilidade, criminosos de guerra e servidores rudes buscam passar a imagem de inocência ante a crueldade que aplicaram, informando que cumpriam ordens na desincumbência das infelizes tarefas e que estavam sujeitos a imposições mais altas que deveriam atender.
Outros, responsáveis por massacres cruéis e atitudes agressivas, refugiam-se na transferência de responsabilidade, elucidando que deveriam agir conforme o fizeram, ou sofreriam as consequências da desobediência.
Nas instituições militares a responsabilidade cega o indivíduo, de modo a obedecer sem raciocinar e a cumprir ordem sem discuti-las ou justificá-las.
Diz-se que, aqueles que se lhes submetem, tornam-se pessoas responsáveis.
Nesse capítulo incluiríamos os tímidos, os medrosos, os pusilânimes, os aproveitadores, todos são necessariamente portadores de responsabilidade.
Dessa forma, seria inculpado, porque responsável, zeloso pelas suas funções e deveres, Pilatos, que condenou Jesus à morte, embora O soubesse inocente.
Posto em cheque pela astúcia dos doutores judeus, de que Jesus dizia-se rei e ele representava o imperador, que era o seu rei, não O crucificar seria crime de traição em relação ao seu representado, com esse sofisma levando o pusilânime, irresponsavelmente, a mandar crucificar o Justo, lavando as mãos para liberar-se da culpa.
Os sicários dos campos de concentração e os belicosos, sistemáticos fomentadores de guerras, que as fazem com crueldade, assim procedem, dizem, para se desincumbir das determinações que recebem dos seus chefes e comandantes.
A responsabilidade, p ara ser verdadeira, não pode compactuar com a delinquência, nem ignorar os mínimos deveres de respeito para com a vida e para com as demais criaturas.
A responsabilidade, que resulta do amadurecimento psicológico e que é adquirida pela vivência das experiências humanas, harmoniza o dever com a compreensão das necessidades dos outros, conciliando o cumprimento das atividades com as circunstâncias nas quais se apresentam.
Quem assim age, responsavelmente, torna-se pessoa-ponte, ao invés de assumir a postura de ser obstáculo, gerando dificuldades e perturbações.
Nesse sentido, a visão do ser imortal contribui grandemente para entender a responsabilidade que se tem no mundo, porque é deferida desde o Mais Alto, como redarguiu Jesus ao seu inquisidor, que a tinha, porque lhe fora dada..., e poderia perdê-la, qual ocorreu pouco depois, ao ser destituído da função, e mais tarde, quando despojado do corpo pela morte...
Para a aquisição da responsabilidade consciente os valores eternos do Espírito são indispensáveis, de modo a serem absorvidos e vivenciados, ultrapassando os limites das determinações humanas de horizontes estreitos e curtos.
Considerando-se a existência física como sendo um breve período de aprendizagem, na larga faixa das sucessivas reencarnações, o ser adiciona ao conceito da responsabilidade os contributos do amor, dessa forma identificando os melhores meios para agir, quando pode e deve — com consciência - não se precipitando a tomar decisão, quando deve, mas não pode, ou quando pode, mas não deve – responsabilidade inconsciente.
CONSCIÊNCIA E SOFRIMENTO
O desabrochar da consciência é um trabalho lento e contínuo, que constitui o desafio do processo da evolução.
Inscrevendo no seu âmago a Lei de Deus, desenvolve-se de dentro para fora a esforço da vontade concentrada, como meta essencial da vida.
Da mesma forma que, para atingir a finalidade, a semente deve morrer para libertar o vegetal que lhe dorme em latência, a consciência rompe a obscuridade na qual se encontra (a inconsciência), para conseguir a plenitude, a potencialidade do Si espiritual a que se destina.
Nesse desenvolvimento inevitável - que se dá durante a existência física nas várias etapas reencarnacionistas – o sofrimento apresenta-se como o meio natural da ocorrência evolutiva, constituindo o processo de maturação e de libertação do Espírito, o ser imortal. Enquanto esse fenômeno não ocorrer, o indivíduo permanecerá mergulhado em um estado de consciência coletiva amorfa, perdido no emaranhado dos instintos primitivos, das paixões primárias, em nível de sono sem sonhos, sem auto-identificação, sem conhecimento da sua realidade espiritual.
Para que possa refletir a luz, a gema experimenta a lapidação, que a princípio lhe arrebenta a aspereza, facultando-lhe a liberação da ganga até o âmago onde jaz toda pureza e esplendor.
Em face à sensibilidade de que é constituído, o ser humano também experimenta a purificação mediante a dor, que gera os sofrimentos psicológicos, físicos e morais, que o propelem ao aceleramento do esforço de sublimação na qual conseguirá a plenificação.
Diante da ignorância da necessidade de evoluir (estágio de adormecimento da consciência) o sofrimento se lhe apresenta agressivo e brutal, gerando revolta e alucinação.
A medida que aprimora a sensibilidade, ele se faz profundo, sutil, fomentador de crescimento e transformação interior.
Mergulhado na sombra da desidentificação de si mesmo, o ser (embrutecido) não sabe eleger as aspirações éticas e estéticas para a felicidade, perturbando-se na contínua busca do atendimento às necessidades fisiológicas (sensações) em detrimento das emoções psicológicas, que o capacitam para a conquista do belo, do nobre e do bom.
O despertar da consciência, saindo da obscuridade, do amálgama do coletivo, para a individuação, é acompanhado pelo sofrimento, qual parto que proporciona o desabrochar da vida, porém, sob o guante ainda inevitável da dor.
Nesse mecanismo da evolução, cada ato gera um efeito equivalente, que interage em novos cometimentos de que ninguém se pode eximir.
Por ser parte do grupo social, no qual se movimenta e se desenvolve, influencia-o, querendo ou não, e com este produzindo um envolvimento coletivo, que responde pelo seu estacionamento ou progresso, conforme favorável ou perturbador seja o conteúdo da sua atividade.
Como efeito, temos os sofrimentos sociais, dos grupamentos humanos que transitam na mesma faixa de aspirações e interesses.
A reencarnação é lei da vida, impositiva, inevitável, recurso de superior qualidade para o desenvolvimento do Espírito, esse arquiteto de si mesmo e do seu destino.
Dispondo da livre opção ou arbítrio, ele trabalha em favor da rápida ou lenta ascensão, conforme o comportamento a que se entrega.
Como luz nos refolhos da consciência adormecida o que deve ou não fazer, cabe-lhe aplicar com correção os impulsos que o propelem ao avanço de acordo com o que deve ou não realizar, de forma a conseguir a harmonia (ausência de culpa). Toda vez que se equivoca ou propositadamente erra, repete a experiência até corrigi-la (provação) e, se insiste teimosamente no desacerto, expunge-o em mecanismos de dor sem alternativa ou escolha (expiação).
O sofrimento estrutura-se, portanto, nos painéis da consciência, conforme o nível ou patamar de lucidez em que se expressa. Do asselvajado, automático, ao martírio por abnegação; desde o grosseiro e instintivo ao profundo, racional, as tecelagens da noção de responsabilidade trabalham a culpa, que imprime o imperativo da reparação como recurso inalienável de recuperação.
Instalam-se então os conflitos - quando há consciência de culpa - que se transferem de uma para outra reencarnação, dando surgimento aos distúrbios psicológicos que aturdem e infelicitam; ou desarticulam as sutis engrenagens do corpo perispiritual - o modelo organizador biológico - propiciando as anomalias congênitas - físicas e psíquicas -, as enfermidades mutiladoras; ou se instalam no ser profundo, favorecendo com as rudes aflições morais, sociais, financeiras, em carmas perturbadores, que dilaceram com severidade o ser.
Nesse complexo de acontecimentos, o amor é o antídoto eficaz para todo sofrimento, prevenindo-o, diminuindo-o ou mudando-lhe a estrutura.
A fatalidade da Lei Divina é a perfeição do Espírito.
Alcançá-la é a proposta da vida. Como conseguir é a opção de cada qual.
O amor é o sentimento que dimana de Deus e O vincula à criatura, aproximando-a ou distanciando-a de acordo com a resposta que der a esse impulso grandioso e sublime.
Nas suas manifestações iniciais, o amor confunde-se com os desejos e as paixões, tornando-se fisiológico ou do queixo para baixo. É egoístico, atormentante, imprevisível, apaixonado...
A medida que a consciência se desenvolve, sem que abandone as necessidades, torna-se psicológico - do queixo para cima -, mantendo os idealismos, diminuindo a posse, os arrebatamentos, e superando os limites egoístas. Lentamente ascende à escala superior, tornando-se humanitarista, libertador, altruísta...
Graças à sua ingerência nas ações, o que favorece o progresso constitui-lhe recurso para alterar as paisagens cármicas do Espírito, modificando os painéis dos sofrimentos futuros - revenindo-os, diminuindo-os ou liberando-os - conforme a intensidade da sua atuação. Entretanto, à medida que o ser desperta para a sua realidade interior, o sofrimento muda de expressão e pode tornar-se um instrumento do próprio amor, ao invés de manter o caráter reparador, qual ocorreu com Jesus Cristo, Francisco de Assis e outros que, sem quaisquer débitos a ressarcir, aceitaram-no, a fim de ensinarem coragem, resignação e valor moral...
Uma atitude mental afável, amorosa é a melhor receita para o sofrimento, porquanto rearmoniza a energia espiritual que vitaliza o corpo, e desconecta as engrenagens das doenças, que nelas se instalam como efeito dos distúrbios da consciência de culpa, defluente dos atos pretéritos.
A postura amorosa desperta a consciência de si mesmo, anulando os fluidos perniciosos que abrem campo à instalação das doenças incuráveis, portanto, dos sofrimentos dilaceradores.
A energia gerada por uma consciência em paz, favorável ao desdobramento do sentimento de amor profundo, é responsável pela liberação do sofrimento. Mesmo que, momentaneamente,as suas causas permaneçam, ele se torna um estímulo positivo para maior crescimento íntimo, não se fazendo afligente, embora um espinho na carne, como asseverou o apóstolo Paulo, advertindo e guiando os movimentos na direção da meta final.
Desse modo, diante dos carmas extremos, o amor é o recurso exato para trabalhar a Lei de Compensação ou de Causa e Efeito, alterando-a para melhor ou dando-lhe o sentido da felicidade.
EXAME DO SOFRIMENTO
A sensibilidade à dor depende do grau de evolução do ser, do seu nível de consciência.
À medida que progride, que sai do mecanismo dos fenômenos e adquire responsabilidade como decorrência da conscientização da sua realidade, ele se torna mais perceptivo ao sofrimento, embora, simultaneamente, mais resistente.
Os desgastes biológicos decorrentes da entropia, naturais no processo da vida, que exigem a consumpção da energia, não o atormentam, quando ocorrem nas faixas primárias (das sensações), passando a afligi-lo, apesar da grande resignação de que se faz portador, na área moral, portanto, na dos sentimentos profundos (das emoções).
Emergindo dos automatismos (da inconsciência), adquire mais amplas percepções e lucidez (consciência), despertando para as aspirações elevadas da altivez emocional e da abnegação pelo serviço do bem, com natural renúncia ao egoísmo, em favor do próximo (individual), como do grupo social no qual se movimenta.
Mantendo a sua individualidade intacta, percebe a necessidade de integrar-se harmonicamente na Unidade Universal, pelo que trabalha com afã, descobrindo que os seus acertos e equívocos produzem ressonância na Consciência Cósmica, da qual procede e para cuja harmonia ruma de retorno.
A consciência lúcida equipa-o de instrumentos que o auxiliam na superação da amargura, do desespero, da infelicidade, em face à compreensão dos objetivos espirituais da sua existência, por enquanto nas faixas mais ásperas do mecanismo evolutivo.
O sofrimento tem raízes em acontecimentos infelizes anteriores, cuja intensidade se vincula à gravidade daqueles.
Por isso é inevitável. Gerada a causa, estão disparados os efeitos que alcançarão o infrator, convidando-o à reparação, que ocorre quando são detidos os fatores da perturbação.
Os acontecimentos decorrentes das ações degeneradoras também compreendem os sentimentos acrisolados, as emoções cultivadas e os pensamentos habituais, que se expressam em forma de impulsos contínuos definidores da personalidade.
A vida mental e emocional é a desencadeadora dos fenômenos ativos, consubstanciados nessas ocorrências.
É importante preservar-se a fonte gerando experiências salutares, porquanto o corpo físico, tornando-se automático às influências, executa as pressões originais de que se faz objeto.
Quando o arqueiro libera a flecha, já não pode deter-lhe o destino. Assim também ocorre com as ideias emocionalmente comprometidas, ante a vontade fraca que as direciona e liberta...
O corpo é veículo dúctil ao pensamento, sujeito aos sentimentos e vítima das emoções. De acordo com a qualidade deles passa a ter a sua organização condicionada, e o sofrimento é-lhe sempre a consequência das expressões errôneas.
Os sentimentos, as emoções e os pensamentos constituem a psique do ser, onde o Espírito encontra o seu centro de manifestação até o momento da sua conscientização plena.
Desse modo, a organização molecular do corpo somático é maleável à psique, que a aciona e conduz.
Por isso, cada indivíduo é responsável pela aparelhagem orgânica de que se serve, tornando-se cocriador com Deus, na elaboração dos equipamentos internos e externos para a sua evolução através do veículo carnal.
A cada momento se está construindo, corrigindo ou destruindo o corpo, de acordo com a direção aplicada à psique.
Não raro, os efeitos se fazem demorados; porém, nunca deixam de produzir-se. Tais são os casos dos ditadores, dos exploradores dos seres e dos povos, dos viciados de variado tipo que parecem progredir, quanto mais se faz impiedosos, promíscuos e venais... No entanto, nunca escapam das malhas das tragédias que os enredam e consomem.
A sua história de torpezas e venalidades, culmina em dolorosos embates com a consciência de culpa, que os alija do mundo ou que os leva a ser expulsos por aqueles que antes desprezavam, pisoteando-os selvagemente.
Graças a essa psique — responsável pelos carmas — a hereditariedade encontra-se submetida à Lei da Compensação, unindo os homens conforme as suas simpatias e antipatias, afinidades e desarmonias, que os vinculam em grupos reencarnados com características semelhantes, impressas nos genes e cromossomas pela necessidade da evolução.
No fundo, cada um é herdeiro de si mesmo, embora carregando implementos condicionadores, que procedem dos genitores e ancestrais através das leis genéticas.
Desse modo, cada ser traz impresso nas tecelagens sutis da alma, que as transfere para os arquipélagos celulares do organismo, as doenças que lhe são necessárias para o reequilíbrio emocional, as limitações e facilidades morais para a recomposição espiritual, os condicionamentos, as tendências e aptidões para a reabilitação da consciência, reparando a ordem que foi perturbada pelo seu descaso, abuso ou prepotência.
Manifestam-se, portanto, os efeitos como enfermidades cármicas, coletivas ou individuais, que periodicamente o assaltam, exigindo refazimento do equilíbrio, restauração da harmonia.
Esta tarefa deverá começar na sublimação dos sentimentos, na qualificação superior das emoções, na evolução moral dos pensamentos, até tornar-se um condicionamento correto que exteriorize ações equilibradas em consonância com a ética do bem, do dever e do progresso.
Da mesma forma que o impulso destrutivo e perturbador procede de dentro do ser para fora, o de natureza edificante, restauradora, vem da mesma nascente, então orientada corretamente.
O esforço de transformação da natureza inferior para melhor (emoções enobrecidas), alonga-se em um trabalho paciente, modelador do novo ser, que enfrentará os seus carmas consciente de si mesmo, responsavelmente, sem as reações destrutivas, mas com as ações renovadoras.
É o caso das enfermidades irreversíveis, que se modificam e desaparecem às vezes, quando, quem as padece, enfrenta o infortúnio e coopera para sua superação.
Porque ainda não sabe identificar (ou não quer) o seu estágio de evolução, para bem compreender as necessidades e saber canalizar as energias, o indivíduo demora-se infrutiferamente nas faixas primárias do sofrimento, quando lhe cumpre ascender, empreendendo o esforço libertário que o leva à saúde integral, à felicidade.
Os princípios que regem o macrocosmo são os mesmos para o microcosmo, e o homem é a manifestação da vida, sintetizando as glórias e as imperfeições do processo da evolução, que lhe cumpre desenvolver para atingir o ápice da destinação a que está submetido.




[1] Livro: Autodescobrimento – Uma Busca Interior / pelo Espírito Joanna de Ângelis, psicografia de Divaldo Franco, Cap. 3, Ed LEAL


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