A auto crueldade é, sem dúvida, a mais
dissimulada de todas as opressões.
De todas as violências que padecemos as que fazemos contra nós mesmos
são as que mais nos fazem sofrer. Nessa crueldade, não se derrama sangue, somente se constroem cercas e
cercas, que passam a nos sufocar e a nos afligir por dentro.
Montaigne, célebre filósofo francês do século XVI, escreveu: “A covardia é mãe da crueldade”. Realmente, é assim
que se inicia nossa auto agressão. Em razão de nossa fragilidade interior
e de nossos sentimentos de inferioridade, aparece o temor, que nos impede de
expressar nossas mais íntimas convicções, dificultando-nos falar, pensar e agir
com espontaneidade ou descontração.
A auto crueldade é, sem dúvida, a mais dissimulada de todas as opressões.
Além de vir adornada de fictícias virtudes, recebe também os aplausos e as
considerações de muitas pessoas, mas, mesmo assim, continua delimitando e
esmagando brutalmente. Essa atmosfera virtuosa que envolve os que buscam ser
sempre admirados e aceitos deve-se
ao papel que representam incessantemente de satisfazer e de contentar a todos,
em quaisquer circunstâncias. Buscam contínuos elogios, colecionando
reverências e sorrisos forçados, mas pagam por isso um preço muito alto: vivem distantes de si mesmos.
A causa básica do “auto tormento” consiste em algo muito simples: viver a
própria vida nos termos estabelecidos pela aprovação alheia.
A timidez pode ser considerada
uma auto crueldade. O acanhado vigia-se e, ao
mesmo tempo, vigia os outros, vivendo numa auto prisão. Em razão de ser aceito
por todos, ele não defende sua vontade, mas sim a vontade das pessoas. Pensa que há algo de errado com ele, não desenvolve a autoconfiança
e, continuamente, se esconde por inibição.
Pensar e agir, defendendo nosso íntimo e nossos direitos inatos e,
definindo nossas perspectivas pessoais, sem subtrair os direitos dos outros, é a imunização contra a auto crueldade.
Para vivermos bem com nós mesmos, é preciso estabelecer padrões de autorrespeito,
aprendendo a dizer “não sei”,
“não compreendo”, “não concordo” e “não me importo”.
As criaturas que procuram bajulação e exaltação martirizam-se para não
cometer erros, pois a censura, a depreciação e a
desestima é o que mais as atemorizam. Esquecem-se de que os erros são
significativas formas de aprendizagem das coisas. É muito compreensível
faltarmos à lógica numa tomada de decisão, ou mudamos de ideia no meio do
caminho; no entanto, quando errarmos, será preciso que assumamos a
responsabilidade pelos nossos desencontros e desacertos e apreendamos o
ensinamento da lição vivenciada.
Quem busca consenso, crédito e popularidade não julgam seus
comportamentos por si mesmo, mas procura, ansiosamente, as palmas dos outros, oferecendo inúmeras razões para que suas atitudes
sejam totalmente consideradas.
Vivendo e seguindo seus próprios passos, poderá inicialmente encontrar
dificuldades momentâneas, mas, com o tempo, será recompensado com um enorme
bem-estar e uma integral segurança de alma.
Estar alheio ou sair de si mesmo, na ânsia de ser amado por todos aqueles
que consideram modelos importantes, será uma meta alienada e inatingível. O único modo
de alcançar a felicidade é viver, particularmente, a própria vida.
A fixação que temos de olhar o que os outros acham ou acreditam, sem
possuirmos a real consciência do que queremos, podemos, sentimos, pensamos e
almejamos, é o que promove a destruição
em nossa vida interior, ou seja, o esfacelamento da própria unidade como
seres humanos e, por consequência, nossa unidade com a vida que está em tudo e
em todos.
Muito obrigada, por nós passar lindas mensagens, que enriquece as nossas vidas!
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