PARÁBOLA DA CANDEIA[1]
“Ninguém,
depois de acender uma candeia, a cobre com um raso ou a põe debaixo de uma
cama; pelo contrário, coloca-a sobre um velador, a fim de que os que entram
vejam a luz. Porque não há coisa oculta que não venha a ser manifesta; nem
coisa secreta que se não haja de saber e vir à luz. Vede, pois, como ouvis;
porque ao que tiver, ser-lhe-á dado; e ao que não tiver, até aquilo que pensa
ter, ser-lhe-á tirado.”
(Lucas,
VIII, 16-18.)
“E
continuou Jesus: Porventura vem a candeia para se pôr debaixo do módio ou
debaixo da cama? Não é antes para se colocar no velador? Porque nada está
oculto senão para ser manifesto; e nada foi escondido senão para ser divulgado.
Se alguém tem ouvidos de ouvir, ouça. Também
lhes disse: Atenta! no que ouvis. A medida de que usais, dessa usarão convosco:
e ainda se vos acrescentará. Pois ao que tem, ser-lhe-á dado; e ao que não tem,
até aquilo que pensa ter, ser-lhe-á tirado.”
(Marcos,
IV, 21-25.)
A Luz é indispensável à vida
material e à vida espiritual.
Sem luz não há vida; a vida é luz
quer na esfera física, quer na esfera psíquica.
Apague-se o Sol, fonte das luzes
materiais; e o mundo deixará incontinente, de existir.
Esconda-se
a luz da sabedoria e da Religião sob o módio da má fé ou do preconceito, e a
Humanidade não dará mais um passo; ficará estatelada debatendo-se em trevas.
Assim,
pois, tão ridículo é acender uma candeia[2]
e colocá-la debaixo da cama, como conceber ou receber um novo conhecimento, uma
verdade nova e ocultá-los aos nossos semelhantes.
Acresce
ainda que; não é tão difícil encontrar o que se escondeu porque “não há coisa
oculta que não venha a ser manifesta”. Mais hoje, mais amanhã, um vislumbre de
claridade denunciará a existência da candeia que está sob o leito ou sob o
módio, e que desapontamento sofrerá o insensato que aí a colocou!
A
recomendação feita na parábola é que a luz deve ser posta no velador a fim de
que todos a vejam, por ela se iluminem, ou, então, para que essa luz seja
julgada de acordo com a sua claridade.
“Uma árvore má não pode dar bons frutos”; e o
combustível inferior não dá, pela mesma razão, boa luz. Julga-se a árvore pelos
frutos e o combustível pela claridade; pela pureza da luz que dá.
A
luz do azeite não se compara com a do petróleo, nem esta com a do acetileno;
mas todas juntas não se equiparam à eletricidade.
Seja como
for, é preciso que a luz esteja no velador, para se distinguir uma da outra.
Dar a necessidade do velador.
No
sentido espiritual, que é justamente o em que Jesus falava, todos os que receberam a Luz da
sua Doutrina precisam mostrá-la, não a esconderem sob o módio do
interesse, nem sob o leito da hipocrisia.
Quer seja
fraca, média ou forte; ilumine na proporção do azeite, do petróleo, do acetileno
ou da eletricidade, o mandamento é: “Que a vossa luz brilhe diante dos homens,
para que, vendo as vossas boas obras (que são as irradiações dessa luz) glorifiquem o vosso
Pai que está nos Céus.”
Ter luz e
não fazê-la iluminar, é colocá-la sob o módio; é o mesmo que não a ter; e
aquele que não a tem e pensa ter, até o que parece ter ser-lhe-á tirado. Ao
contrário, “aquele que tem, mais lhe será dado”, isto é, aquele que usa o que
tem em proveito próprio e de seus semelhantes, mais lhe será dado. A chama de
uma vela não diminui, nem se gasta o seu combustível por acender cem velas; ao
passo que estando apagada é preciso que alguém a acenda para aproveitar e fazer
aproveitar sua luz.
Uma vela
acendendo cem velas aumenta a claridade, ao passo que, apagada, mantém as
trevas. E como temos obrigação de zelar, não só por nós como pelos nossos
semelhantes, incorremos em grande responsabilidade pelo uso da “medida” que
fizemos; se damos um dedal não podemos receber um alqueire; se uma oitava não
pode contar com um quilo em restituição, e, se nada damos o
que havemos de receber?
A luz não
pode permanecer sob o módio, nem debaixo da cama. A candeia, embora matéria
inerte, nos ensina o que devemos fazer, para que a Palavra do Cristo permaneça
em nós, possamos dar muitos frutos e sejamos seus discípulos.
Assim, o
fim da luz é iluminar e o do sal é conservar e dar sabor.
Sendo os
discípulos de Jesus luz e sal, mister se faz que ensinem, esclareçam, iluminem,
ao mesmo tempo que lhes cumpre conservar no ânimo de seus ouvintes, de seus
próximos, a santa doutrina do Meigo Rabino, valendo-se para isso do espírito
que lhe dá o sabor moral para ingerirem esse pão da vida que verdadeiramente
alimenta e sacia.
Assim
como a luz que não ilumina e o sal que não conserva, para nada prestam, assim,
também, os que se dizem discípulos do Cristo e não cumprem os seus preceitos
nem desempenham a tarefa que lhes está confiada, só servem para serem lançados
fora da comunhão espiritual e serem pisados pelos homens.
A
candeia sob o módio não ilumina; o sal
insípido não salga, não conserva, nem dá sabor.
[1] Fonte: Livro Parábolas e Ensinos de Jesus – Cairbar Schutel, Gráfica da Casa Editora o Clarim, 1ª Edição - 1928 (Livro em pdf capturado no www.autoresespiritasclassicos.com
[2] Lâmpada formada por um recipiente, com um bico pelo qual passa a extremidade de um pavio, que se enche com óleo para queimar. https://www.dicio.com.br/candeia/