CONTIGO MESMO[1]
““...O dever começa precisamente no ponto em que
ameaçais a felicidade ou a tranqüilidade do vosso próximo; termina no limite
que não gostaríeis de ver ultrapassado em relação a vós mesmos... ”
Evangelho Segundo o
Espiritismo – Cap. 17 item 7
Como decifrar o dever?
De que
maneira observar o dever íntimo impresso na consciência, diante de tantos
deveres sociais, profissionais e afetivos que muitas vezes nos impõem caminhos
divergentes?
Efetivamente,
nasceste e cresceste apenas para ser único no mundo.
Em lugar
algum existe alguém igual a tua maneira de ser; portanto, não podes perder de
vista essa verdade, para encontrar o dever que te compete diante da vida.
Teu
primordial compromisso é contigo mesmo, e tua tarefa mais importante na Terra,
para a qual és o único preparado, é desenvolver tua individualidade no
transcorrer de tua longa jornada evolutiva.
A
preocupação com os deveres alheios provoca teu distanciamento das próprias
responsabilidades, pois não concretizas teus ideais nem deixas que os outros
cumpram com suas funções. Não nos referimos aqui à ajuda real, que é sempre
importante, mas à intromissão nas competências do próximo, impedindo-o de
adquirir autonomia e vida própria.
Assumir
deveres dos outros é sabotar os relacionamentos que poderiam ser prósperos e
duradouros. Por não compreenderes bem teu interior, é que te comparas aos
outros, esquecendo-te de que nenhum de nós está predestinado a receber, ao
mesmo tempo, os mesmos ensinamentos e a fazer as mesmas coisas, pois existem
inúmeras formas de viver e de evoluir. Lembra-te de que deves importar-te
somente com a tua maneira de ser.
Não
podemos nos esquecer de que aquele que se compara com os outros acaba se
sentindo elevado ou rebaixado. Nunca se dá o devido valor e nunca se conhece
verdadeiramente.
Teus
empenhos íntimos deverão ser voltados apenas para tua pessoa, e nunca deverás
tentar acomodar pontos de vista diversos, porque, além de te perderes, não
ajustarás os limites onde começa a ameaça à tua felicidade, ou à felicidade do
teu próximo.
Muitos
acreditam que seus deveres são corrigir e reprimir as atitudes alheias. Vivem
em constantes flutuações existenciais por não saberem esperar o fluxo da vida
agir naturalmente.
Asseveram
sempre que suas obrigações são em “nome da salvação” e, dessa forma, controlam
as coisas ou as forçam acontecer, quando e como querem.
Dizem: “Fazemos
isso porque só estamos tentando ajudar”. Forçam eventos, escrevem roteiros,
fazem o que for necessário para garantir que os atores e as cenas tenham o
desempenho e o desenlace que determinaram e acreditam, insistentemente, que seu
dever é salvar almas, não percebendo que só podem salvar a si próprios.
Nosso dever é redescobrir o que é
verdadeiro para nós e não esconder nossos sentimentos de qualquer pessoa ou de
nós mesmos, mas sim ter liberdade e segurança em nossas relações pessoais, para
decidirmos seguir na direção que escolhemos. Não “devemos” ser o que nossos pais
ou a sociedade querem nos impor ou definir como melhor. Precisamos compreender
que nossos objetivos e finalidades de vida têm valor unicamente para nós; os
dos outros, particularmente para eles.
Obrigação
pode ser conceituada como sendo o que deveríamos fazer para agradar as pessoas,
ou para nos enquadrar no que elas esperam de nós; já o dever é um processo de
auscultar a nós mesmos, descortinando nossa estrada interior, para, logo após,
materializá-la num processo lento e constante.
Ao decifrarmos nosso real dever, uma sensação de
auto-realização toma conta de nossa atmosfera espiritual, e passamos a apreciar
os verdadeiros e fundamentais valores da vida, associados a um prazer
inexplicável.
Lembremo-nos
da afirmação do espírito Lázaro em “O Evangelho Segundo o Espiritismo”: “O
dever é a obrigação moral, diante de si mesmo primeiro, e dos outros em
seguida”.[2]
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