TUA MEDIDA[1]
“Não
julgueis, afim de que não sejais julgados, porque vós sereis julgados segundo
houverdes julgado os outros, e se servirá para convosco da mesma medida da qual
vos servistes para com eles.”
Evangelho Segundo o
Espiritismo – Cap. 10, item 11
Toda
opinião ou juízo que desenvolvemos no presente está intimamente ligado a fatos
antecedentes.
Quase
sempre, todos estamos vinculados a fatores de situações pretéritas, que incluem
atitudes de defesa, negações ou mesmo inúmeras distorções de certos aspectos
importantes da vida. Tendências ou pensamentos julgadores estão sedimentados em
nossa memória profunda, são subprodutos de uma série de conhecimentos que
adquirimos na idade infantil e também através das vivências pregressas.
Censuras,
observações, admoestações, superstições, preconceitos, opiniões, informações e
influências do meio, inclusive de instituições diversas, formaram em nós um
tipo de “reservatório moral” - coleção de regras e preceitos a ser
rigorosamente cumpridos -, do qual nos servimos para concluir e catalogar as
atitudes em boas ou más.
Nossa concepção ético-moral está baseada na noção adquirida em nossas experiências
domésticas, sociais e religiosas, das quais nos servimos para emitir opiniões
ou pontos de vista, a fim de harmonizarmos e resguardarmos tudo aquilo em que
acreditamos como sendo “verdades absolutas”. Em outras palavras, como forma de
defender e proteger nossos “valores sagrados”, isto é, nossas aquisições mais
fortes e poderosas, que nos servem como forma de sustentação.
Em razão
disso, os freqüentes julgamentos que fazemos em relação às outras pessoas nos
informam sobre tudo aquilo que temos por dentro.
Explicando melhor, a “forma” e o “material”
utilizado para sentenciar os outros residem dentro de nós.
Melhor do
que medir ou apontar o comportamento de alguém seria tomarmos a decisão de
visualizar bem fundo nossa intimidade, e nos perguntarmos onde está tudo isso
em nós. Os indivíduos podem ser considerados, nesses casos, excelente espelho,
no qual veremos quem somos realmente. Ao mesmo tempo, teremos uma ótima
oportunidade de nos transformar intimamente, pois estaremos analisando as
características gerais de nossos conceitos e atitudes inadequadas.
Só
poderemos nos reabilitar ou reformar até onde conseguimos nos perceber; ou
seja, aquilo que não está consciente em nós; dificilmente conseguiremos reparar
ou modificar.
Quando não enxergamos a nós mesmos, nossos
comportamentos perante os outros não são totalmente livres para que possamos
fazer escolhas ou emitir opiniões. Estamos amarrados a formas de avaliação,
estruturadas nos mecanismos de defesa - processos mentais inconscientes que
possibilitam ao indivíduo manter sua integridade psicológica através de uma
forma de “auto-engano.”
Certas
pessoas, simplesmente por não conseguirem conviver com a verdade, tentam
sufocar ou enclausurar seus sentimentos e emoções, disfarçando-os no
inconsciente.
Em todo comportamento humano existe uma
lógica, isto é, uma maneira particular de raciocinar sobre sua verdade;
portanto, julgar, medir e sentenciar os outros, não se levando em conta suas
realidades, mesmo sendo consideradas preconceituosas; neuróticas ou psicóticas
é não ter bom senso ou racionalidade, pois na vida somente é válido e possível
o “auto-julgamento”.
Não
obstante, cada ser humano descobre suas próprias formas de encarar a vida e
tende a usar suas oportunidades vivenciais, para tornar-se tudo aquilo que o
leva a ser um “eu individualizado”.
Devemos
reavaliar nossas idéias retrógradas, que estreitam nossa personalidade, e, a
partir daí, julgar os indivíduos de forma não generalizada, apreciando suas
singularidades, pois cada pessoa tem uma consciência própria e diversificada
das outras tantas consciências.
Julgar
uma ação é diferente de julgar a criatura. Posso julgar e considerar a
prostituição moralmente errada, mas não posso e não devo julgar a pessoa
prostituída. Ao usarmos da empatia, colocando-nos no lugar do outro, “sentindo
e pensando com ele”, em vez de “pensar a respeito dele”, teremos o comportamento
ideal diante dos atos e atitudes das pessoas.
Segundo
Paulo de Tarso, “é indesculpável o homem, quem quer que seja, que se arvora em
ser juiz. Porque julgando os outros, ele condena a si mesmo, pois praticará as
mesmas coisas, atraindo-as para si, com seu julgamento”.
O “Apóstolo
dos Gentios” manifesta-se claramente, evidenciando nessa afirmativa que todo
comportamento julgador estará, na realidade, estabelecendo não somente uma sentença,
ou um veredicto, mas, ao mesmo tempo, um juízo, um valor, um peso e uma medida
de como julgaremos a nós mesmos.
Essencialmente,
tudo aquilo que decretamos ou sentenciamos tornar-se-á nossa “real medida”:
como iremos viver com nós mesmos e com os outros.
O ser
humano é um verdadeiro campo magnético, atraindo pessoas e situações, as quais
se sintonizam amorosamente com seu mundo mental, ou mesmo de forma antipática
com sua maneira de ser. Dessa forma, nossas afirmações prescreverão as águas
por onde a embarcação de nossa vida deverá navegar.
Com
freqüência, escolhemos, avaliamos e emitimos opiniões e, conseqüentemente,
atraímos tudo àquilo que irradiamos. A psicologia diz que uma parte
considerável desses pensamentos e experiências, os quais usamos para julgar e
emitir pareceres, acontece de modo automático, ou seja, através de mecanismos
não perceptíveis. É quase inconsciente para a nossa casa mental o que
escolhemos ou opinamos, pois, sem nos dar conta; acreditamos estar usando o
nosso “arbítrio”, mas, na verdade, estamos optando por um julgamento
predeterminado e estabelecido por “arquivos que registram tudo o que nos
ensinaram a respeito do que deveríamos fazer ou não, sobre tudo que é errado ou
certo.
Poder-se-á
dizer que um comportamento é completamente livre para eleger um conceito eficaz
somente quando as decisões não estão confinadas a padrões mentais rígidos e
inflexíveis, não estão estruturadas em conceitos preconceituosos e não estão
alicerçadas em idéias ou situações semelhantes que foram vivenciadas no
passado.
Nossos
julgamentos serão sempre os motivos de nossa liberdade ou de nossa prisão no
processo de desenvolvimento e crescimento espiritual.
Se criaturas afirmarem “idosos não têm
direito ao amor”, limitando o romance só para os jovens, elas estarão
condenando-se a uma velhice de descontentamento e solidão afetiva, desprovida
de vitalidade.
Se pessoas declararem “homossexualidade é
abominável” e, ao longo do tempo, se confrontarem com filhos, netos, parentes e
amigos que têm algum impulso homossexual, suas medidas estarão estabelecidas
pelo ódio e pela repugnância a esses mesmos entes queridos.
Se indivíduos decretarem “jovens não casam
com idosos”, estarão circunscrevendo as afinidades espirituais a faixas etárias
e demarcando suas afetividades a padrões bem estreitos e apertados quanto a
seus relacionamentos.
Se alguém subestimar e ironizar “o desajuste
emocional dos outros”, poderá, em breve tempo, deparar-se em sua própria
existência com perplexidades emocionais ou dilemas mentais que o farão
esconder-se, a fim de não ser ridicularizado e inferiorizado, como julgou os
outros anteriormente.
Se formos juízes da “moral ideológica”
e “sentimental”, sentenciando veementemente o que consideramos como “erros
alheios”, estaremos nos condenando ao isolamento intelectual, bem como ao
afetivo, pela própria detenção que impusemos aos outros, por não deixarmos que
eles se lançassem a novas idéias e novas simpatias.
“Não
julgueis, a fim de que não sejais julgados”, ou mesmo, “se servirá para
convosco da mesma medida da qual vos servistes para com eles”, quer dizer,
alertemo-nos quanto a tudo aquilo que afirmamos julgando, pois no “auditório da
vida” todos somos “atores” e “escritores” e, ao mesmo tempo, “ouvintes” e “espectadores”
de nossos próprios discursos, feitos e atitudes.
Para sermos livres realmente e para nos movermos
em qualquer direção com vista à nossa evolução e crescimento como seres eternos;
é necessário observarmos e concatenarmos nossos “pesos” e “medidas”, a fim de
que não venhamos a sofrer constrangimento pela conduta infeliz que adotarmos na
vida em forma de censuras e condenações diversas.
[1] Fonte: Livro – Renovando Atitudes – ditado do
Espírito Hammed, psicografia de Francisco
do Espírito Santo Neto, Boa Nova Editora e Distribuidora, 5.“ edição
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