OS ULTIMOS
SERÃO OS PRIMEIROS
O trabalhador da última hora tem direito ao salário. Mas, para
isso é necessário que se tenha conservado com boa vontade à disposição do
Senhor que o devia empregar, e que o atraso não seja fruto da sua preguiça ou
da sua má vontade. Tem direito ao salário porque, desde o alvorecer, esperava
impacientemente aquele que por fim, o chamava ao labor. Era trabalhador, e
apenas lhe faltava o que fazer.
Se
tivesse, entretanto, recusado o trabalho a qualquer hora de dia; se tivesse
dito: "Tenham paciência; gosto de descansar”. Quando soar a última hora,
pensarei no salário do dia. Que me importa esse patrão que não conheço e não
estimo? Quanto mais tarde, melhor! "Nesse caso, meus amigos, não receberia
o salário do trabalho, mas o da preguiça”.
Quer
dizer, então, daquele que, em vez de simplesmente esperar, tivesse empregado as
suas horas de trabalho para cometer estripulias? Que tivesse blasfemado contra
Deus, vestido o sangue de seus semelhantes, perturbado as famílias, arruinado
homens de boa fé, abusado da inocência? Que tivesse, enfim, se lançado a todas
as ignomínias da humanidade? O que será dele? Será suficiente dizer à última
hora: "Senhor, usei mal o meu tempo; empregai-me até o fim do dia, para
que eu faça um pouco, um pouquinho que seja da minha tarefa, e pagai-me o
salário do trabalhador de boa vontade?" Não, não! Porque o Senhor lhe
dirá: "Não tenho agora nenhum trabalha para ti. Desperdiçou o teu tempo,
esqueceste o que havias aprendido, não sabes mais trabalhar na minha vinha.
Cuida, pois, de aprender de novo, e quando te sentires bem disposto, vem
procurar-me e te franquearei as minhas terras, onde poderás trabalhar a qualquer
hora do dia".
Bons
espíritas, meus bem-amados, todos vós sois trabalhadores da última hora. Bem
orgulhoso seria o que dissesse: "Comecei o trabalho de madrugada e só o
terminarei ao escurecer". Todos vieram quando chamados, uns mais cedo,
outros mais tarde, para a encarnação cujos grilhões carregam. Mas há quantos e
quantos séculos o Senhor vos chamava para a sua vinha, sem que aceitásseis o
convite? Eis chegado, agora, o momento de receber o salário. Empregai bem esta
hora que vos resta. Não vos esqueçais de que a vossa existência, por mais longa
que vos pareça, não é mais do que um momento muito breve, na imensidade dos
tempos que constituem para vós a eternidade.
Constantino /
1863
Jesus amava a simplicidade dos símbolos. Na sua vigorosa expressão, os
trabalhadores da primeira hora são os Profetas, Moisés, e todos os Iniciadores
que marcaram as diversas etapas do progresso, continuadas através dos séculos
pelos Apóstolos, os Mártires, os Pais Ida Igreja, os Sábios, os Filósofos e,
por fim, os Espíritas. Estes, que vieram por último, foram, entretanto
anunciados e preditos desde o advento do Messias. Receberão, pois, a mesma
recompensa. Que digo? Receberão uma recompensa maior. Últimos a chegar, os
Espíritas aproveitam o trabalho intelectual dos seus antecessores, porque o
homem deve herdar do homem, e porque os trabalhos e seus resultados são
coletivos: Deus abençoa a solidariedade.
Muitos dos
antigos revivem hoje, ou reviverão amanhã, para acabar a obra que haviam
começado. Mais de um patriarca, mais de um profeta, mais de um discípulo do
Cristo, e de um divulgador da fé cristã se encontram, entre vós. Ressurgem mais
esclarecidos, mais adiantados, e já não trabalham mais nos fundamentos, mas na
cúpula do edifício. Seu salário será, portanto, proporcional ao mérito da obra.
A reencarnação, esse belo dogma, eterniza e precisa a filiação espiritual. O
Espírito, chamado a prestar contas do seu mandato termo, compreende a
continuidade da tarefa interrompida, mas sempre retomada. Vê e sente que apanhou
no ar o pensamento de seus antecessores. Reinicia a luta, amadurecido pela
experiência, para da mais avançar. E todos, trabalhadores da primeira e da
última hora, de olhos bem abertos sobre a profundidade da Justiça de Deus não
mais se queixam, mas se põe a adorá-LO.
Este é um
dos verdadeiros sentidos dessa parábola, que encerra, como todas as que Jesus
dirigiu ao povo, às linhas do futuro, também, através de suas formas e imagens,
a revelação dessa magnífica unidade que harmoniza todas as coisas no universo,
dessa solidariedade que liga todos os seres atuais ao passado e ao futuro.
Henri Eine / 1863
Não percebeis desde já a formação da tempestade que deve
assolar o Velho Mundo, e reduzir a nada a soma das iniquidades terrenas? Ah,
bendizei o Senhor, vós que tendes fé na sua soberana justiça, e que, novos
apóstolos da crença revelada pelas vozes proféticas superiores, ides pregar o
dogma novo da reencarnação e da elevação dos Espíritos, segundo o bom ou mau
desempenho de sua missões e a maneira porque suportaram as suas provas terrenas
Deixai de temores! As línguas de fogo estão sobre as vossas cabeças. Oh,
verdadeiros adeptos do Espiritismo: vós sois os eleitos de Deus! Ide e pregai a
palavra divina. É chegada a hora em que deveis são criticar os vossos hábitos,
os vossos trabalhos, as vossas futilidades, sua propagação. Ide e pregai: os
Espíritos elevados estão convosco. Falareis, certamente, a pessoas que não
quererão escutara palavra de Deus, porque essa palavra os convida
incessantemente ao sacrifício.
Pregareis
o desinteresse aos avarentos, a abstinência aos dissolutos, a mansidão aos
tiranos domésticos e aos déspotas: palavras perdidas; bem sei, mas que importa!
É necessário regar com o vosso suor o terreno em que deveis semear, porque ele não
frutificará, não produzirá, senão sob os esforços incessantes da enxada e da
charrua evangélicas. Ide e pregai!
Sim,
vós todos, homens de boa-fé, que tendes consciência de vossa inferioridade, ao
contemplar no infinito os mundos espaciais parti em cruzada contra a injustiça
e a iniquidade. Ide e aniquilai o culto do bezerro de ouro, que dia a dia mais
se expande. Ide, que Deus voz conduz! Homens simples e ignorantes, vossas
línguas se soltarão, e falareis como nenhum orador sabe falar. Ide e pregai, que
as populações atentas receberão com alegrias as vossas palavras de consolação,
de fraternidade, de esperança e de paz.
Que
importam as ciladas que armarem no vosso caminho? Somente os lobos caem nas
armadilhas de lobos, pois o pastor saberá defender as suas ovelhas contra os
carrascos imoladores.
Ide,
homens que sois grande perante Deus, e que, mais felizes do que Tomé, credes
sem querer ver e aceitais os fatos da mediunidade, mesmo quando nada
conseguistes obter por vós mesmos. Ide: o Espírito de Deus vos guia!
Marcha,
pois, para frente, grandiosa falange da fé! E os pesados batalhões dos
incrédulos se desvanecerão diante de ti, como as névoas da manhã aos primeiros
raios de Sol.
A
fé é a virtude que transporta montanhas, disse Jesus. Mas, ainda mais pesadas
que as maiores montanhas, são as jazidas da impureza e de todos os vícios da
impureza, no coração humano. Parti, pois, cheios de coragem, para remover essas
montanhas de iniquidades que as gerações futuras não devem conhecer, senão como
pertencentes à idade das lendas, da mesma maneira como só imperfeitamente
conheceis os períodos anteriores à civilização pagã.
Sim,
as revoluções morais e filosóficas vão eclodir em todos os pontos do globo.
Aproxima-se a hora em que a luz divina brilhará sobre os dois mundos.
Ide,
pois, levando a palavra divina aos grandes, que a desdenharão; aos sábios, que
desejarão prová-la; e aos simples e pequeninos, que a aceitarão, pois
principalmente entre os mártires do trabalho, nesta expiação terrena, encontrareis
entusiasmo e fé. Ide, que estes receberão jubilosos, agradecendo e louvando a
Deus, a consolação divina que lhe oferecerdes; e, baixando a fronte, renderão
graças pelas aflições que a Terra lhes reservou.
Arme-se
de decisão e coragem a vossa falange! Mãos à obra! O arado está pronto, a terra
preparada: arai!
Ide
e agradecei a Deus a gloriosa tarefa que vos concedeu. Mas, cuidado, que entre
os chamados para o Espiritismo, muitos se desviaram da senda! Atentai, pois, no
vosso caminho, e buscai a verdade.
Perguntareis,
então: Se entre os chamados para o Espiritismo, muitos se transviaram, como
reconhecer os que se acham no bom caminho?
Responderemos:
Podeis reconhecê-los pelo ensino e a prática dos verdadeiros princípios de
caridade; pela consolação que distribuírem aos aflitos; pelo amor que dedicarem
ao próximo; pela sua abnegação e o seu altruísmo. Podeis reconhecê-los,
finalmente, pela vitória dos seus princípios, porque Deus quer que a Sua lei
triunfe, e os que a seguem são os escolhidos, que vencerão. Os que, porém falseia
o espírito dessa lei, para satisfazerem sua vaidade e sua ambição, esses serão
destruídos.
Erasto / 1863
Chegastes no tempo em que se cumprirão
as profecias referentes à transformação da Humanidade. Felizes serão os que
tiverem trabalhado o campo do Senhor com desinteresse, e movidos apenas pela
caridade! Suas jornadas de trabalho serão pagas ao cêntuplo que tenham
esperado. Felizes serão os que houverem dito a se irmãos: "Trabalhemos
juntos, e unamos os nossos esforços, afim de que o Senhor, na sua vinda,
encontre a obra acabada", porque esses o Senhor dirá: Vinde a mim, vós que
sois os bons servidores vós que soubestes calar os vossos melindres e as vossas
discórdias para que a obra não sofresse!"
Mas
infelizes os que, por suas dissensões, houverem retardado a hora da colheita,
porque a tempestade chegará e eles serão levados no turbilhão! Nessa hora
clamarão: "Graça! Graça!" Mas o Senhor lhes dirá: "Por que pedis
graça, se não tivestes piedade de vosso irmão, se vos recusastes a lhes
estender as mãos, e se esmagaste o fraco em vez de socorrê-lo? Por que pedis
graça, se procuras a recompensa nos prazeres da terra e na satisfação do vosso
orgulho? Já recebestes a vossa recompensa, de acordo com a vossa vontade. Nada
mais tendes a pedir. As recompensas celestes si, para aqueles que não houverem
pedido recompensas da terra".
Deus faz, neste momento, a enumeração dos seus
servidores fiéis. E já marcou pelo seu dedo os que só têm a aparência do
devotamento, para que não usurpem o salário dos servidores corajosos. Porque é
a esses, que não recuaram diante de sua tarefa, que vai confiar os postos mais
difíceis, na grande obra da regeneração pelo Espiritismo. E estas palavras se
cumprirão: "Os primeiros serão últimos, e os últimos serão os primeiros no
Reino dos Céus!"
Espírito da Verdade / 1862
Livro:
Evangelho Segundo o Espiritismo, Allan
Kardec, Editora LAKE, Cap. 20 itens 2 a
5