PENSAMENTO E OBSESSÃO – O estudo da
obsessão, conjugado à mediunidade, se realizado em maior amplitude, abrangeria o exame de quase toda a
Humanidade terrestre.
Expressamos tal conceito, à face do pensamento que age e reage, carreando
para o emissor todas as fecundações felizes ou infelizes que arremessa de si
próprio, a determinar para cada criatura os estados psíquicos que variam
segundo os tipos de emoção e conduta a que se afeiçoe.
Enquanto
se não aprimore, é certo que o Espírito padecerá, em seu instrumento de
manifestação, a resultante dos próprios erros. Esses desajustes, como é natural;
não se limita à comunidade das células físicas, quando em disfunções múltiplas
por força dos agentes mentais viciados e enfermiços; estendem-se, muito especialmente,
à constituição do corpo espiritual, a refletir-se no cérebro ou gabinete
complexo da alma, aí ocasionando os diversos sintomas
de perturbação do campo encefálico, acompanhados dos fenômenos psico-sensoriais
que produzem alucinações e doenças da mente.
PERTURBAÇÕES MORAIS – Não nos propomos
analisar aqui as personalidades psicopáticas, do ponto de vista da Psiquiatria,
nem focalizar as chamadas psicoses de involução, ou as demências senis,
claramente necessitadas de orientação médica; recordaremos, contudo, que na retaguarda dos desequilíbrios mentais,
sejam da ideação ou da afetividade, da atenção e da memória, tanto quanto por
trás de enfermidades psíquicas clássicas, como, por exemplo, as esquizofrenias
e as parafrenias, as oligofrenias e a paranóia, as psicoses e neuroses de
multifária expressão, permanecem as perturbações da individualidade transviada do
caminho que as Leis Divinas lhe assinalam à evolução moral.
Enquanto
se lhe mantém a internação no instrumento físico transitório, até certo ponto
ela consegue ocultar no esconderijo da carne os resultados das paixões e
abusos, extravagâncias e viciações a que se dedica.
Assim
vive na paisagem social em que transita, até que, arredada de semelhante vaso
pela influência decisiva da morte, não mais suporta o regime de fantasia, obrigando-se
a sofrer, em si própria, as conseqüências dos excessos e ultrajes com que,
imprevidente, se desrespeitou.
Torturada
por suas próprias ondas desorientadas, a reagirem, incessantes, sobre os
centros e mecanismos do corpo espiritual, cai à mente nas desarmonias e
fixações conseqüentes e, porque o veículo de células extra físicas que a serve,
depois da morte, é extremamente influenciável, ambienta nas próprias forças os desequilíbrios
que a senhoreiam, consolidando-se-lhe, desse modo, as inibições que, em futura existência, dominar-lhe-ão
temporariamente a personalidade, sob a forma de fatores mórbidos, condicionando
as disfunções de certos recursos do cérebro físico, por tempo indeterminado.
ZONAS PURGATORIAIS – Entendendo-se que
todos os delinqüentes deitam de si oscilações mentais de terrível caráter, condensando
as recordações malignas que albergam no seio, compreenderemos a existência das zonas purgatoriais ou
infernais como regiões em que se complementam as temporárias criações do
remorso, associando arrependimento e amargura, desespero e rebelião.
Na
intimidade dessas províncias de sombra, em que se agrupam multidões de
criminosos, segundo a espécie de delito que cometeram Espíritos culpados,
através das ondas mentais com que essencialmente se afinam e se comunicam
reciprocamente, gerando, ante os seus olhos, quadros vivos de extremo horror, junto
dos quais desvairam, recebendo, de retorno, os estranhos padecimentos que
criaram no ânimo alheio.
Claro
está que, embora comandados por Inteligências pervertidas ou bestializadas nas
trevas da ignorância, esses antros jazem circunscritos no Espaço, fiscalizados por
Espíritos sábios e benfazejos que dispõem de meios precisos para observar a
transformação individual das consciências em processo de purificação ou regeneração,
a fim de conduzi-las a providências compatíveis com a melhoria já alcançada.
Semelhante
supervisão, entretanto, não impede que essas vastas cavernas de tormento
reeducativo sejam, em si, imensas penitenciárias do Espírito, a que se recolhem
as feras conscientes que foram homens. Ai permanece detido por guardas
especializados, que lhes são afins, o que nos faz definir cada “purgatório particular”
como “prisão-manicômio”, em que as almas embrutecidas no crime sofrem, de
volta, o impacto de suas fecundações mentais infelizes.
Tiranos,
suicidas, homicidas, carrascos do povo, libertinos, caluniadores, malfeitores,
ingratos, traidores do bem e viciados de todas as procedências, reunidos
conforme o tipo de falta ou defecção a que se rendeu; se examinados pelos
cientistas do mundo apresentariam à Medicina os mais extensos quadros para estudos etiológicos das mais obscuras
enfermidades.
Deduzimos,
assim, que todos os redutos de sofrimento, além túmulo, não passam de largos
porões do trabalho evolutivo da alma, à feição de grandes hospitais
carcerários para tratamento das consciências envilecidas.
REENCARNAÇÃO DE ENFERMOS – Dos abismos
expiatórios, volvem à reencarnação quantos se mostram inclinados à recuperação
dos valores morais em si mesmos.
Transportados
a novo berço, comumente entre aqueles que os induziram à queda, quando não se
vêem objeto de amorosa ternura por parte de corações que por eles renunciam à
imediata felicidade nas Esferas Superiores, são resguardados no recesso do lar.
Contudo,
renascem no corpo carnal espiritualmente jungido às linhas inferiores de que
são advindos, assimilando-lhes, facilmente, o influxo aviltante.
Reaparecem,
desse modo, na arena física. Mas, via de regra; quando não se mostram
retardados mentais, desde a infância, são perfeitamente classificáveis entre os
psicopatas amorais, segundo o conceito da “moral insanity”, vulgarizado
pelos ingleses, demonstrando manifesta perversidade, na qual se revelam
constantemente brutalizados e agressivos, petulantes e pérfidos, indiferentes a
qualquer noção da dignidade e da honra, continuamente dispostos a mergulhar na
criminalidade e no vício.
Aqueles
Espíritos relativamente corrigidos nas escolas de reabilitação da
Espiritualidade desenvolvem-se,
no ambiente humano; enquadráveis entre os psicopatas astênicos e abúlicos,
fanáticos e hipertímicos, ou identificáveis como representantes de várias
doenças e delírios psíquicos, inclusive aberrações sexuais diversas.
OBSESSÃO E MEDIUNIDADE – Tais enfermos da
alma, tantas vezes submetidos, sem resultado satisfatório, à insulina e a convulsa
terapia, quando recomendados ao auxílio dos templos espíritas, poderão ser tidos
como médiuns?
Sem dúvida, são médiuns doentes,
afinizados com os fulcros de sentimento desequilibrado de onde ressurgiram para
novo aprendizado entre os homens.
Por
certa quota de tempo, são intérpretes de forças degradadas, às quais é preciso
opor a intervenção moral necessária, do mesmo modo que se prescreve medicação
aos enfermos.
Trazendo
consigo as seqüelas ocultas da internação na província purgatorial, de que
volvem pela porta do berço terrestre, exteriorizam
ondas mentais viciadas que lhes alentam as disfunções dos implementos
físicos, ondas essas pelas quais recolhem os pensamentos das entidades
inferiores a lhes constituírem a cobertura da retaguarda.
Apesar
disso, deve ser acolhido nos santuários do Espiritismo por medianeiros de
planos que é preciso transformar e ajudar; porquanto um Espírito renovado para
o Bem – Lei do Criador
para todas as criaturas – é peça importante para o reajustamento geral
dessa ou daquela engrenagem conturbada na máquina da vida.
DOUTRINA ESPIRITA – Forçoso é
considerar que a atividade religiosa, digna e venerável, em qualquer setor da
edificação humana, exprime socorro
celeste aos desajustes morais de quantos se demoram na reencarnação,
buscando a restauração precisa.
E,
compreendendo-se que elevada percentagem das personalidades humanas traz, no
imo do próprio ser, raízes e brechas de comunhão com o pretérito de sombra,
através das quais são suscetíveis de sofrer os mais
estranhos processos de obsessão oculta – a se reavivarem, constantes,
nos diversos períodos etários que correspondem ao tempo de formação dos débitos
cármicos que buscam equacionar no corpo terrestre –, é justo encarecer, assim, a oportunidade e a excelência do amparo
moral da Doutrina Espírita, como sendo o recurso mais sólido na assistência às
vítimas do desequilíbrio espiritual de qualquer matiz, por oferecer-lhes, no estudo
nobre e no serviço santificante, o clima indispensável de transmutação e
harmonização, com que se recuperem
no domínio dos pensamentos mais íntimos, para assimilarem a influência benéfica
dos agentes espirituais da necessária renovação.
[1] Fonte: Mecanismos da Mediunidade, Ditado pelo Espírito André Luiz, psicografia
de Francisco Cândido Xavier e Waldo Vieira, Editora FEB, Capitulo XXIV
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