NO SONO ARTIFICIAL – Enfileirando
algumas anotações com respeito ao desdobramento da personalidade, consoante as nossas
referências ao hipnotismo comum; recordemos ainda o fenômeno da hipnose
profunda, entre o magnetizador e o
sensitivo.
Quem
possa observar além do campo físico, reparará, à medida se afirme a ordem do
hipnotizador, que se escapa abundantemente do tórax do “sujet”, caído em
transe, um vapor branquicento[2]
que, em se condensando qual nuvem inesperada, se converte, habitualmente à
esquerda do corpo carnal, numa duplicata dele próprio, quase sempre em
proporções ligeiramente dilatadas.
Tal seja
o potencial mais amplo da vontade que o dirige, o sensitivo, desligado da veste física, passa a
movimentar-se e, ausentando-se muita vez do recinto da experiência, atendendo a
determinações recebidas, pode efetuar apontamentos a longa distância ou
transmitir notícias, com vistas a certos fins.
Seguindo-lhe
a excursão, vê-lo-emos, porém, constantemente ligado ao corpo somático por fio
tenuíssimo, fio este muito superficialmente comparável, de certo modo, à onda
do radar, que pode vencer imensuráveis distâncias, voltando, inalterável, ao
centro emissor, não obstante sabermos que semelhante confronto resulta de todo
impróprio para o fenômeno que estudamos no campo da inteligência.
Nessa
fase, o paciente executa as ordens que recebeu desde que não constituam desrespeito evidente à sua dignidade
moral, trazendo informes valiosos para as realidades do Espírito.
Notemos
que aí, enquanto o carro fisiológico se detém resfolegante e imóvel, a
individualidade real, embora
teleguiada, evidencia plena integridade de pensamento, transmitindo, de longe, avisos
e anotações através dos órgãos vocais, em circunstâncias comparáveis aos
implementos do alto-falante, num aparelho radiofônico.
À
semelhança do fluxo energético da circulação sanguínea, incessante no corpo
denso, a onda mental é inestancável no Espírito.
Esmaecem-se as impressões nervosas e dorme o cérebro de carne, mas o
coração prossegue ativo, no envoltório somático, e o pensamento vibra
constante, no cérebro perispirítico.
NO SONO NATURAL – Na maioria das
situações, a criatura, ainda extremamente aparentada com a animalidade
primitivista, tem a mente como que voltada para si mesma, em qualquer expressão
de descanso, tomando o sono para claustro remançoso das impressões que lhe são
agradáveis, qual criança que, à solta, procura simplesmente o objeto de seus
caprichos.
Nesse
ensejo, configura na onda mental que lhe é característica as imagens com que se
acalenta, sacando da memória a visualização dos próprios desejos, imitando
alguém que improvisasse miragens, na antecipação de acontecimentos que aspira a
concretizar.
Atreita
ao narcisismo, tão logo demande o sono, quase sempre se detém justaposta ao
veículo físico, como acontece ao condutor que repousa ao pé do carro que
dirige, entregando-se à volúpia mental com que alimenta os próprios impulsos
afetivos, enquanto a máquina se refaz.
Ensimesmada, a alma, usando os recursos
da visão profunda, localizada nos fulcros do diencéfalo, e, plenamente
desacolchetada do corpo carnal, por temporário desnervamento, não apenas se retempera
nas telas mentais com que preliba satisfações distantes, mas experimenta de
igual modo o resultado dos próprios abusos, suportando o desconforto das
vísceras injuriadas por ele mesmo ou a inquietude dos órgãos que desrespeita,
quando não padece a presença de remorsos constrangedores, à face dos atos
reprováveis que pratica, porquanto ninguém
se livra, no próprio pensamento, dos reflexos de si mesmo.
SONO E SONHO – Qual ocorre no
animal de evolução superior, no homem de evolução positivamente inferior o
desdobramento da individualidade, por intermédio do sono, é quase que absoluto
estágio de mero refazimento físico.
No primeiro, em que a onda mental é simplesmente
fraca emissão de forças fragmentárias, o sonho é puro reflexo das atividades fisiológicas.
No segundo, em que a onda mental
está em fase iniciante de expansão, o sonho, por muito tempo, será invariável ação
reflexa de seu próprio mundo consciencial ou afetivo.
Evolui,
no entanto, o pensamento na criatura que amadurece, espiritualmente, através da
repercussão.
Como no
caso do sensitivo que, fora do envoltório físico, vai até ao local sugerido
pelo magnetizador, tomando-se a ordem determinante da hipnose artificial pelo
reflexo condicionado que lhe comanda as idéias, a criatura na hipnose natural,
fora do veículo somático; possui no próprio desejo o reflexo condicionado que
lhe circunscreverá o âmbito da ação além da roupagem fisiológica, alongando-se até ao local em que se lhe
vincula o pensamento.
O homem do campo, no repouso físico, supera
os fenômenos hipnagógicos e volta à gleba que semeou, contemplando aí, em Espírito,
a plantação que lhe recolhe o carinho; o artista regressa à obra a que se
consagra, mentalizando-lhe o aprimoramento; o espírito maternal se aconchega ao
pé dos filhinhos que a vida lhe confia, e o delinqüente retorna ao lugar onde
se encarcera a dor do seu arrependimento.
Atravessada
a faixa das chamadas imagens eutópticas, exteriorizam de si mesmos os quadros
mentais pertinentes à atividade em que se concentram, com os quais angariam a atenção
das Inteligências desencarnadas que com eles se afinam, recolhendo sugestões
para o trabalho em que se empenham, muito embora, à distância da veste
somática, freqüentemente procedam ao modo de crianças conduzidas ao ambiente de
pessoas adultas, mantendo-se entre as idéias superiores que recebem e as idéias
infantis que lhes são próprias, do que resulta, na maioria das vezes, o aspecto
caótico das reminiscências que conseguem guardar, ao retornarem à vigília.
Nesse
estágio evolutivo, permanecem milhões de pessoas – representando a faixa de
evolução mediana da Humanidade – rendendo-se, cada dia, ao impositivo do sono ou hipnose natural de
refazimento, em que se desdobra, mecanicamente, entrando, fora do indumento
carnal, em sintonia com as entidades que se lhes revelam afins, tanto na ação
construtiva do bem, quanto na ação deletéria do mal, entretecendo-se-lhes o
caminho da experiência que lhes é necessária à sublimação no porvir.
CONCENTRAÇÃO E DESDOBRAMENTO – Quantos se entregam
ao labor da arte, atraem, durante o sono, as inspirações para a obra que
realizam, compreendendo-se que os Espíritos enobrecidos assimilam do contacto com as Inteligências superiores
os motivos corretos e brilhantes que lhes palpitam nas criações, ao passo que as mentes sarcásticas ou criminosas,
pelo mesmo processo, apropriam-se dos temas infelizes com que se acomodam,
acordando a ironia e a irresponsabilidade naqueles que se lhes ajustam aos
pensamentos, pelo trabalho a que se dedicam.
Desdobrando-se
no sono vulgar, a criatura segue o rumo da própria concentração, procurando,
automaticamente, fora do corpo de carne, os objetivos que se casam com os seus
interesses evidentes ou escusos.
Desse
modo, mencionando apenas um exemplo dos contactos a que aludimos, determinado
escritor exporá idéias edificantes e originais no que tange ao serviço do bem,
induzindo os leitores à elevação de nível moral, ao passo que outro exibirá
elementos aviltantes, alinhando escárnio ou lodo sutil com que corrompe as emoções
de quantos se lhe entrosam à maneira de ser.
INSPIRAÇÃO E DESDOBRAMENTO – Dormindo o corpo denso,
continua vigilante a onda mental de cada um – presidindo ao sono ativo, quando
registra no cérebro dormente as impressões do Espírito desligado das células
físicas, e ao sono passivo, quando a mente, nessa condição, se desinteressam,
de todo, da esfera carnal.
Nessa
posição, sintoniza-se
com as oscilações de companheiros desencarnados ou não, com as
quais se harmonize, trazendo para a vigília no carro de matéria densa, em forma
de inspiração, os resultados do intercâmbio que levou a efeito, porquanto
raramente consegue conscientizar as atividades que empreendeu no tempo de sono.
Muitos apelos do plano terrestre são
atendidos, integralmente ou em parte, nessa fase de tempo.
Formulado
esse ou aquele pedido ao companheiro desencarnado, habitualmente surge à
resposta quando o solicitante se acha desligado do vaso físico. Entretanto,
como nem sempre o cérebro físico está em posição de fixar o encontro realizado
ou a informação recebida, os remanescentes da ação espiritual, entre encarnados
e desencarnados, permanecem, naqueles Espíritos que ainda se demorem chumbados à Terra, à
feição de quadros simbólicos ou de fragmentárias reminiscências,
quando não sejam na forma de súbita intuição, a expressarem, de certa forma, o
socorro parcial ou total que se mostrem capazes de receber.
DESDOBRAMENTO E MEDIUNIDADE – As ocorrências referidas
vigem na conjugação de ondas mentais, porque apenas excepcionalmente consegue a
criatura encarnada desvencilhar-se de todas as amarras naturais a que se prende;
adstrita as conveniências e necessidades de redenção ou evolução que lhe dizem respeito.
É
imperioso notar, porém, que considerável número de pessoas, principalmente as
que se adestraram para esse fim, efetuam incursões nos planos do Espírito,
transformando-se, muitas vezes, em preciosos instrumentos dos Benfeitores da
Espiritualidade, como oficiais de ligação entre a esfera física e a esfera
extrafísica.
Entre
os médiuns dessa categoria, surpreenderemos todos os grandes místicos da fé,
portadores de valiosas observações e revelações para quantos se decida marchar
ao encontro da Verdade e do Bem.
Cumpre destacar, entretanto, a
importância do estudo para quantos se vejam chamados a semelhante gênero de
serviço, porque, segundo a Lei do Campo Mental, cada Espírito somente logrará
chegar, do ponto de vista da compreensão necessária, até onde se lhe paire o
discernimento.
[1] Fonte: Mecanismos da Mediunidade, Ditado pelo Espírito André Luiz, psicografia
de Francisco Cândido Xavier e Waldo Vieira, Editora FEB, Capitulo XXI
[2] Ectoplasma.
(Nota do customizador)
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