PRÓDROMOS DA HIPNOSE – Após observarmos o
fenômeno do hipnotismo num espetáculo público, imaginemos que o magnetizador
seja um homem digno de respeito, capaz de nutrir a confiança popular.
Suponhamos
seja ele procurado por um cidadão qualquer, portador de doença nervosa,
desejoso de tratar-se pela hipnose.
O enfermo
tê-lo-á visto na exibição a que nos referimos ou dela terá recebido exato
noticiário e, por isso mesmo, buscar-lhe-á o concurso, fortemente decidido a
aceitar-lhe a orientação[2].
O
hipnotizador, de imediato, adquire conhecimento da atitude simpática do
visitante e acolhe-o com manifesto carinho.
Toma-lhe a mão, entrando de imediato na aura
ou halo de forças do paciente, endereçando-lhe algumas inquirições.
Nesse toque direto, inocula-lhe vasta
corrente revitalizadora, em lhe falando de bom ânimo e esperança, e o doente se lhe
rende, satisfeito, aos apelos silenciosos de relaxamento da tensão que o
castiga.
O consulente
prestará ligeiros informes acerca dos sintomas de que se vê objeto, e o
anfitrião, paternal, convidá-lo-á a sentar-se em larga poltrona que lhe faculte
mais amplamente o repouso.
MECANISMO DO FENÔMENO HIPNÓTICO – Recorrendo, para
exemplo, em nosso estudo, ao conhecido processo de Liébeault, o hipnotizador
passará à ação franca, colocando-se à frente do enfermo.
E,
situando de leve a mão esquerda sobre a sua cabeça, manterá dois dedos da mão
direita, à distância aproximada de vinte a trinta centímetros dos olhos do
paciente, de modo a formar com eles um ângulo elevado, compelindo-o a levantar
os olhos, em atenção algo laboriosa, para que lhe fixe os dedos por algum tempo.
Com esse gesto, o magnetizador estará
projetando o seu próprio fluxo energético sobre a epífise do hipnotizado,
glândula esta de suma importância em todos os processos medianímicos[3], por favorecer a
passividade dos núcleos receptivos do cérebro, provocando, ao mesmo tempo, a
atenção ou o circuito fechado no campo magnético do paciente, cuja onda mental,
projetada para além de sua própria aura, é imediatamente atraída pelas
oscilações do magnetizador que a seu turno, lhe transmite a essência das suas próprias
ordens.
Libertando
as aglutininas mentais do sono, o passivo, na
hipnose estimulada, se vê influenciado pela vontade que lhe comanda transitoriamente
os sentidos, vontade essa a que, de maneira habitual, adere de “moto-próprio”,
quase que alegremente.
É então
que o hipnotizador, para fixar com mais segurança a sua própria atuação,
exclama, em tom grave e calmo:
– “Não
receie. Segundo o nosso desejo, passará você, em breves instantes, pela mesma
transfiguração mental, a que se entrega; cada noite, transitando da vida ativa
para o entorpecimento do sono, em que os seus ouvidos escutam sem qualquer
esforço e no qual não se sente você; disposto a voluntária movimentação.
“Durma,
descanse. Repouse na certeza de que não terá consciência do que ocorra em torno
de nós! Despertará você do presente estado, quando me aprouver, perfeitamente
aliviado e fortalecido pela supressão do desequilíbrio orgânico.”
O doente
enlanguesce, satisfeito, acalentado pela sua própria onda mental de confiança,
exteriorizada ao impacto do pensamento positivo que o controla, e o
hipnotizador reafirma, tocando-lhe as pálpebras de leve:
– ”Durma
tranqüilamente. Tudo está bem. Acordará livre de todo o mal. Acalme-se e
espere. Não sofrerá qualquer incômodo. Dentro de alguns minutos, chamá-lo-ei à
vigília.”
O doente
dorme e o magnetizador retira-se por alguns minutos.
MECANISMO DA HIPNOTERAPIA – Enquanto
adormecido, a própria onda mental do paciente, em movimento renovador e guardando
consigo as sugestões benéficas recebidas atuam sobre as células do veículo
fisiopsicossomático, anulando, tanto quanto possível, as inibições funcionais
existentes.
Como se
observa, o agente positivo atua como fator desencadeante da recuperação, que
passa a ser efetuada pelo próprio paciente, em todos os casos de hipnoterapia
ou reflexoterapia.
O
hipnotizador, depois de um quarto de hora, fará novamente voltar à vigília, e o
enfermo, desperto, acusa por vezes grandes melhoras.
Naturalmente,
agradece ao benfeitor o socorro assimilado; contudo, o magnetizador agiu apenas
como recurso de excitação e influência, porque as oscilações mentais em ação
restaurativa dos tecidos celulares foram exteriorizadas pelo próprio
consulente.
OBJETOS E REFLEXOS ESPECIFICOS – No segundo dia do
tratamento hipnótico, o paciente com mais facilidade se confiará à vontade
orientadora que o dirige.
Bastar-lhe-á
o reencontro com o hipnotizador para entrar no reflexo condicionado, pelo qual
começa a automatizar o ato de arrojar de si mesmo as próprias forças mentais,
impregnadas das imagens de saúde e coragem que ele mesmo recorporifica no pensamento,
recordando os apelos recebidos na véspera.
E assim
procede o enfermo; no mesmo regime de condicionamento, até que a contemplação
de um simples objeto que lhe tenha sido presenteado pelo magnetizador, com o
fim de ajudá-lo a liberar-se de qualquer crise, na linha de ocorrências da
moléstia nervosa de que se haja curado, será o suficiente para que se entregue à
hipnose de recuperação por sua própria conta.
Semelhante
medida, que explica o suposto poder curativo de certas relíquias materiais ou
dos chamados talismãs da magia, pode ser interpretada como reflexo condicionado
específico, porquanto, sem a presença do hipnotizador, suscetível de imprimir novas
modalidades à onda mental de que tratamos, o objeto aludido servirá – muito
particularmente nesse caso – como reflexo determinado para o refazimento
orgânico, em certo sentido.
CIRCUITO MAGNÉTICO E CIRCUITO
MEDIÜNICO
– Se o paciente, depois de curado, prossegue submisso ao hipnotizador, sustentando-se
entre ambos o intercâmbio seguro, dentro de algum tempo ambos se encontrarão em
circuito mediúnico perfeito.
A onda
mental do magnetizado, reeducada para a extirpação da moléstia anteriormente
apresentada, terá atendido ao restabelecimento da região em desequilíbrio,
mostrando-se, agora, sadia e harmônica para os serviços da troca, na hipótese
do continuísmo de contacto.
Voltando-se
diariamente para o magnetizador que, a seu turno, diariamente a influencia, e
devidamente ajustada ao cérebro em que se apóia do ponto de vista da resistência
do campo, passará a refletir a onda mental da vontade a que livremente se
submete, absorvendo-lhe as inclinações e os desígnios.
Verificam-se
aí os mais avançados processos de telementação, inclusive o desdobramento
controlado, pelo qual o passivo, ausente do corpo físico, sob a indução
preponderante do hipnotizador, apenas verá e ouvirá de acordo com a orientação
particular a que se sujeita.
É o
estado de permuta magnética aperfeiçoada, em que o passivo, na hipnose ou na
vigília, transmite com facilidade as determinações e propósitos do mentor, na
esfera das suas possibilidades de expressão.
AUTO-MAGNETIZAÇÃO – Ainda há que
apreciar uma ocorrência importante.
Se o
hipnotizador não mais tem contacto com o passivo e se o passivo prossegue
interessado no progresso de suas conquistas espirituais, este consegue, à custa
de esforço, por intermédio da profunda concentração das energias mentais, na
lembrança dos fenômenos a que se consagrou junto ao magnetizador, cair em hipnose
ou letargia, catalepsia ou sonambulismo – ainda pelo reflexo condicionado
igualmente específico –, afastando-se do envoltório carnal, em plena
consciência, para entrar em contacto com entidades encarnadas ou desencarnadas
de sua condição ou para provocar por si mesmo certa categoria de fenômenos
físicos, mediante a aplicação de energia acumulada, com o que se explicam as
ocorrências do faquirismo oriental, nas quais a própria vontade do operador,
parcial ou integralmente separado do corpo somático, exerce determinada ação
sobre as células físicas e extrafísica, estabelecendo acontecimentos inabituais
para o mundo rotineiro dos cinco sentidos.
[1] Fonte: Mecanismos da Mediunidade, Ditado pelo Espírito André Luiz, psicografia
de Francisco Cândido Xavier e Waldo Vieira, Editora FEB, Capitulo XIV
[2]
A
utilização dos fenômenos hipnóticos serve, neste livro, simplesmente para explicar
os mecanismos da mediunidade, e não para induzir os companheiros do
Espiritismo a praticá-los em suas tarefas, porquanto o nosso objetivo
primordial é o serviço da Doutrina Espírita que devemos tomar por
disciplinadora de todos os fenômenos que nos rodeiam, na esfera das ocorrências
mediúnicas a beneficio de nossa própria melhoria moral. (Nota do Autor
espiritual.)
[3]
Para mais claro
entendimento do assunto, indicamos ao leitor a releitura do capitulo 2º do livro
“Missionário da Luz”, do mesmo Autor espiritual, recebido pelo médium Francisco
Cândido Xavier. (Nota da Editora.)
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