Os inseguros omitem defesa a
seus direitos pessoais por medo e evitam
encontros ou situações em que precisam expor suas crenças, sentimentos e ideias.
A insegurança traz como características
psicológicas os mais variados tipos de medo, como o de amar, o da mudança, o de cometer erros, o da solidão, o de
se pronunciar e o de se desobrigar. O inseguro não confia no seu valor pessoal,
desacredita suas habilidades e desconfia de sua possibilidade de enfrentar as
ocorrências da vida, o que o impulsiona a uma fatal tendência de se nos apoiar
outros.
Por não compreender bem seu poder interior, apegam-se na afeição do
cônjuge, filhos, outros parentes e amigos e, assim, acaba dependendo
completamente dessas pessoas para viver. Em vez do amor, é a insegurança a fonte principal que o une
aos outros; por isso, controla e vigia em razão das dúvidas que tem
sobre si mesmo.
O inseguro, por não saber que não pode controlar os
atos e atitudes das outras criaturas, cria grandes dificuldades em seus
relacionamentos, gerando, consequentemente, maiores cobranças e barreiras entre
eles.
A hesitação toma-o criatura incapaz de se sentir bastante firme para
agir. Nunca possui certeza suficiente e quer sempre mais se certificar das
coisas. É excessivamente cauteloso e vigilante; está em constante sobreaviso e
desconfiança de tudo e de todos, por causa do medo das consequências futuras de
suas ações do presente.
Os inseguros desenvolvem
muitas vezes uma “devoção mórbida” em relação às causas e aos ideais, ou se associam a um parceiro forte
e dinâmico para compensar sua necessidade de apoio, consideração e segurança.
No primeiro caso, eles podem assumir diante do mundo a posição de “crentes exaltados”,
querendo convencer todos de uma verdade que eles mesmos não acreditam; no
segundo, buscam alguém que lhes corresponda ao modelo de seus genitores, para
que, novamente, venham a se nutrir da autoridade, decisão e firmeza que
encontravam nos pais, quando crianças.
Muitos ainda buscam refúgio numa atividade intelectual e se colocam, por
exemplo, na posição de autoridade literária, como estratégia emocional, a
fim de estimular em tomo de si urna atmosfera de “bem informados” e, portanto,
grandiosos e seguros.
Kardec, Discípulo de Jesus, pergunta aos Instrutores Espirituais: “Quando
um Espírito diz que sofre, de que natureza é o seu sofrimento?” A
Espiritualidade elaborou a seguinte resposta: “Angústias morais, que o torturam mais
dolorosamente do que todos os sofrimentos físicos.” (52)
“Angústias morais” podem ser entendidas como a fragilidade em que
se encontram as criaturas inseguras, a sensação de mal-estar que sentem, por
acreditarem que estão constantemente sendo observadas e julgadas e também pela
perpétua situação mental de vulnerabilidade diante do mundo.
Os inseguros não são assertivos; em outras palavras, não se expressam de modo direto, claro e honesto.
Omitem defesa a seus direitos pessoais por medo e evitam encontros ou situações
em que precisam expor suas crenças, sentimentos e ideias.
O título de “Senhor de Si Mesmo” poderá definir bem a segurança e
firmeza de Jesus Cristo.
Suas palavras “Seja, porém, o vosso falar: sim, sim; não, não” (53) ainda hoje ressoam, convidando todas as
criaturas à autonomia espiritual. Realmente, o comportamento assertivo do
Mestre e sua significativa liberdade de expressão revelavam:
1.
Franqueza em dizer o que pensava;
2.
Segurança de olhar, ouvir e convidar qualquer um;
3.
Independência de exprimir seus sentimentos com absoluta transparência;
4.
Liberdade de pedir o que quisesse;
5.
Coragem de correr riscos para concretizar tudo aquilo em que acreditava.
Essas alegrias os inseguros não sentem. Seguindo, porém, os passos de Jesus, Nosso
Guia e Senhor, a humanidade alcançará a estabilidade e serenidade interior que
busca há tantos séculos — conquista dos seres despertos e amadurecidos do
futuro.
X.X.X
A intensa motivação que invade os indivíduos para serem amados e
queridos a qualquer preço nasce das dúvidas íntimas, sobre si mesmos.
Necessitar de amor, desejar consideração ou procurar segurança é
desejos naturais e válidos. Certa quantidade de dependência emocional está
presente em muitos relacionamentos, incluindo os saudáveis; efetivamente,
juntos ou sozinhos, estamos sempre caminhando pelas estradas da evolução.
Para avançarmos
pela vida de forma harmônica com as
pessoas, devemos desenvolver a autoestima, a capacidade de admitir erros, a
responsabilidade de assumir nossos atos e, acima de tudo, a aceitação
incondicional dos outros.
A insegurança faz de nossos
relacionamentos íntimos um misto de irreflexão e precipitação, levando-nos a um excesso de confiança e, ao
mesmo tempo, fazendo-nos perder o senso de nossas fronteiras individuais. Quase
sempre, fazemos um verdadeiro emaranhado de nossos objetivos, desejos e
conflitos com os de outras criaturas — pais, filhos, irmãos, amigos, cônjuges.
Quando essas nossas afeições mudam, seja porque estabeleceram outra ligação
íntima, seja porque, simplesmente, elegeram para si novos rumos existenciais,
ficamos fatalmente desestabilizados e desesperados.
Carências ilimitadas nascem da insegurança, sufocando e afastando
relacionamentos salutares. Muitas vezes, chegamos ao extremo de abdicar de
nossos objetivos e vocações mais íntimas, colocando-nos em situações
vexatórias, por termos deixado que nossa “porção fragilizada” falasse mais
alto.
Inicialmente, fazemos um esforço hercúleo para nos entregar nas mãos da
pessoa eleita.
Com o passar do tempo, vamos ficando incomodados e desestimulados com
esse relacionamento, até que, finalmente, chegamos ao ápice do desgaste,
ficando raivosos e ressentidos com a pessoa de quem dependeram.
Isso é compreensível, porque não há ninguém que goste, conscientemente,
de ceder seu poder pessoal ou de renunciar a seus direitos de liberdade a quem
quer que seja.
A intensa motivação que invade os indivíduos para serem amados e
queridos a qualquer preço nasce das dúvidas íntimas sobre si mesmas, pois são
pessoas que, raramente, podem se realizar na vida sem se “pendurar” no que
chamam de grande amor.
A insegurança transborda de tal modo que transforma a natural
necessidade de amar em uma necessidade patológica de satisfação, somente
alcançada através da possessividade do amor.
Parte do desenvolvimento da personalidade humana é construída na
infância e a esta soma-se a milenar bagagem espiritual adquirida em outras
encarnações. As bases de muitas indecisões diante da vida se devem à educação
autoritária dada pelos pais, que escolhem sistematicamente pelos filhos desde
roupas, alimentos, esportes, brinquedos, férias, até amigos, profissão e
afetos.
Crianças crescem deixando parentes; companheiros ou professores
decidirem por elas sem levar em conta seus gostos e preferências. Essas crianças se
tomarão, mais tarde, homens sem segurança, firmeza e coragem de tomar atitudes
perante a vida. O direito de decidir deve ser estimulado sempre desde
a infância, pois se trata de apoio vital na formação de um sólido sentimento de
determinação e firmeza, que refletirá no adulto de amanhã.
Indagou o Codificador do Espiritismo: “Que é o que resulta dos
embaraços que se oponham à liberdade de consciência?” E a Espiritualidade foi
taxativa: “Constranger
os homens a procederem em desacordo com o seu modo de pensar; fazê-los
hipócritas. (...)” (54)
Essa hipocrisia não é propriamente intencional ou feita conscientemente,
mas é quase sempre inconsciente. Não deixa, porém, de ser um modelo
comportamental falso ou fingido da criatura humana, que se conduz de maneira
diferente do seu jeito de ser e agir.
O constrangimento que se faz à nossa liberdade de consciência prejudica
a busca de nós mesmos, a nossa afirmação perante a vida, bem como nos dificulta
encontrar a peculiar forma de amar.
Em razão disso tudo, indivíduos passam a usar uma máscara de “bonzinho”
como meio de seduzir, conquistar ou conseguir disfarçar a enorme incerteza que
carregam, mas, periodicamente, mostra de modo claro sua insatisfação interior:
explodem em raiva inesperada contra aqueles com quem convivem. As relações
ficam sensivelmente limitadas, pois nunca se sabe quanto a sua “bondade
extremada” vai suportar uma opinião contrária ou algo que lhes desagrade.
Essas “estranhas bondades” são peculiares das pessoas que não
desenvolveram a confiança em suas ideias, intuições e vocações íntimas e nunca
se afirmam em si mesmas. Não admitem sua insegurança e, por isso, a agressividade
acaba quase sempre controlando suas reações. Vivem comportamentos meais e
simulados, tentando agradar a todos e fazendo da mentira uma necessidade para
viver. Pagam, porém, um preço fisiológico, ou seja, a somatização das raivas e
fragilidades que mantêm fantasiadas em candura e amabilidade.
Um comportamento exagerado de
um indivíduo geralmente significa o oposto do que ele demonstra e confessa.
Os inseguros vivem numa espécie de “heteronomia crônica”, quer dizer, não escolhem as leis
que regem sua conduta. Distanciados cada vez mais de uma vida
autônoma, submetem-se a princípios e a pessoas diferentes de seu modo de
pensar.
Usar a nossa própria intimidade para nos guiar, lançar mão de nossas
sensações, emoções e sentimentos é a chave essencial que nos dará segurança.
Referencias:
52 LE 255 – Quando um Espírito diz que sofre,
de que natureza é o seu sofrimento?
“Angústias morais, que o torturam mais dolorosamente
do que todos os sofrimentos físicos.”
53 - Mateus 5:37
54 LE 837 – Que é o que resulta dos embaraços
que se oponham à liberdade de consciência?
“Constranger os homens a
procederem em desacordo com o seu modo de pensar, fazê-los hipócritas. A liberdade
de consciência é um dos caracteres da verdadeira civilização e do progresso.”
Esse texto nos mostra, a realidade como realmente nos comportamos um com os outros de forma errônea e muitas das vezes, bastante constranjedor. Que sejamos criaturas mais autenticas e menos hipocritas.
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