HIPNOTISMO VULGAR – No exame dos
sucessos devidos ao reflexo condicionado, é importante nos detenhamos, por
alguns instantes, no hipnotismo vulgar.
Há quem
diga que o ato de hipnotizar se filia à ciência de atuar sobre o espírito
alheio, e, para que a impressão provocada, nesse sentido, se faça duradoura e
profunda é imperioso se
não desenvolva maior intimidade entre o magnetizador e a pessoa que lhe serve
de instrumento, porquanto a faculdade de hipnotizar, para persistir
em alguém, reclama dos outros; obediência e respeito.
Reparemos
o fenômeno hipnótico em sua feição mais simples, a evidenciar-se, muita vez, em
espetáculos públicos menos edificantes.
O
operador pede silêncio, e, para observar quais as pessoas mais suscetíveis de
receber-lhe a influenciação, roga que todos os presentes fixem determinado
objeto ou local, proibindo perturbação e gracejo.
Anotamos
aqui a operação inicial do “circuito fechado”.
Exteriorizando-se
em mais rigoroso regime de ação e reação sobre si mesma, a corrente mental dos
assistentes capazes de entrar em sintonia com o toque de indução do
hipnotizador passa a absorver-lhe os agentes mentais, predispondo-se a
executar-lhe as ordens.
Semelhantes
pessoas não precisarão estar absolutamente coladas à região espacial em que se
encontra a vontade que as magnetiza.
Podem estar até mesmo muito distanciadas, sofrendo-lhe a influência
através do rádio, de gravações e da televisão.
Desde que
se rendam, profundamente, à sugestão inicial recebida, começam a emitir certo
tipo de onda mental com todas as potencialidades criadoras da ideação comum, e
ficam habilitadas a plasmar as formas-pensamentos que lhes sejam sugeridas,
formas essas que, estruturadas pelos movimentos de ação dos princípios mentais exteriorizados,
reagem sobre elas próprias, determinando os efeitos ou alucinações que lhes
imprima a vontade a que se submetem.
Temos aí a perfeita conjugação de forças
ondulatórias.
GRAUS DE PASSIVIDADE – Induzidos pelo
impacto de comando do hipnotizador, os hipnotizados produzem oscilações mentais
com freqüência peculiar a cada um, oscilações essas que, partindo deles, entram
automaticamente em relação com a onda de forças positivas do magnetizador,
voltando a eles próprios com a sugestão que lhes é desfechada, estabelecendo
para si mesmos o campo alucinatório em que lhe responderão aos apelos.
Cada
instrumento, nesse passo, após demonstrar obediência característica,
revelar-se-á em determinado grau de passividade.
A maioria
estará em posição de hipnose vulgar, alguns cairão em letargia e alguns raros
em catalepsia ou sonambulismo.
Nos dois
primeiros casos (isto
é, na hipnose e na letargia), as pessoas apassivadas, à frente do magnetizador, terão
libertado, em condições anômalas, certa classe de aglutininas mentais que
facultam o sono comum, obscurecendo os núcleos de controle do Espírito, nos
diversos departamentos cerebrais.
Além
disso, correlacionam-se com a onda-motor da vontade a que se sujeitam,
substancializando, na conduta que lhes é imposta, os quadros que se lhes
apresentem.
Nos dois
segundos (na
catalepsia e no sonambulismo provocado), as oscilações mentais dos hipnotizados, a
reagirem sobre eles mesmos, determinam o desprendimento parcial ou total do perispírito
ou psicossoma, que, não obstante mais ou menos liberto das células físicas, se
mantém sob o domínio direto do magnetizador, atendendo-lhe as ordenações.
IDÉIA-TIPO E REFLEXOS INDIVIDUAIS – Na hipnose ou na
letargia, os passivos controlados executam habitualmente cenas que provocam
admiração pela jogralidade com que se manifestam.
O
hipnotizador dará, por exemplo, a dez passivos, em ação, a idéia de frio,
asseverando que a atmosfera se tornou subitamente gélida.
Expedirão
todos eles, para logo, ondas mentais características, associando as imagens que
sejam capazes de formular.
Semelhantes
vibrações encontram na onda mental do hipnotizador o agente excitante que lhes
alimenta o fluxo crescente na direção do objetivo determinado.
No
decurso de instantes, essas vibrações terão reagido muitas vezes sobre os
cérebros que as geram e entretecem, inclinando-os a agir como se realmente
estivessem em pleno inverno.
Cada um,
entretanto, procederá no vaivém das oscilações de maneira diversa.
Aqui, um
deles abotoará fortemente o casaco; ali, outro se encolherá, vergando a cabeça
para a frente; acolá, outro fará gestos de quem toma agasalhos, utilizando
objetos em desacordo com os que imagina, e, além, ainda outros tremerão
impacientes, como que desamparados à ventania de um temporal.
O toque
excitante do hipnotizador lançou uma idéia; contudo, as mentes por ele
impressionadas responderam em sintonia, mas segundo os reflexos peculiares a si
mesmas.
AULA DE VIOLINO – Na mesma ordem de
fenômenos, o hipnotizador sugerirá aos mesmos passivos, em sono provocado, que
se encontram numa aula de música e que lhes cabe o dever de ensaiarem ao
violino.
A mente
de cada um despedirá ondas de acordo com a ordem recebida, criando a forma-pensamento
respectiva.
Em poucos
segundos, sob o controle do magnetizador, tê-la-ão plasmado com tanto realismo
quanto lhes seja possível.
Os mais
achegados ao culto do referido instrumento assumirão atitude consentânea com o
estudo mentalizado, conjugando movimentos harmoniosos, com a dignidade de um
concertista, enquanto os adventícios da música exibirão gestos grotescos, manobrando
a forma-pensamento mencionada quais se fossem crianças injuriando a arte
musical.
Em todos,
os estados anômalos a que nos referimos, os sujets governados demonstrarão
certo grau de passividade. Da hipnose semi-consciente ao sonambulismo profundo,
numerosas posições se evidenciam.
HIPNOSE E TELEMENTAÇÃO – Em determinados
estágios da ocorrência hipnótica, verifica-se o desprendimento parcial da personalidade,
com o deslocamento de centros sensoriais.
Ainda aí,
porém, o hipnotizado, no centro das irradiações mentais que lhe são próprias,
permanece controlado pela onda positiva da vontade a que se submete.
Nessa
condição, esse ou aquele passivo pode ainda representar o papel de suposta
personalidade, conforme a sugestão que o magnetizador lhe incuta.
O
hipnotizador escolherá, de preferência, uma figura popular, um cantor, um
literato ou um regente de orquestra que esteja no âmbito de conhecimento do
passivo em ação e incliná-lo-á a sentir-se como sendo a pessoa lembrada.
Imediatamente
o sujet estampará, no próprio fluxo de energia mental, a figura do artista, do
escritor ou do maestro, de acordo com as possibilidades da própria imaginação,
tomará da pena, erguerá a voz, ou empunhará a forma-pensamento de uma batuta, por
ele mesmo criada, manobrando os mecanismos da mente para substancializar a
sugestão recebida.
Entretanto,
se o magnetizador lembra algum maestro de aldeia, ou escritor sem projeção, ou
algum cantor obscuro, conhecido apenas dele, não será tão fácil ao passivo
atender-lhe as ordens, por falta de recursos imaginativos a serem apostos por
ele mesmo nas próprias oscilações mentais, o que apenas será conseguido após
longos exercícios de telementação especializada entre ambos.
SUGESTÃO E AFINIDADE – Estabelecida a
sugestão mais profunda, o hipnotizador pode traçar ao sujet, com pleno êxito, essa
ou aquela incumbência de somenos importância, para ser executada após desperte
do sono provocado, seja oferecer um lápis ou um copo d’água a certa pessoa,
sugestão essa que por seu caráter elementar é absorvida pela onda mental do
passivo, em seu movimento de refluxo, incorporando-se-lhe, automaticamente, ao
centro da atenção, para que a vontade lhe dê curso no instante preciso.
Isso,
porém, não aconteceria de modo tão simples se a sugestão envolvesse processos
de mais alta responsabilidade na esfera da consciência, porquanto, nos atos
mais complexos do Espírito, para que haja sintonia nas ações que envolvam
compromisso moral, é imprescindível que a onda do hipnotizador se case
perfeitamente à onda do hipnotizado, com plena identidade de tendências ou
opiniões, qual se estivessem jungidos, moralmente, um ao outro nos recessos da
afinidade profunda.
[1] Fonte: Mecanismos da Mediunidade, Ditado pelo Espírito André Luiz, psicografia
de Francisco Cândido Xavier e Waldo Vieira, Editora FEB, Capitulo XIII