sábado, 21 de março de 2020

AMOR E CONCILIAÇÃO


AMOR E CONCILIAÇÃO[1]
(Re)conciliação é momento de amor no desenvolvimento dos elevados valores da vida.
 A existência física de todos os indivíduos é assinalada por sofrimentos e lutas que não cessam. Sai-se de um estágio difícil e inicia-se outro, defrontando-se novas formas de experiências, nas quais o desalento e a dificuldade parecem unir-se para obstaculizar a marcha do viandante.
Aqui é alguém que deserta da companhia, ali é a trama da ignorância travestida de perversidade, conspirando contra a paz, mais adiante é a infâmia urdindo dissabores sem conto. E o viajante do carreiro carnal, também desestruturado emocionalmente e sem os requisitos espirituais para compreender as ocorrências necessárias, acumula amarguras e decepções, que se transformam em ressentimentos e ódios perturbadores.
Ignorando a legitimidade do amor, por não o haver ainda vivenciado, acredita que qualquer tentativa de insculpi-lo no íntimo redundará inútil, senão perniciosa, em razão de, aparentemente, não haver campo para a sua vigência.
Acumulando fel e desar, quem assim se comporta recua ante as possibilidades de expressar afeto, desconfiando das manifestações dessa natureza que lhe são direcionadas.
Sem dar-se conta torna-se pessimista, em relação às demais pessoas, à sociedade, à vida, tornando-se amargo e desinteressado de relacionamentos mais profundos, receando experimentar sofrimentos mais graves.
O amor, no entanto, é poderoso elixir de longa vida, que restitui as energias gastas e as esperanças fanadas.
Os acontecimentos nefastos que são relacionados, de forma alguma defluem da sua natureza, sendo antes fruto do primarismo do sentimento humano que se apresenta em forma inicial de crescimento, direcionando-se no rumo da afetividade.
Porque ainda asselvajado, não possui uma ética de comportamento que estabeleça o código de como proceder em relação ao outro, àquele a quem se dirige, permanecendo instável, interesseiro, amorfo, não definido. A me-dida que conquista as paisagens do sentimento, altera a constituição e passa a expressar-se de maneira diferente, propiciadora de confiança, estabelecendo elos de legitimidade com que se aformoseia e se encanta.
O amor jamais causa dissabor, nunca decepciona nem se desaponta.
Isso porque nada espera em resposta, evitando impor-se como manifestação egoísta ou tornando-se cediço em nome da afeição, quando a sua deva ser a atitude de coerência com a realidade.
Eis por que, no amor, uma das maneiras mais graves de manifestar-se será quando convidado a negar algo que não corresponde à legitimidade dos acontecimentos ou simplesmente não deva ser concedido. Pode chocar; jamais iludir, não temendo a reação daquele a quem se dirige e que, talvez, não lhe compreenda a atitude veraz, dignificadora.
O amor, também, mesmo nos momentos mais ásperos, jamais interrompe a sua ação, permanecendo integral, embora não manifesto de maneira objetiva, sensorial.
Nessa atitude silenciosa e quase desconhecida emite energias de alta potência que vitalizam o ser amado, que lhe ignora a procedência.
O amor é conciliador, no entanto não se acumplicia com aquilo que é incorreto.
Possui o dom de perdoar, olvidando todo o mal apenas para recordar-se de todo o bem que pode vislumbrar em qualquer ação ou pessoa.
Reconcilia-se com o adversário, aquele que se fez inimigo e se comprazia em manter uma atitude hostil, responsável por situações desagradáveis e prejudiciais. Não cobra estipêndios morais, a fim de estabelecer a paz.
Expressa a verdadeira conciliação, auxiliando o incompreendido ou malsinado a conviver em harmonia com aquele que o infelicitou ou lhe gerou problemas, não os recordando, tampouco solicitando esclarecimentos e justificações, aliás, muito do agrado do egoísmo doentio.
A conciliação, que é filha direta do perdão e da compaixão, faculta inusual júbilo do sentimento, que tudo apaga e esquece, compreendendo que aqueles comportamentos anteriores eram resultado da ignorância e das experiências iniciais do processo evolutivo.
Reconciliado no mundo interior, aquele que ama esparge jovialidade, modificando a aparência física que retrata o estado emocional interno, assim catalisando simpatia e saúde espiritual.
Essa conquista de reconciliação não espera, necessariamente, o ressarcimento, e porque nada aguarda nunca se decepciona quando ainda permanece incompreendida ou não é aceita pelo outro, o seu opositor.
Não é importante que aquele a quem seja dirigida agasalhe-a, considerando-a oportunidade adequada para o estabelecimento da paz. O seu valor consiste no que significa para quem a desenvolve, pouco lhe importando os resultados que disso advenham.
O amor é rico de conciliação, porque sabe que essa é a atitude melhor, que somente pode produzir frutos sazonados, e que um dia esplenderá em um hino de solidariedade e de paz entre todos os seres.
Por extensão, confia no poder dessa força intangível, mas que movimenta o Universo, sabendo inconscientemente que, cedo ou tarde, a sua doação retornará pelos movimentos especiais de fraternidade, entendimento e amizade.
Não seja estranhável se a pessoa que deseja realmente amar envolve-se em problemas e conflitos. Por não saber ainda os mecanismos sutis do amor, procura expressá-lo nas ocasiões inadequadas às pessoas imaturas e despreparadas, recebendo de volta complicações e dúvidas ultrajantes.
É compreensível que tal aconteça se for considerado que o amor exterioriza-se no emaranhado dos relacionamentos, interligando pessoas de temperamentos diversos, de diferentes culturas e condutas, não as julgando ou as condenando, não concordando ou deixando de anuir com a sua forma de ser.
Aprende-se a amar. O sentimento surge espontâneo, porém desenvolve-se pela experiência, mediante a sabedoria e convivência com os demais seres humanos.
Os relacionamentos não são muito fáceis, porque cada um tem a sua própria historiografia escrita na sua maneira de ser.
Dificilmente dois indivíduos respondem da mesma forma aos apelos do amor, seguindo, não poucas vezes, veredas diferentes.
O amor os entende e avança ao seu lado até onde é possível, prosseguindo não conforme agradaria, porém consoante lhe convém.
Esse é um dos momentos mágicos do amor e da conciliação: saber onde parar, quando prosseguir e como fazê-lo
O Mestre do amor referiu-se com imensa propriedade: Reconcilia-te com o teu adversário, enquanto estás no caminho com ele.
Para que haja essa (re)conciliação é necessário que o amor impere no país dos sentimentos, oferecendo paz e perdão ao ofensor, sem o que o gesto de busca e encontro perderia o seu significado, por manter apenas uma posição exterior.

(Re)conciliação é momento de amor em pleno estágio de desenvolvimento dos elevados valores da vida.


[1] Fonte: Livro – Garimpo de Amor – ditado do Espírito Joana de Ângelis, psicografia de Divaldo Pereira Franco, Ed LEAL,

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