segunda-feira, 21 de maio de 2018

ATÉ AO FIM


ATÉ AO FIM

 “Mas aquele que perseverar até ao fim será salvo.”
Jesus.
Mateus 24, 13

Aqui não vemos Jesus referir-se a um fim que simbolize término e, sim, à finalidade, ao alvo, ao objetivo.
O Evangelho será pregado aos povos para que as criaturas compreendam e alcancem os fins superiores da vida.
Eis por que apenas conseguem quebrar o casulo da condição de animalidade aqueles Espíritos encarnados que sabem perseverar.
Quando o Mestre louvou a persistência, evidenciava a tarefa árdua dos que procuram as excelências do caminho espiritual.
É necessário apagar as falsas noções de favores gratuitos da Divindade.
Ninguém se furtará impune, à percentagem de esforço que lhe cabe na obra de aperfeiçoamento próprio.
As portas do Céu permanecem abertas. Nunca foram cerradas.
Todavia, para que o homem se eleve até lá, precisa asas de amor e sabedoria. Para isto, concede o Supremo Senhor extensa cópia do material de misericórdia a todas as criaturas, conferindo, entretanto, a cada um o dever de talhá-las.
Semelhante tarefa, porém, demanda enorme esforço. A fim de concluí-la, recruta-se a contribuição dos dias e das existências.
Muita gente se desanima e prefere estacionar, séculos a fio, nos labirintos da inferioridade; todavia, os bons trabalhadores sabem perseverar, até atingirem as finalidades divinas do caminho terrestre, continuando em trajetória sublime para a perfeição.



Livro: Pão Nosso – Ditado pelo Espírito Emmanuel; psicografia de Francisco Cândido Xavier, Cap. 36, Edit. FEB

sábado, 19 de maio de 2018

VÊ, POIS


VÊ, POIS

"Vê, pois, que a luz que há em ti não seja trevas."
Jesus.
Lucas, 11:35

Há ciência e há sabedoria, inteligência e conhecimento, intelectualidade e luz espiritual.
Geralmente, todo homem de raciocínio fácil é interpretado à conta de mais sábio, no entanto, há que distinguir.
O homem não possui ainda qualidades para registrar a verdadeira luz. Daí, a necessidade de prudência e vigilância.
Em todos os lugares, há industriosos e entendidos, conhecedores e psicólogos.
Muitas vezes, porém, não passam de oportunistas prontos para o golpe do interesse inferior.
Quantos escrevem livros abomináveis, espalhando veneno nos corações?
Quantos se aproveitam do rótulo da própria caridade visando extrair vantagens à ambição?
Não bastam o engenho e a habilidade. Não satisfaz a simples visão psicológica. É preciso luz divina.
Há homens que, num instante, apreendem toda a extensão dum campo, conhecem-lhe a terra, identificam-lhe o valor.
Há, todavia, poucos homens que se apercebem de tudo isso e se disponham a suar por ele, amando-o antes de explorá-lo, dando-lhe compreensão antes da exigência.
Nem sempre a luz reside onde a opinião comum pretende observá-la.
Sagacidade não chega a ser elevação, e o poder expressivo apenas é respeitável e sagrado quando se torna ação construtiva com a luz divina.
Raciocina, pois, sobre a própria vida.
Vê, com clareza, se a pretensa claridade que há em ti não é sombra de cegueira espiritual.


Livro: Vinha de Luz – Ditado pelo Espírito Emmanuel; psicografia de Francisco Cândido Xavier, Cap. 33, Edit. FEB

sexta-feira, 18 de maio de 2018

ESTENDAMOS O BEM

ESTENDAMOS O BEM

 “Não te deixes vencer pelo mal, mas vence o mal com o bem.”
Paulo
Romanos, 12 :21
Repara que, em plena casa da Natureza, todos os elementos, em face do mal, oferecem o melhor que possuem para o reajustamento da harmonia e para a vitória do bem.
Quando o temporal parece haver destruído toda a paisagem, congregam-se as forças divinas da vida para a obra do refazimento.
O Sol envia luz sobre o lamaçal, curando as chagas do chão.
O vento acaricia o arvoredo e enxuga-lhe os ramos.
O cântico das aves substitui a voz do trovão.
A planície recebe a enxurrada, sem revoltar-se, e converte-a em adubo precioso.
O ar que suporta o peso das nuvens e o choque da faísca destruidora, torna à leveza e à suavidade.
A árvore de frondes quebradas ou feridas regenera-se, em silêncio, a fim de produzir novas flores e novos frutos.
A terra, nossa mãe comum, sofre a chuva de granizos e o banho de Iodo, periodicamente, mas nem por isso deixa de engrandecer o bem cada vez mais.
Por que conservaremos, por nossa vez, o fel e o azedume do mal, na intimidade do coração?
Aprendamos a receber a visita da adversidade, educando-lhe as energias para proveito da vida.
A ignorância é apenas uma grande noite que cederá lugar ao sol da sabedoria.
Usa o tesouro de teu amor, em todas as direções, e estendamos o bem por toda parte.
A fonte, quando tocada de lama, jamais se dá por vencida. Acolhe os detritos no próprio seio e, continuando a fluir, transforma-os em bênçãos, no curso de suas águas que prosseguem correndo, com brandura e humildade, para benefício de todos.


Livro:  Fonte Viva – Ditado pelo Espírito Emmanuel; psicografia de Francisco Cândido Xavier, Cap. 35, Edit. FEB

A ARTE DE FORMAR CARACTERES

A ARTE DE FORMAR CARACTERES[1]
A prática e as pesquisas realizadas por psicólogos demonstram a necessidade de se repensar a questão da educação[2]. dos filhos.
Depois que as experiências provaram que o método do autoritarismo, aplicado por nossos pais, estava ultrapassado e de certa forma ineficiente, optou-se por outro método menos eficaz e até danoso: o da
liberdade sem responsabilidade”.
Considerada por alguns psicólogos como prejudicial ao desenvolvimento sadio da criança, a palavra “não” foi banida do vocabulário de muitos pais, que hoje amargam profundamente a total falta de
controle sobre a prole.
Inadvertidamente e sem exames mais acurados, os pais modernos aceitaram a filosofia do “tudo pode”, não levando em conta a necessidade de se estabelecerem limites para que haja harmonia dentro do lar.
Depois de perder o controle da situação, muitos apelaram para outro método desastroso: o da barganha.
Impotentes diante da teimosia dos filhos, criados sem as normas básicas de disciplina, os pais se perdem nos labirintos das “compensações”, em que tudo é negociado.
Se for hora de ir para a cama e o filho não obedece, a mãe logo lança mão de algum motivo para a “negociata”: “se você for dormir, a mamãe deixa você jogar aquela fita de ‘game’ violenta, que você tanto
gosta”.
Nesse caso, bastaria que a mãe, consciente da sua missão de educadora, tomasse seu filho pela mão e o conduzisse com carinho e firmeza para a cama.
Ou, ainda, se é hora do banho e o “anjinho” faz corpo mole, a mãe logo faz outro “trato”, esquecendo-se de que quanto mais se negocia com a criança, mais ela exigirá para fazer o que é sua obrigação.
Alguns psicólogos defendem a volta do autoritarismo na educação dos filhos, mas isso já ficou provado que não dá bons resultados. Seria “domesticação” ao invés de educação.
Considerando-se que a educação, segundo Allan Kardec, no comentário da questão 685a[1], de O Livro dos Espíritos é: “A arte de formar caracteres temos de convir que a barganha somente sirva
para “deformar” os caracteres dos nossos educandos.
Ademais, se levarmos em conta que nossos filhos são Espíritos encarnados que vêm do espaço para progredir, trazendo em si mesmos as experiências pretéritas, boas ou não, entenderemos que a grande missão dos pais é ensinar-lhes a dignidade, não pelo autoritarismo, mas pela autoridade
moral, isto é, ensinar pelo exemplo.
Nossos filhos não aceitam somente não como resposta. Eles merecem e precisam de uma explicação coerente. Não falamos de justificativas, mas de diálogo.
Se existe um horário para dormir, se é preciso tomar banho, se não se pode comprar esse ou aquele brinquedo, a criança tem o direito de saber por quê.
Dizendo, por exemplo, que não podemos comprar o brinquedo que ela tanto quer porque o orçamento não comporta, ela entenderá, ao passo que se dissermos um “não” somente, ela ficará revoltada por pensar que não compramos por má vontade.
Tudo isso requer muito investimento, que não quer dizer “perda de tempo”, como muitos pais afirmam. Investimento de tempo, paciência, afeto e carinho. A tarefa não é tão difícil e certamente é mais
eficaz.
Como espíritas, deveremos ter sempre em mente a advertência de Santo Agostinho, em O Evangelho Segundo o Espiritismo: 
Lembrai-vos de que a cada pai e a cada mãe perguntará Deus: Que fizestes do filho confiado à vossa guarda?
Se por culpa vossa ele se conservou atrasado, tereis como castigo vê-lo entre os Espíritos sofredores, quando de vós dependia que fosse ditoso.





[2] Educar não pode limitar-se a instruir, a transmitir informação, nem a transmitir competências; integra não só questões de autonomia, mas também problemas de autoridade, de tradição e de transmissão da cultura.     https://pt.wikipedia.org/wiki/Educa%C3%A7%C3%A3o


[1] 685-a. Mas o que fará o velho que precisa trabalhar para viver e não pode?
– O forte deve trabalhar para o fraco; na falta da família, a sociedade deve ampará-lo: é a lei da caridade. Não basta dizer ao homem que ele deve trabalhar, é necessário também que o que vive do seu trabalho encontre ocupação, e isso nem sempre acontece. Quando a falta de trabalho se generaliza, toma as proporções de um flagelo, como a escassez. A ciência econômica procura o remédio no equilíbrio entre a produção e o consumo, mas esse equilíbrio, supondo-se que seja possível, sofrerá sempre intermitências e durante essas fases o trabalhador tem necessidade de viver. Há um elemento que não se ponderou bastante, e sem o qual a ciência econômica não passa de teoria: a educação. Não a educação intelectual, mas a moral, e nem ainda a educação moral pelos livros, mas a que consiste na arte de formar os caracteres, aquela que cria os hábitos, porque educação é conjunto de hábitos adquiridos. Quando se pensa na massa de indivíduos diariamente lançados na corrente da população, sem princípios, sem freios, entregues aos próprios instintos, deve-se admirar das conseqüências desastrosas desse fato? Quando essa arte for conhecida, compreendida e praticada, o homem seguirá no mundo os hábitos de ordem e previdência para si mesmo e para as seus, de respeito pelo que é respeitável, hábitos que lhe permitirão atravessar de maneira menos penosa os maus dias inevitáveis. A desordem e a imprevidência são duas chagas que somente uma educação bem compreendida pode curar. Nisso está o ponto de partida, a elemento real do bem estar, a garantia da segurança de todos (47).

(47) A concepção espírita do trabalho como lei natural, determinante ao mesmo tempo da evolução do homem e da Natureza, coincide com o princípio marxista segundo o qual, nas próprias palavras de Marx: “Agindo sobre a Natureza, que está fora dele, e transformando-a por meio da ação, o homem se transforma também a si mesmo”. Vemos, no item 676, que “sem o trabalho o homem permaneceria na infância intelectual”. O Espiritismo não encara, pois, o trabalho como “uma condenação”, segundo dizem alguns marxistas, mas como uma necessidade da evolução humana e da evolução terrena. Trabalhar não é sofrer, mas progredir, desenvolver-se, conquistar a felicidade. A diferença está em que, para os marxistas, a felicidade se encontra nos produtos materiais do trabalho na Terra, enquanto para os espíritas, além dos proventos imediatos da Terra, o trabalho proporciona também os da evolução espiritual. Por isso não basta dar trabalho ao homem, sendo também necessário dar-lhe educação moral, ou seja, orientação espiritual para que ele possa tirar do trabalho todos os proventos que este lhe pode dar. Um mundo socialista, de trabalho e abundância para todos, mas sem perspectivas espirituais, seria tão vazio e aborrecido como um mundo espiritual de ociosidade, segundo o prometido pelas religiões. O paraíso terrestre do marxismo equivaleria ao paraíso celeste dos beatos. O Espiritismo não aceita um extremo nem outro, colocando as coisas em seu devido lugar. (N. do T.)

sábado, 24 de março de 2018

OS ANTIGOS E MODERNOS, SISTEMAS DO MUNDO


OS ANTIGOS E MODERNOS, SISTEMAS DO MUNDO

1. A primeira ideia que os homens formaram da Terra, do movimento dos astros e da constituição do Universo, há de, a princípio, ter-se baseado unicamente no que os sentidos percebiam. Ignorando as mais elementares leis da Física e as forças da Natureza, não dispondo senão da vista como meio de observação, apenas pelas aparências podiam eles julgar. Vendo o Sol aparecer pela manhã, de um lado do horizonte, e desaparecer, à tarde, do lado oposto, concluíram naturalmente que ele girava em torno da Terra, conservando-se esta móvel. Se lhes dissessem então que o contrário é o que se dá, responderiam não ser possível tal coisa, objetando: vemos que o Sol muda de lugar e não sentimos que a Terra se mexa.
2. A pequena extensão das viagens, que naquela época raramente iam além dos limites da tribo ou do vale, não permitia se comprovasse a esfericidade da Terra. Como, ao demais, haviam de supor que a Terra fosse uma bola? Os seres, em tal caso, somente no ponto mais elevado poderiam manter-se e, supondo-a habitada em toda a superfície, como viveriam eles no hemisfério oposto, com a cabeça para baixo e os pés para cima? Ainda menos possível houvera parecido isso com o movimento de rotação. Quando, mesmo aos nossos dias, em que se conhece a lei de gravitação, se vêem pessoas relativamente esclarecidas não perceberem esse fenômeno, como nos surpreendermos de que homens das primeiras idades não o tenham, sequer, suspeitado? Para eles, pois, a Terra era uma superfície plana e circular, qual uma mó de moinho, estendendo-se a perder de vista na direção horizontal. Daí a expressão ainda em uso: Ir ao fim do mundo. Desconheciam-lhe os limites, a espessura, o interior, a face inferior, o que lhe ficava por baixo.
3. Por se mostrar sob forma côncava, o céu, na crença vulgar, era tido como uma abóbada real, cujos bordos inferiores repousavam na Terra e lhe marcavam os confins, vasta cúpula cuja capacidade o ar enchia completamente. Sem nenhuma noção do espaço infinito, incapazes mesmo de o conceberem, imaginavam os homens que essa abóbada era constituída de matéria sólida, donde a denominação de firmamento que lhe foi dada e que sobreviveu à crença, significando: firme, resistente (do latim firmamentum, derivado de firmus e do grego herma, hermatos, firme, sustentáculo, suporte, ponto de apoio).
4. As estrelas, de cuja natureza não podia suspeitar, eram simplesmente pontos luminosos, de volumes diversos, engastados na abóbada, como lâmpadas suspensas, dispostas sobre uma única superfície e, por conseguinte, todas à mesma distância da Terra, tal como as que se vêem no interior de certas cúpulas, pintadas de azul, figurando a do céu. Se bem hoje sejam outras as idéias, o uso das expressões antigas se conservou. Ainda se diz, por comparação: a abóbada estrelada; sob a cúpula do céu.
5. Igualmente desconhecida era então a formação das nuvens pela evaporação das águas da Terra. A ninguém podia acudir a ideia de que a chuva, que cai do céu, tivesse origem na Terra, donde ninguém a via subir. Daí a crença na existência de águas superiores e de águas inferiores, de fontes celestes e de fontes terrestres, de reservatórios colocados nas altas regiões, suposição que concordava perfeitamente com a ideia de uma abóbada sólida, capaz de sustentá-los. As águas superiores, escapando-se pelas frestas da abóbada, caíam em chuva e, conforme fosse; mais ou menos largas as frestas, a chuva era branda, torrencial e diluviana.
6. A ignorância completa do conjunto do Universo e das leis que o regem, da natureza, da constituição e da destinação dos astros, que, aliás, pareciam tão pequenos, comparativamente à Terra, fez necessariamente fosse esta considerada como a coisa principal, o fim único da criação e os astros como acessórios, exclusivamente criados em intenção dos seus habitantes. Esse preconceito se perpetuou até aos nossos dias, apesar das descobertas da Ciência, que mudaram, para o homem, o aspecto do mundo. Quanta gente ainda acredita que as estrelas são ornamentos do céu, destinados a recrear a vista dos habitantes da Terra!
7. Não tardou, porém, se apercebessem do movimento aparente das estrelas, que se deslocam em massa do oriente para o ocidente, despontando ao anoitecer e ocultando-se pela manhã, e conservando suas respectivas posições. Semelhante observação, contudo, não teve, durante longo tempo, outra conseqüência que não fosse a de confirmar a ideia de uma abóbada sólida, a arrastar consigo as estrelas, no seu movimento de rotação. Essas idéias primárias, simplistas, constituíram, no curso de largos períodos seculares, o fundo das crenças religiosas e serviram de base a todas as cosmogonias antigas.
8. Mais tarde, pela direção do movimento das estrelas e pelo periódico retorno delas, na mesma ordem, percebeu-se que a abóbada celeste não podia ser apenas uma semi-esfera posta sobre a Terra, mas uma esfera inteira, oca, em cujo centro se achava a Terra, sempre chata, ou, quando muito, convexa e habitada somente na superfície superior. Já era um progresso. Mas, qual o suporte da Terra? Fora inútil mencionar todas as suposições ridículas, geradas pela imaginação, desde a dos indianos, que a diziam suportada por quatro elefantes brancos, pousados estes sobre as asas de um imenso abutre. Os mais sensatos confessavam que nada sabiam a respeito.
9. Entretanto, uma opinião geralmente espalhada nas teogonias pagãs situava nos lugares baixos, ou, por outra, nas profundezas da Terra, ou debaixo desta, não sabia bem, a morada dos réprobos, chamada inferno, isto é, lugares inferiores, e nos lugares altos, além da região das estrelas, a morada dos bem-aventurados. A palavra inferno se conservou até aos nossos dias, se bem haja perdido a significação etimológica, desde que a Geologia retirou das entranhas da Terra o lugar dos suplícios eternos e a Astronomia demonstrou que no espaço infinito não há baixo nem alto.
10. Sob o céu puro da Caldéia, da Índia e do Egito, berço das mais antigas civilizações, o movimento dos astros foi observado com tanta exatidão, quanto o permitia a falta de instrumentos especiais. Notou-se, primeiramente, que certas estrelas tinham movimento próprio, independente da mesma, o que não consentia a suposição de que se achassem presas à abóbada. Chamaram-lhes estrelas errantes ou planetas, para distingui-las das estrelas fixas. Calcularam-se-lhes os movimentos e os retornos periódicos. No movimento diurno da esfera estrelada, foi notada a imobilidade da Estrela Polar, em cujo derredor as outras descreviam, em vinte e quatro horas, círculos oblíquos paralelos, uns maiores, outros menores, conforme a distância em que se encontravam da estrela central. Foi o primeiro passo para o conhecimento da obliquidade do eixo do mundo. Viagens mais longas deram lugar a que se observasse a diferença dos aspectos do céu, segundo as latitudes e as estações. A verificação de que a elevação da Estrela Polar acima do horizonte variava com a latitude, abriu caminho para a percepção da redondeza da Terra. Foi assim que, pouco a pouco, chegaram a fazer uma idéia mais exata do sistema do mundo. Pelo ano 600 AC, Tales, de Mileto (Ásia Menor), descobriu a esfericidade da Terra, a obliquidade da eclíptica e a causa dos eclipses. Um século depois, Pitágoras, de Samos, descobre o movimento diurno da Terra, sobre o próprio eixo, seu movimento anual em torno do Sol e incorpora os planetas e os cometas ao sistema solar. Hiparco, de Alexandria (Egito), 160 anos AC, inventa o astrolábio, calcula e prediz os eclipses, observa as manchas do Sol, determina o ano trópico, a duração das revoluções da Lua. Embora preciosíssimas para o progresso da Ciência, essas descobertas levaram perto de 2.000 anos a se popularizarem. Não dispondo então senão de raros manuscritos para se propagarem, as idéias novas permaneciam como patrimônio de alguns filósofos, que as ensinavam a discípulos privilegiados. As massas, que ninguém cuidava de esclarecer, nenhum proveito tiravam delas e continuavam a nutrir-se das velhas crenças.
11. Cerca do ano 140 DC (era cristã), Ptolomeu, um dos homens mais ilustres da Escola de Alexandria, combinando suas próprias idéias com as crenças vulgares e com algumas das mais recentes descobertas astronômicas, compôs um sistema que se pode qualificar de misto, que traz o seu nome e que, por perto de quinze séculos, foi o único que o mundo civilizado adotou. Segundo o sistema de Ptolomeu, a Terra é uma esfera posta no centro do Universo e composta de quatro elementos: terra, água, ar e fogo. Essa a primeira região, dita elementar. A segunda região, dita etérea, compreendia onze céus, ou esferas concêntricas, a girar em torno da Terra, a saber: o céu da Lua, os de Mercúrio, de Vênus, do Sol, de Marte, de Júpiter, de Saturno, das estrelas fixas, do primeiro cristalino, esfera sólida transparente; do segundo cristalino e, finalmente, do primeiro móvel, que dava movimento a todos os céus inferiores e os obrigava a fazer uma revolução em vinte e quatro horas. Para além dos onze céus estava o Empíreo, habitação dos bem-aventurados, denominação tirada do grego pyr ou pur, que significa fogo, porque se acreditava que essa região resplandecia de luz, como o fogo. Longo tempo prevaleceu a crença em muitos céus superpostos, cujo número, entretanto, variava. O sétimo era geralmente tido como o mais elevado, donde a expressão: ser arrebatado ao sétimo céu. São Paulo disse que fora elevado ao terceiro céu. Afora o movimento comum, os astros, segundo Ptolomeu, tinham movimentos próprios, mais ou menos dilatados, conforme a distância em que se achavam do centro. As estrelas fixas faziam uma revolução em 25.816 anos, avaliação esta que denota conhecimento da precessão dos equinócios, que se realiza em 25.868 anos.
12. No começo do século dezesseis DC, Copérnico, astrônomo célebre, nascido em Thorn (Prússia), no ano de 1472 e morto no de 1543, reconsiderou as idéias de Pitágoras e concebeu um sistema que, confirmado todos os dias por novas observações, teve acolhimento favorável e não tardou a desbancar o de Ptolomeu. Segundo o sistema de Copérnico, o Sol está no centro e ao seu derredor os astros descrevem órbitas circulares, sendo a Lua um satélite da Terra. Decorrido um século, em 1609, Galileu, natural de Florença, inventa o telescópio; em 1610, descobre os quatro satélites de Júpiter e lhe calcula as revoluções; reconhecem que os planetas não têm luz própria como as estrelas, mas que são iluminados pelo Sol; que são esferas semelhantes à Terra; observa-lhes as fases e determina o tempo que duram as rotações deles em torno de seus eixos, oferecendo assim, por provas materiais, sanção definitiva ao sistema de Copérnico. Ruiu então a construção dos céus superpostos; reconheceu-se que os planetas são mundos semelhantes à Terra e, sem dúvida, habitados, como esta; que as estrelas são inumeráveis sóis, prováveis centros de outros tantos sistemas planetários, sendo o próprio Sol reconhecido como uma estrela, centro de um turbilhão de planetas que se lhe acham sujeitos. As estrelas deixaram de estar confinadas numa zona da esfera celeste, para estarem irregularmente disseminadas pelo espaço sem limites, encontrando-se a distâncias incomensuráveis umas das outras as que parecem tocar-se, sendo as aparentemente menores as mais afastadas de nós e as maiores as que nos estão mais perto, porém, ainda assim, a centenas de bilhões de léguas. Os grupos que tomaram o nome de constelações mais não são do que agregados aparentes, causados pela distância; suas figuras não passam de efeitos de perspectiva, como as que as luzes espalhadas por uma vasta planície, ou as árvores de uma floresta formam, aos olhos de quem as observa colocado num ponto fixo. Na realidade, porém, tais agrupamentos não existem. Se nos pudéssemos transportar para a reunião de dessas constelações, à medida que nos aproximássemos dela, a sua forma se desmancharia e novos grupos se nos desenhariam à vista. Ora, não existindo esses agrupamentos senão na aparência, é ilusória a significação que uma supersticiosa crença vulgar lhe atribui e somente na imaginação pode existir. Para se distinguirem as constelações, deram-se nomes como estes: Leão, Touro, Gêmeos, Virgem, Balança, Capricórnio, Câncer, Órion, Hércules, Grande Ursa ou Carro de David, Pequena Ursa, Lira, etc., e, para representá-las, atribuíram-se as formas que esses nomes lembram, fantasiosas em sua maioria e, em nenhum caso, guardando qualquer relação com os grupos de estrelas assim chamados. Fora, pois, inútil procurar no céu tais formas. A crença na influência das constelações, sobretudo das que constituem os doze signos do zodíaco, proveio da ideia ligada aos nomes que elas trazem. Se à que se chama leão fosse dado o nome de asno ou de ovelha, certamente lhe teriam atribuído outra influência.
13. A partir de Copérnico e Galileu, as velhas cosmogonias deixaram para sempre de subsistir. A Astronomia só podia avançar não recuar. A História diz das lutas que esses homens de gênio tiveram de sustentar contra os preconceitos e, sobretudo, contra o espírito de seita, interessado em manter erros sobre os quais se haviam fundado crenças, supostamente firmadas em bases inabaláveis. Bastou a invenção de um instrumento de óptica para derrocar uma construção de muitos milhares de anos. Nada, é claro, poderia prevalecer contra uma verdade reconhecida como tal. Graças à Tipografia, o público, iniciado nas novas idéias, entrou a não se deixar embalar com ilusões e tomou parte na luta. Já não era contra indivíduos que os sustentadores das velhas idéias tinham de combater, mas contra a opinião geral, que esposava a causa da verdade. Quão grande é o Universo em face das mesquinhas proporções que nossos pais lhe assinavam! Quanto é sublime a obra de Deus, desde que a vemos realizar-se conforme às eternas leis da Natureza! Mas, também, quanto tempo, que de esforços do gênio, que de devotamentos se fizeram necessários para descerrar os olhos às criaturas e arrancar-lhes, afinal, a venda da ignorância!
14. Estava desde então aberto o caminho em que ilustres e numerosos sábios iam entrar, a fim de completarem a obra encetada. Na Alemanha, Kepler descobre as célebres leis que lhe conservam o nome e por meio das quais se reconhece que as órbitas que os planetas descrevem não são circulares, mas elipses, um de cujos focos o Sol ocupa. Newton, na Inglaterra, descobre a lei da gravitação universal. Laplace, na França, cria a mecânica celeste. Finalmente, a Astronomia deixa de ser um sistema fundado em conjeturas ou probabilidades e tornam-se uma ciência assente nas mais rigorosas bases, as do cálculo e da geometria. Fica assim lançada uma das pedras fundamentais da Gênese, cerca de 3.300 anos depois de Moisés.


A Gênese – Allan Kardec, Ed FEB, Cap. 05

sexta-feira, 23 de março de 2018

ESTRUTURA DIDÁTICA DE O LIVRO DOS ESPÍRITOS



ESTRUTURA DIDÁTICA DE O LIVRO DOS ESPÍRITOS

 

 “Este livro é o repositório de seus ensinos (dos Espíritos). (… ) Só  a ordem e a distribuição metódica das matérias, assim como as notas e a forma de algumas partes da redação constituem obra daquele que recebeu a missão de os publicar. ”
Allan Kardec(1)
INTRODUÇÃO:
As expressões “ordem” e “distribuição metódica” que sublinhamos no texto em epígrafe são por demais sugestivas. O codificador da Doutrina Espírita, judiciosamente caracterizado como “o bom senso encamado”,(2) certamente teve a preocupação de apresentar a obra fundamental da Codificação Espírita dentro de uma sistemática que fosse, ao mesmo tempo, filosófica, lógica e didaticamente muito bem estruturada.
Fornecer subsídios para uma análise cuidadosa da Tábua das Matérias, isto é, do índice de O Livro dos Espíritos (L.E.), com o objetivo de explicitar uma lógica subjacente à ordem e à distribuição metódica das matérias, constitui o propósito principal deste nosso trabalho.
Apresentaremos nossa análise de O Livro dos Espíritos em duas etapas.
Na primeira etapa, daremos uma visão da estrutura geral da obra, levando em consideração a sua divisão em quatro partes (ou livros). Isto é, apresentaremos argumentos que justificam essa divisão em quatro partes.
De fato, foi provavelmente essa divisão que deu origem ao Pentateuco Espírita. As outras quatro obras fundamentais nasceram como um desenvolvimento de cada uma das partes de O Livro dos Espíritos.
Na segunda etapa, discutiremos cada uma das quatro partes, procurando mostrar de que forma se pode visualizar uma estrutura interna subjacente a cada uma delas. A partir dessa estrutura interna pode-se justificar a ordem proposta por Kardec para os capítulos constituintes da obra. Considere, por exemplo, a segunda parte “Do Mundo Espírita ou Mundo dos Espíritos”.
Como justificar a ordem apresentada para os seus onze capítulos?
Não temos a intenção – e, na verdade, nem podemos tê-la – de passar a ideia de que a estrutura que estamos propondo para a obra O Livro dos Espíritos seja aquela pensada por Kardec. Pretendemos tão somente desenvolver conceitos formados na Codificação Kardequiana, na esperança de fornecer contribuições para o estudo da estrutura lógica da monumental obra O Livro dos Espíritos.
Cabe manter sempre presente a assertiva de Kardec:
“O homem que julga infalível a sua razão está bem perto do erro.” (3)
A ESTRUTURA DIDÁTICA DE O LIVRO DOS ESPÍRITOS:
“Como meio de elaboração, o Espiritismo procede exatamente da mesma forma que as ciências positivas, aplicando o método experimental. Fatos novos se apresentam, que não podem ser explicados pelas leis conhecidas: ele os observa, compara, analisa, e, remontando dos efeitos às causas, chega à conclusão, depois, deduz-lhes as conseqüências e busca as aplicações úteis. ” – Allan Kardec (4)
Não é nosso propósito discutir o método científico utilizado por Allan Kardec. A “Excelência metodológica do Espiritismo” – a tese de que o Espiritismo ajusta-se perfeitamente aos critérios modernos para a caracterização de uma ciência – foi criteriosamente explorada por Chibeni, em vários artigos publicados na Revista Reformador. (5)
As quatro fases, que sublinhamos no texto de Kardec, acima, sobre o meio de elaboração do Espiritismo, podem ser utilizadas para abstrairmos uma forma
didática de apresentação de uma doutrina de caráter científico. Deve ficar claro, desde agora, que não estaremos propondo um método científico de elaboração do Espiritismo. Estaremos apenas sugerindo uma forma, didaticamente adequada, para a apresentação (ou exposição) da Doutrina Espírita.
A primeira faseFatos Novos se apresentam, sugere que, primeiramente, deve ser definido ou escolhido o objeto a ser estudado. Escolhe-se o universo ou o domínio a ser examinado. Delimita-se o campo de atuação da ciência em estudo.
A segunda faseObservação, Comparação e Análise, sugere que se deve, a partir da escolha anteriormente realizada, apresentar uma análise detalhada do universo ou do domínio a ser estudado. Nessa análise, todos os conceitos fundamentais são explicitados, tendo em vista a formulação das leis.
A terceira faseFormulação das Leis, sugere que leis reguladoras do universo em exame devem ser formuladas levando-se em conta a análise apresentada na segunda fase. Desta forma, todos os conceitos necessários para uma melhor compreensão das leis formuladas já foram apresentados na segunda fase.
A quarta faseDedução das conseqüências e busca de aplicações úteis, sugere o que se pode obter da aplicação das leis formuladas sobre os indivíduos do domínio.
Podemos agora formular a seguinte estrutura didática geral para O Livro dos Espíritos:

A 1a. Fase correspondente à parte primeira “Das Causas Primárias”.

Deus e dois elementos gerais do universo, matéria e Espírito, constituem a trindade universal.
Sobre a Divindade vale ressaltar: “Deus existe; disso não podeis duvidar e é o essencial. Crede-me, não vades além. Não vos percais num labirinto donde não lograríeis sair. Isso não vos tornaria melhores, antes um pouco mais orgulhosos pois que acreditaríeis saber, quando na realidade nada saberíeis… ” (O Livro dos Espíritos, p. 14).
Por isso mesmo, Deus não deve, e não pode, ser o objeto principal de estudo o Espiritismo. (6)
A matéria, por sua vez, é o objeto de estudo das ciências ordinárias. Resta ao Espiritismo estudar, do ponto de vista moral, o segundo e mais importante elemento geral do universo: o Espírito.
Assim como a ciência propriamente dita tem por objeto o estudo das leis do princípio material, o objeto especial do Espiritismo é o conhecimento das leis do princípio espiritual”. (A Gênese, Cap. I, item 16)
Definido o objeto, deve-se examiná-lo detalhadamente. O que será feito na 2a. parte.

A 2a. Fase corresponde à parte segunda “Do Mundo Espírita ou Mundo dos Espíritos”.

Os conceitos fundamentais acerca do princípio inteligente – Espírito – são examinados: a origem e natureza dos Espíritos, sua forma e ubiquidade; o perispírito; as diferentes ordens de Espíritos; a progressão dos Espíritos; a encarnação e reencarnação dos Espíritos; a vida espírita; a emancipação da alma; a intervenção dos Espíritos no mundo corporal etc.
Com isso, todos os conceitos necessários à compreensão das leis que regulam a vida moral do Espírito foram analisados. A descrição pormenorizada das Leis Morais é apresentada na 3ª parte.

A 3a. fase corresponde à parte terceira “Das Leis Morais”

As leis divinas, que é que compreendem no seu âmbito? Concerne a alguma outra coisa, que não somente ao procedimento moral. Todas as da Natureza são leis divinas, pois que Deus é o autor de tudo. O sábio estuda as leis da matéria, o homem de bem estuda e pratica as da alma “. ( Livro dos Espíritos, perg. 617)
As leis morais regulam a conduta dos Espíritos. As leis físicas regulam o mundo material. Através da mediunidade, pode-se verificar a ação da lei moral na vida de um Espírito. Através da experimentação, em laboratório, testa-se uma lei física. Em ambos os casos, a experimentação (pela mediunidade ou no laboratório) permite dizer que a lei proposta não é pura especulação filosófica.
As conseqüências, para o Espírito, do cumprimento ou não das Leis Morais são analisadas na 4a. Parte.

A 4a. Fase corresponde à parte quarta “Das Esperanças e Consolações”

Do cumprimento ou não das leis decorrem, necessariamente, as penas e gozos terrestres ou as penas e gozos futuros.
Todas as nossas ações estão submetidas às leis de Deus. Nenhuma há, por mais insignificante que nos pareça, que não possa ser uma violação daquelas leis. Se sofrermos as conseqüências dessa violação, só nos devemos queixar de nós mesmos, que desse modo nos fazemos os causadores da nossa felicidade, ou da
nossa infelicidade futuro. ” (O Livro dos Espíritos, perg. 964).
Cada uma das partes de O Livro dos Espíritos deu origem às outras quatro obras fundamentais:
Parte primeira “Das causas primárias” – A Gênese, os Milagres e as Predições segundo o Espiritismo (1868).
Parte segunda “Do mundo espírita ou mundo dos Espíritos” – O Livro dos Médiuns (1861).
Parte terceira “Das Leis Morais” – O Evangelho Segundo o Espiritismo (1864/1865).
Parte quarta “Das esperanças e consolações” – O Céu e o Inferno ou a Justiça Divina Segundo o Espiritismo (1865).
A ESTRUTURA DIDÁTICA DE CADA UMA DAS PARTES DE O LIVRO DOS ESPÍRITOS

A estrutura didática da 1a. parte “Das Causas Primárias”

Deus, “a causa primária de todas as coisas”, dá origem aos dois elementos gerais do universo: Espírito (“princípio inteligente do universo”) e matéria (“agente, intermediário com o auxílio do qual e sobre o qual atua o Espírito”). Da ação do Espírito sobre a matéria, segundo a lei divina, surge a criação.
Dentre todas as criações destaca-se a criação dos seres vivos, cuja vida é um efeito devido à ação de um agente (princípio vital) sobre a matéria”. “Esse agente, sem a matéria, não é vida, do mesmo modo que a matéria não pode viver sem esse agente.” (O Livro dos Espíritos, pergs.1, 22, 23 e 63).
Parte Primeira:
Das Causas Primárias
1° Capítulo: De Deus
2° Capítulo: Dos Elementos Gerais do Universo
3° Capítulo: Da Criação
4° Capítulo: Do Princípio Vital

A Estrutura da 2a. Parte: “Do mundo espírita ou mundo dos Espíritos”

Os Espíritos constituem o “mundo dos Espíritos ou das inteligências incorpóreas”. O mundo corporal e o mundo dos Espíritos “são independentes; contudo, é incessante a correlação entre ambos, porquanto um sobre o outro incessantemente reagem” (O Livro dos Espíritos, perg. 86). Sendo o Espírito o elemento inteligente comum aos dois mundos, corporal e espiritual, ele pode ser encontrado em 6 (seis) estados ou  situações possíveis, com respeito a esses dois mundos:
1° – Em trânsito do mundo espiritual para o corporal, isto é, em processo de encarnação;
2° – Em trânsito do mundo corporal para o espiritual, ou seja, em processo de desencarnação;
3° – Vivendo no mundo espiritual como Espírito;
4° – Vivendo no mundo corporal como Espírito encarnado (ou alma);
5° – Estando no mundo corporal e ao mesmo tempo interferindo no mundo espiritual;
6°- Estando no mundo espiritual e ao mesmo tempo interferindo no mundo corporal.
O Espírito é o elemento inteligente que atua nos dois lados da vida (corporal e espiritual), portanto, ele deve ser estudado em primeiro lugar. O primeiro capítulo intitula-se “Dos Espíritos”.
O 1° estado descrito acima é estudado no capítulo II “Da encarnação dos Espíritos”.
O 2° estado é analisado no capítulo III “Da volta do Espírito, extinta a vida corpórea, à vida espiritual”.
Esses dois processos, encarnar e desencarnar dá origem às diversas vidas do Espírito. Essas diversas vidas são examinadas no capítulo IV “Da pluralidade das existências”. Como a lei da Pluralidade das Existências constituiu um dos princípios mais importantes da Codificação Espírita, cabe estabelecer as bases
seguras de sua fundamentação, o que será feito no capítulo V “Considerações sobre a pluralidade das existências”.
O 3º estado, a vida do Espírito no mundo espiritual, é estudado no capítulo VI “Da vida espírita”.
O 4º estado, a vida do Espírito no mundo corporal, é analisado no capítulo VII “Da volta do Espírito à vida corporal”.
O 5° estado, vivendo no corpo e interferindo no mundo espiritual, constitui o capítulo VIII “da emancipação da Alma”.
O 6° estado, vivendo no mundo espiritual e interferindo no mundo corporal, constitui o capítulo IX “Da intervenção dos Espíritos no mundo corporal”.
Os seis estados possíveis – encamar, desencarnar, viver no mundo corporal, viver no mundo espiritual, estar no corpo e, ao mesmo tempo, atuar no mundo espiritual, viver no mundo espiritual e, ao mesmo tempo, interferir no mundo corporal – dão origem às missões e ocupações dos Espíritos, apresentadas no capítulo X. “Das ocupações e missões dos Espíritos”.
Esta ação constante do princípio inteligente nos dois lados da vida, corporal e espiritual, vem demonstrar que “tudo em a Natureza se encadeia por elos que ainda não podeis aprender”. “Se observa a série dos seres, descobre-se que eles formam uma cadeia sem solução de continuidade, desde a matéria bruta até o homem
mais inteligente”. (O Livro dos Espíritos, perg. 604 e item XVII da Introdução, respectivamente).
Para estabelecer que esta cadeia – resultado da ação recíproca dos dois mundos, corporal e espiritual (ou dos dois princípios, Espírito e matéria) – se estende, no mundo corporal, para além dos seres humanos, Kardec apresenta o décimo primeiro e último capítulo da Segunda parte: “Dos três reinos.”
“Já não dissemos que tudo em a Natureza se encadeia e tende para a unidade? Nesses seres, cuja totalidade estais longe de conhecer, é que o princípio inteligente se elabora, se individualiza pouco a pouco e se ensaia para a vida, conforme acabamos de dizer. É, de certo modo, um trabalho preparatório, como o da germinação, por efeito do qual o princípio inteligente sofre uma transformação e se torna Espírito”. (O Livro dos Espíritos, perg. 607)

A Estrutura da 3a. Parte: “Das Leis Morais”

Nesta parte são apresentadas as respostas para as três indagações:
a) O que é Lei Moral?
b) Quais são as Leis Morais?
c) Como praticar as Leis Morais?
No capítulo 1 “Da Lei Divina ou Natural” a primeira indagação acima encontra a sua resposta: Entre as leis divinas, umas regulam o movimento e as relações da matéria bruta: as leis físicas, cujo estudo pertence ao domínio da ciência. As outras dizem respeito especialmente ao homem considerado em si mesmo e nas
suas relações com Deus e com seus semelhantes
. Contém as
regras da vida do corpo, bem como as da vida da alma: são as leis morais.” (O Livro dos Espíritos, perg. 617)
A resposta para a segunda pergunta “Quais são as Leis Morais?” pode ser encontrada na parte sublinhada acima: as leis morais devem estabelecer todos os deveres do homem para com Deus, para consigo mesmo e para com o seu próximo.
As Leis Morais estabelecem todos os deveres do homem:
1° – para com Deus;
2° – para consigo mesmo; e
3° – para com o próximo.
Os deveres do homem, na sua relação com Deus, são estabelecidos nas duas primeiras leis morais: Adoração (cap. II) e Trabalho (Cap. III). Através da adoração (“elevação do pensamento a Deus”) e do trabalho (“toda ocupação útil”) o homem aproxima-se de Deus. Da adoração, de certa forma, decorre o trabalho, já que “Deus, modelo de amor e caridade, nunca esteve inativo”. (O Livro dos Espíritos, perg. 649, 675 e 21, respectivamente).
Os deveres do homem para consigo mesmo são estabelecidos nas três leis seguintes: Reprodução, Conservação e Destruição (capítulos IV, V e VI, respectivamente).
Pela reprodução o homem dá origem à vida corporal na Terra. Deve ser o seu primeiro dever para consigo mesmo (ou para com a espécie): garantir a existência do mundo corporal. Depois, deve manter a própria vida, pela sua conservação. Da conservação decorre, em certo sentido, a destruição: “Para se alimentarem os seres vivos reciprocamente se destroem…” (O Livro dos Espíritos, perg. 728a)
Os deveres do homem com o seu próximo são estabelecidos nas leis:  Sociedade (cap. VII), Progresso (cap. VIII), Igualdade (cap. IX) e Liberdade (cap. X).
Da vida em sociedade (onde, e só onde, a fraternidade pode estabelecer-se) decorre o progresso, e este tem por fim a igualdade e a liberdade, conseqüências naturais do progresso social alcançado. “Considerada do ponto de vista da sua importância para a realização da felicidade social, a fraternidade está na primeira linha: é a base. Sem ela, não poderiam existir a igualdade, nem a liberdade séria. A igualdade decorre da fraternidade e a liberdade é conseqüência das duas outras”. (7)
As nove leis morais estabelecidas por Kardec – Adoração, Trabalho, Reprodução, Conservação, Destruição, Sociedade, Progresso, Igualdade e Liberdade –resumem todos os deveres do homem para com Deus, para consigo mesmo e para com o seu próximo. A décima e última lei moral “Da lei de justiça, de amor e de caridade” (cap. XI) resume todas as outras. Deus (justiça), por amor, criou o homem e este, para bem viver com o seu próximo, deve praticar a caridade.
Essa divisão da lei de Deus em dez partes é a de Moisés e de natureza a abranger todas as circunstâncias da vida, o que é essencial. Podes, pois,adotá-la, sem que por isso, tenha qualquer coisa de absoluta, como não o tem nenhum dos outros sistemas de classificação, que todos dependem do prisma pelo qual se considere o que quer seja. A última lei é a mais importante, por ser a que faculta ao homem adiantar-se mais na vida espiritual, visto que resume todas as outras“. (O Livro dos Espíritos, perg. 648).
A resposta para a terceira indagação, “Como praticar as leis morais?”, é apresentado no décimo segundo e último capítulo: “Da perfeição moral”. Neste capítulo encontramos um dos mais belos estudos sobre a personalidade humana. Após examinar em profundidade o homem (as virtudes e vícios, as paixões, o egoísmo e os caracteres do homem de bem), apresenta o conhecimento de si mesmo como a “chave do progresso individual”. “Examinai o que pudestes ter obrado contra Deus, depois contra vosso próximo e, finalmente, contra vós mesmos. As respostas vos darão, ou o descanso para a vossa consciência, ou a indicação de um mal que precise ser curado”. (O Livro dos Espíritos, perg. 919, 919a.

A Estrutura da 4a. parte: “Das esperanças e consolações”

Considerando que a ação dos Espíritos ocorre nos dois lados da vida, mundo corporal e mundo espiritual, as conseqüências do cumprimento ou não das leis morais devem ser, também, estabelecidas nesses dois mundos.
No capítulo 1, “Das penas e gozos terrenos“, são apresentadas as conseqüências, para o Espírito, do cumprimento ou não das leis morais, no mundo corporal.
No segundo capítulo, “Das penas e gozos futuros“, são examinadas as conseqüências do cumprimento ou não das leis morais, no mundo espiritual.


















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(1) KARDEC, A. “Prolegômenos”. In: O Livro dos Espíritos. Tradução de Guillon Ribeiro. 58a ed., Rio de Janeiro: FEB, 1983, p.49.
(2) KARDEC, A. “Discurso pronunciado junto ao túmulo de Allan Kardec, por Camille Flamarion”. In: Obras Póstumas. Tradução de Guillon Ribeiro. 16a ed., Rio de Janeiro: FEB, 1977, p. 24.
(3) KARDEC, A. “Introdução ao estudo da doutrina espírita”. In: O Livro dos Espíritos. Tradução de Guillon Ribeiro. 58a edição. Rio de Janeiro: FEB, 1983, p.30.
(4) KARDEC, A. “Caráter da revelação espírita”. In: A Gênese Os Milagres e as Predições segundo o Espiritismo. Tradução de Guillon Ribeiro. 2a. edição. Rio de Janeiro: FEB, 1979. p.20.
(5) CHIBENI, S. S. “A excelência metodológica do Espiritismo” In: Reformador. Novembro de 1988, pp.328″33, e dezembro de 1988,pp, 373″8.
(6) “Pode o homem compreender a natureza íntima de Deus? – Não, falta-lhe para isso o sentido.” (O Livro dos Espíritos, perg.10). “Não é dado ao homem sondar a natureza íntima de Deus. Para compreendê-lo, ainda nos falta o sentido próprio, que só se adquire por meio da completa depuração do Espírito”. (A Gênese, cap. II, item 11)
(7) KARDEC, A. “Liberdade, igualdade e fraternidade”, 3° parágrafo In: Obras Póstumas.