quinta-feira, 23 de junho de 2016

A FÉ

A FÉ
No seu aspecto religioso, a fé é a crença nos dogmas particulares que constituem as diferentes religiões, e todas elas têm os seus artigos de fé. Nesse sentido, a fé pode ser raciocinada ou cega.
A fé cega nada examina, aceitando sem controle o falso e o verdadeiro, e a cada passo se choca com a evidência da razão. Levada ao excesso produz o fanatismo.
Quando a fé se firma no erro, cedo ou tarde desmorona. Aquela que tem a verdade por base é a única que tem o futuro assegurado, porque nada deve temer do progresso do conhecimento, já que o verdadeiro na obscuridade também o é a plena luz. Cada religião pretende estar na posse exclusiva da verdade, mas preconizar a fé cega sobre uma questão de crença é confessar a impotência para demonstrar que se está com a razão.
Vulgarmente se diz que a fé não se prescreve, o que leva muitas pessoas a alegarem que não são culpadas de não terem fé. Não há dúvida que a fé não pode ser prescrita, ou o que é ainda mais justo: não pode ser imposta. Não, a fé não se prescreve, mas se adquire, e não há ninguém que esteja impedido de possuí-la, mesmo entre os mais refratários. Falamos das verdades espirituais fundamentais, e não desta ou daquela crença particular.
Não é a fé que deve procurar essas pessoas, mas elas que devem procurá-la, e se o fizerem com sinceridade a encontrarão. Podeis estar certos de que aqueles que dizem: "Não queríamos nada melhor do que crer, mas não o podemos fazer", apenas o dizem com os lábios, e não com o coração, pois ao mesmo tempo em que o dizem, fecham os ouvidos. As provas, entretanto, abundam ao seu redor.
Por que, pois, se recusam a ver?
Nuns, é a indiferença; noutros, o medo de serem forçados a mudar de hábitos; e na maior parte, o orgulho que se recusa a reconhecer um poder superior, porque teria de inclinar-se diante dele.
Para algumas pessoas, a fé parece de alguma forma inata: basta uma faísca para desenvolvê-la.
Essa facilidade para assimilar as verdades espíritas é sinal evidente de progresso anterior. Para outras, ao contrário, é com dificuldade que elas são assimiladas, sinal também evidente de uma natureza em atraso. As primeiras já creram compreenderam, e trazem ao renascer, a intuição do que sabiam. Sua educação já foi realizada. As segundas ainda têm tudo para prender: sua educação está por fazer. Mas ela se fará, e se não der terminar nesta existência, terminará numa outra.
A resistência do incrédulo, convenhamos quase sempre se deve menos a ele do que à maneira pela qual lhe apresentam as coisas. A fé necessita de uma base, e essa base é a perfeita compreensão daquilo em que se deve crer.
Para crer, não basta ver, é necessário, sobretudo compreender.
A fé cega não é mais deste século. É precisamente o dogma da fé cega que hoje em dia produz o maior número de incrédulos. Porque ela quer impor-se, exigindo a abdicação de uma das mais preciosas prerrogativas do homem: a que sã constitui do raciocínio e do livre-arbítrio. É contra essa fé, sobretudo que se levanta o incrédulo, o que mostra a verdade de que a fé não se impõe. Não admitindo provas, ela deixa no espírito um vazio, de que nasce a dúvida.
A fé raciocinada, que se apoia nos fatos e na lógica, não deixa nenhuma obscuridade: crê-se, porque se tem a certeza, e só se está certo quando se compreendeu. Eis porque ela não se dobra: porque só é inabalável a fé que pode enfrentar a razão face a face, em todas as épocas da Humanidade.
É a esse resultado que o Espiritismo conduz, triunfando assim da incredulidade, todas as vezes em que não encontrar a oposição sistemática e interessada.



Evangelho Segundo o Espiritismo, Allan Kardec, Editora LAKE -, Cap. 19 itens 6 e 7

terça-feira, 21 de junho de 2016

MAR ALTO

MAR ALTO

“E, quando acabou de falar, disse a Simão: Faze-te ao mar alto, e lançai as vossas redes para pescar.”
Lucas
Cap. 5, vers. 4

Este versículo nos leva a meditar nos companheiros de luta que se sentem abandonados na experiência humana.
Inquietante sensação de soledade lhes corta o coração.
Choram de saudade, de dor, renovando as amarguras próprias.
Acreditam que o destino lhes reservou a taça da infinita amargura.
Rememoram, compungidos, os dias da infância, da juventude, das esperanças crestadas nos conflitos do mundo.
No íntimo, experimenta, a cada instante, o vago tropel das reminiscências que lhes dilatam as impressões de vazio.
Entretanto, essas horas amargas pertencem a todas as criaturas mortais.
Se alguém as não viveu em determinada região do caminho, espere a sua oportunidade, porquanto, de modo geral, quase todo Espírito se retira da carne, quando os frios sinais de inverno se multiplicam em torno.
Em surgindo, pois, a tua época de dificuldade, convence-te de que chegaram para tua alma os dias de serviço em “mar alto”, o tempo de procurar os valores justos, sem o incentivo de certas ilusões da experiência material. Se te encontras sozinho, se te sentes ao abandono, lembra-te de que, além do túmulo, há companheiros que te assistem e esperam carinhosamente.
O Pai nunca deixa os filhos desamparados, assim, se te vês presentemente sem laços domésticos, sem amigos certos na paisagem transitória do Planeta, é que Jesus te enviou a pleno mar da experiência, a fim de provares tuas conquistas em supremas lições.



Livro: Pão Nosso, Francisco C. Xavier / Ditado pelo Espírita Emanuel, Edit. FEB

sábado, 18 de junho de 2016

A PARÁBOLA DO FILHO PRÓDIGO


A PARÁBOLA DO FILHO PRÓDIGO

"Disse Jesus: Um homem tinha dois filhos. O mais moço disse a seu pai: Meu pai, dá-me a parte do patrimônio que me toca. O pai então repartiu entre eles os haveres. Poucos dias depois ajuntando tudo o que lhe pertencia, partiu o filho mais moço para um país muito distante, e lá dissipou sua herança vivendo dissolutamente. Depois de ter esbanjado tudo, sobreveio àquela região uma grande fome: e ele começou a passar penúria. Foi pôr-se a serviço de um dos senhores daquela região, que o mandou para os seus campos guardar porcos. Desejava ele fartar-se das vagens que os porcos comiam, mas ninguém lhas dava. Entrando então em si e refletiu: “Quantos empregados há na casa de meu pai, que têm pão em abundância, e eu, aqui, a morrer de fome! Levantar-me-ei e irei a meu pai, e dir-lhe-ei: Meu pai, pequei contra o céu e contra ti; já não sou digno de ser chamado teu filho; trata-me como a um dos teus empregados”. Levantou-se, pois, e foi ter com seu pai. Estava ainda longe, quando seu pai o viu, e, movido pela misericórdia, correu-lhe ao encontro, lançou-se-lhe ao pescoço e o beijou. O filho lhe disse então: “Meu pai, pequei contra o céu e contra ti; já não sou digno de ser chamado teu filho”. Mas o pai disse aos servos: “Trazei-me depressa a melhor (primeira) veste e vesti-lha, e ponde-lhe um anel no dedo e calçado nos pés. Trazei também o bezerro cevado e matai-o; comamos e festejemos. Este meu filho estava morto, e reviveu; tinha-se perdido e foi achado”. E começaram a festa. O filho mais velho estava no campo. Ao voltar e aproximar-se da casa, ouviu a música e as danças. Chamou um servo e perguntou-lhe o que havia. Ele lhe explicou: Voltou teu irmão. E teu pai mandou matar um novilho gordo, porque o reencontrou são e salvo. Encolerizou-se ele e não queria entrar; mas seu pai saiu e insistiu com ele. Ele, então, respondeu ao pai: há tantos anos que te sirvo, sem jamais transgredir ordem alguma tua, e nunca me deste um cabrito, para festejar com os meus amigos. E agora, que voltou este teu filho, que gastou os teus bens com as meretrizes, logo lhe mandas-te matar um novilho gordo! Explicou-lhe o pai: Filho, tu estás sempre comigo, e tudo o que é meu é teu; convinha, porém, fazermos festa, pois que este teu irmão estava morto e reviveu, tinha-se perdido e foi achado”. Lucas, 15:11 a 32

O Sentido Oculto dos Evangelhos
Ao propor seus ensinamentos através de parábolas, o Mestre não tinha o propósito de abolir a lei ou os profetas, mas sim leva-los à perfeição. Dar-lhes novo entendimento (Mateus, 5:17).
É evidente que toda parábola, se compõe invariavelmente, de um símbolo material e de um simbolizado espiritual.
No sermão, proferido em dezembro de 399, a respeito desta parábola, Santo Agostinho trata principalmente do arrependimento humano e do perdão de Deus, fazendo o seguinte paralelo: o homem que tem dois filhos é Deus que tem dois povos: o filho mais velho é o povo judeu; o menor, os gentios.
Em linhas gerais podemos dizer que o patrimônio que eles receberam do Pai é a inteligência, o raciocínio, e tudo o mais necessário para que O conhecessem.
Atualizando aquele sermão para os dias atuais, podemos fazer as seguintes reflexões:

O Pai
É curioso como Jesus associa o amor incondicional de Deus à figura do pai. Não seria melhor uma mãe? Não é ela que geralmente está associada à saudade, a braços abertos e ao perdão? Jesus provoca e quer desinstalar as ideias que se têm de paternidade e de Deus.
A parábola ensina uma nova imagem de Deus. O propósito de Jesus, ao acrescentar o Amor e a Caridade às Leis, é que entendêssemos Deus como Pai de amor, tirando-Lhe aquele ar austero e distante, tão necessários aos tempos de Moisés.
O Deus que Jesus nos apresenta é um pai amoroso; que disciplina, mas ama o perdão. Um Deus bem diferente daquele, até então, entendido pelo Judaísmo.
A parábola também ensina e provoca uma nova imagem de pai, alicerçada no perdão e no amor incondicional. Esse pai zela pela disciplina na educação dos filhos, mas não a confunde com agressividade ou violência. Coloca limites necessários, mas não os confunde com restrição da liberdade. É um pai que às vezes se fecha e diz não, mas que também arrisca, confia, abre os braços e solta o filho.
É grande e bela a tarefa da paternidade, pois está associada à imagem de Deus. Ter boa imagem do pai colabora para que se tenha uma bela imagem de Deus. Se o filho pródigo tivesse medo do pai, como poderia voltar para casa e pedir perdão? Se tivermos medo de Deus, como teremos coragem de pedir-Lhe perdão?

O Filho que ficou em casa
Mais um ponto interessante para reflexão reside no comportamento do filho que ficou em casa.
Em um primeiro momento, ele parece mais equilibrado do que o seu irmão. Satisfeito com a disciplina da casa paterna, não se entusiasma com a perspectiva de festas e desfrutes.
Enquanto o denominado filho pródigo ganha o mundo, ele permanece vivendo de forma equilibrada. Entretanto, esse equilíbrio é colocado à prova quando seu irmão retorna sofrido e humilhado.
Então, em vez de se alegrar com o retorno do companheiro de folguedos infantis, ele se indigna. Recusa-se a entrar em casa e a participar da festa.
Instado pelo pai a retificar o comportamento, dá mostras de rancor ao falar de sua prolongada obediência, a seu ver sem recompensas.
O filho que ficou em casa representa uma parcela muito significativa da Humanidade. Trata-se das pessoas bastante focadas em viver sem escândalos, mas também sem generosidade.     Elas se esmeram em cumprir regras, em fazer o que parece correto, em termos pessoais ou sociais.
Contudo, o seu viver não tem bondade. Porque conseguem domar algumas paixões, critica asperamente quem a elas sucumbe. Muitas chegam a desejar a dor e a desgraça para aquele que comete pequenos deslizes ou se permite viver de forma desregrada.
Essas pessoas, em sua severidade, não entendem o essencial das leis divinas. Essas leis não existem para cercear todos os passos das criaturas. Elas são um roteiro de liberdade e felicidade. Uma vida digna e profícua é resultado da internalização dos códigos divinos. Mas essa internalização é incompatível com um coração rancoroso e ressequido.
É preciso bondade e leveza para uma correta compreensão da Lei de Amor que rege os mundos. Embora com necessidade de experiências diversas, todos os homens são irmãos e se assemelham, em sua essência.
Para viver em paz, urge identificar-se com o próximo e ser feliz com a felicidade dele. A vida trata de providenciar as reparações e as lições necessárias.
O papel dos homens consiste no auxílio mútuo e na vivência da fraternidade.
O Filho Pródigo
É um alegorismo do cristão que se afasta da observância das Leis Divinas e que tem uma sequência progressiva de falhas, ou seja: a soberba, que afronta ao Pai; o desamor, que abandona a casa paterna.
Dos dois filhos o mais moço, o inexperiente, exige a sua parte na herança. Tendo recebido o seu patrimônio, em sua irreflexão, fascinado pelos prazeres do mundo, ajunta tudo e parte para um país muito distante: o esquecimento de seu Criador.
Em terra distante, esbanja seus “bens” vivendo dissolutamente, gastando e não ajuntando; malbaratando tudo o que tinha e não adquirindo o que não tinha, isto é, consumindo toda sua capacidade em luxúria, em ídolos, rituais, enfim, em todo tipo de desejos desajustados e não adquirindo nenhum novo conhecimento construtivo.
Na tentativa de buscar a motivação que impulsionou o filho a tomar tal decisão e sair de casa, poderíamos presumir que esta não foi outra senão pelos atrativos do mundo.
Infelizmente, podemos nos imaginar cerceado em nossa liberdade quando a serviço do Pai, privado dos “prazeres” intensos e oprimidos por um jugo insuportável: a reforma íntima. Assim sendo, rebelando-nos, afastamo-nos de Deus, atraímos miséria e sofrimento.
Os bens que levara o rapaz chegaram ao fim em um tempo que não conhecemos. Desprovido deles, perdeu os amigos de orgia. À margem de Deus – por entregar-se a seus próprios recursos, sua falência financeira foi constatada por conta de seu novo emprego. Oprimido pelas necessidades foi apascentar porcos, os animais imundos detestados pelos judeus. O Senhor, quando expulsou a legião dos demônios, permitiu que entrassem na piara de porcos.
Sua fome é tamanha ao extremo a ponto de desejar alimentar-se das vagens dos porcos sem poder saciar-se. Vagens são as vistosas doutrinas do mundo: servem para ostentar, mas não para sustentar.
Até que, por fim, nesse desprezível trabalho, constatando a tristeza de sua vida, tomou consciência do lugar em que tinha caído, do quanto tinha perdido. Reparamos o que diz o evangelho:“Entrando então em si...”; primeiramente, voltou-se para si e só assim pode voltar para o Pai.
A Bíblia diz: “Porque o Senhor corrige o que ama, e açoita a qualquer que recebe por filho... porque, que filho há a quem o pai não corrija?” – (Hebreu 12:6 e 7).
Com efeito, o moço, fustigado pela provação, caiu em si. Sua fome fê-lo lembrar-se da abundância da casa paterna. A disciplina abre sua mente e ele se recorda do pai e toma uma decisão movida pelo arrependimento. “Levantar-me-ei, e irei ter com meu pai” – (Lucas 15:19).
Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que emprega para domar suas inclinações más. (Allan Kardec - ESE, capítulo XVII – item 4). Arrependimento seguido de ação. Estas atitudes fizeram toda diferença na vida do moço rebelde, ingrato e esfomeado de esclarecimentos que não encontrou naquele país distante.
Em sua mente, como filme, passavam cenas da casa onde ele via seu pai honrando os funcionários. Ninguém passava fome onde ele nasceu e viveu por um período de sua vida. Entretanto, ele se via, agora, numa situação de constrangimento, miséria (seu comportamento e suas ações) e fome (de esclarecimentos de suas dúvidas e de maiores conhecimentos).
Na sequencia ele volta exatamente para o ponto onde caiu. Ensaia um lindo discurso verdadeiro para enfrentar a situação: “Pai, pequei contra o céu e perante ti. Já não sou digno de ser chamado teu filho; faze-me como um dos teus jornaleiros” – (Lucas 15:19).
Amor e perdão. Foram estas as atitudes do pai que esperançoso aguardava a volta de seu filho. O pai tinha todos os motivos para exortar o filho fujão com um longo sermão. Contudo, não o fez! Abdicou-se do direito de acusações, para dar lugar ao perdão e a alegria por ver seu filho de volta ao convívio da família. Assim é Deus em sua infinita misericórdia.
Marcos J.F. da Cruz Machado


Referencias bibliográficas:
o    A Parábola do Filho Pródigo - A Lei dos Ciclos - Maximino Paulo Vanin
o    Livro Pão Nosso, cap. 2.
o    O Filho que ficou em casa – Redação Momento Espírita.
o    Nota Introdutória ao Sermão de Santo Agostinho, proferido em dezembro de 399, sobre a Parábola do Filho Pródigo – Tradução de Jean Lauand.


sexta-feira, 17 de junho de 2016

COMO ATUAM OS MÉDICOS ESPIRITUAIS?

COMO ATUAM OS MÉDICOS ESPIRITUAIS?
Quais os principais métodos usados na Espiritualidade para o tratamento das lesões do corpo espiritual?
– Na Espiritualidade, os servidores da medicina penetram, com mais segurança, na história do enfermo para estudar, com o êxito possível, os mecanismos da doença que lhe são particulares.
Aí, os exames nos tecidos psicossomáticos com aparelhos de precisão, correspondendo às inspeções instrumentais e laboratoriais em voga na Terra, podem ser enriquecidos com a ficha cármica do paciente, a qual determina quanto à reversibilidade ou irreversibilidade da moléstia, antes de nova reencarnação, motivo por que numerosos doentes são tratáveis, mas somente curáveis mediante longas ou curtas internações no campo físico, a fim de que as causas profundas do mal sejam extirpadas da mente pelo contato direto com as lutas em que se configuraram.
Curial, portanto, é que o médico espiritual se utilize ainda, de certa maneira, da medicação que vos é conhecida, no socorro aos desencarnados em sofrimento, porque, mesmo no mundo, todo remédio da farmacopeia humana, até certo ponto, é projeção de elementos quimio-elétricos sobre agregações celulares, estimulando-lhes as funções ou corrigindo-as, segundo as disposições do desequilíbrio em que a enfermidade se expresse.
Contudo, é imperioso reconhecer que na Esfera Superior o médico não se ergue apenas com o pedestal da cultura acadêmica, qual ocorre frequentemente entre os homens, mas sim também com as qualidades morais que lhe confiram valor e ponderação, humildade e devotamento, visto que a psicoterapia e o magnetismo, largamente usados no plano extrafísico, exigem dele grandeza de caráter e pureza de coração.
Resumindo:
1.     Medicamentos;
2.     Exames com aparelhos sofisticados, que provavelmente teremos no futuro aqui na Terra;
3.     Psicoterapia;
4.     Magnetismo (transfusão de energias);
5.     Médicos preparados espiritual e moralmente;
Algumas doenças, porque arraigadas no perispírito, somente desaparecerão após nova reencarnação, quando poderão ser expurgadas pelo corpo físico.
As cirurgias promovidas pelos médiuns de cura aqui na Terra (sempre auxiliados pelos médicos espirituais) ocorrem se acordo com o descrito acima também. As doenças com origens em lesões no perispírito são eliminadas, advindo, em seguida, a cura no corpo físico.
Esclarecem os amigos espirituais, igualmente, que os tratamentos e cirurgias realizados aqui na Terra em nosso corpo físico nos hospitais terrestres, podem auxiliar sobremaneira na cura definitiva das doenças enraizadas no perispírito. Trata-se de uma via de duas mãos. Acima de tudo, está o merecimento do paciente que se dá através do aprendizado e progresso.



Livro Evolução em Dois Mundos – Francisco Cândido Xavier / pelo Espírito André Luiz, Edit. FEB

SOCIEDADES PROPRIAMENTE DITAS (2/2)

SOCIEDADES PROPRIAMENTE DITAS
Tudo o que dissemos sobre as reuniões em geral aplica-se naturalmente às sociedades regularmente constituídas. Estas, entretanto têm de lutar contra algumas dificuldades especiais decorrentes dos próprios liames entre os seus membros. Dos numerosos pedidos que tenham recebido de informações sobre a sua constituição, resumimos a seguir algumas de nossas explicações.
O Espiritismo, que apenas acaba de nascer, é apreciado de maneiras diversas e muito pouco compreendido na sua essência por grande número de adeptos, para oferecer condições suficientes de união geral entre os seus membros para se formar uma associação.
Não poderão existir estas condições a não ser entre os que compreendam o seu objetivo moral e procuram integrar-se nele.
Entre os que só o veem através dos fatos mais ou menos curiosos nenhum elemento sério de ligação poderia existir. Colocando os fatos acima dos princípios, uma simples divergência na maneira de considerá-los provocaria a divisão. Já não se daria o mesmo no tocante aos primeiros, porque sobre a questão moral não podem existir duas maneiras de ver. Também é fato que, por onde quer que se encontrem uma confiança mútua sempre os liga. A benevolência recíproca, reinando entre eles, afasta todo constrangimento e retraimento originados da suscetibilidade, do orgulho que se irrita com a menor contradição, do egoísmo que só se interessa por si. Uma sociedade em que esses sentimentos dominassem, onde os seus membros se reunissem com o fim de se instruírem e não com a esperança de ver apenas novidades, ou para fazer prevalecer a sua opinião, seria não somente viável, mas também indissolúvel. A dificuldade de reunir ainda numerosos elementos dessa maneira homogêneos leva-nos a dizer que, no interesse dos estudos e para o bem da própria causa, as reuniões espíritas devem multiplicar-se mais pela constituição de pequenos grupos do que de grandes associações. Esses grupos, correspondendo-se entre si, visitando-se, permutando suas observações, podem desde logo formar um núcleo da grande família espírita que um dia reunirá todas as opiniões, unindo os homens no mesmo sentimento de fraternidade caracterizado pela caridade cristã.
Já vimos como é importante a uniformidade de sentimentos para obtenção de bons resultados. Essa uniformidade é naturalmente mais difícil de obter quando o número de pessoas é maior. Nas pequenas reuniões, onde todos se conhecem melhor, tem-se mais segurança na introdução de elementos novos. O silêncio e a concentração tornam-se mais fáceis e tudo se passa como em família. As grandes assembleias não permitem a intimidade pela variedade de elementos de que se compõem. Exigem locais especiais, recursos pecuniários e um aparelhamento administrativo que os pequenos grupos dispensam. A divergência de caracteres, de ideias, de opiniões revela melhor, oferecendo aos Espíritos perturbadores mais facilitados para semear a discórdia. Quanto mais numerosa a reunião, mais difícil de contentar a todos. Cada um quereria que os trabalhos fossem dirigidos a seu gosto, que fossem tratados de preferência os assuntos que mais lhe interessam, e alguns julgariam que o título de sócio lhe daria o direito de impor os seus pontos de vista. Daí surgiria protestos, causas de mal-estar que levam cedo ou tarde à desunião e depois à dissolução, sorte de todas as sociedades de qualquer finalidade. Os pequenos grupos não estão sujeitos a essas dificuldades. A queda de uma grande sociedade pareceria um insucesso para a causa espírita e seus inimigos não deixariam de explorá-la. A dissolução de um pequeno grupo passa despercebido, e se um se dispersa, vinte outros se formam a seguir. Ora, vinte grupos de quinze a vinte pessoas obterão mais e farão mais para a divulgação do que uma assembleia de trezentas a quatrocentas pessoas.
Dir-se-á por certo que os membros de uma sociedade, agindo como dissemos, não seriam verdadeiros espíritas, desde que o primeiro dever que a doutrina impõe é o da caridade e da benevolência. Isso é perfeitamente justo. E por isso os que assim pensam são espíritas mais de nome que de fato. Não pertencem à terceira categoria (Ver n° 28 - Livro dos Médiuns). Mas quem diria que podem mesmo ser chamados de espíritas? Aqui se apresenta uma consideração de certa gravidade.
Não nos esqueçamos de que o Espiritismo tem inimigos interessados em impedir-lhe o desenvolvimento e que veem com despeito os seus sucessos. Os mais perigosos não são os que o atacam abertamente, mas os que agem na sombra, os que o acariciam com uma das mãos e o apunhalam com a outra. Esses seres malfazejos se infiltram por toda a parte onde possam fazer mal. Sabendo que a união é uma força tratam de destruí-la, semeando a discórdia. Quem poderá então dizer que os que provocam perturbação nas reuniões não sejam agentes provocadores, interessados na desordem? Seguramente não são verdadeiros nem bons espíritas, pois não podem fazer o bem e sim muito mal. Compreende-se que tenham muito mais facilidade de se infiltrar nas reuniões numerosas do que nos pequenos grupos em que todos se conhecem. Graças a manobras escusas, que passam despercebidas, semeiam a dúvida, a desconfiança e a inimizade.
Sob a aparência de interesse pela causa criticam tudo, formam grupinhos que logo rompem a harmonia do conjunto. É o que eles querem. Tratando com essas pessoas é inútil apelar aos sentimentos de caridade e fraternidade, seria como falar a surdos voluntários, porque o seu objetivo é precisamente o de destruir esses sentimentos que são o maior obstáculo às suas manobras. Essa situação, prejudicial a todas as sociedades, o é ainda mais às sociedades espíritas, pois se não levar a uma ruptura provocará preocupações incompatíveis com o recolhimento exigido pelos trabalhos.
Se a reunião encaminhar-se mal — poderão perguntar — os homens sensatos e bem intencionados não terão o direito de crítica e deverão deixar que o mal se efetuasse sem nada dizer, aprovando-o pelo silêncio? Não há dúvida que esse direito lhes assiste, constitui-se mesmo num dever, mas se a intenção for realmente boa eles farão a sua advertência de maneira conveniente e benévola, abertamente e não com subterfúgios. Se não forem ouvidos, se retirarão. Porque não se conceberia que quem não estivesse de segunda intenção se obstinasse a permanecer numa sociedade de cuja orientação discordasse.
Pode-se, pois estabelecer em princípio que todo aquele que numa reunião espírita provoca desordem ou desunião, ostensivamente ou por meios escusos, é um agente provocador ou pelo menos um mal espírita de que se deve desembaraçar o quanto antes. Entretanto os próprios compromissos que ligam os membros de uma sociedade criam obstáculos para isso. Eis porque é conveniente evitar as formas de compromissos indissolúveis: os homens de bem sempre se ligam de maneira conveniente; o mal intencionado sempre o faz de maneira excessiva.
Além das pessoas notoriamente malévolas que se infiltram nas reuniões há as que, por temperamento, levam a perturbação onde comparecem. Dessa maneira nunca será demasiado o cuidado na admissão de novos elementos. Os mais prejudiciais, nesse caso, não são os ignorantes da matéria, nem mesmo os descrentes. A convicção só se adquire através da experiência, e há pessoas de boa fé que querem se esclarecer. Aqueles contra os quais particularmente se devem acautelar são as pessoas dotadas de ideias preconcebidas, os incrédulos sistemáticos que duvidam de tudo, mesmo da evidência, os orgulhosos que pretendem ter o privilégio da verdade e procuram impor sempre a sua opinião olhando com desdém os que não pensam como eles. Não vos enganeis com o seu pretenso desejo de esclarecimento. Encontrareis vários que se sentiriam aborrecidos se fossem obrigados a concordar que estavam errados. Guardai-vos, sobretudo desses oradores insípidos que sempre querem falar por último e dos que só se comprazem na contradição. Uns e outros fazem perder tempo sem proveito, nem mesmo para eles. Os Espíritos não gostam de palavreados inúteis.
Diante da necessidade de evitar toda a causa de perturbação e distração, uma sociedade espírita que se organiza deve pôr toda sua atenção nas medidas destinadas a evitar os fatores de desordem e os motivos de prejuízos, facilitando os meios de afastá-los. As pequenas reuniões necessitam de um regulamento disciplinar bem simples para ordem das sessões. As sociedades regularmente constituídas exigem uma organização mais completa. A melhor será a de sistema menos complicado. Umas e outras poderão tirar o que lhes for aplicado, que creiam lhes ser útil; do regulamento da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas que damos logo adiante.
As sociedades, pequenas ou grandes e todas as reuniões, seja qual for a sua importância, têm ainda de lutar contra outra dificuldade. Os fatores de perturbação não se encontram somente entre os seus membros, mas também no mundo invisível. Assim como há Espíritos protetores para as instituições, as cidades e os povos, os Espíritos malfeitores também se ligam aos grupos e aos indivíduos. Ligam-se primeiro aos mais fracos, aos mais acessíveis, procurando transformá-los em seus instrumentos, e pouco a pouco vão envolvendo a todos, porque sua alegria maligna é tanto maior quanto maior o número dos que tenham subjugado.
Todas às vezes, pois, que num grupo uma pessoa tenha caído na armadilha é necessário dizer que se tem um inimigo no campo, um lobo no redil e que se deve ter cautela porque o mais provável é que aumente as suas tentativas. Se não se desencorajar esse elemento por uma resistência enérgica, a obsessão se torna um mal contagioso que se manifestará entre os médiuns pela perturbação da mediunidade e entre os demais pela hostilidade recíproca, a perversão do senso moral e a destruição da harmonia.
Como o mais poderoso antídoto desse veneno é a caridade, é ela que eles procuram abafar. Não se deve, pois esperar que o mal se torne incurável para lhe aplicar o remédio. Nem mesmo se devem esperar os primeiros sintomas, pois é necessário, sobretudo preveni-lo. Para isso há dois meios eficazes, quando bem aplicados: a prece feita de coração e o estudo atento dos menores sintomas que revelem a presença de Espíritos mistificadores. A primeira atrai os Espíritos bons que só assistem zelosamente aos que sabem secundá-los pela confiança em Deus; o outro prova aos maus que se puseram em relação com pessoas esclarecidas e bastante sensatas para não se deixarem enganar. Se um dos membros do grupo cair sob a influência da obsessão, todos os esforços devem tender, desde os primeiros sinais, a lhe abrir os olhos, antes que o mal se agrave, a fim de levá-lo à compreensão de que foi enganado e ao desejo de ajudar os que o procuram livrar.
A influência do meio decorre da natureza dos Espíritos e da maneira por que agem sobre os seres vivos. Dessa influência cada qual pode deduzir por si mesmo as condições mais favoráveis para uma sociedade que aspire a atrair a simpatia dos Espíritos bons, obtendo boas comunicações e afastando as más. Essas condições dependem inteiramente das disposições morais dos assistentes. Podemos resumi-las nos seguintes pontos:
Perfeita comunhão de ideias e sentimentos;
• Benevolência recíproca entre todos os membros;
• Renúncia de todo sentimento contrário à verdadeira caridade cristã;
Desejo uníssono de se instruir e de melhorar pelo ensinamento dos Espíritos bons e aproveitamento de seus conselhos. Quem estiver convencido de que os Espíritos superiores se manifestam com o fim de nos fazer progredir e não para nos agradar, compreenderá que eles devem se afastar dos que se limita a admirar o seu estilo sem tirar nenhum fruto das suas palavras só são atraídos às sessões pelo maior ou menor interesse que elas oferecem, de acordo com seus gostos particulares;
• Exclusão de tudo o que nas comunicações solicitadas aos Espíritos só tenha por objetivo a curiosidade;
• Concentração e silêncio respeitoso durante as conversações com os Espíritos;
• Associação de todos os assistentes pelo pensamento no apelo aos Espíritos evocados;
• Concurso de todos os médiuns, com renúncia de qualquer sentimento de orgulho, de amor-próprio e de supremacia, com desejo único de se tornarem úteis.
Essas condições serão tão difíceis de preencher que não se encontrem quem possa satisfazê-las? Não pensamos assim. Esperamos pelo contrário, que as reuniões verdadeiramente sérias, como as existentes em diferentes lugares, se multiplicarão e não hesitamos em dizer que a elas o Espiritismo deverá a sua mais ampla divulgação.
Unindo os homens honestos e conscienciosos elas imporão silêncio à crítica, e quanto mais pura forem as suas intenções mais serão respeitadas, até mesmo pelos seus adversários. Quando a zombaria ataca o bem deixa de provocar o riso e torna-se desprezível. Entre as reuniões dessa espécie é que se estabelecerão laços de real simpatia, uma solidariedade mútua, pela própria força das circunstâncias, contribuindo para o progresso geral.
Seria um erro supor que as reuniões especialmente dedicadas às manifestações físicas estejam excluídas desse concerto fraterno da exigência de qualquer seriedade. Se elas não requerem condições tão rigorosas, nem por isso poderiam ser realizadas e assistidas impunemente com leviandade. Seria engano pensar que o concurso de assistentes seja nulo nessas sessões. A prova do contrário está no fato de que frequentemente as manifestações desse gênero, mesmo quando produzidas por médiuns em dotados, não se realizam em determinados ambientes. As influências contrárias agem também sobre elas é claro que decorrem das divergências ou hostilidade dos sentimentos dos assistentes, que neutralizam os esforços dos Espíritos.
As manifestações físicas têm grande utilidade. Abrem um vasto campo ao observador, pois é uma ordem inteiramente nova de fenômenos estranhos que se desenrola aos seus olhos e cujas consequências são incalculáveis.
Uma reunião pode, portanto ocupar-se dessas manifestações com finalidades bastante sérias, mas não poderia atingir seu objetivo, seja como estudo ou como prova para formar convicção se não se colocasse em condições favoráveis.
A primeira delas é, não na crença dos assistentes, mas o seu desejo de esclarecer-se, sem segundas intenções, sem a ideia preconcebida de rejeitar a própria evidência. A segunda é a redução do número de assistentes para evitar a heterogeneidade.
Se as manifestações físicas são em geral produzidas por Espíritos pouco adiantados, nem por isso a sua finalidade é menos providencial. Os Espíritos bons às favorecem, todas as vezes que elas possam atingir resultados proveitosos.




Livro dos Médiuns, Allan Kardec.  Editora LAKE - Cap. 29 itens 334 até 342

quarta-feira, 15 de junho de 2016

VELHO E MOÇOS

VELHOS E MOÇOS
Não era raro observar-se, na, pequena comunidade dos discípulos, o entrechoque das opiniões, dentro do idealismo quente dos mais jovens. Muita vez, o séquito humilde dividia-se em discussões, relativamente aos projetos do futuro.
Enquanto Pedro e André se punham a ouvir os companheiros, com a ingenuidade de seus corações simples e sinceros, João comentava os planos de luta no porvir; Tiago, seu irmão, falava do bom aproveitamento de sua juventude, ao passo que o jovem Tadeu fazia promessas maravilhosas.
– Somos jovens! – diziam – Iremos à Terra inteira, pregaremos o Evangelho às nações, renovaremos o mundo!...
Tão logo o Mestre permitisse, sairiam da Galiléia, pregariam as verdades do reino de Deus naquela Jerusalém atulhada de preconceitos e de falsos intérpretes do pensamento divino. Sentiam-se fortes e bem dispostos. Respiravam a longos haustos e supunham-se, os únicos discípulos habilitados a traduzir com fidelidade os novos ensinamentos. Por longas horas, questionavam acerca de possibilidades, apresentavam as suas vantagens, debatiam seus projetos imensos. E pensavam consigo: que poderia realizar Simão Pedro, chefe de família e encarcerado nos seus pequeninos, deveres? Mateus não estava igualmente enlaçado por inadiáveis obrigações de cada dia? André e o irmão os escutavam despreocupados, para meditarem apenas quanto às lições do Messias.
Entretanto, Simão, mais tarde chamado o “Zelota”, antigo pescador do lago, acompanhava semelhantes conversações sentindo-se humilhado. Algo mais velho que os companheiros, suas energias, a seu ver, já não se coadunavam com os serviços do Evangelho do Reino. Ouvindo as palavras fortes da juventude dos filhos de Zebedeu, perguntava a si mesmo o que seria de seu esforço singelo, junto de Jesus. Começava a sentir mais fortemente o declínio das forças da vida. Suas energias pareciam descer de uma grande montanha, embora o espírito se lhe conservasse firme e vigilante, no ritmo da vida.
Deixando-se, porém, impressionar vivamente, procurou entender-se com o Mestre, buscando eximir-se das dúvidas que lhe roíam o coração.
***
Depois de expor os seus receios e vacilações, observou que Jesus o fitava, sem surpresa, como se tivesse pleno conhecimento de suas emoções.
- Simão – disse o Mestre com desvelado carinho – poderíamos acaso perguntar a idade de Nosso Pai? E, se fôssemos contar o tempo, na ampulheta das inquietações humanas, quem seria o mais velho de todos nós? A vida, na sua, expressão terrestre, é como uma árvore grandiosa. A infância é a sua ramagem verdejante. A mocidade constituiu-se de; suas flores perfumadas e formosas. A velhice é o fruto da experiência e da sabedoria. Há ramagens que morrem depois do primeiro beijo do Sol, e flores que caem ao primeiro sopro da Primavera. O fruto, porém, é sempre uma bênção do Todo-Poderoso. A ramagem é a esperança, a flor uma promessa, o fruto é realização; só ele contém o doce mistério da vida, cuja fonte se perde no infinito da divindade!...
Ao passo que o discípulo lhe meditava os conceitos, com sincera admiração, Jesus prosseguia, esclarecendo:
– Esta imagem pode ser também a da vida do espírito, na sua radiosa eternidade, apenas com a diferença de que aí as ramagens e as flores não morrem nunca, marchando sempre para o fruto da edificação. Em face da grandeza espiritual da vida, a, existência humana é uma hora de aprendizado, no caminho infinito do Tempo; essa hora minúscula encerra o que existe no todo. É por isso que ai veem, por vezes, jovens que falam com uma experiência milenária e velhos sem reflexão e sem e sem esperança.
– Então, Senhor, de qualquer modo, a velhice é a meta do espírito? – Perguntou o discípulo, emocionado.
- Não a velhice enferma e amargurada, que se conhece na Terra, mas a da experiência que edifica o amor e a sabedoria. Ainda aqui, devemos recordar o símbolo da arvore, para reconhecer que o fruto perfeito é a frescura da ramagem e a beleza da flor, encerrando o conteúdo divino do mel e da semente.
Percebendo que o Mestre estendera seus conceitos em amplas imagens simbológicas, o apóstolo voltou a retrair-se em seu caso particular e obtemperou:
– A verdade, Senhor, é que me sinto depauperado e envelhecido, temendo não resistir aos esforços a que se abriga a minha alma, na semeadura da vossa, doutrina santa.
Mas, escuta Simão – redarguiu-lhe Jesus, com serenidade enérgica – achas que os moços de amanhã poderão fazer alguma coisa sem os trabalhos dos que agora, estão envelhecendo?!... Poderia a árvore viver sem a raiz, a alma sem Deus?! Lembra-te da tua parte de esforço e não te preocupeis com a obra que pertence ao Todo-Poderoso. Sobretudo, não olvides que a nossa tarefa, para dignidade perfeita de nossas almas, deve ser intransponível.
João também será velho e os cabelos brancos de sua fronte contarão profundas experiências. Não te magoe a palestra dos jovens da Terra A flor, no mundo, pode ser o princípio do fruto, mas pode também enfeitar o cortejo das ilusões. Quando te cerque o burburinho da mocidade, ama os jovens que revelem trabalho e reflexão; entretanto, não deixes de sorrir, igualmente, para os levianos e inconstantes; são crianças que pedem cuidado, abelhas que ainda não sabem fazer o mel. Perdoa-lhes os entusiasmos sem rumo, como se devem esquecer os impulsos de um menino na inconsciência dos seus primeiros dias de vida.
Esclarece-os, Simão, e não penses que outro homem pudesse efetuar, no conjunto da obra divina, o esforço que te compete. Vai e tem bom ânimo!... Um velho sem esperança em Deus é um irmão triste da noite ; mas eu venho trazer ao imundo as claridades de um dia perene.
Dando Jesus por terminado o seu esclarecimento, Simão, o Zelota, se retirou satisfeito, como se houvesse recebido no coração uma energia nova.
***
Voltando à casa pobre, encontrou Tiago, filho de Cléofas, falando à margem do Lago com alguns jovens, apelando ardentemente para as suas forças realizadoras. Avistando o velho companheiro, o apóstolo mais moço não o ofendeu, porém fez uma pequena alusão à sua idade, para destacar as palavras de sua exortação aos companheiros pescadores. Simão, no entanto, sem experimentar qualquer laivo de ciúme, recordou as elucidações do Mestre e logo que se fez silêncio, ao reconhecer que Tiago estava só, falou-lha com brandura:
– Tiago, meu irmão, será que o espírito tem idade? Se Deus contasse o tempo como nós, não seria ele o mais velho de toda a criação? E que homem do mundo guardará a presunção de se igualar ao Todo-Poderoso? Um rapaz não conseguiria realizar a sua tarefa na Terra, se não tivesse a precedê-lo as experiências de seus pais. Não nos detenhamos na idade, esqueçamos as circunstâncias, para lembrar somente os fins sagrados de nossa vida, que deve ser a edificação do Reino no íntimo das almas.
O filho de Alfeu escutou-lhe as observações singelas e reconheceu que eram ditas com uma fraternidade tão pura, que não lhe chegavam a ferir nem e leve, o coração.
Admirando a ternura serena do companheiro e sem esquecer o padrão de humildade que o Mestre cultivava, refletiu um momento e exclamou comovido:
– Tens razão.
O velho apóstolo não esperou qualquer justificativa de sua parte e, dando-lhe um abraço, mostrou-lhe um sorriso bom, deixando percebe que ambos deviam esquecer, para sempre, alquile minuto de divergência, afim de se unirem cada vez mais em Jesus - Cristo.
Naquela mesma tarde, quando o Messias começou a ensinar a sabedoria do Reino de Deus, Simão, o Zelota, notou que havia na praia duas criancinhas inconscientes. Dominada pela nova luz que fluía dos ensinamentos do Mestre, a mãe delas não vira que se distanciavam, ao longo do primeiro lençol raso das águas; o velho pescador, atento à pregação e às demais necessidades da hora em curso, observou os dois pequeninos e acompanhou-os. Com uma boa palavra, tomou-os nos braços, sentando-se numa pedra e, terminada que foi a reunião, os restituiu ao colo maternal, em meio de suave alegria e sincero reconhecimento. Inspirado por uma força estranha à sua alma, o discípulo compreendeu que o júbilo daquela tarde não teria sido completo se duas crianças houvessem desaparecido no seio imenso das águas, separando-se para sempre dos braços amoráveis de sua mãe. No âmago do seu espírito, havia um júbilo sincero. Compreendera com o Cristo o prazer de servir, a alegria de ser útil.
Nessa noite, Simão, o Zelota, teve um sonho glorioso para a sua alma simples.
Adormecendo, de consciência feliz, sonhou que se encontrava com o Messias, no cume de um monte que se elevava em estranhas fulgurações. Jesus o abraçou com carinho e lhe agradeceu o fraterno esclarecimento fornecido a Tiago, em sua lembrança, manifestando-lhe reconhecimento pelo seu cuidado terno com duas crianças desconhecidas por amor de seu nome.
O discípulo sentia-se venturoso naquele momento sublime. Jesus, do alto da colina prodigiosa, mostrava-lhe o mundo inteiro. Eram cidades e campos, mares e montanhas... Em seguida, o antigo pescador compreendeu que seus olhos assombrados divisavam as paisagens do futuro. Ao lado de seu deslumbramento, passava a imensa família humana. Todas as criaturas fitavam o Mestre, com os olhos agradecidos e refulgentes de amor. As crianças lhe chamavam “amigo fiel”, os jovens “verdade do céu”, os velhos “sagrada esperança”.
Simão acordou, experimentando indefinível alegria. Na manhã imediata, antes do trabalho, procurou o Senhor e beijou-lhe a fímbria humilde da túnica, exclamando jubilosamente:
– Mestre, agora; compreendo-vos!...
Jesus contemplou-o com amor e respondeu:
– Em verdade, Simão, ser moço ou velho, no mundo, não interessa!...
Antes de tudo, é preciso ser de Deus!



Livro: Boa Nova, Psicografia Francisco C. Xavier, ditado pelo Espírito Irmão X (Humberto de Campos) , Ed FEB.

segunda-feira, 13 de junho de 2016

REUNIÕES ESPÍRITAS (1/2)

REUNIÕES ESPÍRITAS  (1/2)
As reuniões espíritas* podem oferecer grandes vantagens, pois permitem o esclarecimento, pela permuta de pensamentos, pelas perguntas e pelas observações feitas por qualquer um, de que todos podem aproveitar-se.
Mas para obterem-se resultados desejáveis requerem condições especiais que vamos examinar, porque seria errôneo tratá-las como reuniões das sociedades comuns.
Aliás, constituindo-se as reuniões em verdadeiros todos coletivos o que a elas concerne é uma consequência natural das instruções individuais dadas anteriormente. Devem elas tomar as mesmas precauções e preservar-se das mesmas dificuldades referentes aos indivíduos. Foi por isso que deixamos este capítulo por último.
As reuniões espíritas diferem muito quanto às suas características segundo os seus propósitos. E por isso mesmo a sua constituição deve também diferir.
Segundo sua natureza elas podem ser frívolas, experimentais ou instrutivas.
As reuniões frívolas constituem-se de pessoas que só se interessam pelo aspecto de passatempo que elas podem oferecer através das manifestações de Espíritos levianos, que gostam de se divertir nessas espécies de reunião, pois nelas gozam de inteira liberdade. É nessas reuniões que se costumam pedir as coisas mais banais, que se pedem aos Espíritos a predição do futuro, que se experimentam a sua perspicácia para adivinhar a idade das pessoas, o que elas trazem nos bolsos, revelar pequenos segredos e mil outras coisas dessa importância. Essas reuniões são inconsequentes, mas como os Espíritos levianos são às vezes bastante inteligentes, e em geral bem humorados e joviais, acontecem frequentemente coisas bastante curiosas, de que o observador pode tirar proveito. Aquele que só tivesse presenciando essas sessões e julgasse o mundo dos Espíritos segundo essa amostra teria dele uma ideia muito falsa, como a de alguém que julgasse toda a população de uma grande cidade pela de alguns dos seus bairros. O simples bom senso nos diz que os Espíritos elevados não podem comparecer a reuniões dessa espécie, em que as pessoas presentes são tão inconsequentes como as entidades manifestantes. Quem quiser se ocupar de coisas fúteis deve naturalmente evocar Espíritos levianos, como numa reunião social chamariam comediantes para se divertirem. Mas haveria profanação em convidar pessoas de nomes veneráveis, misturando assim o sagrado com o profano.
As reuniões experimentais têm mais particularmente por finalidade a produção de manifestações físicas. Para muitas pessoas representam um espetáculo mais curioso do que instrutivo. Os incrédulos saem delas mais espantados do que convencidos, quando não tenham visto outra coisa, e se voltam inteiramente para a procura de possíveis artifícios, porquanto, nada entendendo do que viram supõem naturalmente a existência de truques. Acontece inteiramente o contrário com os que estudaram o assunto. Estes compreendem de antemão a possibilidade das ocorrências e os fatos positivos determinam assim a consolidação de suas convicções. Por outro lado, se houvessem truques, eles estariam em condições de descobri-los. Apesar disso, essas espécies de experimentação têm uma utilidade que ninguém poderia negar, pois foram elas que levaram à descoberta das leis que regem o mundo invisível, e para muitas pessoas são ainda um poderoso motivo de convicção. Mas sustentamos que elas não são suficientes para iniciar alguém na Ciência espírita, pois que o simples fato de ver um mecanismo engenhoso não pode dar o conhecimento da mecânica para quem não esteja informado das suas leis. Contudo, se essas experiências fossem dirigidas com método e prudência poderiam obter-se resultados bem melhores. Voltaremos logo a tratar deste assunto.
As reuniões instrutivas têm características inteiramente diversas, e como é nelas que podemos obter o verdadeiro ensinamento, insistiremos particularmente nas condições em que devem realizar-se.
A primeira de todas as condições é a de manterem a seriedade em toda a acepção do termo. É necessário que todos estejam convencidos de que os Espíritos a que desejam dirigir-se pertence a uma natureza especial, que o sublime não podendo se misturar ao banal, nem o bem com o mal; se desejamos obter bons resultados é necessário nos dirigirmos aos Espíritos bons.
Devemos, como condição expressa, estar em situação favorável para que eles queiram atender-nos. Ora, os Espíritos superiores não comparecem às reuniões de homens levianos e superficiais, como não compareceriam quando estavam encarnados.
Uma sociedade não é verdadeiramente séria se não se ocupar de assuntos úteis, com exclusão de todos os outros.
Se ela deseja obter fenômenos extraordinários por curiosidade ou passatempo, os Espíritos que os produzem poderão comparecer, mas os outros se afastarão. Numa palavra, conforme o caráter da reunião ela sempre encontrará Espíritos dispostos a atender às suas tendências. Uma reunião séria afasta-se da sua finalidade se troca o ensinamento pelo divertimento. As manifestações físicas têm a sua utilidade, como já dissemos.
Aqueles que desejam ver devem participar de reuniões experimentais, e os que desejam compreender devem dirigir-se a reuniões de estudos.
É assim que uns e outros poderão completar a sua instrução espírita, como no estudo da medicina uns vão aos cursos e outros à clínica.
A instrução espírita não compreende somente o ensino moral dado pelos Espíritos, mas também o estudo dos fatos. Abrange a teoria dos fenômenos, a pesquisa das causas, e como consequência a constatação do que é possível e do que não é, ou seja: a observação de tudo quanto possa fazer que a ciência se desenvolva. Seria errôneo acreditar que os fatos estejam limitados aos fenômenos extraordinários, que os que tocam principalmente os sentidos sejam os únicos dignos de atenção. Encontram-se a cada passo fatos importantes nas comunicações inteligentes, que as pessoas reunidas para o estudo não poderiam negligenciar. Esses fatos, que seria impossível enumerar, surge de numerosas circunstâncias fortuitas. Embora menos gritantes, não são, de menor interesse para o observador que neles encontra a confirmação de um principio conhecido ou a revelação de um novo princípio, que o leva a penetrar mais fundo nos mistérios do mundo invisível. Nisso há também filosofia.
As reuniões de estudo são ainda de grande utilidade para os médiuns de manifestações inteligentes, sobretudo para os que desejam seriamente aperfeiçoar-se e por isso mesmo não comparecem a elas com a tola presunção da infalibilidade.
Uma das grandes dificuldades da prática mediúnica, como já dissemos, encontra-se na obsessão e na fascinação.
Eles poderiam, pois, iludir-se de muito boa fé quanto ao mérito das comunicações obtidas. Compreende-se que os Espíritos enganados rés encontram caminho aberto quando lidam com a pessoa ignorara do assunto.
É por isso que procura afastar o médium de todo o controle, chegando mesmo, quando necessário, a fazê-lo tomar aversão quem quer que possa esclarecê-lo. Graças ao isolamento e à fascinação, podem facilmente levá-lo a aceitar tudo o que quiserem.
Nunca repetiríamos demasiado: aí está não somente uma dificuldade, mas um perigo. Sim, podemos dizê-lo, um verdadeiro perigo. O único meio de escapar a ele é submeter-se o médium ao controle de pessoas desinteressadas e bondosas que, julgando as comunicações com frieza e imparcialidade, possam abrir-lhe os olhos e levá-lo a perceber o que não pode ver por si mesmo.
Ora, todo médium que teme esse julgamento já se encontra no caminho da obsessão. Aquele que pensa que a luz só foi feita para ele já está completamente subjugo. Leva-se a mal as observações e as repele, irritando-se com elas, há dúvida quanto à natureza má do Espírito que o assiste.
Já dissemos que um médium pode carecer dos conhecimentos necessários para compreender os erros, que pode se deixar enganar pelas palavras bonitas e pela linguagem pretensiosa, deixando-se seduzir pelos sofismas, tudo isso na maior boa fé. Eis porque, na falta de suas próprias luzes, deve modestamente recorrer às luzes dos outros, segundo os ditados populares de que quatro olhos veem melhor do que dois e de que ninguém é um bom juiz em causa própria.
É desse ponto de vista que as reuniões são de grande utilidade para o médium, se ele for bastante sensato para ouvir os conselhos, porque nelas se encontram pessoas mais esclarecidas do que ele, capazes de perceber os matizes frequentemente muito delicados, pelos quais o Espírito revela a sua inferioridade.
Todo médium que sinceramente não queira se transformar em instrumento da mentira deve procurar produzir nas reuniões sérias, levando para elas o que tiver obtido em particular. Deve aceitar com reconhecimento, e até mesmo solicitar o exame crítico das comunicações. Se estiver assediado por Espíritos enganadores será esse o meio mais seguro de se livrar deles, provando-lhes que não o podem enganar.
Aliás, o médium que se irrita com a crítica, tanto menos razão tem para isso quanto o seu amor-próprio não está envolvido no assunto, pois se o que escreve não é dele, ao ler a má comunicação a sua responsabilidade é semelhante à de quem lesse os versos de um mau poeta.
Insistimos nesse ponto porque se é ele um tropeço para os médiuns, também o é para as reuniões que não devem confiar levianamente em todos os intérpretes dos Espíritos.
O concurso de qualquer médium obsedado ou fascinado lhes seria mais prejudicial do que útil. Elas não devem aceitá-lo. Julgamos já haver desenvolvido o suficiente para mostrar-lhes que não pode enganar-se quanto às características da obsessão, se o médium não for capaz de reconhecê-la por si mesmo. Uma das mais evidentes é sem dúvida a pretensão de estar sozinho com a razão, contra todos os demais. Os médiuns obsedados que não querem reconhecer a sua situação assemelham-se a esses doentes que se iludem quanto à saúde, perdendo-se por não se submeterem ao regime necessário.
O que uma reunião séria deve se propor como objetivo é livrar-se dos Espíritos mentirosos. Ela estaria em erro ao considerar-se livre deles tão somente pela sua finalidade e pela qualidade dos seus médiuns. Só o conseguirá quando houver criado para si mesma as condições favoráveis.
Para bem compreender o que se passa nestas circunstâncias remetemos o leitor ao que dissemos atrás, no n° 231 (do livro dos Médiuns), sobre a influência do meio. É necessário representar cada indivíduo como cercado por certo número de companheiros invisíveis que se identificam com o seu caráter, os seus gostos e as suas tendências. Assim, toda pessoa que entra numa reunião leva consigo os Espíritos que lhe são simpáticos.
Segundo o seu número e a sua natureza, esses companheiros podem exercer sobre a reunião e sobre as comunicações uma influência boa ou má. Uma reunião perfeita seria aquela em que todos os membros, animados do mesmo amor pelo bem, só levassem consigo Espíritos bons. Na falta da perfeição, a melhor reunião será aquela em que o bem supere o mal. Tudo isso é muito lógico para que seja necessário insistir.
Uma reunião é um ser coletivo cujas qualidades e propriedades são a soma de todas as dos seus membros, formando uma espécie de feixe. Ora, esse feixe será tanto mais forte quanto mais homogêneo. Se ficou bem compreendido o que foi dito no n° 282 pergunta 5 (do livro dos Médiuns) , sobre a maneira porque os Espíritos são avisados quando os chamamos, será fácil entender o poder de associação de pensamento dos assistentes. Se o Espírito for de qualquer maneira atingido pelo pensamento, como nós somos pela voz, vinte pessoas unidas numa mesma intenção terão necessariamente mais força que uma só. Mas para que todos os pensamentos concorram para o mesmo fim é necessário que vibrem em uníssono, que se confunda por assim dizerem um só, o que não pode se dar sem concentração.
Por outro lado, o Espírito, chegando a um meio que lhe é inteiramente simpático, sente-se mais à vontade. Só encontrando amigos, comparece de boa vontade e mais disposto a responder. Quem quer que tenha seguido com alguma atenção as manifestações espíritas inteligentes pode certamente se convencer desta verdade. Se os pensamentos forem divergentes, provocam um entrechoque de ideias desagradam para o Espírito e, portanto prejudicial à manifestação. Acontece o mesmo com um homem que deve falar numa reunião. Se sentir que todos os pensamentos lhe são simpáticos e favoráveis, a impressão que recebe age sobre as suas ideias e lhe dá maior vivacidade. A unanimidade dessa influência exerce sobre ele uma espécie de ação magnética que decuplica os recursos, enquanto a indiferença ou a hostilidade o perturbam e paralisam. É assim que os afores sentem-se eletrizados pelos aplausos. Ora, sendo os Espíritos bem mais impressionáveis que os homens, devem sofrer muito mais a influência do meio.
Toda reunião espírita deve, pois procurar a maior homogeneidade possível. Falamos bem entendido, das que desejam chegara resultados sérios e verdadeiramente úteis. Se simplesmente se quer obter quaisquer comunicações, não se importando com a qualidade, é evidente que todas essas precauções não são necessárias. Mas então não e deve lamentar a qualidade do produto.
A concentração e a comunhão de pensamentos sendo as condições necessárias de toda reunião séria, compreende-se que o grande número de assistentes é uma das causas mais contrárias à homogeneidade. Não há, é certo, nenhum limite absoluto para esse número. Compreende-se que cem pessoas, suficientemente concentradas e atentas, estarão em melhores condições do que dez pessoas distraídas e barulhentas. Mas é também evidente que quanto maior os números mais dificilmente se preenchem essas condições. É, aliás, um fato provado pela experiência que os pequenos círculos íntimos são sempre mais favoráveis às boas comunicações, e isso pelos motivos que expusemos.
Outra exigência não menos necessária é a da regularidade das sessões. Em todas sempre encontramos Espíritos que poderíamos chamar de frequentadores habituais, mas não nos referimos a esses Espíritos que estão por toda parte e em tudo se intrometem. Falamos dos Espíritos protetores ou dos que são mais frequentemente evocados. Não se pense que esses Espíritos nada mais tenham a fazer do que nos dar atenção. Eles têm as suas ocupações e podem às vezes encontrar-se em condições desfavoráveis à evocação.
Quando as reuniões se realizam em dias e horas fixos, eles se colocam à disposição nesses momentos e raramente faltam. Há mesmo os que levam a pontualidade ao excesso. Ofendem-se com o atraso de um quarto de hora, e se foram eles que marcaram uma reunião será inútil iniciá-la alguns minutos antes.
Mas acentuemos que embora os Espíritos pretiram a regularidade, os verdadeiramente superiores não são tão meticulosos. A exigência de rigorosa pontualidade é sinal de inferioridade, como tudo o que é pueril. Mesmo fora das horas marcadas eles podem comparecer, e na verdade comparecem espontaneamente quando a finalidade é útil. Nada, entretanto, é mais prejudicial à recepção de boas comunicações do que evocá-los a torto e a direito, por simples capricho ou sem um motivo sério. Como não estão sujeitos aos nossos caprichos, poderiam não nos atender. Sobretudo nessas ocasiões que outros podem tornar-lhes o lugar e o nome.



    Livro dos Médiuns, Allan Kardec.  Editora LAKE - Cap. 29 itens 324 até 333
Hoje são denominadas no Movimento Espírita como – Reunião Mediúnica – Nota do customizador.