quarta-feira, 12 de outubro de 2016

CONSELHOS, REFLEXÕES E MÁXIMAS DE ALLAN KARDEC


   CONSELHOS, REFLEXÕES E MÁXIMAS
DE ALLAN KARDEC

Àqueles que querem ver os fenômenos antes de crer no Espiritismo, Allan Kardec dá-lhes estes sábios conselhos e reflexões:
Revista Espírita de 1865, pag. 328: Deus me guarde de ter a presunção de me crer o único capaz, ou mais capaz do que outro, ou o único encarregado de cumprir os desígnios da Providência; não, esse pensamento está longe de mim. Neste grande movimento renovador tenho a minha parte de atuação; não falo senão daquilo que me concerne; mas o que posso afirmar sem vã fanfarrice é que, no que me incumbe nem a coragem, nem a perseverança, me faltarão. Nisso jamais falhei, mas hoje que vejo o caminho se aclarar de uma maravilhosa claridade, sinto minhas forças crescerem, não tenho mais dúvida e graças às novas luzes que praza a Deus me dar, estou certo, e digo a todos os meus irmãos, com toda a certeza que jamais tive: coragem e perseverança, porque um esplendoroso sucesso coroará vossos esforços.”
Revista Espírita de 1867, pag. 40: O Espiritismo é, como alguns o pensam, uma nova fé cega substituindo a outra fé cega ou, dito de outra forma, uma escravidão do pensamento sob uma nova forma? Para crer nisso seria preciso se ignorasse os seus primeiros elementos. Com efeito, o Espiritismo coloca, em princípio, que antes de crer é preciso compreender; ora, para compreender, é preciso usar de seu julgamento; eis porque ele procura se dar conta de tudo em vez de nada admitir, em saber o “porquê” e o “como” de cada coisa; também os espíritas são mais céticos do que muitos outros com relação aos fenômenos que saem do círculo das observações habituais. Ele não repousa sobre nenhuma teoria preconcebida ou hipotética, mas sobre a experiência e a observação dos fatos; em vez de dizer: “Creia em primeiro lugar e se puder compreenda em seguida”, ele diz: “Compreenda em primeiro lugar, e creia em seguida se você quiser.” Não se impõe a ninguém; diz a todos: “Veja, observe, compare e venha a nós livremente se tal lhe convier”. Falando assim, ele se adianta e corta as chances da concorrência. Se muitos vão a ele, é porque os satisfaz muito, mas ninguém o aceita de olhos fechados. Àqueles que não o aceitam, ele diz: “Você é livre, e não o quero; tudo que peço é que me deixe minha liberdade, como eu lhe deixo a sua. Se procura me afastar, por receio de que eu suplante você, é porque você não está bem certo de si. O Espiritismo, procurando não descartar nenhum dos concorrentes dentro da liça aberta às ideias que devem prevalecer no mundo regenerado, está dentro das condições da verdadeira liberdade de pensamento; e não admitindo nenhuma teoria que não seja fundamentada sobre a observação, está, ao mesmo tempo, dentro daquelas de mais rigoroso positivismo; enfim, tem sobre seus adversários, de opiniões contrárias extremas, a vantagem da tolerância.”
Revista Espírita de 1861, pag. 130: Seria, de resto, bastante inconveniente que a propagação da Doutrina ficasse subordinada à publicidade de nossas reuniões: por mais numeroso que pudesse ser o auditório, ele seria sempre fortemente restrito, imperceptível, comparado à massa da população. Por outro lado nós sabemos, por experiência, que a verdadeira convicção não se adquire a não ser pelo estudo, pela reflexão e por uma observação sustentada, e não, assistindo a uma ou duas sessões, por mais interessantes que elas sejam, e isto é tão verdadeiro, que o número dos que creem sem nada terem visto, mas porque eles têm estudado e compreendido, é imenso. Sem dúvida o desejo de ver é muito natural, e estamos longe de censurar, mas queremos que o fenômeno seja visto em condições de aproveitamento. Eis porque dizemos: Primeiramente estude, e em seguida veja, porque assim compreenderá melhor. Se os incrédulos refletissem sobre essa condição, eles extrairiam a melhor garantia, em primeiro lugar, de nossa boa fé, e em seguida da potência da Doutrina. Aquilo que o charlatanismo mais teme é ser compreendido; ele fascina os olhos e não é bastante tolo para se dirigir à inteligência que descobriria facilmente a sua farsa. O Espiritismo, ao contrário, não admite confiança cega; quer ver claramente em tudo; quer que se compreenda tudo, que se leve em conta tudo; então quando prescrevemos o estudo e a meditação, isto é apelar ao concurso da razão, e provar que a ciência espírita não teme o exame, pois que antes de crer nós fazemos do compreender uma obrigação.”
Revista Espírita de 1861, pag. 377: Quem tem a intenção de organizar um grupo em boas condições deve antes de tudo se assegurar do concurso de alguns adeptos sinceros, que levem a Doutrina a sério e cujo caráter conciliador e benevolente lhe seja conhecido. Com esse núcleo formado, que seja de três ou quatro pessoas, se estabelecerá regras precisas, seja para as admissões, seja para a direção das reuniões e para a ordem dos trabalhos, regras às quais os recém-chegados terão de se conformar... A primeira condição a impor, se não se deseja ser a cada instante distraído por objeções ou questões ociosas, é, pois o estudo preliminar. A segunda é uma profissão de fé categórica e uma adesão formal à Doutrina do Livro dos Espíritos e certas outras condições especiais que se julgar a propósito. Isto é para os membros titulares ou dirigentes; para os ouvintes, que vêm geralmente para adquirir um acréscimo de conhecimentos e de convicções, se pode ser menos rigoroso; todavia, como existem os que podem causar problemas pelas observações deslocadas, é importante se assegurar de suas disposições; é preciso, sobretudo, e sem exceção, afastar os curiosos e todos os que não sejam atraídos senão por um motivo frívolo. A ordem e a regularidade dos trabalhos são coisas igualmente essenciais. Nós consideramos como eminentemente úteis abrir a reunião pela leitura de qualquer passagem de O Livro dos Médiuns e O Livro dos Espíritos; por este meio, se terá sempre presente na memória os princípios da ciência e os meios de evitar os escolhos que se encontram a cada passo na prática. A atenção se fixará assim sobre uma multidão de pontos que escapam frequentemente numa leitura particular, e poderão dar lugar a comentários e a discussões instrutivas, às quais mesmo os Espíritos poderão tomar parte.
Revista Espírita de 1861, pag. 380: ...Tudo isso, como se vê, é de uma execução muito simples, e sem acessórios complicados; mas tudo depende do ponto de partida, isto é, da composição dos grupos primitivos. Se eles forem formados de bons elementos, serão tantas boas raízes que darão bons rebentos. Se, ao contrário, são formados de elementos heterogêneos e antipáticos, de espíritas duvidosos, se ocupando mais da forma que do fundo, considerando a moral como a parte acessória e secundária, é preciso se prever polêmicas irritantes e sem desfecho, melindres de suscetibilidades, seguido de conflitos precursores da desorganização. Entre verdadeiros espíritas, tais como os havemos definido, vendo o propósito essencial do Espiritismo na moral, que é a mesma para todos, haverá sempre abnegação da personalidade, condescendência e benevolência, e, por consequência, certeza e estabilidade nos relacionamentos. Eis porque insistimos tanto nas qualidades fundamentais. As sociedades numerosas têm sua razão de ser do ponto de vista da propaganda, mas, para os estudos sérios, é preferível se fazer uso dos grupos íntimos.
Revista Espírita de 1861, pag. 347: De resto, qualquer que seja a natureza da reunião, quer seja numerosa ou não, as condições que deve preencher para atender o objetivo são as mesmas; é nisso que é preciso conduzir todos os seus cuidados e, aqueles que o preencherem, serão fortes, porque terão necessariamente o apoio dos bons Espíritos. Estas condições são comentadas no Livro dos Médiuns nº 341. Um capricho bastante frequente com alguns novos adeptos, é o de crer se passarem a mestres após alguns meses de estudo. O Espiritismo é uma ciência imensa, como sabem, e cuja experiência não se pode adquirir senão com o tempo, nisso como em todas as coisas. Há nessa pretensão de não ter mais necessidade dos conselhos de outrem e de se crer acima de todos, uma prova de insuficiência, pois que fracassa em um dos preceitos primeiros da Doutrina: a modéstia e a humildade. Quando os maus Espíritos encontram semelhantes disposições em alguns indivíduos, eles não falham em os superexcitar, distrair e persuadir de que somente eles possuem a verdade. É um dos escolhos que se pode encontrar, e contra o qual creio dever prevenir, acrescentando que não é suficiente se dizer Espírita para se dizer Cristão: é preciso prová-lo pela prática.
Revista Espírita de 1865, pag. 376: O Espiritismo, tendo por objetivo a melhoria dos homens, não vem em absoluto buscar os que são perfeitos, mas aqueles que se esforçam por se transformar colocando em prática os ensinos dos Espíritos. O verdadeiro Espírita não é aquele que chegou ao objetivo, mas é aquele que quer seriamente atingi-lo. Quaisquer que sejam então seus antecedentes, ele será um bom espírita desde que reconheça suas imperfeições e que seja sincero e perseverante em seu desejo de se corrigir. O Espiritismo é para ele uma verdadeira regeneração, porque rompe com seu passado; indulgente para com os outros como queria que o fossem para com ele, não sairá de sua boca nenhuma palavra malevolente nem injuriosa para as pessoas. Aquele que em uma reunião se afastar da conveniência provará não somente uma falta de saber-viver e de urbanidade, mas uma falta de caridade; aquele que se melindra quando contrariado em suas opiniões e pretende impor sua pessoa ou suas ideias, fará prova de orgulho; ou, nem um nem o outro estará no caminho do verdadeiro Espiritismo, isto é, do Espiritismo Cristão. Aquele que crê ter uma opinião mais justa que os outros a faria, mais bem aceita pela doçura e pela persuasão; o azedume seria um grande erro de sua parte.
Revista Espírita de 1865, pag. 92:  O Espiritismo não está apenas na crença na manifestação dos Espíritos. O erro daqueles que o condenam é de crer que ele não consiste senão na produção de fenômenos estranhos, e isso porque, não se dando ao trabalho de estudá-lo, dele não veem senão a superfície. Esses fenômenos não são estranhos senão para aqueles que não lhes conhecem as causas, mas qualquer um que os aprofunde, neles não vê senão os efeitos de uma lei, de uma força da natureza que não se conhecia, e que, por isso mesmo, não são nem maravilhosos, nem sobrenaturais. Esses fenômenos, provando a existência dos Espíritos, que não são outros senão as almas daqueles que viveram, provam, por consequência, a existência da alma, sua sobrevivência aos corpos, a vida futura com todas as suas consequências morais. A fé no porvir, encontrando-se apoiada sobre as provas materiais, se torna inabalável, e triunfa da incredulidade. Eis porque, quando o Espiritismo se tiver tornado a crença de todos, não haverá mais nem incrédulos, nem materialistas, nem ateus. Sua missão é de combater a incredulidade, a dúvida, a indiferença; não se dirige, pois, àqueles que têm uma fé, e a quem essa fé satisfaz, mas àqueles que não creem em nada, ou que duvidam. Ele não diz à pessoa para abandonar a sua religião; respeita todas as crenças quando elas são sinceras. A liberdade de consciência é a seus olhos um direito sagrado; Se não a respeitasse, falharia em seu primeiro princípio que é a caridade. Neutro em todos os cultos, ele será o lugar que os reunirá sob um mesmo pavilhão, aquele da fraternidade universal; um dia todos se estenderão as mãos, em lugar de se lançarem anátemas. Os fenômenos, longe de serem a parte essencial do Espiritismo, não são senão o acessório, um meio suscitado por Deus para vencer a incredulidade que invade a sociedade: essa parte está, sobretudo na aplicação de seus princípios morais. É aí que se reconhecem os espíritas sinceros. Os exemplos de reforma moral, provocados pelo Espiritismo, são já bastante numerosos para que se possam julgar os resultados que produzirá com o tempo. É preciso que sua potência moralizadora seja bem grande para triunfar dos hábitos inveterados pela idade, e da leviandade da juventude. O efeito moralizador do Espiritismo tem então por causa primeira o fenômeno das manifestações que têm trazido a fé; se esses fenômenos fossem uma ilusão, como o pretendem os incrédulos, seria preciso bendizer uma ilusão que dá ao homem a força de vencer seus maus pendores.
Revista Espírita de 1864, pag. 141: A força do Espiritismo não reside na opinião de um homem nem de um Espírito; ela está na universalidade do ensinamento dado pelos últimos; o controle universal, como o sufrágio universal, decidirá no porvir as questões litigiosas; fundirá a unidade da Doutrina bem melhor do que um concílio de homens. Esse princípio, disso, estamos certos, senhores, fará o seu caminho, como fez o: Fora da caridade não há salvação, porque está fundamentado sobre a mais rigorosa lógica e na abdicação da personalidade. Não poderá contrariar senão os adversários do Espiritismo, e aqueles que não têm fé senão em suas luzes pessoais.
Revista Espírita de 1864, pag. 235: O Espiritismo é uma fé íntima; está no coração e não nos atos exteriores, não prescreve nada que seja de natureza a escandalizar aqueles que não compartilham dessa crença, recomendando disso se abster por espírito de caridade e de tolerância.
Revista Espírita de 1864, pag. 100: Se a Doutrina Espírita fosse uma concepção puramente humana, ela não teria por garantia senão as luzes daquele que a houvesse concebido; ora, ninguém aqui neste mundo poderia ter a pretensão de possuir sozinho, a verdade absoluta. Se os Espíritos que a revelaram tivessem se manifestado a um só homem, nada garantiria sua origem, porque se precisaria crer, sob a palavra, naquele que dissera ter recebido seu ensinamento. Admitindo-se uma perfeita sinceridade de sua parte, ele poderia no máximo convencer as pessoas de seu círculo: poderia fazer sectários, mas jamais teria sucesso em reunir todo o mundo. Deus quis que a nova revelação chegasse aos homens por uma via mais rápida e mais autêntica; é por isso que encarregou os Espíritos de irem conduzi-la de um polo ao outro, manifestando-se por toda parte, sem dar a ninguém o privilégio exclusivo de escutar sua palavra.
Revista Espírita de 1864, pag. 101: Sabe-se que os Espíritos, por causa da diferença que existe em suas capacidades, estão longe de estar individualmente de posse de toda a verdade; que não é dado a todos penetrar certos mistérios; que seu saber é proporcional à sua depuração; que os Espíritos vulgares não sabem mais que os homens, e mesmo menos que certos homens; que há entre eles, como entre os últimos, os presunçosos e os pseudossábios que creem saber aquilo que não sabem; sistemáticos que tomam as suas ideias pela verdade... árbitros da verdade. Em semelhante caso, que fazem os homens que não têm, neles mesmos, uma confiança absoluta? Apegam-se à opinião de maior número, e a opinião da maioria é seu guia. Assim deve-se proceder em relação aos ensinos dos Espíritos que disso nos forneceram, eles mesmos, os meios. A concordância dos ensinamentos dos Espíritos é então o melhor controle; mas é preciso que ela tenha lugar em certas condições. A menos certa de todas é quando um médium interroga, ele mesmo, a vários Espíritos sobre um ponto duvidoso; é bem evidente que se ele está sob o império de uma obsessão, e se estiver influenciado por um Espírito enganador, esse Espírito pode lhe dizer a mesma coisa sob nomes diferentes. Não há, não mais, uma garantia suficiente na conformidade que podemos obter pelos médiuns de um só centro, porque eles podem sofrer a mesma influência. A única garantia séria está na concordância  que existe entre as revelações feitas espontaneamente pela mediação de um grande número de médiuns, estranhos uns aos outros, e em diversos países. Concebe-se que não se trata aqui das comunicações relativas a interesses secundários, mas daquelas que se relacionam aos princípios mesmos da Doutrina... O primeiro controle é, sem contradita, aquele da razão, à qual é necessário submeter, sem exceção, tudo aquilo que venha dos Espíritos; toda teoria em contradição manifesta com o bom senso, com uma lógica rigorosa, e com os dados positivos que se possui, mesmo que seja assinada por nome respeitável, deve ser rejeitada. Mas esse controle é incompleto em muitos casos, devido à insuficiência de luzes de certas pessoas e da tendência de muitos para manter seu próprio julgamento como árbitro único da verdade. A única garantia séria está na concordância que existe entre as revelações feitas espontaneamente pela mediação de um grande número de médiuns estranhos uns aos outros e em diversos países. Tal é a base sobre a qual nós nos apoiamos quando formulamos um princípio da Doutrina; não é porque esteja de acordo com nossas ideias que o damos como verdadeiro; não nos colocamos de nenhuma maneira como árbitros superiores da verdade, e não dizemos a ninguém: Crê em tal coisa, porque o dizemos. Aos nossos olhos, nossa opinião não é mais que uma opinião pessoal, que pode ser certa ou falsa, porque não somos mais infalíveis que ninguém. Não é mais porque um princípio nos é ensinado que é para nós a verdade, mas porque recebeu a sanção da concordância.
Revista Espírita de 1864, pag. 103: O controle universal é uma garantia para a unidade futura do Espiritismo e anulará todas as teorias contraditórias. É aí que, no porvir, se buscará o critério da verdade. O que fez o sucesso da Doutrina, formulada em O Livro dos Espíritos e em O Livro dos Médiuns, é que, por toda parte, cada um pode receber diretamente dos Espíritos a confirmação daquilo que eles contêm. Se, de todas as partes, os Espíritos tivessem vindo contradizê-los, esses livros teriam depois de muito tempo tido a sorte de todas as concepções fantásticas. Mesmo o apoio da imprensa não os teria salvado do naufrágio, enquanto que, mesmo privados desse apoio, não deixaram de fazer um caminho rápido, porque tiveram o apoio dos bons Espíritos cuja boa vontade compensou, e ultrapassou, a má vontade dos homens. Assim o será de todas as ideias emanadas dos Espíritos e dos homens, que não puderem suportar a prova desse controle, do qual ninguém pode contestar o poder.”
Revista Espírita de 1859, pag. 176: Os Espíritos são aquilo que são, e não podemos mudar a ordem das coisas; não sendo todos perfeitos, não aceitamos suas palavras senão sob a análise e não com a credulidade das crianças; julgamos, comparamos, tiramos as consequências de nossas observações, e mesmo seus erros são para nós ensinamentos, porque não fazemos abnegação de nosso discernimento. Essas observações se aplicam igualmente a todas as teorias científicas que os Espíritos possam dar. Seria muito cômodo ter apenas que os interrogar para encontrar a ciência toda feita, e para possuir todos os segredos industriais: não adquirimos a ciência senão ao preço do trabalho e das pesquisas; sua missão não é de nos livrar desta obrigação. Sabemos aliás, que não somente nem todos não sabem tudo, mas que há entre eles, como entre nós, falsos sábios, que creem saber aquilo que não sabem, e falam daquilo que ignoram com o mais imperturbável desembaraço. Um Espírito poderia então dizer que é o Sol que gira em torno da Terra e não o contrário, e sua teoria não seria mais verdadeira porque vinda de um Espírito. Que aqueles que nos supõem uma credulidade assim pueril, saibam pois que tomamos toda opinião exprimida por um Espírito por uma opinião individual; que não a aceitamos senão depois de a haver submetido ao controle da lógica e dos meios de investigação que a própria ciência Espírita nos forneceu.
Revista Espírita de 1859, pag. 178: Nossos estudos nos ensinam que o mundo invisível que nos cerca reage constantemente sobre o mundo visível; no-lo mostram como uma das forças da Natureza; conhecer os efeitos desta força oculta que nos domina e nos subjuga com nosso desconhecimento não é ter a chave de mais um problema, a explicação de uma multidão de fatos que passam despercebidos? Se esses efeitos podem ser funestos, conhecer a causa do mal não é ter um meio de se prevenir, como o conhecimento das propriedades da eletricidade nos tem dado o meio de atenuar os efeitos desastrosos do raio? Se então sucumbirmos, não poderemos nos queixar senão de nós mesmos, porque não teremos a ignorância por desculpa. O perigo está no império que os maus Espíritos impõem sobre os indivíduos, e esse império não é somente funesto do ponto de vista dos interesses da vida material. A experiência nos ensina que jamais é impunemente que alguém se abandona à sua dominação; porque suas intenções não podem nunca ser boas. Uma de suas táticas para chegar a seus fins é a desunião, porque sabem muito bem que poderão facilmente tirar vantagens daquele que está privado de apoio; também, seu primeiro cuidado, quando querem se apoderar de alguém, é sempre o de lhe inspirar a desconfiança e a antipatia por quem possa desmascará-lo com esclarecimentos, por conselhos salutares. Uma vez senhores do terreno, podem, a seu gosto, fasciná-lo com promessas sedutoras, subjugá-lo lisonjeando suas inclinações, aproveitando para isso todos os pontos fracos que encontram, para melhor fazê-lo sentir em seguida a amargura das decepções, afligi-lo em suas afeições, humilhá-lo em seu orgulho e, frequentemente, elevá-lo por um momento senão para precipitá-lo de mais alto. Para se prevenir contra tais perigos, Allan Kardec nos dá o seguinte sábio conselho:
Revista Espírita de 1859, pag. 180: Direi primeiro que, segundo o seu conselho – o conselho de seus Guias – Eu não aceito jamais nada sem exame e sem controle; não adoto uma ideia a não ser que ela me pareça racional, lógica, se está de acordo com os fatos e as observações, se nada de sério a vem contradizer. Mas meu julgamento não poderia ser um critério infalível; o consentimento que tenho encontrado junto de uma multidão de gente mais esclarecida do que eu é para mim uma primeira garantia; encontro uma outra, não menos preponderante, no caráter das comunicações que me têm sido feitas desde que me ocupo com o Espiritismo; jamais, posso dizê-lo, escapou uma única dessas palavras, um só desses sinais pelos quais se traem os Espíritos inferiores, mesmo os mais astuciosos; jamais dominação; jamais conselhos equivocados ou contrários à caridade e à benevolência, jamais prescrições ridículas; longe disso, não encontrei neles senão pensamentos grandes, nobres, sublimes, isentos de pequenez e mesquinharia; em uma palavra, suas relações comigo, nas menores, como nas maiores coisas, têm sido sempre tais que, se tivesse sido um homem que me houvesse falado, eu o teria pelo melhor, o mais sábio, o mais prudente, o mais moral e o mais iluminado. Eis, senhores, os motivos de minha confiança, corroborada pela identidade de ensinamento dado a uma multidão de outras pessoas, antes e depois da publicação de minhas obras...
Revista Espírita de 1859, pag. 182: Pode-se diferir de opinião sobre pontos da ciência sem se morder e se atirar pedras; é mesmo muito pouco digno e muito pouco científico fazê-lo. Busque de seu lado como buscamos do nosso; o porvir dará razão àquele de direito. Se nos enganamos, não tenhamos o tolo amor-próprio de nos obstinar com ideias falsas; mas há princípios sobre os quais se está certo de não se enganar: são o amor do bem, a abnegação, a abjuração de todo sentimento de inveja e ciúme; esses princípios são os nossos, e com esses princípios pode-se sempre simpatizar sem se comprometer; é o laço que deve unir todos os homens de bem, qualquer que seja a divergência de suas opiniões: somente o egoísmo coloca entre eles uma barreira intransponível.
Revista Espírita de 1859, pag. 183: Onde quer que chegue, minha vida está consagrada à obra que empreendemos, e serei feliz se meus esforços puderem ajudar a fazê-la entrar na via séria que é sua essência, a única que poderá assegurar seu porvir. O objetivo do Espiritismo é fazer melhores aqueles que o compreendem; tratemos de dar o bom exemplo e de mostrar que para nós a Doutrina não é letra morta; em uma palavra sejamos dignos dos  bons Espíritos, se queremos que os bons Espíritos nos assistam. O bem é uma couraça contra a qual virão sempre se quebrar as armas da malevolência.
Revista Espírita de 1865, pag. 66: As ideias do homem são em razão do que ele sabe; como em todas as descobertas importantes, a da construção dos mundos deveu dar-lhes outro curso. Sob o império desses novos conhecimentos, as crenças devem se modificar; o céu foi transferido. A região das estrelas sendo sem limites não pode mais lhe servir. Onde ele está? Diante desta questão, todas as religiões permanecem mudas. O Espiritismo vem resolvê-la demonstrando o verdadeiro destino do homem. A natureza deste último e os atributos de Deus sendo tomados por ponto de partida se chega à conclusão. O homem é composto do corpo e do Espírito. O Espírito é o ser principal, o ser da razão, o ser inteligente; o corpo é o envelope material que reveste temporariamente o Espírito para o cumprimento de sua missão sobre a Terra e a execução do trabalho necessário ao seu avanço. O corpo usado se destrói e o Espírito sobrevive a essa destruição. Sem o Espírito, o corpo não é senão uma matéria inerte, como um instrumento privado do braço que o faz agir; no corpo, o Espírito é tudo: a vida e a inteligência. Deixando o corpo, ele reentra no mundo espiritual de onde tinha saído para se encarnar. Há então o mundo corpóreo, composto dos Espíritos encarnados, e o mundo espiritual, formado dos Espíritos desencarnados. Os Espíritos são criados simples e ignorantes, mas com a aptidão de tudo adquirir e a progredir em virtude de seu livre arbítrio. Pelo progresso, adquirem novos conhecimentos, novas faculdades, novas percepções e, em consequência, novos gozos desconhecidos aos Espíritos inferiores; eles veem, ouvem, sentem e compreendem o que os Espíritos atrasados não podem nem ver, nem ouvir, nem sentir, nem compreender. A felicidade está em razão do progresso alcançado; de sorte que, de dois Espíritos, um pode não estar tão feliz quanto o outro, unicamente porque não é tão avançado intelectualmente e moralmente, sem que tenham necessidade de estar cada um num lugar distinto. Ainda que estando ao lado um do outro, um pode estar nas trevas, ao passo que tudo é resplendente ao redor do outro, absolutamente como para um cego e um vidente que se dão a mão; um percebe a luz, que não causa nenhuma impressão sobre seu vizinho. A felicidade dos Espíritos sendo inerente às qualidades que possuem, eles a haurem por toda parte onde se encontrem, na superfície da Terra, no meio dos encarnados ou no espaço.
Revista Espírita de 1865, pag. 37: A Doutrina Espírita muda inteiramente a maneira de encarar o porvir. A vida futura não é mais uma hipótese, mas uma realidade; o estado das almas após a morte não é mais um sistema, mas um resultado da observação. O véu foi levantado; o mundo invisível nos aparece em toda sua realidade prática; não são os homens que o descobriram por esforço de uma concepção engenhosa; foram os próprios habitantes desse mundo que vieram nos descrever sua situação. Nós os vemos em todos os graus da escala espiritual, em todas as fases de felicidade ou de infelicidade; assistimos a todas as peripécias da vida de além-túmulo. Aí está para os espíritas a causa da calma com a qual eles encaram a morte, a serenidade de seus derradeiros instantes sobre a Terra. O que os sustenta não é somente a esperança, é a certeza; sabem que a vida futura não é senão a continuação da vida presente em melhores condições, e a esperam com a mesma confiança que esperam o alvorecer do Sol depois de uma noite de tempestade. Os motivos dessa confiança estão nos fatos de que são testemunhas e na concordância desses fatos com a lógica, a justiça e a bondade de Deus e as aspirações íntimas do homem.
Revista Espírita de 1865, pag. 41: O Espiritismo não se afastará da verdade e não terá nada a temer das opiniões contraditórias, uma vez que sua teoria científica e sua doutrina moral são uma dedução dos fatos escrupulosamente e conscienciosamente observados, sem preconceitos nem sistemas preconcebidos. É diante de uma observação mais completa que todas as teorias prematuras e arriscadas, eclodidas na origem dos fenômenos espíritas modernos, caíram e vieram se fundir na imponente unidade que existe hoje e contra a qual não se veem mais senão raras individualidades que diminuem todos os dias. As lacunas que a teoria atual pode ainda encerrar se completarão da mesma maneira. O Espiritismo está longe de haver dito sua última palavra quanto às suas consequências, mas está inabalável nesta base, porque esta base se assenta sobre os fatos. Que os espíritas fiquem, pois, sem receio: o porvir é para eles; que deixem seus adversários se debater sob o peso da verdade que os ofusca, porque toda negação é impotente contra a evidência que triunfa inevitavelmente pela força das coisas. É uma questão de tempo, e neste século o tempo caminha a passos de gigante sob o impulso do progresso.
Revista Espírita de 1868, pag. 209: O Espiritismo, por sua natureza e seus princípios, é essencialmente pacífico; é uma ideia que se infiltra sem ruído, e se encontra numerosos adeptos, é porque agrada; jamais fez declamações, nem propaganda, nem qualquer encenação; forte pelas leis naturais sobre as quais se apoia se vê crescer sem esforços nem abalos, não vai atrás de ninguém; não violenta nenhuma consciência; diz aquilo que é, e espera que venham a ele. Todo o ruído que é feito ao seu redor é obra de seus adversários; se é atacado, deve se defender, mas sempre o fez com calma, moderação e apenas pelo raciocínio, jamais se afastou da dignidade que é própria de toda causa que tem a consciência de sua força moral; jamais usou de represálias restituindo injúrias com injúrias, maus procedimentos com maus procedimentos. Não é esse, convenhamos, o caráter ordinário dos partidos inquietos por natureza, fomentando a agitação, e a quem tudo é bom para atingir aos seus fins? Mas desde que lhe demos este nome – de partido – o aceita, certo que não o desonrará por nenhum excesso; porque repudiaria qualquer um que disso se prevalecesse para suscitar o menor problema. O Espiritismo prosseguia em sua rota sem provocar nenhuma manifestação pública, aproveitando totalmente a publicidade que lhe davam seus adversários; quanto mais sua crítica fosse zombeteira, acerba, virulenta, mais excitava a curiosidade daqueles que não o conheciam, e que, para saber que opinião se ter sobre essa, assim dizendo, nova excentricidade, iam simplesmente se informar na fonte, isto é, nas obras especiais; se estudava, e se encontrava totalmente outra coisa que não aquilo que se estava  pretendendo dele dizer. É um fato notório que as declamações furiosas, os anátemas e as perseguições ajudaram fortemente à sua propagação, porque, em lugar de dissuadir, provocavam o exame, não fosse isso que atrai um fruto defendido. As massas têm sua lógica; dizem que se uma coisa nada fosse; dela não se falaria, e medem sua importância precisamente pela violência dos ataques de que são objeto e pelo esforço que causa a seus antagonistas.
Revista Espírita de 1866, pag. 114: Inscrevendo no frontispício do Espiritismo a lei suprema do Cristo, abrimos a via do Espiritismo Cristão; fomos, pois instituídos a lhe desenvolver os princípios, como também os caracteres do verdadeiro espírita sob esse ponto de vista. Que outros possam fazer melhor do que nós, não iremos contra, porque jamais dissemos: “Fora de nós não há verdade”. Nossas instruções sendo, pois, para aqueles que as acham boas, são aceitas livremente, e traçamos uma rota sem restrições, segue-a quem quer; damos conselhos àqueles que no-los pedem, e não àqueles que creem poder dispensá-los; não impomos nada a ninguém, não temos qualidade para isso. Quanto à supremacia, ela é toda moral, e na adesão dos que partilham nossa maneira de ver, não somos investidos, por isso mesmo, de nenhum poder oficial, não solicitamos nem reivindicamos nenhum privilégio; não nos concedemos nenhum título, e o único que tomamos com os partidários de nossas ideias é aquele de irmão em crença; se nos consideram como seu chefe, é em consequência da posição que nos dão nosso trabalho e não em virtude de uma decisão qualquer. Nossa posição é aquela que cada um podia ter antes de nós; nosso direito, aquele que todo mundo tem de trabalhar como entende e de correr o risco do julgamento público.
Revista Espírita de 1866, pag. 299: Ele não disse: Fora do Espiritismo não há salvação, mas com o Cristo: Fora da caridade não há salvação, princípio de união, de tolerância, que unirá os homens dentro de um sentimento de fraternidade, em lugar de dividi-los em seitas inimigas. Por este outro princípio: Não há fé inabalável senão aquela que pode encarar a razão face a face, em todas as épocas da humanidade, ele destrói o império da fé cega que aniquila a razão, da obediência passiva que embrutece; ele emancipa a inteligência do homem e levanta sua moral.
Revista Espírita de 1868, pag. 377: Acrescentamos que a tolerância, consequência da caridade, que é a base da moral espírita, lhe fez como dever respeitar todas as crenças. Querendo ser aceito livremente por convicção e não por contrição, proclamando a liberdade de consciência como um direito natural imprescindível, disse: Se tenho razão, os outros acabarão por pensar como eu; se estiver errado, acabarei por pensar como os outros. Em virtude desses princípios, não lançando pedra em ninguém, não dará nenhum pretexto a represálias, e deixará aos dissidentes toda a responsabilidade de suas palavras e de seus atos.
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Os desastrados amigos
Revista Espírita de 1863, pag. 74: Dessa forma, se ninguém pode deter a marcha geral do Espiritismo, são as circunstâncias que lhe podem trazer entraves parciais, como uma pequena barragem que pode diminuir o curso de um rio sem o impedir de escoar. Dessa espécie são os passos inconsiderados de certos adeptos, mais zelosos que prudentes, que não calculam bem a importância de seus atos ou de suas palavras; por isso produzem sobre as pessoas ainda não iniciadas na Doutrina uma impressão desfavorável, bem mais própria a afastá-los que as diatribes dos adversários. O Espiritismo está, sem dúvida, muito difundido, mas o seria ainda mais se todos os adeptos tivessem sempre escutado os conselhos da prudência e soubessem se colocar em uma sábia reserva. É preciso, sem dúvida, ter em conta a intenção, mas é certo que mais de um tem justificado o provérbio: Mais vale um inimigo declarado do que um amigo desastrado. O pior disto, é fornecer as armas aos adversários que habitualmente sabem explorar uma falta de jeito. Não seria pois excessivo recomendar aos espíritas para refletir maduramente antes de agir; em tal caso, manda a prudência o não referir-se à sua opinião pessoal. Hoje, que de todos os lados se formam grupos ou sociedades, nada é mais simples que se harmonizar antes de agir. O verdadeiro Espírita, não tendo em vista senão o bem da coisa, sabe fazer abnegação do amor-próprio; crer em sua própria infalibilidade, recusar se render à opinião da maioria e persistir em um caminho que se demonstra mau e comprometedor, não é a postura de um verdadeiro espírita; isto seria fazer prova de orgulho se não for de fato uma obsessão.”
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Allan Kardec não para de nos colocar em guarda contra as comunicações de certas categorias de Espíritos e nos recomenda a cada instante a sempre passar todos os seus ditados pelo cadinho da consciência e da razão.
Revista Espírita de 1863, pag. 75: Esses falsos sábios falam de tudo, reavivando os sistemas, criando utopias, ou ditando as coisas mais excêntricas, e ficam felizes de encontrar intérpretes complacentes e crédulos que aceitem suas elucubrações de olhos fechados. Esse tipo de publicações é inconveniente muito grave, porque o médium, tendo enganado a si mesmo, seduzido mais frequentemente por um nome apócrifo, as dá como coisas sérias; do que a crítica se apodera com empenho para denegrir o Espiritismo, ao passo que, com menos presunção, seria suficiente tomar conselhos de seus colegas para ser esclarecido. É muito raro que, nesse caso, o médium não ceda à injunção de um Espírito que quer – ai de mim! - “como certos homens, de qualquer modo se impor; com mais experiência, saberia que os Espíritos verdadeiramente superiores aconselham, mas não se impõem nem nunca se envaidecem, e que toda prescrição imperiosa é um sinal suspeito.”
Revista Espírita de 1863, pag. 159: Não se saberia, pois, em relação à publicidade, trazer muita circunspecção, nem calcular com suficiente cuidado o efeito que pode ser produzido sobre o leitor. Em resumo, é um grave erro o se crer obrigado a publicar tudo que dizem os Espíritos, porque se os há bons e iluminados, os há maus e ignorantes; é importante fazer uma escolha muito rigorosa de suas comunicações e de descartar tudo que é inútil, insignificante, falso ou de natureza a produzir uma má impressão. É preciso semear, sem dúvida, mas semear os bons grãos e no momento oportuno. É nesse tipo de trabalho medianímico que notamos mais os sinais de obsessão, dos quais um dos mais frequentes é a injunção da parte do Espírito de fazê-los imprimir, e mais de um pensa erradamente que esta recomendação é suficiente para encontrar um editor empenhado de se encarregar disso.
Revista Espírita de 1863, pag. 158: Em toda obra mediúnica, convém primeiramente descartar tudo aquilo que, sendo de interesse privado, não interessa senão àquele que lhe concerne; depois, tudo aquilo que é vulgar pelo estilo dos pensadores, ou pueril pelo assunto; uma coisa pode ser excelente em si mesma, muito boa para fins de instrução pessoal, mas aquilo que deve chegar ao público exige condições especiais; infelizmente, o homem está inclinado a imaginar que tudo aquilo que lhe agrada deve agradar aos outros; o mais hábil pode se enganar; o que importa de tudo é se enganar o menos possível. Há Espíritos que se aprazem em manter essa ilusão junto a certos médiuns: é por isso que não seria excessivo recomendar a esses últimos de não se render em absoluto a seu próprio julgamento, e é nisso que os grupos são úteis; por causa da multiplicidade de pareceres que se permite recolher; aquele que, neste caso, recusasse a opinião da maioria, crendo ter mais luzes que todos, provaria de forma superabundante a má influência sob a qual se encontra.
Revista Espírita de 1864, pag. 323: É um fato constatado que o Espiritismo é mais entravado por aqueles que o compreendem mal do que por aqueles que não o compreendem de todo, e mesmo por seus inimigos declarados; e é de se notar que aqueles que o compreendem mal têm geralmente a pretensão de compreendê-lo melhor do que os outros; não é raro de ver novatos pretender, no fim de alguns meses, admoestar àqueles que têm experiência, por eles adquirida por estudos sérios. Essa pretensão, que trai o orgulho, é ela mesma uma prova evidente da ignorância dos verdadeiros princípios da Doutrina.
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A um amador, muito crédulo, que se acreditava iludido por um médium assalariado, e que pedira a Allan Kardec que o entregasse à justiça dos homens, à espera que fosse punido pela de Deus, o mestre respondeu:
Revista Espírita de 1865, pag. 88: Lamento que você tenha podido pensar que eu serviria no que quer que seja, a seus desejos vingativos, tomando providências para levar os culpados à justiça. Isto sendo, você se equivoca singularmente sobre meu papel, meu caráter e minha compreensão dos verdadeiros interesses do Espiritismo. Se você é realmente, como você o diz, meu irmão em Deus, creia-me, implore Sua clemência e não Sua cólera; porque aquele que chama essa cólera sobre outro, corre o risco de fazê-la cair sobre si mesmo.
Revista Espírita de 1869, pag. 354: Esses fenômenos, trazidos à moda pelo atrativo da curiosidade, se tornaram uma diversão, e tentaram a cupidez das gentes sob o pretexto de que isso seria novidade, na esperança de encontrar uma porta aberta. As manifestações pareciam uma matéria maravilhosamente explorável, e mais de um sonhava em se fazer um auxiliar de tal indústria; outros viam uma variante da arte de adivinhação, um meio talvez mais seguro que a cartomancia, a borra de café, etc., para conhecer o porvir e descobrir as coisas ocultas, porque, segundo a opinião de então, os Espíritos deviam tudo saber. Desde que essa gente viu que a especulação escorregava de suas mãos e tendia à mistificação, que os Espíritos não vinham lhes ajudar a fazer fortuna, lhes dar os bons números de loteria, lhes ler a sorte verdadeira, lhes fazer descobrir tesouros ou recolher as heranças, lhes dar qualquer uma boa invenção frutuosa e patenteável, suprir a sua ignorância e lhes dispensar de todo trabalho intelectual e material, então os Espíritos não serviriam para nada, suas manifestações não seriam senão ilusões. Da mesma forma que eles haviam promovido o Espiritismo, enquanto que eles tiveram a esperança de lhe retirar um lucro qualquer, da mesma forma o denegriram quando veio o desapontamento. Mais de um crítico que o escarneceu o retrataria nas nuvens se lhe houvesse feito descobrir um tio na América ou ganhar na Bolsa.
Revista Espírita de 1866, pag. 78: Diremos primeiramente que o Espiritismo não podia ser responsável pelos indivíduos que tomam indevidamente a qualidade de médium, não mais que a ciência verdadeira não é responsável pelos escamoteadores que se dizem físico. Um charlatão pode pois dizer que opera com a ajuda de Espíritos, como um prestidigitador diz que opera com a ajuda psíquica; é um meio, como outro, de lançar poeira aos olhos; tanto pior para os que nisto se deixam prender. Em segundo lugar, o Espiritismo condena a exploração da mediunidade, como contrária aos princípios da Doutrina do ponto de vista moral, e demonstrando que não deve nem pode ser um ofício nem uma profissão; todo médium que não tire de sua faculdade algum lucro direto ou indireto, ostensivo ou dissimulado, descarta, por isso mesmo, até a suspeição de trapaça ou charlatanismo; desde que não seja solicitado por algum interesse material, o malabarismo seria sem propósito. O médium que compreende o que há de grave e de sagrado em um dom dessa natureza creria profaná-lo, ao fazê-lo servir às coisas mundanas para si e para os outros, ou se dele fizesse um objeto de divertimento e de curiosidade; respeita os Espíritos como quereria que se o respeitassem quando se tornar um Espírito, e não os colocaria em ostentação. Por outro lado, sabe que a mediunidade não pode ser um meio de adivinhação; que ela não pode descobrir os tesouros, as heranças, nem facilitar o êxito nas chances aleatórias, e não lê a sorte, nem por dinheiro nem por nada; então ela não terá jamais de desembaraçar-se com a justiça. Quanto à mediunidade de cura, ela existe, isto é certo; mas está subordinada a condições restritas, que excluem a possibilidade de se ter uma sala aberta às consultas, e sem suspeita de charlatanismo, é uma obra de devotamento e sacrifício, e não de especulação. Exercida com desinteresse, prudência e discernimento, e encerrada nos limites traçados pela Doutrina, ela não pode cair sob o golpe da lei. Em resumo, o médium, segundo os objetivos da Providência e do Espiritismo, quer seja artesão ou príncipe, porque dela há no palácio e nas choupanas, recebeu um mandato que cumpre religiosamente e com dignidade; não vê em sua faculdade senão um meio de glorificar Deus e de servir a seu próximo, e não um instrumento para servir seus interesses ou satisfazer sua vaidade; se faz estimar e respeitar por sua simplicidade, sua modéstia e sua abnegação, o que não é o fato com aqueles que procuram dela fazer um degrau.
Revista Espírita de 1867, pag. 300: O desinteresse material, que é um dos atributos essenciais da mediunidade curadora, será também uma das condições da medicina medianímica? Como então conciliar as exigências da profissão com uma abnegação absoluta? Isto demanda algumas explicações, porque não é o mesmo caso. A faculdade do médium curador não lhe custou nada; não exigiu dele nem estudo, nem trabalho, nem despesas; ele a recebeu gratuitamente para o bem de outro, e deve usá-la gratuitamente. Como precisa antes de tudo viver, se não tem, por si mesmo, recursos que o faça independente, deve procurar os meios no seu trabalho ordinário, como o havia feito antes de conhecer a mediunidade; ele não dá ao exercício de sua faculdade senão o tempo que lhe pode consagrar. Se toma esse tempo de seu repouso, e se emprega, para se tornar útil a seus semelhantes, o que seria consagrado às distrações mundanas, é por devotamento verdadeiro, e disso não tem senão mais mérito. Os Espíritos não lhe pedem mais, e não exigem nenhum sacrifício não razoável. Não se poderia considerar como devoção e abnegação o abandono de seu status para se entregar a um trabalho menos penoso e mais lucrativo. Na proteção que lhe concedem, os Espíritos, aos quais não se pode impor, sabem perfeitamente distinguir os devotamentos reais dos devotamentos fictícios.
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Fraudes Espíritas
Revista Espírita de 1859, pag. 94: De que há charlatães que vendem drogas em praças públicas, de que há mesmo médicos que, sem ir à praça pública, enganam a confiança alheia, se segue que todos os médicos são charlatães, e o corpo médico nisso seja atingido em nossa consideração? De que há gente que vende a tintura por vinho, se segue que todos os vendedores de vinho são fraudadores e que não há nenhum vinho puro? Se abusa de tudo, mesmo das coisas mais respeitáveis, e pode-se dizer que a fraude também tem o seu gênio. Mas a fraude tem sempre um propósito, um interesse material qualquer; onde não há nada a ganhar, não há nenhum interesse a enganar. “Também dissemos, a propósito dos médiuns mercenários, que a melhor de todas as garantias é um desinteresse absoluto.”
Revista Espírita de 1869, pag. 42: Estigmatizando a especulação, como nós o temos feito, temos a certeza de ter preservado a Doutrina de um verdadeiro perigo, perigo maior que a má vontade de seus antagonistas confessos, porque dela não restaria nada menos que seu descrédito; por isso mesmo, ela lhes teria oferecido um lado vulnerável, no entanto têm se detido ante a pureza de seus princípios. Não ignoramos que temos suscitado contra nós a animosidade dos especuladores, e que temos alienado seus participantes; mas que nos importa! Nosso dever é manter sob mão a causa da Doutrina e não os interesses deles; e esse dever, nós o cumpriremos com perseverança e firmeza até o fim.
Revista Espírita de 1864, pag. 78: Mas não é somente contra cupidez que os médiuns devem se manter em guarda; como os há em todas as faixas da sociedade, a maior parte está sob essa tentação; mas há outro perigo, de outro modo bem grande, porque todos lhe estão expostos, que é o orgulho, onde se perde o maior número; é contra esse escolho que as mais belas faculdades vêm frequentemente se quebrar. O desinteresse material é sem proveito se não estiver acompanhado do mais completo desinteresse moral. Humildade, devotamento, desinteresse e abnegação são as qualidades do médium amado pelos bons Espíritos.
Revista Espírita de 1867, pag. 8: É preciso se figurar que estamos em guerra, que os inimigos estão à nossa porta, prestes a segurar a ocasião favorável, e que dirigem as inteligências no local. Nesta circunstância, que há a fazer? Uma coisa bastante simples: se restringir estritamente dentro do limite dos preceitos da Doutrina: se esforçar em demonstrar o que ela é por seu próprio exemplo, e declinar toda solidariedade com aquilo que poderia ser feito em seu nome que fosse de natureza a desacreditá-la, porque isso não costuma ser o feito de adeptos sérios e convictos. Não basta se dizer espírita: aquele que o é de coração o prova por seus atos. A Doutrina, não pregando senão o bem, o respeito às leis, a caridade, a tolerância e a benevolência com todos; repudiando toda violência feita à consciência do outro, todo charlatanismo, todo pensamento interesseiro no que concerne às relações com os Espíritos, e toda coisa contrária à moral evangélica, aquele que não se afasta da linha traçada não pode incorrer em nenhuma censura justa, ou demandas legais; bem mais que isso, quem toma a Doutrina por regra de conduta, não pode senão se conciliar à estima e à consideração das pessoas imparciais; diante do bem, até mesmo a incredulidade zombeteira se inclina, e a calúnia não pode sujar aquele que é sem mancha. É dentro dessas condições que o Espiritismo atravessará os temporais que se amontoam sobre sua rota e que sairá triunfante de todas as lutas.
Revista Espírita de 1864, pag. 5: A situação do Espiritismo em 1863 pode se resumir assim: ataques violentos, multiplicação dos escritos contra e a favor; movimentação das ideias, expansão notável da Doutrina, mais sinais exteriores de natureza a produzir uma sensação geral, as raízes se estendem, produzem brotos, à espera que a árvore desdobre seus ramos. O momento de sua maturidade ainda não chegou.
Revista Espírita de 1864, pag. 3: A moderação dos espíritas é o que assombra e contraria mais seus adversários; tentarão tudo para fazê-los dela sair, mesmo a provocação; mas saberão frustrar essas manobras por sua prudência, como já fizeram em mais de uma ocasião, e não caíram nas ciladas que se lhes prepararam; verão, aliás, os instigadores se prenderem em seus próprios laços, porque é impossível que cedo ou tarde não revelem seus propósitos. Este é um momento mais difícil de passar do que aquele da guerra aberta, onde se vê o inimigo face a face: mas por mais rude seja prova, maior será o triunfo. De resto, essa campanha teve um imenso resultado, o de provar a impotência das armas dirigidas contra o Espiritismo; os homens mais capazes do partido oposto entraram em liça; todos os recursos de argumentação têm sido desdobrados e, nada tendo sofrido o Espiritismo, cada um saiu convicto de que não se poderia lhe opor nenhuma razão peremptória, e a maior prova da penúria de boas razões é que se recorreu ao triste e ignóbil recurso da calúnia; mas aparentando uma boa vontade, pretendeu-se que o Espiritismo dissesse o contrário daquilo que ele diz: a Doutrina está lá, escrita em termos tão claros que desafiam toda falsa interpretação, é assim que a odiosidade da calúnia recai sobre aqueles que a empregam e os convence da sua impotência.”
Revista Espírita de 1864, pag. 198: A oposição que se faz a uma ideia está sempre em razão de sua importância; se o Espiritismo tivesse sido uma utopia, dele não se teria ocupado mais do que de tantas outras teorias; a animosidade da luta é um índice certo que se o toma a sério. Mas se há luta entre o Espiritismo e o clero, a história dirá quem têm sido os agressores. Os ataques e as calúnias de que tem sido objeto o forçaram a devolver as armas que se lhe lançaram e mostrar o lado vulnerável de seus adversários. Isto, importunando-os, deteve sua marcha? Não, este é um fato aceito. Se os tivéssemos deixado quietos, o nome mesmo do clero não teria sido pronunciado, e talvez eles tivessem ganhado. Atacando-os em nome dos dogmas da Igreja, foram forçados a discutir o valor das objeções, e por isso mesmo a entrar num terreno que não tinham a intenção de abordar. A missão do Espiritismo é de combater a incredulidade pela evidência dos fatos, de conduzir a Deus aqueles que o desconhecem, de provar o porvir àqueles que não creem em nada; por que então a Igreja joga anátemas àqueles a quem ele dá essa fé, ainda mais quando não criam em nada? Rejeitar aqueles que creem em Deus e em sua alma, é constrangê-los a procurar um refúgio fora da Igreja. Quem, primeiramente, proclamou que o Espiritismo era uma nova religião, com seu culto e seus padres, senão os clérigos? Onde você vê, até o presente, o culto e os padres do Espiritismo? Se algum dia se tornar uma religião, é o clero quem o terá provocado.,
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Não tendo o auto de fé de Barcelona saciado o ódio do clero contra o Espiritismo e os espíritas, a Congregação de Roma colocou no “Índex” O Livro dos Espíritos, O Livro dos Médiuns, e A Imitação do Evangelho Segundo o Espiritismo. Longe de se entristecer com esta nova prova de intolerância clerical, Allan Kardec se alegrou:
Revista Espírita de 1864, pag. 217: Qualquer que seja a razão, os livros espíritas foram colocados no “Índex”. Tanto melhor! Porque muitos daqueles que ainda não os leram os devorarão; tanto melhor! Porque de dez pessoas que os folhearem, pelo menos sete ficarão convencidas, ou fortemente abaladas e desejosas de estudar os fenômenos espíritas; tanto melhor! Porque nossos adversários mesmos, vendo que seus esforços não chegam senão a resultados diametralmente contrários aos que esperavam se reunirão a nós, se possuem a sinceridade, o desinteresse e as luzes que seu ministério comporta. Assim o quer, aliás, a lei de Deus; nada no mundo pode permanecer eternamente estacionário, mas tudo progride, e a ideia religiosa deve seguir o progresso geral se não quiser desaparecer.
Revista Espírita de 1865, pag. 187: Jamais uma Doutrina filosófica dos tempos modernos causou tanta comoção quanto o Espiritismo, jamais alguma tem sido atacada com tanta animosidade; esta a prova evidente de que se lhe reconhece mais vitalidade e raízes mais profundas que às outras, porque não se pega um enxadão para se arrancar uma haste de erva. Os espíritas, longe de se espantarem, devem se alegrar, pois isso prova a importância e a verdade da Doutrina. Se ela não fosse senão uma ideia efêmera e sem consistência, uma mosca que voa, não se lhe atiraria projéteis de artilharia; se fosse falsa, se lhe bateria intensamente com argumentos sólidos que teriam já triunfado; mas desde que nenhum daqueles que se lhe opuseram, a puderam deter, é porque ninguém encontrou defeito na couraça; não foi, no entanto, nem o talento nem a boa vontade que faltaram a seus antagonistas.
Revista Espírita de 1865, pag. 190: O Espiritismo marcha através de numerosos adversários que, não o tendo podido pegar pela força, tentam pegá-lo pela astúcia; eles se insinuam por toda parte, sob todas as máscaras, e até nas reuniões íntimas, na esperança de surpreender um fato ou uma palavra que frequentemente eles houveram provocado, e que esperam explorar em seu benefício. Comprometer o Espiritismo e torná-lo ridículo, tal é a tática por meio da qual esperam, a princípio, desacreditá-lo, para ter mais tarde um pretexto de interditar, se isso for possível, seu exercício público. “Esta é a armadilha contra a qual é preciso estar em guarda, porque é armada de todos os lados, e à qual, sem o saber, dão a mão aqueles que se deixam levar pelas sugestões dos Espíritos zombeteiros e mistificadores.”
Revista Espírita de 1869, pag. 357: Trabalhemos para compreender, para crescer nossa inteligência e nosso coração; lutemos com os outros; mas lutemos com caridade e abnegação. Que o amor ao próximo, inscrito sobre nossa bandeira, seja nossa divisa: a pesquisa e a verdade, de qualquer parte que ela venha, nosso propósito único! Com tais sentimentos, desafiemos as zombarias de nossos adversários e as investidas de nossos competidores. Se nos enganamos, não tenhamos o tolo amor próprio de nos obstinar nas ideias falsas; mas estamos certos de que há princípios sobre os quais jamais podemos nos enganar: é o amor ao bem, a abnegação, a abjuração de todo sentimento de inveja e ciúme. Esses princípios são os nossos; vemos neles o laço que deve unir todos os homens de bem, qualquer que seja a divergência de sua opinião; somente entre eles o egoísmo e a má fé colocam barreiras intransponíveis. Mas qual será a consequência desse estado de coisas? Sem contradita, os conluios dos falsos frades poderão trazer momentaneamente algumas perturbações parciais. Por isso é preciso fazer todos os esforços para frustrá-los tanto quanto possível. Mas, necessariamente, não o farão senão por um tempo e não poderão ser prejudiciais para o porvir: primeiramente porque é uma manobra da oposição que cairá pela força das coisas; por outro, qualquer que seja que digam e que façam, não poderão suprimir da Doutrina seu caráter distintivo: sua filosofia racional é lógica, sua moral consoladora e regeneradora. Hoje, as bases do Espiritismo estão colocadas de uma maneira inabalável; os livros escritos sem equívocos e colocados à disposição de todas as inteligências serão sempre a expressão clara e exata do ensino dos Espíritos; a transmitirão intacta àqueles que virão depois de nós. Não precisamos perder de vista que estamos em um momento de transição, e que nenhuma transição se opera sem conflito. Não é preciso, pois se admirar de ver se agitarem certas paixões; as ambições, os compromissos, os interesses contrariados, as pretensões decepcionadas; mas pouco a pouco tudo isso se extingue, a febre se acalma, os homens passam e as novas ideias permanecem. Espíritas, se querem ser invencíveis, sejam benevolentes e caridosos; o bem é uma couraça contra a qual sempre vêm se quebrar as manobras da malevolência.
Revista Espírita de 1865, pag. 264: Por ora façamos o maior bem possível com ajuda do Espiritismo: façamo-lo mesmo a nossos inimigos; ser pagos com a ingratidão é o melhor meio de vencer certas resistências e de provar que o Espiritismo não é tão negro como alguns o pretendem.”
Revista Espírita de 1864, pag. 326: O Espiritismo; repito, em demonstrando, não por hipótese, mas por fatos, a existência de um mundo invisível e o porvir que nos espera, muda totalmente o curso das ideias; dá ao homem a força moral, a coragem e a resignação, porque não trabalha mais somente para o presente, mas para o futuro; sabe que se não desfruta hoje, desfrutará amanhã. Demonstrando a ação do elemento espiritual sobre o mundo material, amplia o domínio da ciência e abre, por isso mesmo, uma nova via ao progresso material. O homem terá então uma base sólida para o estabelecimento da ordem moral sobre a Terra; compreenderá melhor a solidariedade que existe entre os seres deste mundo, posto que esta solidariedade se perpetua indefinidamente; a fraternidade não é um palavra vã; ela destrói o egoísmo em lugar de ser destruída por ele e, muito naturalmente, o homem imbuído dessas ideias conformará a elas suas leis e suas instituições sociais.
Revista Espírita de 1864, pag. 26: A caridade e a fraternidade se reconhecem por suas obras e não por suas palavras; é uma medida da apreciação de que não se pode enganar senão aqueles que se cegam com seus próprios méritos, mas não aos terceiros desinteressados; é a pedra de toque à qual se reconhece a sinceridade dos sentimentos; e quando se fala de caridade, em Espiritismo, se sabe que não se trata só daquela que dá, mas também e, sobretudo daquela que esquece e perdoa que é benevolente e indulgente, que repudia todo sentimento de ciúme e de rancor. Toda reunião espírita que não estiver fundamentada sobre o princípio da verdadeira caridade, será mais nociva que útil à causa, porque tenderá a dividir em vez de reunir, levando, além disso, em si mesma, seu elemento destruidor. Nossas simpatias pessoais serão então sempre cedidas a todos aqueles que provarem, por seus atos, o bom espírito que os anima, porque os bons Espíritos não podem inspirar senão o bem.
Revista Espírita de 1867, pag. 278: Um último caráter da revelação espírita, e que ressalta das condições mesmas nas quais foi feita, é que, apoiando-se sobre os fatos, ela não pode ser senão essencialmente progressiva, como todas as ciências de observação. Por sua essência, contrai aliança com a ciência que, sendo a exposição das leis da natureza, em uma certa ordem dos fatos, não pode ser contrária à vontade de Deus, o autor dessas leis. As descobertas da ciência glorificam a Deus em lugar de rebaixá-lo, elas não destroem senão o que os homens têm construído sobre as ideias falsas que se tem feito de Deus. O Espiritismo não coloca então, como princípio absoluto, senão aquilo que é demonstrado pela evidência, ou que ressalta logicamente da observação. Tocando em todos os ramos da economia social, aos quais prestou o apoio de suas próprias descobertas, assimilará sempre todas as doutrinas progressivas, de qualquer ordem que elas sejam, chegadas ao estado de verdades práticas, e saídas do domínio da utopia, sem isso se suicidaria; em cessando de ser o que ele é, mentiria à sua origem e ao seu objetivo providencial. O Espiritismo, marchando com o progresso, não será jamais ultrapassado, porque, se novas descobertas lhe mostrarem que está em erro sobre um ponto, ele se modificará nesse ponto; se uma nova verdade se revela, ele a aceita.
Revista Espírita de 1869, pag. 258: O Espiritismo não é mais solidário com aqueles que prazam em se dizerem espíritas, do que a medicina o é com os charlatães que a exploram, nem do que a saudável religião o é com os abusos ou mesmo com os crimes cometidos em seu nome. Não reconhece por seus adeptos senão os que colocam em prática seus ensinamentos, isto é, que trabalham para sua própria melhora moral, esforçando-se em vencer suas más inclinações, ser menos egoístas e menos orgulhosos, mais doces, mais humildes, mais pacientes, mais benevolentes, mais caridosos para com o próximo, mais moderados em todas as questões, porque este é o sinal característico do verdadeiro Espírita.
Revista Espírita de 1869, pag. 25: O conhecimento das leis que regem o princípio espiritual se relaciona de uma maneira direta à questão do passado e do porvir do Homem. Sua vida está limitada à existência atual? Entrando neste mundo sai ele do nada, e reentra no nada ao deixá-lo? Já tinha vivido antes e viverá outra vez? Como viverá e em que condições? Em uma palavra, de onde veio e para onde irá? Por que está sobre a Terra e por que sofre? Tais são as questões que cada um se põe porque têm, para todo mundo, um interesse capital, e que nenhuma doutrina deu ainda uma solução racional. Isto que dá o Espiritismo, apoiado em fatos, satisfazendo às exigências da lógica e da justiça mais rigorosa, é uma das causas principais da rapidez de sua propagação. O Espiritismo não é uma concepção pessoal nem o resultado de um sistema preconcebido. É a resultante de milhares de observações feitas em todos os pontos do globo e que convergem para o centro que os colige e coordena. Todos os seus princípios constituintes, sem exceção, são deduzidos da experiência. A experiência sempre tem precedido a teoria. O Espiritismo, assim se pensa, desde seu início, tem raízes por toda parte; a história não oferece nenhum exemplo de uma doutrina filosófica ou religiosa que tenha, em dez anos, reunido um tão grande número de adeptos; e, entretanto não empregou, para se fazer conhecer, nenhum dos métodos vulgarmente em uso; propagou-se por si mesma, pelos simpatizantes que encontrou. É ainda evidente que a propagação do Espiritismo seguiu, desde sua origem, uma marcha constantemente ascendente, malgrado tudo que se fez para entravá-lo e desnaturar seu caráter, visando desacreditá-lo na opinião pública. É mesmo notável que tudo que se fez com esse propósito lhe favoreceu a difusão; o barulho que foi feito na ocasião levou as pessoas, que nunca haviam escutado dele falar, a conhecerem-no; quanto mais se o há difamado ou ridicularizado, quanto mais as declamações tenham sido violentas, mais se instigou a curiosidade; e como só podia sair ganhando no exame, resultou que seus adversários se fizeram, sem o querer, os seus ardentes propagadores; se as diatribes não lhe trouxeram nenhum prejuízo, foi porque, estudando-o em sua fonte verdadeira, se encontrou tudo diferente daquilo que havia sido sustentado. Na luta que sustentou, as pessoas imparciais constataram sua moderação: nunca usou de represálias contra os seus adversários nem devolveu injúria com injúria. O Espiritismo é uma Doutrina filosófica que tem consequências religiosas, como toda filosofia espiritual; por isso mesmo, toca nas bases fundamentais de todas as religiões: Deus, a alma e a vida futura; mas não é neste ponto uma religião constituída, visto que não há culto, nem rituais, nem templo, e que, entre seus adeptos, não há nenhum padre ou bispo. Essas qualificações são pura invenção da crítica. Só é espírita quem simpatiza com os princípios da Doutrina, e quem nela conforma sua conduta. É uma opinião, como qualquer outra, que cada um deve ter o direito de professar, como se o tem de ser judeu, católico, protestante, fourierista, sansimoniano, voltariano, cartesiano, deísta e mesmo materialista. O Espiritismo proclama a liberdade de consciência como um direito natural, e a reclama para os seus como para todo o mundo. Respeita todas as convicções sinceras, e demanda para si a reciprocidade. Da liberdade de consciência decorre o direito ao livre exame em matéria de fé. O espiritismo combate o princípio da fé cega, que impõe ao homem a abdicação de seu próprio julgamento; diz que toda fé imposta é sem raiz. É por isso que inscreveu na lista de suas máximas: “Não há fé inabalável senão aquela que pode enfrentar a razão face a face em todas as épocas da humanidade.” Consequente com seus princípios, o Espiritismo não se impõe a ninguém; ele quer ser aceito livremente e por convicção. Expõe suas doutrinas e recebe aqueles que veem a ele voluntariamente. Não procura tirar ninguém de suas convicções religiosas; não se dirige àqueles que têm uma fé e a quem essa fé satisfaz, mas àqueles que, não estando satisfeitos do que se lhes foi dado, procuram qualquer coisa melhor.
X X X
Para completar este estudo sobre Allan Kardec e sua obra, e precisar o propósito que o mestre queria assinar ao Espiritismo, cremos ser útil reproduzir, para terminar, as passagens seguintes do último capítulo de A Gênese – “Os tempos são chegados”:
A Gênese ponto 14 item 1: A vida espiritual é a vida normal e eterna do Espírito, e a encarnação não é senão uma forma temporária de sua existência. Exceto pela vestimenta exterior, há, pois, identidade entre os encarnados e os desencarnados; são as mesmas individualidades sob dois aspectos diferentes, pertencendo tanto ao mundo visível, quanto ao mundo invisível, se reencontrando seja num, seja no outro, convergindo num e no outro ao mesmo propósito, pelos meios apropriados à sua situação. Desta lei decorre aquela da perpetuidade da relação entre os seres; a morte não os separa e não dá término às suas relações simpáticas nem aos seus deveres recíprocos. Daí a SOLIDARIEDADE do todos por um, e de um por todos, daí também a FRATERNIDADE. Os homens não viverão felizes sobre a Terra senão quando esses dois sentimentos tiverem entrado em seus corações e nos seus costumes, porque então o conformarão a suas leis e suas instituições. Isto será um dos principais resultados da transformação que se opera. Mas como conciliar os deveres de solidariedade e da fraternidade com a crença de que a morte tornaria todos os homens estranhos uns aos outros? Pela lei da perpetuidade das relações que une todos os seres, o Espiritismo funda este duplo princípio sobre as próprias leis da natureza. Ele fez disso não só um dever, mas uma necessidade. Por aquela da pluralidade das existências, o homem se relaciona a tudo que fez e a tudo que fará, aos homens do passado e aos homens do porvir; não pode mais dizer que não tem nada em comum com aqueles que morreram, uma vez que uns e outros se reencontram sem cessar, neste mundo e no outro, para ascenderem juntos a escada do progresso e se prestarem um apoio mútuo. A fraternidade não é mais circunscrita a alguns indivíduos que o acaso reúne durante a duração efêmera da vida; ela é perpétua como a vida do Espírito, universal como a humanidade, que constitui uma grande família em que todos os membros são solidários uns aos outros, qualquer que seja a época na qual morreram. Tais são as ideias que ressaltam do Espiritismo, e que ele suscitará entre todos os homens quando estiver universalmente disseminado, compreendido, ensinado e praticado. Com o Espiritismo, a fraternidade, sinônima da caridade pregada pelo Cristo, não é mais uma palavra vã; ela tem sua razão de ser. Do sentimento da fraternidade nasce aquele da reciprocidade e dos deveres sociais, de homem a homem, de pessoa a pessoa, de raça a raça; estes dois sentimentos bem compreendidos forçosamente farão as instituições mais proveitosas ao bem estar de todos.
A Gênese ponto 15 A fraternidade deve ser a pedra angular da nova ordem social; mas, não há fraternidade real, sólida, efetiva, se não estiver assentada sobre uma base inabalável; essa base é a fé, não a fé em tais ou tais dogmas particulares, que mudam com os tempos e os povos e que se apedrejam mutuamente, porque, em se anatematizando, alimentam o antagonismo; mas a fé nos princípios fundamentais que todo o mundo pode aceitar: Deus, a alma, o porvir, O PROGRESSO INDIVIDUAL, INDEFINIDO, A PERPETUIDADE DAS RELAÇÕES ENTRE OS SERES. Quando todos os homens estiverem convencidos de que Deus é o mesmo para todos, de que esse Deus, soberanamente justo e bom, não pode querer nada de injusto, que o mal vem dos homens e não dele se considerarão como os filhos do mesmo Pai e se estenderão as mãos. Essa a fé que o Espiritismo dá, e que será daqui por diante o eixo em torno do qual girará o gênero humano, quaisquer que sejam seus modos de adoração e suas crenças particulares, que o Espiritismo respeita, mas de que não se ocupa. Somente desta fé pode sair o verdadeiro progresso moral, porque somente ela oferece uma sanção lógica aos direitos legítimos e aos deveres; sem ela, o direito é determinado pela força; o dever, um código humano imposto pela pressão. Sem ela que é o homem? Um pouco de matéria que se dissolve, um ser efêmero que só passa; mesmo o gênio não é mais que uma chama que brilha um instante para se extinguir para sempre; não há, certamente, motivo para valorizá-lo, aos seus próprios olhos. Com tal pensamento, onde estão realmente os direitos e os deveres? Qual é o objetivo do progresso? Somente essa fé fez o homem sentir sua dignidade pela perpetuidade da progressão de seu ser, não em um porvir mesquinho e circunscrito à personalidade, mas grandioso e esplêndido: esse pensamento o eleva acima da Terra; ele se sente crescer sonhando que possui sua parte no universo; que esse universo é seu domínio que ele poderá percorrer um dia, e que a morte não fará dele uma nulidade, ou um ser inútil a si mesmo e aos outros. O progresso intelectual, realizado até este dia nas mais largas proporções, é um grande passo, e marca uma primeira fase da Humanidade; mas sozinho é impotente para regenerá-la; enquanto o homem estiver dominado pelo orgulho e o egoísmo, utilizará sua inteligência e seus conhecimentos para proveito de suas paixões e de seus interesses pessoais; por isso que os aplica no aperfeiçoamento de meios de prejudicar os outros e de se destruir entre si.
SOMENTE O PROGRESSO MORAL PODE ASSEGURAR AOS HOMENS A FELICIDADE NA TERRA, COLOCANDO UM FREIO ÀS PAIXÕES MÁS; SOMENTE ELA PODE FAZER REINAR ENTRE OS HOMENS A CONCÓRDIA, A PAZ, A FRATERNIDADE.




Conselhos, Reflexões e Máximas de Allan Kardec, Traduzido por Paulo A. Ferreira.  (Conseils, reflexions et  Maximes d’Allan Kardec. Eeditado por Le Centre Spirite Lionnais Allan Kardec)

quarta-feira, 28 de setembro de 2016

HÁ MUITA DIFERENÇA

HÁ MUITA DIFERENÇA

“E disse Pedro: Não tenho prata nem ouro, mas o que tenho, isso te dou.”
Atos, 3 - 6
É justo recomendar muito cuidado aos que se interessam pelas vantagens da política humana, reportando-se a Jesus e tentando explicar, pelo Evangelho, certos absurdos em matéria de teorias sociais.
Quase sempre, a lei humana se dirige ao governado, nesta fórmula: — “O que tens me pertence.”
O Cristianismo, porém, pela boca inspirada de Pedro, assevera aos ouvidos do próximo:
— “O que tenho isso te dou.”
Já meditaste na grandeza do mundo, quando os homens estiverem resolvidos a dar do que possuem para o edifício da evolução universal?
Nos serviços da caridade comum, nas instituições de benemerência pública, raramente a criatura cede ao semelhante aquilo que lhe constitui propriedade intrínseca.
Para o serviço real do bem eterno, fiar-se-á alguém nas posses perecíveis da Terra, em caráter absoluto?
O homem generoso distribuirá dinheiro e utilidades com os necessitados do seu caminho, entretanto, não fixará em si mesmo a luz e a alegria que nascem dessas dádivas, se as não realizou com o sentimento do amor, que, no fundo, é a sua riqueza imperecível e legítima.
Cada individualidade traz consigo as qualidades nobres que já conquistou e com que pode avançar sempre, no terreno das aquisições espirituais de ordem superior.
Não olvides a palavra amorosa de Pedro e dá de ti mesmo, no esforço de salvação, porquanto quem espera pelo ouro ou pela prata, a fim de contribuir nas boas obras, em verdade ainda se encontra distante da possibilidade de ajudar a si próprio.




Livro Pão Nosso cap.106, Espírito Emanuel, psicografia Francisco C. Xavier, Edit. FEB

TRÊS IMPERATIVOS

   TRÊS IMPERATIVOS

“E eu vos digo a vós: pedi, e dar-se-vos-á; buscai, e achareis; batei, e abrir-se-vos-á.”
Jesus
Lucas, 11-9
Pedi, buscai, batei...
Estes três imperativos da recomendação de Jesus não foram enunciados sem um sentido especial.
No emaranhado de lutas e débitos da experiência terrestre, é imprescindível que o homem aprenda a pedir caminhos de libertação da antiga cadeia de convenções sufocantes, preconceitos estéreis, dedicações vazias e hábitos cristalizados. É necessário desejar com força e decisão a saída do escuro cipoal em que a maioria das criaturas perdeu a visão dos interesses eternos.
Logo após, é imprescindível buscar.
A procura constitui-se de esforço seletivo, o campo jaz repleto de solicitações inferiores, algumas delas recamadas de sugestões brilhantes. É indispensável localizar a ação digna e santificadora. Muitos perseguem miragens perigosas, à maneira das mariposas que se apaixonam pela claridade de um incêndio. Chegam de longe, acercam-se das chamas e consomem a bênção do corpo.
É imperativo aprender a buscar o bem legítimo.
Estabelecido o roteiro edificante, é chegado o momento de bater à porta da edificação; sem o martelo do esforço metódico e sem o buril da boa-vontade, é muito difícil transformar os recursos da vida carnal em obras luminosas de arte divina, com vistas à felicidade espiritual e ao amor eterno.
Não bastará, portanto, rogar sem rumo, procurar sem exame e agir sem objetivo elevado.
Peçamos ao Senhor nossa libertação da animalidade primitivista, busquemos a espiritualidade sublime e trabalhemos por nossa localização dentro dela, a fim de converter-nos em fiéis instrumentos da Divina Vontade.
Pedi, buscai, batei...
Esta trilogia de Jesus reveste-se de especial significação para os aprendizes do Evangelho, em todos os tempos.




Livro Pão Nosso cap.109, Espírito Emanuel, psicografia Francisco C. Xavier, Edit. FEB

MAGNETISMO PESSOAL

   MAGNETISMO PESSOAL

“E toda a multidão procurava tocar-lhe, porque saía dele uma virtude que os curava a todos.”
Lucas 6 - 19
Na atualidade, observamos toda uma plêiade de espiritualistas eminentes, espalhando conceitos relativos ao magnetismo pessoal, com tamanha estranheza, quais se estivessem perante verdadeira novidade do século 19.
Tal serviço de investigação e divulgação dos poderes ocultos do homem representa valioso concurso na obra educativa do presente e do futuro, no entanto, é preciso lembrar que a edificação não é nova.
Jesus, em sua passagem pelo Planeta, foi à sublimação individualizada do magnetismo pessoal, em sua expressão substancialmente divina. As criaturas disputavam-lhe o encanto da presença, as multidões seguiam-lhe os passos, tocadas de singular admiração.
Quase toda gente buscava tocar-lhe a vestidura. D’Ele emanavam irradiações de amor que neutralizavam moléstias recalcitrantes.
Produzia o Mestre, espontaneamente, o clima de paz que alcançava quantos lhe gozavam a companhia.
Se pretenderes, pois, um caminho mais fácil para a eclosão plena de tuas potencialidades psíquicas, é razoável aproveites a experiência que os orientadores terrestres te oferecem, nesse sentido, mas não te esqueças dos exemplos e das vivas demonstrações de Jesus.
Se intentas atrair, é imprescindível saber amar.
Se desejares influência legítima na Terra, santifica-te pela influência do Céu.



Livro Pão Nosso cap.110, Espírito Emanuel, psicografia Francisco C. Xavier, Edit. FEB

quinta-feira, 22 de setembro de 2016

ESDE - ESTUDO SISTEMATIZADO DA DOUTRINA ESPIRITA



ESDE ESTUDO SISTEMATIZADO DA DOUTRINA ESPÍRITA[1]
AULA - 01 (Tomo I / modulo I)
                          APRESENTAÇÃO / EXPLICAÇÕES
O ESDE - Estudo Sistematizado da Doutrina Espírita, foi lançado, em Brasília-DF, na reunião anual do CFN - Conselho Federativo Nacional de novembro de 1983, em atendimento às expectativas do Movimento Espírita.
Esta Campanha, efetivada e representada em níveis graduais e sequenciais de aprendizado doutrinário, utilizou a técnica do trabalho em grupo como diretriz pedagógica. A sistematização do estudo espírita buscou, por outro lado, apoio nas seguintes orientações de Allan Kardec: “um curso regular de Espiritismo seria professado com o fim de desenvolver os princípios da ciência e difundir o gosto pelos estudos sérios [...]”. (*)
Ao avaliar os resultados positivos apresentados pelo ESDE, ao longo dos já decorridos 33 anos, sobretudo em relação ao trabalho de unificação do Movimento Espírita e à união dos espíritas; percebemos que a aquisição do conhecimento doutrinário deve seguir o método indicado pelo próprio Codificador, conforme expressam estas suas palavras:
“Acrescentemos que o estudo de uma doutrina, qual a Doutrina Espírita, que nos lança de súbito numa ordem de coisas tão nova quão grande, só pode ser feito com utilidade por homens sérios, perseverantes, livres de prevenções e animados de firme e sincera vontade de chegar a um resultado. Não sabemos como dar esses qualificativos aos que julgam a priori, levianamente, sem tudo ter visto; que não imprimem a seus estudos a continuidade, a regularidade e o recolhimento indispensáveis. [...] O que caracteriza um estudo sério é a continuidade que se lhe dá. [...] Quem deseje tornar-se versado numa ciência tem que a estudar metodicamente, começando pelo princípio e acompanhando o encadeamento e o desenvolvimento das ideias. (**)
Mantendo-se fiel no propósito de difundir o Espiritismo em todos os seus aspectos, com base nas obras da Codificação de Allan Kardec e no Evangelho de Jesus Cristo, a FEB - Federação Espírita Brasileira disponibiliza ao Movimento Espírita o novo ESDE. Trata-se de um programa mais compacto, adequado às exigências da vida atual, cujos assuntos, distribuídos pedagogicamente em dois níveis de aprendizado – Programa Fundamental e Programa Complementar.
O novo curso do ESDE oferece uma visão panorâmica e doutrinária do Espiritismo, fundamentada na ordem dos assuntos existentes em O Livro dos Espíritos, primeiro livro a ser Codificado, do qual se originou todos os demais codificados pó Allan Kardec.
O objetivo fundamental deste Curso é propiciar condições para o interessado, estudar o Espiritismo de forma séria, regular e contínua, tendo como base as obras codificadas por Allan Kardec e o Evangelho de Jesus.
A formatação, pedagógico-doutrinário utiliza o sistema de módulos para agrupar assuntos semelhantes, os quais são desenvolvidos em unidades básicas denominadas aulas; cada uma com suas referencias bibliográficas próprias; cuja duração de cada aula deve o estudante disponibilizar-se no mínimo sessenta minutos e no máximo noventa minutos, de preferência em grupo, que podem ser diárias ou semanais, a critério e disponibilidade do estudante.
(*) Obras Póstumas: Projeto 1868.
(**) O Livro dos Espíritos: Introdução, item 8.
1 - Material compilado a partir da Apostila Digitalizada do ESDE – Estudo Sistematizado da Doutrina Espírita - capturada no site da Federação Espírita Brasileira. edição – 9ª Reimpressão – Do 107º ao 109º milheiro

quarta-feira, 21 de setembro de 2016

SEXO TRANSVIADO

   SEXO TRANSVIADO
Ouvirás referências descaridosas, em torno do sexo transviado; no entanto, guardarás invariável respeito para com os acusados, sejam eles quais forem.
Muito fácil traçar caminhos no mapa.
Sempre difícil trilhá-los, debaixo da tempestade, às vezes sangrando as mãos para sanar dificuldades imprevistas.
É preciso saber penetrar fundo nas necessidades do espírito, para enxergá-las com segurança.
Aplica a bondade e a compreensão, toda vez que alguém se levante contra alguém, porque, em matéria de sexo, com raras exceções, todos trazem heranças dolorosas de existências passadas, dívidas a resgatar e problemas a resolver.
Muitos daqueles que apontam, desdenhosamente, os irmãos caídos em desequilíbrio emotivo, imaginando-se hoje anichados na Virtude, são apenas devedores em moratória, que enfrentarão, amanhã, aflitivas tentações e provações, quando soar o momento de reencontrarem os seus credores de outras eras.
Não condenarás.
Enunciando tais conceitos, não aceitamos os desvarios afetivos como sendo ocorrências naturais.
Propomo-nos defini-los por doenças da alma, junto das quais a piedade é trazida para silenciar apreciações rigoristas.
Nas quedas de sentimento, há que considerar não somente a fraqueza, necessitada de compaixão, mas também, e muito comumente, o processo obsessivo que reclama socorro ao invés de censura.
Não podemos medir a nossa capacidade de resistência, no lugar do companheiro em crise, e, por isso, é aconselhável caminhar com a misericórdia em quaisquer situações, para que a misericórdia não nos abandone quando a vida nos chame ao testemunho de segurança moral.
Se alguém caiu em desvalimento ou desceu à loucura, em assunto do coração, misericórdia para Ele!
Em todas as questões do sexo transviado, usa a misericórdia por base de qualquer recuperação.
E, quando a severidade nos intime a gritar menosprezo, acalentar maledicências, estender escárnio ou receitar punições, recordemos Jesus Cristo.
Aquele de nós que jamais tenha errado, em nome do amor, seja em pensamento ou palavra, atitude ou ação, atire a primeira pedra.



Livro: Encontro Marcado. Lição nº 3, Espírito Emmanuel, psicografia de Francisco C. Xavier.

segunda-feira, 19 de setembro de 2016

O MAL, E O REMÉDIO

O MAL, E O REMÉDIO

Será a Terra um lugar de gozo, um paraíso de delícias?
Já não ressoa mais aos vossos ouvidos a voz do profeta?
Não proclamou ele; que haveria prantos e ranger de dentes para os que nascessem nesse vale de dores?
Esperai, pois, todos vós que aí viveis causticantes lágrimas e amargo sofrer e, por mais agudas e profundas sejam as vossas dores, volvei o olhar para o Céu e bendizei do Senhor por ter querido experimentar-vos...
Ó homens! dar-se-á não reconheçais o poder do vosso Senhor, senão quando ele vos haja curado as chagas do corpo e coroado de beatitude e ventura os vossos dias?
Dar-se-á não reconheçais o seu amor, senão quando vos tenha adornado o corpo de todas as glórias e lhe haja restituído o brilho e a brancura?
Imitai aquele que vos foi dado para exemplo. Tendo chegado ao último grau da abjeção e da miséria, deitado sobre uma estrumeira, disse ele a Deus: "Senhor, conheci todos os deleites da opulência e me reduzistes à mais absoluta miséria; obrigado, obrigado, meu Deus, por haverdes querido experimentar o vosso servo!"
Até quando os vossos olhares se deterão nos horizontes que a morte limita?
Quando, afinal, vossa alma se decidirá a lançar-se para além dos limites de um túmulo?
Houvésseis de chorar e sofrer a vida inteira, que seria isso, a par da eterna glória reservada ao que tenha sofrido a prova com fé, amor e resignação?
Buscai consolações para os vossos males no porvir que Deus vos prepara e procurai-lhe a causa no passado. E vós, que mais sofreis, considerais-vos os afortunados da Terra.
Como desencarnados, quando pairáveis no Espaço, escolhestes as vossas provas, julgando-vos bastante fortes para suportá-las. Por que agora murmurar?
Vós, que pedistes a riqueza e a glória, queríeis sustentar luta com a tentação e vencê-la. Vós, que pedistes para lutar de corpo e espírito contra o mal moral e físico, sabíeis que quanto mais forte fosse a prova, tanto mais gloriosa a vitória e que, se triunfásseis, embora devesse o vosso corpo parar numa estrumeira, dele, ao morrer, se desprenderia uma alma de rutilante alvura e purificada pelo batismo da expiação e do sofrimento.
Que remédio, então, prescrever aos atacados de obsessões cruéis e de cruciantes males?
Só um é infalível: a fé, o apelo ao Céu. Se, na maior acerbidade dos vossos sofrimentos, entoardes hinos ao Senhor, o anjo, à vossa cabeceira, com a mão vos apontará o sinal da salvação e o lugar que um dia ocupareis... A fé é o remédio seguro do sofrimento; mostra sempre os horizontes do infinito diante dos quais se esvaem os poucos dias brumosos do presente. Não nos pergunteis, portanto, qual o remédio para curar tal úlcera ou tal chaga, para tal tentação ou tal prova. Lembrai-vos de que aquele que crê é forte pelo remédio da fé e que aquele que duvida um instante da sua eficácia é imediatamente punido, porque logo sente as pungitivas angústias da aflição.
O Senhor apôs o seu selo em todos os que nele creem. O Cristo vos disse que com a fé se transportam montanhas e eu vos digo que aquele que sofre e tem a fé por amparo ficara sob a sua égide e não mais sofrerá. Os momentos das mais fortes dores lhe serão as primeiras notas alegres da eternidade. Sua alma se desprenderá de tal maneira do corpo, que, enquanto se estorcer em convulsões, ela planará nas regiões celestes, entoando, com os anjos, hinos de reconhecimento e de glória ao Senhor.
Ditosos os que sofrem e choram!
Alegres estejam suas almas, porque Deus as cumulará de bem-aventuranças.
Santo Agostinho




Livro: Evangelho Segundo o Espiritismo, Allan Kardec, Edit. LAKE, cap. 5 item 19

EVITA CONTENDER

EVITA CONTENDER

 “Ao servo do Senhor não convém contender.”
Paulo
II Timóteo, 2: 24


Foge aos que buscam demanda no serviço do Senhor.
Não estão eles à procura de claridade divina para o coração. Apenas disputam louvor e destaque no terreno das considerações passageiras.
Analisando as letras sagradas, não atraem recursos necessários à própria iluminação e, sim, os meios de se evidenciarem no personalismo inferior.
Combatem os semelhantes que lhes não adotam a cartilha particular, atiram-se contra os serviços que lhes não guardam o controle direto, não colaboram senão do vértice para a base, não enxergam vantagens senão nas tarefas de que eles mesmos se incumbem. Estimam as longas discussões a propósito da colocação de uma vírgula e perdem dias imensos para descobrir as contradições aparentes dos escritores consagrados ao ideal de Jesus. Jamais dispõem de tempo para os serviços da humildade cristã, interessados que se acham na evidência pessoal. Encontram sempre grande estranheza na conjugação dos verbos ajudar, perdoar e servir. Fixam-se, invariavelmente, na zona imperfeita da humanidade e trazem azorragues nas mãos pelo mau gosto de vergastar. Contendem acerca de todas as particularidades da edificação evangélica e, quando surgem perspectivas, de acordo construtivo, criam novos motivos de perturbação.
Os que se incorporam ao Evangelho Salvador, por espírito de contenda, são dos maiores e dos mais sutis adversários do Reino de Deus.
É indispensável a vigilância do aprendiz, a fim de que se não perca no desvario das palavras contundentes e inúteis.
Não estamos convocados a querelar e, sim, a servir e a aprender com o Mestre; nem fomos chamados à entronização do “eu”, mas, sim, a cumprir os desígnios superiores na construção do Reino Divino em nós.



Livro Pão Nosso cap.98, Espírito Emanuel, psicografia Francisco C. Xavier, Edit. FEB

A FELICIDADE NÃO É...

A FELICIDADE NÃO É...

Não sou feliz!
A felicidade não foi feita para mim!
Exclama geralmente o homem em todas as posições sociais. Isso, meus caros filhos, prova, melhor do que todos os raciocínios possíveis, a verdade desta máxima do Eclesiastes: "A felicidade não é deste mundo."
Com efeito, nem a riqueza, nem o poder, nem mesmo a florida juventude são condições essenciais à felicidade. Digo mais: nem mesmo reunidas essas três condições tão desejadas, porquanto incessantemente se ouvem, no seio das classes mais privilegiadas, pessoas de todas as idades se queixarem amargamente da situação em que se encontram.
Diante de tal fato, é incontestável que as classes laboriosas e militantes invejem com tanta ânsia a posição das que parecem favorecidas da fortuna. Neste mundo, por mais que faça cada um tem a sua parte de labor e de miséria, sua cota de sofrimentos e de decepções, donde facilmente se chega à conclusão de que a Terra é lugar de provas e de expiações.
Assim, pois, os que pregam que ela é a única morada do homem e que somente nela e numa só existência é que lhe cumpre alcançar o mais alto grau das felicidades que a sua natureza comporta, iludem-se e enganam os que os escutam, visto que demonstrado está, por experiência arquissecular, que só excepcionalmente este globo apresenta as condições necessárias à completa felicidade do indivíduo.
Em tese geral pode afirmar-se que a felicidade é uma utopia a cuja conquista as gerações se lançam sucessivamente, sem jamais lograrem alcançá-la. Se o homem ajuizado é uma raridade neste mundo, o homem absolutamente feliz jamais foi encontrado.
O em que consiste a felicidade na Terra é coisa tão efêmera para aquele que não tem a guiá-lo a ponderação, que, por um ano, um mês, uma semana de satisfação completa, todo o resto da existência é uma série de amarguras e decepções. E notai meus caros filhos, que falo dos venturosos da Terra, dos que são invejados pela multidão.
Conseguintemente, se à morada terrena são peculiares às provas e a expiação, forçoso é se admita que, algures, moradas há mais favorecidas, onde o Espírito, conquanto aprisionado ainda numa carne material, possui em toda a plenitude os gozos inerentes à vida humana. Tal a razão por que Deus semeou, no vosso turbilhão, esses belos planetas superiores para os quais os vossos esforços e as vossas tendências vos farão gravitar um dia, quando vos achardes suficientemente purificados e aperfeiçoados.
Todavia, não deduzais das minhas palavras que a Terra esteja destinada para sempre a ser uma penitenciária. Não, certamente! Dos progressos já realizados, podeis facilmente deduzir os progressos futuros e, dos melhoramentos sociais conseguidos, novos e mais fecundos melhoramentos. Essa a tarefa imensa cuja execução cabe à nova doutrina que os Espíritos vos revelaram.
Assim, pois, meus queridos filhos, que uma santa emulação vos anime e que cada um de vós se despoje do homem velho. Deve todos consagrar-vos à propagação desse Espiritismo que já deu começo à vossa própria regeneração. Corre-vos o dever de fazer que os vossos irmãos participem dos raios da sagrada luz. Mãos, portanto, à obra, meus muito queridos filhos! Que nesta reunião solene todos os vossos corações aspirem a esse grandioso objetivo de preparar para as gerações porvindouras um mundo onde já não seja vã a palavra felicidade



Livro: Evangelho Segundo o Espiritismo, Allan Kardec, Edit. LAKE, cap. 5 item 20

domingo, 11 de setembro de 2016

SEXO


   SEXO

“Eu sei, e estou certo no Senhor Jesus, que nenhuma coisa é de si mesma imunda a não ser para aquele que a tem por imunda.”
Paulo
Romanos, Cap. 14 vv 14

Quando Paulo de Tarso escreveu esta observação aos romanos, referia-se à alimentação que, na época, representava objeto de áridas discussões entre gentios e judeus.
Nos dias que passam o ato de comer já não desperta polêmicas perigosas, entretanto, podemos tomar o versículo e projetá-lo noutros setores de falsa opinião.
Vejamos o sexo, por exemplo. Nenhum departamento da atividade terrestre sofre maiores aleives. Fundamente cego de espírito, o homem, de maneira geral, ainda não consegue descobrir aí um dos motivos mais sublimes de sua existência. Realizações das mais belas, na luta planetária, quais sejam as da aproximação das almas na paternidade e na maternidade, a criação e a reprodução das formas, a extensão da vida e preciosos estímulos ao trabalho e à regeneração foram proporcionadas pelo Senhor às criaturas, por intermédio das emoções sexuais; todavia, os homens menoscabam o “lugar santo”, povoando-lhe os altares com os fantasmas do desregramento.
O sexo fez o lar e criou o nome de mãe, contudo, o egoísmo humano deu-lhe em troca absurdas experimentações de animalidade, organizando para si mesmo provações cruéis.
O Pai ofereceu o santuário aos filhos, mas a incompreensão se constituiu em oferta deles. É por isto que romances dolorosos e aflitivos se estendem, através de todos os continentes da Terra.
Ainda assim, mergulhado em deploráveis desvios, pergunta o homem pela educação sexual, exigindo-lhe os programas. Sim, semelhantes programas poderão ser úteis; todavia, apenas quando espalhar-se a santa noção da divindade do poder criador, porque, enquanto houver imundície no coração de quem analise ou de quem ensine os métodos não passarão de coisas igualmente imundas.



Livro Pão Nosso cap.94, Espírito Emanuel, psicografia Francisco C. Xavier, Edit. FEB

A FONTE INSIGINIFICANTE

   A FONTE INSIGNIFICANTE
Em 1962, Divaldo passou por uma grande provação, ficando vários dias sem condições de conciliar o sono, hora nenhuma, o que lhe trouxera constante dor de cabeça.
Numa ocasião, não suportando mais, quando Joanna lhe apareceu, ele lhe falou:
- Minha irmã, a senhora sabe que eu estou passando por um grande problema, uma grande injustiça, e não me diz nada?
- Por isso mesmo eu não te digo nada, porque é uma injustiça. E como é uma injustiça, não tem valor, Divaldo.
- Tu és quem está dando valor e quem dá valor à mentira, deve sofrer o efeito da mentira.
Porque, se tu sabes que não é verdade, por que estás sofrendo? Eu não já escrevi por tuas mãos:
“Não valorizes o mal”?
- Não tenho outro conselho a dar-te.
- Mas, minha irmã, pelo menos me diga umas palavras de conforto moral, porque eu não tenho a quem pedir.
- Então, ela falou:
- Vou dar-te palavras de conforto. Não esperes muito.
E contou-lhe a seguinte parábola:
_Havia uma fonte pequena e insignificante, que estava perdida num bosque. Um dia, alguém por ali passando, com sede, atirou um balde e retirou água, sorvendo-a em seguida e se foi.
_A fonte ficou tão feliz que disse de si para consigo:
_Como eu gostaria de poder dessedentar os viandantes, já que sou uma água preciosa!
_E orou a Deus:
_- Ajuda-me a dessedentar!
_Deus deu-lhe o poder. A fonte cresceu e veio à borda. As aves e os animais começaram a sorvê-la e ela ficou feliz.
_A fonte propôs:
_- Que bom é ser útil, matar a sede. Eu gostaria de pedir a Deus que me levasse além dos meus limites, para umedecer as raízes das árvores e correr a céu aberto.
_Veio então a chuva, ela transbordou e tomou-se um córrego.
_Animais, aves, homens, crianças e plantas beneficiaram-se dela.
_A fonte falou:
_- Meu Deus, que bom é ser um córrego! Como eu gostaria de chegar ao mar!
_E Deus fez chover abundantemente, informando:
_Segue, porque a fatalidade dos córregos e dos rios é alcançar o delta e atingir o mar. Vai!
_E o riacho tomou-se um rio, o rio avolumou as águas. Mas, numa curva do caminho, havia um toro de madeira.
_O rio encontrou o seu primeiro impedimento.
_Em vez de se queixar, tentou passar por baixo, contornar, mas o tronco de madeira cerceava-lhe os passos. Ele parou, cresceu e o transpôs tranquilamente.
_Adiante, havia seixos, pequeninas pedras que ele carregou e outras inamovíveis, cujo volume ele não poderia remover. Ele parou, cresceu e as transpôs, até que chegou ao mar.
- Compreendeste?
- Mais ou menos.
- Todos nós somos fontes de Deus – disse ela. E como alguém um dia bebeu da linfa que tu carregavas, pediste para chegar à borda, e Deus, que é amor, atendeu-te.
- Quiseste atender aos sedentos, e Deus te mandou os Amigos Espirituais para tanto. Desejaste crescer, para alcançar o mar e Deus fez que a Sua misericórdia te impelisse na direção do oceano. Estavas feliz.
- Agora, que surgem empecilhos, por que reclamas?
- Não te permitas queixas.
- Se surge um impedimento em teu caminho, cala, cresce, transpõe-no, porque a tua fatalidade é o mar, se é que queres alcançar o oceano da Misericórdia Divina.
- Nunca mais lamentes a respeito de nada.


.X.X.X
Parábola contada pelo espírito Joanna de Ângelis a Divaldo Franco num momento de grande angústia do médium.



Material recebido de um amigo meu, pelo WathsApp em 11.09.2016

sábado, 10 de setembro de 2016

ISSO É CONTIGO

   ISSO É CONTIGO

“E disse: Pequei, traindo o sangue inocente. Eles, porém, responderam. Que nos importa? Isso é contigo.”
Mateus, Cap. 27 vv 4

A palavra da maldade humana é sempre cruel para quantos lhe ouvem as criminosas insinuações.
O caso de Judas demonstra a irresponsabilidade e as perversidades de quantos cooperam na execução dos grandes delitos.
O espírito imprevidente se considera os alvitres malévolos; em breve tempo se capacita da solidão em que se encontra nos círculos das consequências desastrosas.
Quem age corretamente encontrará; nos felizes resultados de suas iniciativas, aluviões de companheiros que lhe desejam partilhar as vitórias; entretanto, muito raramente sentirá a presença de alguém que lhe comungue as aflições nos dias da derrota temporária.
Semelhante realidade induz a criatura à precaução mais insistente.
A experiência amarga de Judas repete-se com a maioria dos homens, todos os dias, embora em outros setores.
Há quem ouça delituosas insinuações da malícia ou da indisciplina, no que concerne à tranquilidade interior, às questões de família e ao trabalho comum.
Por vezes, o homem respira em paz, desenvolvendo as tarefas que lhe são necessárias; todavia, é alcançado pelo conselho da inveja ou da desesperação e perturba-se com falsas perspectivas, penetrando, inadvertidamente, em labirintos escuros e ingratos. Quando reconhece o equívoco do cérebro ou do coração, volta-se, ansioso, para os conselheiros da véspera, mas o mundo inferior, refazendo a observação a Judas, exclama em zombaria: — “Que nos importa? Isso é contigo.”



Livro Pão Nosso cap.91, Espírito Emanuel, psicografia Francisco C. Xavier, Edit. FEB