DIVINA MEDIUNIDADE – Em nos reportando
a qualquer estudo da mediunidade, não podemos olvidar que, em Jesus, ela assume
todas as características de exaltação divina.[2]
Desde a
chegada do Excelso Benfeitor ao Planeta, observa-se-lhe o pensamento sublime
penetrando o pensamento da Humanidade.
Dir-se-ia
que no estábulo se reúnem pedras e arbustos, animais e criaturas humanas,
representando os diversos reinos da evolução terrestre, para receber-lhe o
primeiro toque mental de aprimoramento e beleza.
Casam-se
os hinos singelos dos pastores aos cânticos de amor nas vozes dos mensageiros
espirituais, saudando Aquele que vinha libertar as nações, não na forma social
que sempre lhes será vestimenta às necessidades de ordem coletiva, mas no ádito
das almas, em função da vida eterna.
Antes
dele, grandes comandantes da idéia haviam pisado o chão do mundo, influenciando
multidões.
Guerreiros
e políticos, filósofos e profetas alinhavam-se na memória popular, recordados
como disciplinadores e heróis, mas todos desfilaram com exércitos e fórmulas,
enunciados e avisos, em que se misturam retidão e parcialidade, sombra e luz.
Ele
chega sem qualquer prestígio de autoridade humana, mas, com a sua magnitude
moral, imprime novos rumos à vida, por dirigir-se, acima de tudo, ao espírito,
em todos os climas da Terra.
Transmitindo
as ondas mentais das Esferas Superiores de que procede, transita entre as
criaturas, despertando-lhes as energias para a Vida Maior, como que a
tanger-lhes as fibras recônditas, de maneira a harmonizá-las com a sinfonia
universal do Bem Eterno.
MÉDIUNS PREPARADORES – Para recepcionar o
influxo mental de Jesus, o Evangelho nos dá notícias de uma pequena congregação
de médiuns, à feição de transformadores elétricos conjugados, para acolher-lhe
a força e armazená-la, de princípio, antes que se lhe pudessem canalizar os
recursos.
E longe
de anotarmos aí a presença de qualquer instrumento psíquico menos seguro do
ponto de vista moral, encontramos importante núcleo de medianeiros,
desassombrados na confiança e corretos na diretriz.
Informamo-nos,
assim, nos apontamentos da Boa Nova, de que Zacarias e Isabel, os pais de João
Batista, precursor do Médium Divino, “eram ambos justos perante Deus, andando
sem repreensão, em todos os mandamentos e preceitos do Senhor”[3],
que Maria, a jovem simples de Nazaré, que acolheria o Embaixador Celeste nos
braços maternais, se achava “em posição de louvor diante do Eterno Pai”[4],
que José da Galiléia, o varão que o tomaria sob paternal tutela, “era justo”[5],
que Simeão, o amigo abnegado que o aguardou em prece, durante longo tempo, “era
justo e obediente a Deus”[6],
e que Ana, a viúva que o esperou em oração, no templo de Jerusalém, por vários
lustros, vivia “servindo a Deus”.[7]
Nesse
grupo de médiuns admiráveis, não apenas pelas percepções avançadas que os
situavam em contacto com os Emissários Celestes, mas também pela conduta
irrepreensível de que forneciam testemunho, surpreendemos o circuito de forças
a que se ajustou a onda mental do Cristo, para daí expandir-se na renovação do
mundo.
EFEITOS FISICOS – Cedo começa para o
Mestre Divino, erguido à posição de Médium de Deus, o apostolado excelso em que
lhe caberia carrear as noções da vida imperecível para a existência na Terra.
Aos doze
anos, assenta-se entre os doutores de Israel, “ouvindo-os e interrogando-os”[8],
a provocar admiração pelos conceitos que expendia e a entremostrar a sua
condição de intermediário entre culturas diferentes.
Iniciando
a tarefa pública, na exteriorização de energias sublimes, encontramo-lo em Caná
da Galiléia, oferecendo notável demonstração de efeitos físicos, com ação a
distância sobre a matéria, em transformando a água em vinho[9].
Mas, o
acontecimento não permanece circunscrito ao âmbito doméstico, porquanto,
evidenciando a extensão dos seus poderes, associados ao concurso dos
mensageiros espirituais que, de ordinário, lhe obedeciam às ordens e sugestões,
nós o encontramos, de outra feita, a multiplicar pães e peixes[10],
no tope do monte, para saciar a fome da turba inquieta que lhe ouvia os
ensinamentos, e a tranqüilizar a Natureza em desvario[11],
quando os discípulos assustados lhe pedem socorro, diante da tormenta.
Ainda no campo da fenomenologia física ou Metapsíquica objetiva, identificamo-lo
em plena levitação, caminhando sobre as águas[12],
e em prodigiosa ocorrência de materialização ou ectoplasmia, quando se põe a
conversar, diante dos aprendizes, com dois varões desencarnados que,
positivamente, apareceram glorificados, a lhe falarem de acontecimentos
próximos[13].
Em
Jerusalém, no templo, desaparece de chofre, desmaterializando-se, ante a expectação
geral[14]
e, na mesma cidade, perante a multidão, produz-se a voz direta, em que bênçãos
divinas lhe assinalam a rota[15].
Em cada
acontecimento, sentimo-lo a governar a matéria, dissociando-lhe os agentes e
reintegrando-os à vontade, com a colaboração dos servidores espirituais que lhe
assessoram o ministério de luz.
EFEITOS INTELECTUAIS – No capítulo dos
efeitos intelectuais ou, se quisermos, nas provas da metapsíquica subjetiva,
que reconhece a inteligência humana como possuidora de outras vias de
conhecimento, além daquelas que se constituem dos sentidos normais,
reconhecemos Jesus nos mais altos testemunhos.
A
distância da sociedade hierosolimita, vaticina os sucessos amargos que
culminariam com a sua morte na cruz[16].
Utilizando a clarividência que lhe era peculiar, antevê Simão Pedro cercado
de personalidades inferiores da esfera extrafísica, e avisa-o quanto ao perigo
que isso representa para a fraqueza do apóstolo[17].
Nas últimas instruções, ao pé dos amigos, confirmando a profunda lucidez
que lhe caracterizava as apreciações percucientes, demonstra conhecer a
perturbação consciencial de Judas[18],
a despeito das dúvidas que a ponderação suscita entre os ouvintes. Nas preces
de Getsêmani, aliando clarividência e clariaudiência, conversa com um mensageiro
espiritual que o reconforta[19].
MEDIUNIDADE CURATIVA – No que se refere
aos poderes curativos, temo-los em Jesus nas mais altas afirmações de grandeza.
Cercam-no doentes de variada expressão. Paralíticos estendem-lhe membros
mirrados, obtendo socorro. Cegos recuperam a visão. Ulcerados mostram-se
limpos. Alienados mentais, notadamente obsidiados diversos, recobram
equilíbrio. É importante considerar, porém, que o Grande Benfeitor a todos convida
para a valorização das próprias energias. Reajustando as células enfermas da
mulher hemorroíssa, dizlhe, convincente: – “Filha, tem bom ânimo! A tua fé te
curou.”[20]
Logo após, tocando os olhos de dois cegos que lhe recorrem à caridade, exclama:
– “Seja feito, segundo a vossa fé.; [21]Não
salienta a confiança por simples ingrediente de natureza mística, mas sim por
recurso de ajustamento dos princípios mentais, na direção da cura. E
encarecendo o imperativo do pensamento reto para a harmonia do binômio
mente-corpo, por varias vezes o vemos impelir os sofredores aliviados à vida
nobre, como no caso do paralítico de Betesda, que, devidamente refeito, ao
reencontrá-lo no templo, dele ouviu a advertência inesquecível: – “Eis que já
estás são. Não peques mais, para que te não suceda coisa pior.” EVANGELHO E
MEDIUNIDADE – A prática da mediunidade não está somente na passagem do Mestre
entre os homens, junto dos quais, a cada hora, revela o seu intercâmbio
constante com o Plano Superior, seja em colóquios com os emissários de alta estirpe,
seja em se dirigindo aos aflitos desencarnados, no socorro aos obsessos do
caminho, mas também na equipe dos companheiros, aos quais se apresenta em
pessoa, depois da morte, ministrando instruções para o edifício do Evangelho
nascente.
No dia de
Pentecostes, vários fenômenos mediúnicos marcam a tarefa dos apóstolos,
mesclando-se efeitos físicos e intelectuais na praça pública, a constituir-se a
mediunidade, desde então, em viga mestra de todas as construções do
Cristianismo, nos séculos subseqüentes.
Em
Jesus e em seus primitivos continuadores, porém, encontramo-la pura e
espontânea, como deve ser, distante de particularismos inferiores, tanto quanto
isenta de si monismo. Neles, mostram-se os valores mediúnicos serviço da
Religião Cósmica do Amor e da Sabedoria, na qual os regulamentos divinos, em
todos os mundos, instituem a responsabilidade moral segundo o grau de conhecimento,
situando-se, desse modo, a Justiça Perfeita, no íntimo de cada um, para que se
outorgue isso ou aquilo, a cada Espírito, de conformidade com as próprias
obras. O Evangelho, assim, não é o livro de um povo apenas, mas o Código de
Princípios Morais do Universo, adaptável a todas as pátrias, a todas s comunidades, a todas as raças e a todas as criaturas,
porque representa, acima de tudo, a carta de conduta para a ascensão da
consciência à imortalidade, na revelação da qual Nosso Senhor Jesus - Cristo
empregou a mediunidade sublime como agente de luz eterna, exaltando a vida e
aniquilando a morte, abolindo o mal e glorificando o bem, a fim de que as leis
humanas se purifiquem e se engrandeçam, se santifiquem e se elevem para a
integração com as Leis de Deus.
--- Fim ---
[1] Fonte: Mecanismos da Mediunidade, Ditado pelo Espírito André Luiz, psicografia
de Francisco Cândido Xavier e Waldo Vieira, Editora FEB, Capitulo XXVI
[2]
Em “A Gênese”
(págs. 293 e 294, FEB, 12ª edição). Anota Allan Kardec, com referência aos
fenômenos da mediunidade em Jesus: “Agiria como médium nas curas que operava?
Poder-se-á considerá-lo poderoso médium curador? Não, porquanto o médium é um
intermediário, um instrumento de que se servem os Espíritos desencarnados e o
Cristo não precisava de assistência, pois que era ele quem assistia os outros.
Agia por si mesmo, em virtude do seu poder pessoal, como o podem fazer, em
certos casos, os encarnados, na medida de suas forças. Que Espírito, ao demais,
ousaria insuflar-lhe seus próprios pensamentos e encarregá-lo de os transmitir?
Se algum influxo estranho recebia, esse só de Deus lhe poderia vir. Segundo
definição dada por um Espírito, ele era médium de Deus.” (Nota indicada pelo
Autor espiritual)
[3]
Lucas, capítulo
1, versículo 5.
[4] Lucas, capítulo 1,
versículo 30
[5]
Mateus, capítulo
1, versículo 19.
[6] Lucas, capítulo 2, versículo 37.
[7]
Lucas, capítulo 2,
versículo 46.
[8] João, capítulo 2, versículos 1 a 12.
[9]
João, capítulo 6,
versículos 1 a 15.
[10]
Marcos, capítulo
4, versículos 35 a 41.
[11] Marcos, capítulo 6,
versículos 49 a 50.
[12]
Lucas, capítulo
9, versículos 28 a 32
[13] João, capítulo 7, versículo 30
[14] João,
capítulo 12, versículos 28 a 30.
[15]
Lucas, capítulo
18, versículos 31 a 34.
[16] Lucas, capítulo 22,
versículos 31 a 34
[17] João, capítulo 123
versículos 21 a 22.
[18] Lucas, capítulo 13,
versículos 21 a 22
[19] Mateus, capítulo 09,
versículo 22
[20] Mateus, capítulo 9, versículo 29
[21] João, capítulo 5,
versículo 14