A autocrueldade é, sem dúvida, a mais dissimulada de todas as opressões.
De todas as violências que padecemos; as que fazemos contra nós mesmos
são as que mais nos fazem sofrer. Nessa crueldade, não se derrama sangue,
somente se constroem cercas e cercas, que passam a nos sufocar e a nos afligir
por dentro.
Montaign[2],e, célebre
filósofo francês do século XVI, escreveu: “A covardia é mãe da crueldade”.
Realmente, é assim que se inicia nossa auto-agressão. Em razão de nossa
fragilidade interior e de nossos sentimentos de inferioridade, aparece o temor,
que nos impede de expressar nossas mais íntimas convicções, dificultando-nos
falar, pensar e agir com espontaneidade ou descontração.
A autocrueldade é, sem dúvida, a mais dissimulada de todas as opressões.
Além de vir adornada de fictícias virtudes, recebe também os aplausos e as
considerações de muitas pessoas, mas, mesmo assim, continua delimitando e
esmagando brutalmente. Essa atmosfera virtuosa que envolve os que buscam ser
sempre admirados e aceitos deve-se ao papel que representam incessantemente de
satisfazer e de contentar a todos, em quaisquer circunstâncias. Buscam contínuos
elogios, colecionando reverências e sorrisos forçados, mas pagam por isso um
preço muito alto: vivem distantes de
si mesmos.
A causa básica do “autotormento” consiste em algo muito simples: viver a própria vida nos termos estabelecidos pela aprovação
alheia.
A timidez pode ser considerada uma autocrueldade. O acanhado vigia-se e,
ao mesmo tempo, vigia os outros, vivendo numa autoprisão. Em razão de ser
aceito por todos, ele não defende sua vontade, mas sim a vontade das pessoas.
Pensa que há algo de errado com ele, não desenvolve a autoconfiança e,
continuamente, se esconde por inibição.
Pensar e agir, defendendo
nosso íntimo e nossos direitos inatos e, definindo nossas perspectivas
pessoais, sem subtrair os direitos dos outros, é a imunização contra a
autocrueldade.
Para vivermos bem com nós mesmos, é preciso estabelecer padrões de
auto-respeito, aprendendo a dizer “não
sei”, “não compreendo”, “não concordo” e “não me importo”.
As criaturas que procuram bajulação e exaltação martirizam-se para não
cometer erros, pois a censura, a depreciação e a desestima é o que mais as
atemorizam. Esquecem-se de que os erros são significativas formas de
aprendizagem das coisas. É muito compreensível faltarmos à lógica numa tomada
de decisão, ou mudamos de ideia no meio do caminho; no entanto, quando
errarmos, será preciso que assumamos a responsabilidade pelos nossos
desencontros e desacertos e apreendamos o ensinamento da lição vivenciada.
Quem busca consenso, crédito e popularidade; não
julga seus comportamentos por si mesmo, mas procura, ansiosamente, as palmas
dos outros, oferecendo inúmeras razões para que suas atitudes sejam totalmente
consideradas.
Vivendo e seguindo seus próprios passos, poderá inicialmente encontrar
dificuldades momentâneas, mas, com o tempo, será recompensado com um enorme
bem-estar e uma integral segurança de alma.
Estar alheio ou sair de si mesmo, na ânsia de ser amado por todos aqueles
que consideram modelos importantes, será uma meta alienada e inatingível. O único modo de
alcançar a felicidade é viver, particularmente, a própria vida.
A fixação que temos de olhar o que os outros acham ou acreditam, sem
possuirmos a real consciência do que queremos, podemos, sentimos, pensamos e almejamos, é o que promove a destruição em nossa vida interior, ou
seja, o esfacelamento da própria unidade como seres humanos e, por
conseqüência, nossa unidade com a vida que está em tudo e em todos.
Allan Kardec consulta os Obreiros do Bem:
“A obrigação de respeitar os direitos alheios
tira ao homem o de se pertencer a si mesmo?”
E eles responderam: “De modo algum, porquanto este é um direito que
lhe vem da Natureza.” [3]
“Pertencer a si mesmo”, conforme nos asseveram os Espíritos, é exercer a
liberdade de não precisar conciliar
as opiniões dos homens e de livrar-se das amarras da tirania social, da escravidão do
convencionalismo religioso, das vulgaridades do consumismo, da constrição
de ser dependente, enfim, do medo do que dirão os outros.
A solução para a autocrueldade será a nossa tomada de consciência de que
temos a liberdade por “direito que vem da Natureza”.
Contudo, de quase nada nos servirá a liberdade exterior, se não cultivarmos
uma autonomia interior, porque quem está internamente entre grilhões e amarras jamais poderá pensar e
agir livremente.
[1] Livro: As Dores da Alma, Francisco do Espírito
Santo Neto, Pelo espírito Hammed, Editora
e Distribuidora Boa Nova. (Todos
os grifos, numeração, coloridos, negritos, sublinhados e itálicos: é de autoria
da redação do Jornal A FAGULHA, quanto ao nosso estudo deste artigo.)
[2]Michel Eyquem de
Montaigne ( 28 de fevereiro de 1533 —
13 de setembro de 1592) foi um jurista, político, filósofo, escritor, cético e humanista francês,
considerado como o inventor do ensaio pessoal. Nas suas obras analisou as instituições, as opiniões e
os costumes, debruçando-se sobre os dogmas da sua época e tomando a generalidade da humanidade
como objeto de estudo. https://pt.wikipedia.org/wiki/Michel_de_Montaigne
[3] Livro
dos Espíritos, Allan Kardec, Ed. FEB questão 827
Mensagem que nos mostra ou seja nos ensina, como seguir em frente sem medo de errar, só se aprende errando.Muita paz, é muito obrigada por compartilhar ensinos, que nos faz crescer espiritualmente.
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