IRRESPONSABILIDADE
Somos nós mesmos que fazemos os nossos caminhos e depois os denominamos
de fatalidade.
Não é
coerente que cada um de nós trabalhe para alcançar a própria felicidade?
Não é
lógico que devemos nos responsabilizar apenas por nossos atos?
Não nos afirma a
sabedoria do Evangelho que seríamos conhecidos, exclusivamente, pelas nossas
obras?
Fazer os
outros seguros e felizes é missão impossível de realizar, se acreditarmos que
depende unicamente de nós a plenitude de sua concretização. Se assim admitimos,
passamos, a partir então, a esperar e a cobrar retribuição; em outras palavras,
a reciprocidade. Não seria mais fácil que cada um de nós conquistasse sua
felicidade para que depois pudesse desfrutá-la, convivendo com alguém que
também conquistou por si mesmo? Qual a razão de a ofertarmos aos outros e, por
sua vez, os outros a concederem a nós? Por certo, só podemos ensinar ou
partilhar o que aprendemos.
Assim
disse Pedro, o apóstolo: “Não tenho
ouro nem prata; mas o que tenho, isso te dou.”
Dessa
maneira, vivemos constantemente colocando nossas necessidades em segundo plano
e, ao mesmo tempo, nos esquecendo de que a maior de todas as responsabilidades
é aquela que temos para com nós mesmos.
Os
acontecimentos exteriores de nossa vida são os resultados diretos de nossas
atitudes internas. A princípio, podemos relutar para assimilar e entender esse
conceito, porque é melhor continuarmos a acreditar que somos vítimas indefesas
de forças que não estão sob o nosso controle. Efetivamente, somos nós mesmos
que fazemos os nossos caminhos e depois os denominamos de fatalidade.
“Haverá
fatalidade nos acontecimentos da vida, conforme ao sentido que se dá a este
vocábulo? (…) são predeterminados? E, neste caso, que vem a ser do
livre-arbítrio?”, pergunta Kardec aos Semeadores da Nova Revelação. E eles
respondem: “A fatalidade existe unicamente pela escolha que o Espírito fez, ao
encarnar (…). Escolhendo-a, instituiu para si uma espécie de destino…”
É
inevitável para todos nós o fato de que vivemos, invariavelmente, escolhendo. A
condição primordial do livre-arbítrio é a escolha e, para que possamos viver,
torna-se indispensável escolher sempre. Nossa existência se faz através de um
processo interminável de escolhas sucessivas.
Eis aqui
um fato incontestável da vida: o amadurecimento do ser humano inicia-se quando
cessam suas acusações ao mundo.
Entretanto,
há indivíduos que se julgam perseguidos por um destino cruel e censuram tudo e
todos, menos eles mesmos. Recusam, sistematicamente, a responsabilidade por
suas desventuras, atribuindo a culpa às circunstâncias e às pessoas, bem como
não reconhecem a conexão existente entre os fatos exteriores e seu
comportamento mental.
No
íntimo, essas pessoas não definiram limites em seu mundo interior e vivem num
verdadeiro emaranhado de energias desconexas. Os limites nascem das nossas
decisões profundas sobre o que acreditamos ser nossos direitos pessoais.
Nossas
demarcações estabelecem nosso próprio território, cercam nossas forças vitais e
determinam as linhas divisórias de nosso ser individual. Há um espaço
delimitado onde nós terminamos e os outros começam.
Algumas
criaturas aprenderam, desde a infância, o senso dos limites com pais
amadurecidos. Isso os mantém firmes e saudáveis dentro de si mesmas. Outras,
porém, não. Quando atingiram a fase adulta, não sabiam como distinguir quais
são e quais não são suas responsabilidades.
Muitas
construíram muros de isolamento que as separaram do crescimento e da realização
interior, ou ainda paredes com enormes cavidades que as tornaram suscetíveis a
uma confusão de suas emoções com as de outras pessoas.
Limites é
o portal dos bons relacionamentos. Têm como objetivo nos tornar firmes e
conscientes de nós mesmos, a fim de sermos capazes de nos aproximar dos outros
sem sufocá-los ou desrespeitá-los. Visam também evitar que sejamos
constrangidos a não confiar em nós mesmos.
Ser responsável
implica ter a determinação para responder pelas consequências das atitudes
adotadas.
Ser
responsável é assumir as experiências pessoais, para atingir uma real
compreensão dos acertos e dos desenganos.
Ser responsável é decidir por si mesmo para onde ir e descobrir a razão
do próprio querer.
Não
existem “vítimas da fatalidade”; nós é que somos os promotores do nosso
destino. Somos a causa dos efeitos que ocorrem em nossa existência.
Aceitar o
princípio da responsabilidade individual e estabelecer limites descomplica
nossa vida, tornando-os cada vez mais conscientes de tudo o que acontece ao
nosso derredor.
Escolhendo
com responsabilidade e sabedoria, poderemos transmutar, sem exceção, as
amarguras em que vivemos na atualidade. A auto-responsabilidade nos
proporcionará a dádiva de reconhecer que qualquer mudança de rota no itinerário
de nossa “viagem cósmica” dependerá, invariavelmente, de nós.
Livro: Dores da Alma, Espírito Hammed, médium: Francisco do
Espírito Santo Neto.