quinta-feira, 19 de maio de 2016

CONSELHOS E REFLEXÕES DE ALLAN KARDEC


Àqueles que querem ver os fenômenos antes de crer no Espiritismo, Allan Kardec dá-lhes estes sábios conselhos e reflexões:

Revista Espírita de 1865, pag. 328: Deus me guarde de ter a presunção de me crer o único capaz, ou mais capaz do que outro, ou o único encarregado de cumprir os desígnios da Providência; não, esse pensamento está longe de mim. Neste grande movimento renovador tenho a minha parte de atuação; não falo senão daquilo que me concerne; mas o que posso afirmar sem vã fanfarrice é que, no que me incumbe nem a coragem, nem a perseverança, me faltarão. Nisso jamais falhei, mas hoje que vejo o caminho se aclarar de uma maravilhosa claridade, sinto minhas forças crescerem, não tenho mais dúvida e graças às novas luzes que praza a Deus me dar, estou certo, e digo a todos os meus irmãos, com toda a certeza que jamais tive: coragem e perseverança, porque um esplendoroso sucesso coroará vossos esforços.”
Revista Espírita de 1867, pag. 40: O Espiritismo é, como alguns o pensam, uma nova fé cega substituindo a outra fé cega ou, dito de outra forma, uma escravidão do pensamento sob uma nova forma? Para crer nisso seria preciso se ignorasse os seus primeiros elementos. Com efeito, o Espiritismo coloca, em princípio, que antes de crer é preciso compreender; ora, para compreender, é preciso usar de seu julgamento; eis porque ele procura se dar conta de tudo em vez de nada admitir, em saber o “porquê” e o “como” de cada coisa; também os espíritas são mais céticos do que muitos outros com relação aos fenômenos que saem do círculo das observações habituais. Ele não repousa sobre nenhuma teoria preconcebida ou hipotética, mas sobre a experiência e a observação dos fatos; em vez de dizer: “Creia em primeiro lugar e se puder compreenda em seguida”, ele diz: “Compreenda em primeiro lugar, e creia em seguida se você quiser.” Não se impõe a ninguém; diz a todos: “Veja, observe, compare e venha a nós livremente se tal lhe convier”. Falando assim, ele se adianta e corta as chances da concorrência. Se muitos vão a ele, é porque os satisfaz muito, mas ninguém o aceita de olhos fechados. Àqueles que não o aceitam, ele diz: “Você é livre, e não o quero; tudo que peço é que me deixe minha liberdade, como eu lhe deixo a sua. Se procura me afastar, por receio de que eu suplante você, é porque você não está bem certo de si. O Espiritismo, procurando não descartar nenhum dos concorrentes dentro da liça aberta às ideias que devem prevalecer no mundo regenerado, está dentro das condições da verdadeira liberdade de pensamento; e não admitindo nenhuma teoria que não seja fundamentada sobre a observação, está, ao mesmo tempo, dentro daquelas de mais rigoroso positivismo; enfim, tem sobre seus adversários, de opiniões contrárias extremas, a vantagem da tolerância.”
Revista Espírita de 1861, pag. 130: Seria, de resto, bastante inconveniente que a propagação da Doutrina ficasse subordinada à publicidade de nossas reuniões: por mais numeroso que pudesse ser o auditório, ele seria sempre fortemente restrito, imperceptível, comparado à massa da população. Por outro lado nós sabemos, por experiência, que a verdadeira convicção não se adquire a não ser pelo estudo, pela reflexão e por uma observação sustentada, e não, assistindo a uma ou duas sessões, por mais interessantes que elas sejam, e isto é tão verdadeiro, que o número dos que creem sem nada terem visto, mas porque eles têm estudado e compreendido, é imenso. Sem dúvida o desejo de ver é muito natural, e estamos longe de censurar, mas queremos que o fenômeno seja visto em condições de aproveitamento. Eis porque dizemos: Primeiramente estude, e em seguida veja, porque assim compreenderá melhor. Se os incrédulos refletissem sobre essa condição, eles extrairiam a melhor garantia, em primeiro lugar, de nossa boa fé, e em seguida da potência da Doutrina. Aquilo que o charlatanismo mais teme é ser compreendido; ele fascina os olhos e não é bastante tolo para se dirigir à inteligência que descobriria facilmente a sua farsa. O Espiritismo, ao contrário, não admite confiança cega; quer ver claramente em tudo; quer que se compreenda tudo, que se leve em conta tudo; então quando prescrevemos o estudo e a meditação, isto é apelar ao concurso da razão, e provar que a ciência espírita não teme o exame, pois que antes de crer nós fazemos do compreender uma obrigação.”
Revista Espírita de 1861, pag. 377: Quem tem a intenção de organizar um grupo em boas condições deve antes de tudo se assegurar do concurso de alguns adeptos sinceros, que levem a Doutrina a sério e cujo caráter conciliador e benevolente lhe seja conhecido. Com esse núcleo formado, que seja de três ou quatro pessoas, se estabelecerá regras precisas, seja para as admissões, seja para a direção das reuniões e para a ordem dos trabalhos, regras às quais os recém-chegados terão de se conformar... A primeira condição a impor, se não se deseja ser a cada instante distraído por objeções ou questões ociosas, é, pois o estudo preliminar. A segunda é uma profissão de fé categórica e uma adesão formal à Doutrina do Livro dos Espíritos e certas outras condições especiais que se julgar a propósito. Isto é para os membros titulares ou dirigentes; para os ouvintes, que vêm geralmente para adquirir um acréscimo de conhecimentos e de convicções, se pode ser menos rigoroso; todavia, como existem os que podem causar problemas pelas observações deslocadas, é importante se assegurar de suas disposições; é preciso, sobretudo, e sem exceção, afastar os curiosos e todos os que não sejam atraídos senão por um motivo frívolo. A ordem e a regularidade dos trabalhos são coisas igualmente essenciais. Nós consideramos como eminentemente úteis abrir a reunião pela leitura de qualquer passagem de O Livro dos Médiuns e O Livro dos Espíritos; por este meio, se terá sempre presente na memória os princípios da ciência e os meios de evitar os escolhos que se encontram a cada passo na prática. A atenção se fixará assim sobre uma multidão de pontos que escapam frequentemente numa leitura particular, e poderão dar lugar a comentários e a discussões instrutivas, às quais mesmo os Espíritos poderão tomar parte.
Revista Espírita de 1861, pag. 380: Tudo isso, como se vê, é de uma execução muito simples, e sem acessórios complicados; mas tudo depende do ponto de partida, isto é, da composição dos grupos primitivos. Se eles forem formados de bons elementos, serão tantas boas raízes que darão bons rebentos. Se, ao contrário, são formados de elementos heterogêneos e antipáticos, de espíritas duvidosos, se ocupando mais da forma que do fundo, considerando a moral como a parte acessória e secundária, é preciso se prever polêmicas irritantes e sem desfecho, melindres de suscetibilidades, seguido de conflitos precursores da desorganização. Entre verdadeiros espíritas, tais como os havemos definido, vendo o propósito essencial do Espiritismo na moral, que é a mesma para todos, haverá sempre abnegação da personalidade, condescendência e benevolência, e, por consequência, certeza e estabilidade nos relacionamentos. Eis porque insistimos tanto nas qualidades fundamentais. As sociedades numerosas têm sua razão de ser do ponto de vista da propaganda, mas, para os estudos sérios, é preferível se fazer uso dos grupos íntimos.
Revista Espírita de 1861, pag. 347: De resto, qualquer que seja a natureza da reunião, quer seja numerosa ou não, as condições que deve preencher para atender o objetivo são as mesmas; é nisso que é preciso conduzir todos os seus cuidados e, aqueles que o preencherem, será forte, porque terão necessariamente o apoio dos bons Espíritos. Estas condições são comentadas no Livro dos Médiuns nº 341. Um capricho bastante frequente com alguns novos adeptos é o de crer se passarem a mestres após alguns meses de estudo. O Espiritismo é uma ciência imensa, como sabem, e cuja experiência não se pode adquirir senão com o tempo, nisso como em todas as coisas. Há nessa pretensão de não ter mais necessidade dos conselhos de outrem e de se crer acima de todos, uma prova de insuficiência, pois que fracassa em um dos preceitos primeiros da Doutrina: a modéstia e a humildade. Quando os maus Espíritos encontram semelhantes disposições em alguns indivíduos, eles não falham em os superexcitar, distrair e persuadir de que somente eles possuem a verdade. É um dos escolhos que se pode encontrar, e contra o qual creio dever prevenir, acrescentando que não é suficiente se dizer Espírita para se dizer Cristão: é preciso prová-lo pela prática.
Revista Espírita de 1865, pag. 376: O Espiritismo, tendo por objetivo a melhoria dos homens, não vem em absoluto buscar os que são perfeitos, mas aqueles que se esforçam por se transformar colocando em prática os ensinos dos Espíritos. O verdadeiro Espírita não é aquele que chegou ao objetivo, mas é aquele que quer seriamente atingi-lo. Quaisquer que sejam então seus antecedentes, ele será um bom espírita desde que reconheça suas imperfeições e que seja sincero e perseverante em seu desejo de se corrigir. O Espiritismo é para ele uma verdadeira regeneração, porque rompe com seu passado; indulgente para com os outros como queria que o fossem para com ele, não sairá de sua boca nenhuma palavra malevolente nem injuriosa para as pessoas. Aquele que em uma reunião se afastar da conveniência provará não somente uma falta de saber-viver e de urbanidade, mas uma falta de caridade; aquele que se melindra quando contrariado em suas opiniões e pretende impor sua pessoa ou suas ideias, fará prova de orgulho; ou, nem um nem o outro estará no caminho do verdadeiro Espiritismo, isto é, do Espiritismo Cristão. Aquele que crê ter uma opinião mais justa que os outros a faria, mais bem aceita pela doçura e pela persuasão; o azedume seria um grande erro de sua parte.
Revista Espírita de 1865, pag. 92:  O Espiritismo não está apenas na crença na manifestação dos Espíritos. O erro daqueles que o condenam é de crer que ele não consiste senão na produção de fenômenos estranhos, e isso porque, não se dando ao trabalho de estudá-lo, dele não veem senão a superfície. Esses fenômenos não são estranhos senão para aqueles que não lhes conhecem as causas, mas qualquer um que os aprofunde, neles não vê senão os efeitos de uma lei, de uma força da natureza que não se conhecia, e que, por isso mesmo, não são nem maravilhosos, nem sobrenaturais. Esses fenômenos, provando a existência dos Espíritos, que não são outros senão as almas daqueles que viveram, provam, por consequência, a existência da alma, sua sobrevivência aos corpos, a vida futura com todas as suas consequências morais. A fé no porvir, encontrando-se apoiada sobre as provas materiais, se torna inabalável, e triunfa da incredulidade. Eis porque, quando o Espiritismo se tiver tornado a crença de todos, não haverá mais nem incrédulos, nem materialistas, nem ateus. Sua missão é de combater a incredulidade, a dúvida, a indiferença; não se dirige, pois, àqueles que têm uma fé, e a quem essa fé satisfaz, mas àqueles que não creem em nada, ou que duvidam. Ele não diz à pessoa para abandonar a sua religião; respeita todas as crenças quando elas são sinceras. A liberdade de consciência é a seus olhos um direito sagrado; Se não a respeitasse, falharia em seu primeiro princípio que é a caridade. Neutro em todos os cultos, ele será o lugar que os reunirá sob um mesmo pavilhão, aquele da fraternidade universal; um dia todos se estenderão as mãos, em lugar de se lançarem anátemas. Os fenômenos, longe de serem a parte essencial do Espiritismo, não são senão o acessório, um meio suscitado por Deus para vencer a incredulidade que invade a sociedade: essa parte está, sobretudo na aplicação de seus princípios morais. É aí que se reconhecem os espíritas sinceros. Os exemplos de reforma moral, provocados pelo Espiritismo, são já bastante numerosos para que se possam julgar os resultados que produzirá com o tempo. É preciso que sua potência moralizadora seja bem grande para triunfar dos hábitos inveterados pela idade, e da leviandade da juventude. O efeito moralizador do Espiritismo tem então por causa primeira o fenômeno das manifestações que têm trazido a fé; se esses fenômenos fossem uma ilusão, como o pretendem os incrédulos, seria preciso bendizer uma ilusão que dá ao homem a força de vencer seus maus pendores.
Revista Espírita de 1864, pag. 141: A força do Espiritismo não reside na opinião de um homem nem de um Espírito; ela está na universalidade do ensinamento dado pelos últimos; o controle universal, como o sufrágio universal, decidirá no porvir as questões litigiosas; fundirá a unidade da Doutrina bem melhor do que um concílio de homens. Esse princípio, disso, estamos certos, senhores, fará o seu caminho, como fez o: Fora da caridade não há salvação, porque está fundamentado sobre a mais rigorosa lógica e na abdicação da personalidade. Não poderá contrariar senão os adversários do Espiritismo, e aqueles que não têm fé senão em suas luzes pessoais.
Revista Espírita de 1864, pag. 235: O Espiritismo é uma fé íntima; está no coração e não nos atos exteriores, não prescreve nada que seja de natureza a escandalizar aqueles que não compartilham dessa crença, recomendando disso se abster por espírito de caridade e de tolerância.
Revista Espírita de 1864, pag. 100: Se a Doutrina Espírita fosse uma concepção puramente humana, ela não teria por garantia senão as luzes daquele que a houvesse concebido; ora, ninguém aqui neste mundo poderia ter a pretensão de possuir sozinho, a verdade absoluta. Se os Espíritos que a revelaram tivessem se manifestado a um só homem, nada garantiria sua origem, porque se precisaria crer, sob a palavra, naquele que dissera ter recebido seu ensinamento. Admitindo-se uma perfeita sinceridade de sua parte, ele poderia no máximo convencer as pessoas de seu círculo: poderia fazer sectários, mas jamais teria sucesso em reunir todo o mundo. Deus quis que a nova revelação chegasse aos homens por uma via mais rápida e mais autêntica; é por isso que encarregou os Espíritos de irem conduzi-la de um polo ao outro, manifestando-se por toda parte, sem dar a ninguém o privilégio exclusivo de escutar sua palavra.
Revista Espírita de 1864, pag. 101: Sabe-se que os Espíritos, por causa da diferença que existe em suas capacidades, estão longe de estar individualmente de posse de toda a verdade; que não é dado a todos penetrar certos mistérios; que seu saber é proporcional à sua depuração; que os Espíritos vulgares não sabem mais que os homens, e mesmo menos que certos homens; que há entre eles, como entre os últimos, os presunçosos e os pseudossábios que creem saber aquilo que não sabem; sistemáticos que tomam as suas ideias pela verdade... árbitros da verdade. Em semelhante caso, que fazem os homens que não têm, neles mesmos, uma confiança absoluta? Apegam-se à opinião de maior número, e a opinião da maioria é seu guia. Assim deve-se proceder em relação aos ensinos dos Espíritos que disso nos forneceram, eles mesmos, os meios. A concordância dos ensinamentos dos Espíritos é então o melhor controle; mas é preciso que ela tenha lugar em certas condições. A menos certa de todas é quando um médium interroga, ele mesmo, a vários Espíritos sobre um ponto duvidoso; é bem evidente que se ele está sob o império de uma obsessão, e se estiver influenciado por um Espírito enganador, esse Espírito pode lhe dizer a mesma coisa sob nomes diferentes. Não há, não mais, uma garantia suficiente na conformidade que podemos obter pelos médiuns de um só centro, porque eles podem sofrer a mesma influência. A única garantia séria está na concordância que existe entre as revelações feitas espontaneamente pela mediação de um grande número de médiuns, estranhos uns aos outros, e em diversos países. Concebe-se que não se trata aqui das comunicações relativas a interesses secundários, mas daquelas que se relacionam aos princípios mesmos da Doutrina... O primeiro controle é, sem contradita, aquele da razão, à qual é necessário submeter, sem exceção, tudo aquilo que venha dos Espíritos; toda teoria em contradição manifesta com o bom senso, com uma lógica rigorosa, e com os dados positivos que se possui, mesmo que seja assinada por nome respeitável, deve ser rejeitada. Mas esse controle é incompleto em muitos casos, devido à insuficiência de luzes de certas pessoas e da tendência de muitos para manter seu próprio julgamento como árbitro único da verdade. A única garantia séria está na concordância que existe entre as revelações feitas espontaneamente pela mediação de um grande número de médiuns estranhos uns aos outros e em diversos países. Tal é a base sobre a qual nós nos apoiamos quando formulamos um princípio da Doutrina; não é porque esteja de acordo com nossas ideias que o damos como verdadeiro; não nos colocamos de nenhuma maneira como árbitros superiores da verdade, e não dizemos a ninguém: Crê em tal coisa, porque o dizemos. Aos nossos olhos, nossa opinião não é mais que uma opinião pessoal, que pode ser certa ou falsa, porque não somos mais infalíveis que ninguém. Não é mais porque um princípio nos é ensinado que é para nós a verdade, mas porque recebeu a sanção da concordância.
Revista Espírita de 1864, pag. 103: O controle universal é uma garantia para a unidade futura do Espiritismo e anulará todas as teorias contraditórias. É aí que, no porvir, se buscará o critério da verdade. O que fez o sucesso da Doutrina, formulada em O Livro dos Espíritos e em O Livro dos Médiuns, é que, por toda parte, cada um pode receber diretamente dos Espíritos a confirmação daquilo que eles contêm. Se, de todas as partes, os Espíritos tivessem vindo contradizê-los, esses livros teriam depois de muito tempo tido a sorte de todas as concepções fantásticas. Mesmo o apoio da imprensa não os teria salvado do naufrágio, enquanto que, mesmo privados desse apoio, não deixaram de fazer um caminho rápido, porque tiveram o apoio dos bons Espíritos cuja boa vontade compensou, e ultrapassou a má vontade dos homens. Assim o será de todas as ideias emanadas dos Espíritos e dos homens, que não puderem suportar a prova desse controle, do qual ninguém pode contestar o poder.
Revista Espírita de 1859, pag. 176: Os Espíritos são aquilo que são, e não podemos mudar a ordem das coisas; não sendo todos perfeitos, não aceitamos suas palavras senão sob a análise e não com a credulidade das crianças; julgamos, comparamos, tiramos as consequências de nossas observações, e mesmo seus erros são para nós ensinamentos, porque não fazemos abnegação de nosso discernimento. Essas observações se aplicam igualmente a todas as teorias científicas que os Espíritos possam dar. Seria muito cômodo ter apenas que os interrogar para encontrar a ciência toda feita, e para possuir todos os segredos industriais: não adquirimos a ciência senão ao preço do trabalho e das pesquisas; sua missão não é de nos livrar desta obrigação. Sabemos aliás, que não somente nem todos não sabem tudo, mas que há entre eles, como entre nós, falsos sábios, que creem saber aquilo que não sabem, e falam daquilo que ignoram com o mais imperturbável desembaraço. Um Espírito poderia então dizer que é o Sol que gira em torno da Terra e não o contrário, e sua teoria não seria mais verdadeira porque vinda de um Espírito. Que aqueles que nos supõem uma credulidade assim pueril, saibam pois que tomamos toda opinião exprimida por um Espírito por uma opinião individual; que não a aceitamos senão depois de a haver submetido ao controle da lógica e dos meios de investigação que a própria ciência Espírita nos forneceu.
Revista Espírita de 1859, pag. 178: Nossos estudos nos ensinam que o mundo invisível que nos cerca reage constantemente sobre o mundo visível; no-lo mostram como uma das forças da Natureza; conhecer os efeitos desta força oculta que nos domina e nos subjuga com nosso desconhecimento não é ter a chave de mais um problema, a explicação de uma multidão de fatos que passam despercebidos? Se esses efeitos podem ser funestos, conhecer a causa do mal não é ter um meio de se prevenir, como o conhecimento das propriedades da eletricidade nos tem dado o meio de atenuar os efeitos desastrosos do raio? Se então sucumbirmos, não poderemos nos queixar senão de nós mesmos, porque não teremos a ignorância por desculpa. O perigo está no império que os maus Espíritos impõem sobre os indivíduos, e esse império não é somente funesto do ponto de vista dos interesses da vida material. A experiência nos ensina que jamais é impunemente que alguém se abandona à sua dominação; porque suas intenções não podem nunca ser boas. Uma de suas táticas para chegar a seus fins é a desunião, porque sabem muito bem que poderão facilmente tirar vantagens daquele que está privado de apoio; também, seu primeiro cuidado, quando querem se apoderar de alguém, é sempre o de lhe inspirar a desconfiança e a antipatia por quem possa desmascará-lo com esclarecimentos, por conselhos salutares. Uma vez senhores do terreno, podem, a seu gosto, fasciná-lo com promessas sedutoras, subjugá-lo lisonjeando suas inclinações, aproveitando para isso todos os pontos fracos que encontram, para melhor fazê-lo sentir em seguida a amargura das decepções, afligi-lo em suas afeições, humilhá-lo em seu orgulho e, frequentemente, elevá-lo por um momento senão para precipitá-lo de mais alto. Para se prevenir contra tais perigos, Allan Kardec nos dá o seguinte sábio conselho:
Revista Espírita de 1859, pag. 180: Direi primeiro que, segundo o seu conselho – o conselho de seus Guias – Eu não aceito jamais nada sem exame e sem controle; não adoto uma ideia a não ser que ela me pareça racional, lógica, se está de acordo com os fatos e as observações, se nada de sério a vem contradizer. Mas meu julgamento não poderia ser um critério infalível; o consentimento que tenho encontrado junto de uma multidão de gente mais esclarecida do que eu é para mim uma primeira garantia; encontro uma outra, não menos preponderante, no caráter das comunicações que me têm sido feitas desde que me ocupo com o Espiritismo; jamais, posso dizê-lo, escapou uma única dessas palavras, um só desses sinais pelos quais se traem os Espíritos inferiores, mesmo os mais astuciosos; jamais dominação; jamais conselhos equivocados ou contrários à caridade e à benevolência, jamais prescrições ridículas; longe disso, não encontrei neles senão pensamentos grandes, nobres, sublimes, isentos de pequenez e mesquinharia; em uma palavra, suas relações comigo, nas menores, como nas maiores coisas, têm sido sempre tais que, se tivesse sido um homem que me houvesse falado, eu o teria pelo melhor, o mais sábio, o mais prudente, o mais moral e o mais iluminado. Eis, senhores, os motivos de minha confiança, corroborada pela identidade de ensinamento dado a uma multidão de outras pessoas, antes e depois da publicação de minhas obras...
Revista Espírita de 1859, pag. 182: Pode-se diferir de opinião sobre pontos da ciência sem se morder e se atirar pedras; é mesmo muito pouco digno e muito pouco científico fazê-lo. Busque de seu lado como buscamos do nosso; o porvir dará razão àquele de direito. Se nos enganamos, não tenhamos o tolo amor-próprio de nos obstinar com ideias falsas; mas há princípios sobre os quais se está certo de não se enganar: são o amor do bem, a abnegação, a abjuração de todo sentimento de inveja e ciúme; esses princípios são os nossos, e com esses princípios pode-se sempre simpatizar sem se comprometer; é o laço que deve unir todos os homens de bem, qualquer que seja a divergência de suas opiniões: somente o egoísmo coloca entre eles uma barreira intransponível.
Revista Espírita de 1859, pag. 183: Onde quer que chegue, minha vida está consagrada à obra que empreendemos, e serei feliz se meus esforços puderem ajudar a fazê-la entrar na via séria que é sua essência, a única que poderá assegurar seu porvir. O objetivo do Espiritismo é fazer melhores aqueles que o compreendem; tratemos de dar o bom exemplo e de mostrar que para nós a Doutrina não é letra morta; em uma palavra sejamos dignos dos  bons Espíritos, se queremos que os bons Espíritos nos assistam. O bem é uma couraça contra a qual virão sempre se quebrar as armas da malevolência.
Revista Espírita de 1865, pag. 66: As ideias do homem são em razão do que ele sabe; como em todas as descobertas importantes, a da construção dos mundos deveu dar-lhes outro curso. Sob o império desses novos conhecimentos, as crenças devem se modificar; o céu foi transferido. A região das estrelas sendo sem limites não pode mais lhe servir. Onde ele está? Diante desta questão, todas as religiões permanecem mudas. O Espiritismo vem resolvê-la demonstrando o verdadeiro destino do homem. A natureza deste último e os atributos de Deus sendo tomados por ponto de partida se chega à conclusão. O homem é composto do corpo e do Espírito. O Espírito é o ser principal, o ser da razão, o ser inteligente; o corpo é o envelope material que reveste temporariamente o Espírito para o cumprimento de sua missão sobre a Terra e a execução do trabalho necessário ao seu avanço. O corpo usado se destrói e o Espírito sobrevive a essa destruição. Sem o Espírito, o corpo não é senão uma matéria inerte, como um instrumento privado do braço que o faz agir; no corpo, o Espírito é tudo: a vida e a inteligência. Deixando o corpo, ele reentra no mundo espiritual de onde tinha saído para se encarnar. Há então o mundo corpóreo, composto dos Espíritos encarnados, e o mundo espiritual, formado dos Espíritos desencarnados. Os Espíritos são criados simples e ignorantes, mas com a aptidão de tudo adquirir e a progredir em virtude de seu livre arbítrio. Pelo progresso, adquirem novos conhecimentos, novas faculdades, novas percepções e, em consequência, novos gozos desconhecidos aos Espíritos inferiores; eles veem, ouvem, sentem e compreendem o que os Espíritos atrasados não podem nem ver, nem ouvir, nem sentir, nem compreender. A felicidade está em razão do progresso alcançado; de sorte que, de dois Espíritos, um pode não estar tão feliz quanto o outro, unicamente porque não é tão avançado intelectualmente e moralmente, sem que tenham necessidade de estar cada um num lugar distinto. Ainda que, estando ao lado um do outro, um pode estar nas trevas, ao passo que tudo é resplendente ao redor do outro, absolutamente como para um cego e um vidente que se dão a mão; um percebe a luz, que não causa nenhuma impressão sobre seu vizinho. A felicidade dos Espíritos sendo inerentes às qualidades que possuem, eles a haurem por toda parte onde se encontrem, na superfície da Terra, no meio dos encarnados ou no espaço.
Revista Espírita de 1865, pag. 37: A Doutrina Espírita muda inteiramente a maneira de encarar o porvir. A vida futura não é mais uma hipótese, mas uma realidade; o estado das almas após a morte não é mais um sistema, mas um resultado da observação. O véu foi levantado; o mundo invisível nos aparece em toda sua realidade prática; não são os homens que o descobriram por esforço de uma concepção engenhosa; foi os próprios habitantes desse mundo que vieram nos descrever sua situação. Nós os vemos em todos os graus da escala espiritual, em todas as fases de felicidade ou de infelicidade; assistimos a todas as peripécias da vida de além-túmulo. Aí está para os espíritas a causa da calma com a qual eles encaram a morte, a serenidade de seus derradeiros instantes sobre a Terra. O que os sustenta não é somente a esperança, é a certeza; sabem que a vida futura não é senão a continuação da vida presente em melhores condições, e a esperam com a mesma confiança que esperam o alvorecer do Sol depois de uma noite de tempestade. Os motivos dessa confiança estão nos fatos de que são testemunhas e na concordância desses fatos com a lógica, a justiça e a bondade de Deus e as aspirações íntimas do homem.
Revista Espírita de 1865, pag. 41: O Espiritismo não se afastará da verdade e não terá nada a temer das opiniões contraditórias, uma vez que sua teoria científica e sua doutrina moral são uma dedução dos fatos escrupulosamente e conscienciosamente observados, sem preconceitos nem sistemas preconcebidos. É diante de uma observação mais completa que todas as teorias prematuras e arriscadas, eclodida na origem dos fenômenos espíritas modernos, caíram e vieram se fundir na imponente unidade que existe hoje e contra a qual não se veem mais senão raras individualidades que diminuem todos os dias. As lacunas que a teoria atual pode ainda encerrar se completarão da mesma maneira. O Espiritismo está longe de haver dito sua última palavra quanto às suas consequências, mas está inabalável nesta base, porque esta base se assenta sobre os fatos. Que os espíritas fiquem, pois, sem receio: o porvir é para eles; que deixem seus adversários se debater sob o peso da verdade que os ofusca, porque toda negação é impotente contra a evidência que triunfa inevitavelmente pela força das coisas. É uma questão de tempo, e neste século o tempo caminha a passos de gigante sob o impulso do progresso.
Revista Espírita de 1868, pag. 209: O Espiritismo, por sua natureza e seus princípios, é essencialmente pacífico; é uma ideia que se infiltra sem ruído, e se encontra numerosos adeptos, é porque agrada; jamais fez declamações, nem propaganda, nem qualquer encenação; forte pelas leis naturais sobre as quais se apoia se vê crescer sem esforços nem abalos, não vai atrás de ninguém; não violenta nenhuma consciência; diz aquilo que é, e espera que venham a ele. Todo o ruído que é feito ao seu redor é obra de seus adversários; se é atacado, deve se defender, mas sempre o fez com calma, moderação e apenas pelo raciocínio, jamais se afastou da dignidade que é própria de toda causa que tem a consciência de sua força moral; jamais usou de represálias restituindo injúrias com injúrias, maus procedimentos com maus procedimentos. Não é esse, convenhamos, o caráter ordinário dos partidos inquietos por natureza, fomentando a agitação, e a quem tudo é bom para atingir aos seus fins? Mas desde que lhe demos este nome – de partido – o aceita, certo que não o desonrará por nenhum excesso; porque repudiaria qualquer um que disso se prevalecesse para suscitar o menor problema. O Espiritismo prosseguia em sua rota sem provocar nenhuma manifestação pública, aproveitando totalmente a publicidade que lhe davam seus adversários; quanto mais sua crítica fosse zombeteira, acerba, virulenta, mais excitava a curiosidade daqueles que não o conheciam, e que, para saber que opinião se ter sobre essa, assim dizendo, nova excentricidade, iam simplesmente se informar na fonte, isto é, nas obras especiais; se estudava, e se encontrava totalmente outra coisa que não aquilo que se estava  pretendendo dele dizer. É um fato notório que as declamações furiosas, os anátemas e as perseguições ajudaram fortemente à sua propagação, porque, em lugar de dissuadir, provocavam o exame, não fosse isso que atrai um fruto defendido. As massas têm sua lógica; dizem que se uma coisa nada fosse; dela não se falaria, e medem sua importância precisamente pela violência dos ataques de que são objeto e pelo esforço que causa a seus antagonistas.
Revista Espírita de 1866, pag. 114: Inscrevendo no frontispício do Espiritismo a lei suprema do Cristo, abrimos a via do Espiritismo Cristão; fomos pois instituídos a lhe desenvolver os princípios, como também os caracteres do verdadeiro espírita sob esse ponto de vista. Que outros possam fazer melhor do que nós, não iremos contra, porque jamais dissemos: “Fora de nós não há verdade”. Nossas instruções sendo, pois, para aqueles que as acham boas, são aceitas livremente, e traçamos uma rota sem restrições, segue-a quem quer; damos conselhos àqueles que no-los pedem, e não àqueles que creem poder dispensá-los; não impomos nada a ninguém, não temos qualidade para isso. Quanto à supremacia, ela é toda moral, e na adesão dos que partilham nossa maneira de ver, não somos investidos, por isso mesmo, de nenhum poder oficial, não solicitamos nem reivindicamos nenhum privilégio; não nos concedemos nenhum título, e o único que tomamos com os partidários de nossas ideias é aquele de irmão em crença; se nos consideram como seu chefe, é em consequência da posição que nos dão nosso trabalho e não em virtude de uma decisão qualquer. Nossa posição é aquela que cada um podia ter antes de nós; nosso direito, aquele que todo mundo tem de trabalhar como entende e de correr o risco do julgamento público.
Revista Espírita de 1866, pag. 299: Ele não disse: Fora do Espiritismo não há salvação, mas com o Cristo: Fora da caridade não há salvação, princípio de união, de tolerância, que unirá os homens dentro de um sentimento de fraternidade, em lugar de dividi-los em seitas inimigas. Por este outro princípio: Não há fé inabalável senão aquela que pode encarar a razão face a face, em todas as épocas da humanidade, ele destrói o império da fé cega que aniquila a razão, da obediência passiva que embrutece; ele emancipa a inteligência do homem e levanta sua moral.
Revista Espírita de 1868, pag. 377: Acrescentamos que a tolerância, consequência da caridade, que é a base da moral espírita, lhe fez como dever respeitar todas as crenças. Querendo ser aceito livremente por convicção e não por contrição, proclamando a liberdade de consciência como um direito natural imprescindível, disse: Se tenho razão, os outros acabarão por pensar como eu; se estiver errado, acabarei por pensar como os outros. Em virtude desses princípios, não lançando pedra em ninguém, não dará nenhum pretexto a represálias, e deixará aos dissidentes toda a responsabilidade de suas palavras e de seus atos.
X X X
Os amigos desastrados
Revista Espírita de 1863, pag. 74: Dessa forma, se ninguém pode deter a marcha geral do Espiritismo, são as circunstâncias que lhe podem trazer entraves parciais, como uma pequena barragem que pode diminuir o curso de um rio sem o impedir de escoar. Dessa espécie são os passos inconsiderados de certos adeptos, mais zelosos que prudentes, que não calculam bem a importância de seus atos ou de suas palavras; por isso produzem sobre as pessoas ainda não iniciadas na Doutrina uma impressão desfavorável, bem mais própria a afastá-los que as diatribes dos adversários. O Espiritismo está, sem dúvida, muito difundido, mas o seria ainda mais se todos os adeptos tivessem sempre escutado os conselhos da prudência e soubessem se colocar em uma sábia reserva. É preciso, sem dúvida, ter em conta a intenção, mas é certo que mais de um tem justificado o provérbio: Mais vale um inimigo declarado do que um amigo desastrado. O pior disto, é fornecer as armas aos adversários que habitualmente sabem explorar uma falta de jeito. Não seria pois excessivo recomendar aos espíritas para refletir maduramente antes de agir; em tal caso, manda a prudência o não referir-se à sua opinião pessoal. Hoje, que de todos os lados se formam grupos ou sociedades, nada é mais simples que se harmonizar antes de agir. O verdadeiro Espírita, não tendo em vista senão o bem da coisa sabe fazer abnegação do amor-próprio; crer em sua própria infalibilidade, recusar se render à opinião da maioria e persistir em um caminho que se demonstra mau e comprometedor, não é a postura de um verdadeiro espírita; isto seria fazer prova de orgulho se não for de fato uma obsessão.”
X X X
Allan Kardec não para de nos colocar em guarda contra as comunicações de certas categorias de Espíritos e nos recomenda a cada instante a sempre passar todos os seus ditados pelo cadinho da consciência e da razão.
Revista Espírita de 1863, pag. 75: Esses falsos sábios falam de tudo, reavivando os sistemas, criando utopias, ou ditando as coisas mais excêntricas, e ficam felizes de encontrar intérpretes complacentes e crédulos que aceitem suas elucubrações de olhos fechados. Esse tipo de publicações é inconveniente muito grave, porque o médium, tendo enganado a si mesmo, seduzido mais frequentemente por um nome apócrifo, as dá como coisas sérias; do que a crítica se apodera com empenho para denegrir o Espiritismo, ao passo que, com menos presunção, seria suficiente tomar conselhos de seus colegas para ser esclarecido. É muito raro que, nesse caso, o médium não ceda à injunção de um Espírito que quer – ai de mim! - como certos homens, de qualquer modo se impor; com mais experiência, saberia que os Espíritos verdadeiramente superiores aconselham, mas não se impõem nem nunca se envaidecem, e que toda prescrição imperiosa é um sinal suspeito.
Revista Espírita de 1863, pag. 159: Não se saberia pois, em relação à publicidade, trazer muita circunspecção, nem calcular com suficiente cuidado o efeito que pode ser produzido sobre o leitor. Em resumo, é um grave erro o se crer obrigado a publicar tudo que dizem os Espíritos, porque se os há bons e iluminados, os há maus e ignorantes; é importante fazer uma escolha muito rigorosa de suas comunicações e de descartar tudo que é inútil, insignificante, falso ou de natureza a produzir uma má impressão. É preciso semear, sem dúvida, mas semear os bons grãos e no momento oportuno. É nesse tipo de trabalho medianímico que notamos mais os sinais de obsessão, dos quais um dos mais frequentes é a injunção da parte do Espírito de fazê-los imprimir, e mais de um pensa erradamente que esta recomendação é suficiente para encontrar um editor empenhado de se encarregar disso.
Revista Espírita de 1863, pag. 158: Em toda obra mediúnica, convém primeiramente descartar tudo aquilo que, sendo de interesse privado, não interessa senão àquele que lhe concerne; depois, tudo aquilo que é vulgar pelo estilo dos pensadores, ou pueril pelo assunto; uma coisa pode ser excelente em si mesma, muito boa para fins de instrução pessoal, mas aquilo que deve chegar ao público exige condições especiais; infelizmente, o homem está inclinado a imaginar que tudo aquilo que lhe agrada deve agradar aos outros; o mais hábil pode se enganar; o que importa de tudo é se enganar o menos possível. Há Espíritos que se aprazem em manter essa ilusão junto a certos médiuns: é por isso que não seria excessivo recomendar a esses últimos de não se render em absoluto a seu próprio julgamento, e é nisso que os grupos são; úteis por causa da multiplicidade de pareceres que se permite recolher; aquele que, neste caso, recusasse a opinião da maioria, crendo ter mais luzes que todos, provaria de forma superabundante a má influência sob a qual se encontra.
Revista Espírita de 1864, pag. 323: É um fato constatado que o Espiritismo é mais entravado por aqueles que o compreendem mal do que por aqueles que não o compreendem de todo, e mesmo por seus inimigos declarados; e é de se notar que aqueles que o compreendem mal têm geralmente a pretensão de compreendê-lo melhor do que os outros; não é raro de ver novatos pretender, no fim de alguns meses, admoestar àqueles que têm experiência, por eles adquirida por estudos sérios. Essa pretensão, que trai o orgulho, é ela mesma uma prova evidente da ignorância dos verdadeiros princípios da Doutrina.
X X X
A um amador, muito crédulo, que se acreditava iludido por um médium assalariado, e que pedira a Allan Kardec que o entregasse à justiça dos homens, à espera que fosse punido pela de Deus, o mestre respondeu:
Revista Espírita de 1865, pag. 88: Lamento que você tenha podido pensar que eu serviria no que quer que seja, a seus desejos vingativos, tomando providências para levar os culpados à justiça. Isto sendo, você se equivoca singularmente sobre meu papel, meu caráter e minha compreensão dos verdadeiros interesses do Espiritismo. Se você é realmente, como você o diz, meu irmão em Deus, creia-me, implore Sua clemência e não Sua cólera; porque aquele que chama essa cólera sobre outro, corre o risco de fazê-la cair sobre si mesmo.
Revista Espírita de 1869, pag. 354: Esses fenômenos, trazidos à moda pelo atrativo da curiosidade, se tornaram uma diversão, e tentaram a cupidez das gentes sob o pretexto de que isso seria novidade, na esperança de encontrar uma porta aberta. As manifestações pareciam uma matéria maravilhosamente explorável, e mais de um sonhava em se fazer um auxiliar de tal indústria; outros viam uma variante da arte de adivinhação, um meio talvez mais seguro que a cartomancia, a borra de café, etc., para conhecer o porvir e descobrir as coisas ocultas, porque, segundo a opinião de então, os Espíritos deviam tudo saber. Desde que essa gente viu que a especulação escorregava de suas mãos e tendia à mistificação, que os Espíritos não vinham lhes ajudar a fazer fortuna, lhes dar os bons números de loteria, lhes ler a sorte verdadeira, lhes fazer descobrir tesouros ou recolher as heranças, lhes dar qualquer uma boa invenção frutuosa e patenteável, suprir a sua ignorância e lhes dispensar de todo trabalho intelectual e material, então os Espíritos não serviriam para nada, suas manifestações não seriam senão ilusões. Da mesma forma que eles haviam promovido o Espiritismo, enquanto que eles tiveram a esperança de lhe retirar um lucro qualquer, da mesma forma o denegriram quando veio o desapontamento. Mais de um crítico que o escarneceu o retrataria nas nuvens se lhe houvesse feito descobrir um tio na América ou ganhar na Bolsa.
Revista Espírita de 1866, pag. 78: Diremos primeiramente que o Espiritismo não podia ser responsável pelos indivíduos que tomam indevidamente a qualidade de médium, não mais que a ciência verdadeira não é responsável pelos escamoteadores que se dizem físico. Um charlatão pode, pois dizer que opera com a ajuda de Espíritos, como um prestidigitador diz que opera com a ajuda psíquica; é um meio, como outro, de lançar poeira aos olhos; tanto pior para os que nisto se deixam prender. Em segundo lugar, o Espiritismo condena a exploração da mediunidade, como contrária aos princípios da Doutrina do ponto de vista moral, e demonstrando que não deve nem pode ser um ofício nem uma profissão; todo médium que não tire de sua faculdade algum lucro direto ou indireto, ostensivo ou dissimulado, descarta, por isso mesmo, até a suspeição de trapaça ou charlatanismo; desde que não seja solicitado por algum interesse material, o malabarismo seria sem propósito. O médium que compreende o que há de grave e de sagrado em um dom dessa natureza creria profaná-lo, ao fazê-lo servir às coisas mundanas para si e para os outros, ou se dele fizesse um objeto de divertimento e de curiosidade; respeita os Espíritos como quereria que se o respeitassem quando se tornar um Espírito, e não os colocaria em ostentação. Por outro lado, sabe que a mediunidade não pode ser um meio de adivinhação; que ela não pode descobrir os tesouros, as heranças, nem facilitar o êxito nas chances aleatórias, e não lê a sorte, nem por dinheiro nem por nada; então ela não terá jamais de desembaraçar-se com a justiça. Quanto à mediunidade de cura, ela existe, isto é certo; mas está subordinada a condições restritas, que excluem a possibilidade de se ter uma sala aberta às consultas, e sem suspeita de charlatanismo, é uma obra de devotamento e sacrifício, e não de especulação. Exercida com desinteresse, prudência e discernimento, e encerrada nos limites traçados pela Doutrina, ela não pode cair sob o golpe da lei. Em resumo, o médium, segundo os objetivos da Providência e do Espiritismo, quer seja artesão ou príncipe, porque dela há no palácio e nas choupanas, recebeu um mandato que cumpre religiosamente e com dignidade; não vê em sua faculdade senão um meio de glorificar Deus e de servir a seu próximo, e não um instrumento para servir seus interesses ou satisfazer sua vaidade; se faz estimar e respeitar por sua simplicidade, sua modéstia e sua abnegação, o que não é o fato com aqueles que procuram dela fazer um degrau.
Revista Espírita de 1867, pag. 300: O desinteresse material, que é um dos atributos essenciais da mediunidade curadora, será também uma das condições da medicina medianímica? Como então conciliar as exigências da profissão com uma abnegação absoluta? Isto demanda algumas explicações, porque não é o mesmo caso. A faculdade do médium curador não lhe custou nada; não exigiu dele nem estudo, nem trabalho, nem despesas; ele a recebeu gratuitamente para o bem de outro, e deve usá-la gratuitamente. Como precisa antes de tudo viver, se não tem, por si mesmo, recursos que o faça independente, deve procurar os meios no seu trabalho ordinário, como o havia feito antes de conhecer a mediunidade; ele não dá ao exercício de sua faculdade senão o tempo que lhe pode consagrar. Se toma esse tempo de seu repouso, e se emprega, para se tornar útil a seus semelhantes, o que seria consagrado às distrações mundanas, é por devotamento verdadeiro, e disso não tem senão mais mérito. Os Espíritos não lhe pedem mais, e não exigem nenhum sacrifício não razoável. Não se poderia considerar como devoção e abnegação o abandono de seu status para se entregar a um trabalho menos penoso e mais lucrativo. Na proteção que lhe concedem os Espíritos, aos quais não se pode impor, sabem perfeitamente distinguir os devotamentos reais dos devotamentos fictícios.
X X X
Fraudes Espíritas
Revista Espírita de 1859, pag. 94: De que há charlatães que vendem drogas em praças públicas, de que há mesmo médicos que, sem ir à praça pública, enganam a confiança alheia, se segue que todos os médicos são charlatães, e o corpo médico nisso seja atingido em nossa consideração? De que há gente que vende a tintura por vinho, se segue que todos os vendedores de vinho são fraudadores e que não há nenhum vinho puro? Se abusa de tudo, mesmo das coisas mais respeitáveis, e pode-se dizer que a fraude também tem o seu gênio. Mas a fraude tem sempre um propósito, um interesse material qualquer; onde não há nada a ganhar, não há nenhum interesse a enganar. Também dissemos, a propósito dos médiuns mercenários, que a melhor de todas as garantias é um desinteresse absoluto.
Revista Espírita de 1869, pag. 42: Estigmatizando a especulação, como nós o temos feito, temos a certeza de ter preservado a Doutrina de um verdadeiro perigo, perigo maior que a má vontade de seus antagonistas confessos, porque dela não restaria nada menos que seu descrédito; por isso mesmo, ela lhes teria oferecido um lado vulnerável, no entanto têm se detido ante a pureza de seus princípios. Não ignoramos que temos suscitado contra nós a animosidade dos especuladores, e que temos alienado seus participantes; mas que nos importa! Nosso dever é manter sob a mão a causa da Doutrina e não os interesses deles; e esse dever, nós o cumpriremos com perseverança e firmeza até o fim.
Revista Espírita de 1864, pag. 78: Mas não é somente contra cupidez que os médiuns devem se manter em guarda; como os há em todas as faixas da sociedade, a maior parte está sob essa tentação; mas há outro perigo, de outro modo bem grande, porque todos lhe estão expostos, que é o orgulho, onde se perde o maior número; é contra esse escolho que as mais belas faculdades vêm frequentemente se quebrar. O desinteresse material é sem proveito se não estiver acompanhado do mais completo desinteresse moral. Humildade, devotamento, desinteresse e abnegação são as qualidades do médium amado pelos bons Espíritos.
Revista Espírita de 1867, pag. 8: É preciso se figurar que estamos em guerra, que os inimigos estão à nossa porta, prestes a segurar a ocasião favorável, e que dirigem as inteligências no local. Nesta circunstância, que há a fazer? Uma coisa bastante simples: se restringir estritamente dentro do limite dos preceitos da Doutrina: se esforçar em demonstrar o que ela é por seu próprio exemplo, e declinar toda solidariedade com aquilo que poderia ser feito em seu nome que fosse de natureza a desacreditá-la, porque isso não costuma ser o feito de adeptos sérios e convictos. Não basta se dizer espírita: aquele que o é de coração o prova por seus atos. A Doutrina, não pregando senão o bem, o respeito às leis, a caridade, a tolerância e a benevolência com todos; repudiando toda violência feita à consciência do outro, todo charlatanismo, todo pensamento interesseiro no que concerne às relações com os Espíritos, e toda coisa contrária à moral evangélica, aquele que não se afasta da linha traçada não pode incorrer em nenhuma censura justa, ou demandas legais; bem mais que isso, quem toma a Doutrina por regra de conduta, não pode senão se conciliar à estima e à consideração das pessoas imparciais; diante do bem, até mesmo a incredulidade zombeteira se inclina, e a calúnia não pode sujar aquele que é sem mancha. É dentro dessas condições que o Espiritismo atravessará os temporais que se amontoam sobre sua rota e que sairá triunfante de todas as lutas.
Revista Espírita de 1864, pag. 5: A situação do Espiritismo em 1863 pode se resumir assim: ataques violentos, multiplicação dos escritos contra e a favor; movimentação das ideias, expansão notável da Doutrina, mais sinais exteriores de natureza a produzir uma sensação geral, as raízes se estendem, produzem brotos, à espera que a árvore desdobre seus ramos. O momento de sua maturidade ainda não chegou.
Revista Espírita de 1864, pag. 3: A moderação dos espíritas é o que assombra e contraria mais seus adversários; tentarão tudo para fazê-los dela sair, mesmo a provocação; mas saberão frustrar essas manobras por sua prudência, como já fizeram em mais de uma ocasião, e não caíram nas ciladas que se lhes prepararam; verão, aliás, os instigadores se prenderem em seus próprios laços, porque é impossível que cedo ou tarde não revelem seus propósitos. Este é um momento mais difícil de passar do que aquele da guerra aberta, onde se vê o inimigo face a face: mas por mais rude seja prova, maior será o triunfo. De resto, essa campanha teve um imenso resultado, o de provar a impotência das armas dirigidas contra o Espiritismo; os homens mais capazes do partido oposto entraram em liça; todos os recursos de argumentação têm sido desdobrados e, nada tendo sofrido o Espiritismo, cada um saiu convicto de que não se poderia lhe opor nenhuma razão peremptória, e a maior prova da penúria de boas razões é que se recorreu ao triste e ignóbil recurso da calúnia; mas aparentando uma boa vontade, pretendeu-se que o Espiritismo dissesse o contrário daquilo que ele diz: a Doutrina está lá, escrita em termos tão claros que desafiam toda falsa interpretação, é assim que a odiosidade da calúnia recai sobre aqueles que a empregam e os convence da sua impotência.
Revista Espírita de 1864, pag. 198: A oposição que se faz a uma ideia está sempre em razão de sua importância; se o Espiritismo tivesse sido uma utopia, dele não se teria ocupado mais do que de tantas outras teorias; a animosidade da luta é um índice certo que se o toma a sério. Mas se há luta entre o Espiritismo e o clero, a história dirá quem têm sido os agressores. Os ataques e as calúnias de que tem sido objeto o forçaram a devolver as armas que se lhe lançaram e mostrar o lado vulnerável de seus adversários. Isto, importunando-os, deteve sua marcha? Não, este é um fato aceito. Se os tivéssemos deixado quietos, o nome mesmo do clero não teria sido pronunciado, e talvez eles tivesse ganhado. Atacando-os em nome dos dogmas da Igreja, foram forçados a discutir o valor das objeções, e por isso mesmo a entrar num terreno que não tinham a intenção de abordar. A missão do Espiritismo é de combater a incredulidade pela evidência dos fatos, de conduzir a Deus aqueles que o desconhecem, de provar o porvir àqueles que não creem em nada; por que então a Igreja joga anátemas àqueles a quem ele dá essa fé, ainda mais quando não criam em nada? Rejeitar aqueles que creem em Deus e em sua alma, é constrangê-los a procurar um refúgio fora da Igreja. Quem, primeiramente, proclamou que o Espiritismo era uma nova religião, com seu culto e seus padres, senão os clérigos? Onde você vê, até o presente, o culto e os padres do Espiritismo? Se algum dia se tornar uma religião, é o clero quem o terá provocado
X X X
Não tendo o auto de fé de Barcelona saciado o ódio do clero contra o Espiritismo e os espíritas, a Congregação de Roma colocou no “Índex” O Livro dos Espíritos, O Livro dos Médiuns, e A Imitação do Evangelho Segundo o Espiritismo. Longe de se entristecer com esta nova prova de intolerância clerical, Allan Kardec se alegrou:
Revista Espírita de 1864, pag. 217: Qualquer que seja a razão, os livros espíritas foram colocados no “Índex”. Tanto melhor! Porque muitos daqueles que ainda não os leram os devorarão; tanto melhor! Porque de dez pessoas que os folhearem, pelo menos sete ficarão convencidas, ou fortemente abaladas e desejosas de estudar os fenômenos espíritas; tanto melhor! Porque nossos adversários mesmos, vendo que seus esforços não chegam senão a resultados diametralmente contrários aos que esperavam se reunirão a nós, se possuem a sinceridade, o desinteresse e as luzes que seu ministério comporta. Assim o quer, aliás, a lei de Deus; nada no mundo pode permanecer eternamente estacionário, mas tudo progride, e a ideia religiosa deve seguir o progresso geral se não quiser desaparecer.
Revista Espírita de 1865, pag. 187: Jamais uma Doutrina filosófica dos tempos modernos causou tanta comoção quanto o Espiritismo, jamais alguma tem sido atacada com tanta animosidade; esta a prova evidente de que se lhe reconhece mais vitalidade e raízes mais profundas que às outras, porque não se pega um enxadão para se arrancar uma haste de erva. Os espíritas, longe de se espantarem, devem se alegrar, pois isso prova a importância e a verdade da Doutrina. Se ela não fosse senão uma ideia efêmera e sem consistência, uma mosca que voa, não se lhe atiraria projéteis de artilharia; se fosse falsa, se lhe bateria intensamente com argumentos sólidos que teriam já triunfado; mas desde que nenhum daqueles que se lhe opuseram, a puderam deter, é porque ninguém encontrou defeito na couraça; não foi, no entanto, nem o talento nem a boa vontade que faltaram a seus antagonistas.
Revista Espírita de 1865, pag. 190: O Espiritismo marcha através de numerosos adversários que, não o tendo podido pegar pela força, tentam pegá-lo pela astúcia; eles se insinuam por toda parte, sob todas as máscaras, e até nas reuniões íntimas, na esperança de surpreender um fato ou uma palavra que frequentemente eles houveram provocado, e que esperam explorar em seu benefício. Comprometer o Espiritismo e torná-lo ridículo, tal é a tática por meio da qual esperam, a princípio, desacreditá-lo, para ter mais tarde um pretexto de interditar, se isso for possível, seu exercício público. Esta é a armadilha contra a qual é preciso estar em guarda, porque é armada de todos os lados, e à qual, sem o saber, dão a mão aqueles que se deixam levar pelas sugestões dos Espíritos zombeteiros e mistificadores.
Revista Espírita de 1869, pag. 357: Trabalhemos para compreender, para crescer nossa inteligência e nosso coração; lutemos com os outros; mas lutemos com caridade e abnegação. Que o amor ao próximo, inscrito sobre nossa bandeira, seja nossa divisa: a pesquisa e a verdade, de qualquer parte que ela venha, nosso propósito único! Com tais sentimentos, desafiemos as zombarias de nossos adversários e as investidas de nossos competidores. Se nos enganamos, não tenhamos o tolo amor próprio de nos obstinar nas ideias falsas; mas estamos certos de que há princípios sobre os quais jamais podemos nos enganar: é o amor ao bem, a abnegação, a abjuração de todo sentimento de inveja e ciúme. Esses princípios são os nossos; vemos neles o laço que deve unir todos os homens de bem, qualquer que seja a divergência de sua opinião; somente entre eles o egoísmo e a má fé colocam barreiras intransponíveis. Mas qual será a consequência desse estado de coisas? Sem contradita, os conluios dos falsos frades poderão trazer momentaneamente algumas perturbações parciais. Por isso é preciso fazer todos os esforços para frustrá-los tanto quanto possível. Mas, necessariamente, não o farão senão por um tempo e não poderão ser prejudiciais para o porvir: primeiramente porque são uma manobra da oposição que cairá pela força das coisas; por outro, qualquer que seja que digam e que façam, não poderão suprimir da Doutrina seu caráter distintivo: sua filosofia racional é lógica, sua moral consoladora e regeneradora. Hoje, as bases do Espiritismo estão colocadas de uma maneira inabalável; os livros escritos sem equívocos e colocados à disposição de todas as inteligências serão sempre a expressão clara e exata do ensino dos Espíritos e, transmitirão intacta àqueles que virão depois de nós. Não precisamos perder de vista que estamos em um momento de transição, e que nenhuma transição se opera sem conflito. Não é preciso, pois se admirar de ver se agitarem certas paixões; as ambições, os compromissos, os interesses contrariados, as pretensões decepcionadas; mas pouco a pouco tudo isso se extingue, a febre se acalma, os homens passam e as novas ideias permanecem. Espíritas, se querem ser invencíveis, sejam benevolentes e caridosos; o bem é uma couraça contra a qual sempre vêm se quebrar as manobras da malevolência.
Revista Espírita de 1865, pag. 264: Por ora façamos o maior bem possível com ajuda do Espiritismo: façamo-lo mesmo a nossos inimigos; ser pagos com a ingratidão é o melhor meio de vencer certas resistências e de provar que o Espiritismo não é tão negro como alguns o pretendem.
Revista Espírita de 1864, pag. 326: O Espiritismo; repito, em demonstrando, não por hipótese, mas por fatos, a existência de um mundo invisível e o porvir que nos espera, muda totalmente o curso das ideias; dá ao homem a força moral, a coragem e a resignação, porque não trabalha mais somente para o presente, mas para o futuro; sabe que se não desfruta hoje, desfrutará amanhã. Demonstrando a ação do elemento espiritual sobre o mundo material, amplia o domínio da ciência e abre, por isso mesmo, uma nova via ao progresso material. O homem terá então uma base sólida para o estabelecimento da ordem moral sobre a Terra; compreenderá melhor a solidariedade que existe entre os seres deste mundo, posto que esta solidariedade se perpetue indefinidamente; a fraternidade não é uma palavra vã; ela destrói o egoísmo em lugar de ser destruído por ele e, muito naturalmente, o homem imbuído dessas ideias conformará a elas suas leis e suas instituições sociais.
Revista Espírita de 1864, pag. 26: A caridade e a fraternidade se reconhecem por suas obras e não por suas palavras; é uma medida da apreciação de que não se pode enganar senão aqueles que se cegam com seus próprios méritos, mas não aos terceiros desinteressados; é a pedra de toque à qual se reconhece a sinceridade dos sentimentos; e quando se fala de caridade, em Espiritismo, se sabe que não se trata só daquela que dá, mas também e, sobretudo daquela que esquece e perdoa, que é benevolente e indulgente, que repudia todo sentimento de ciúme e de rancor. Toda reunião espírita que não estiver fundamentada sobre o princípio da verdadeira caridade, será mais nociva que útil à causa, porque tenderá a dividir em vez de reunir, levando, além disso, em si mesma, seu elemento destruidor. Nossas simpatias pessoais serão então sempre cedidas a todos aqueles que provarem, por seus atos, o bom espírito que os anima, porque os bons Espíritos não podem inspirar senão o bem.
Revista Espírita de 1867, pag. 278: Um último caráter da revelação espírita, e que ressalta das condições mesmas nas quais foi feita, é que, apoiando-se sobre os fatos, ela não pode ser senão essencialmente progressiva, como todas as ciências de observação. Por sua essência, contrai aliança com a ciência que, sendo a exposição das leis da natureza, em certa ordem dos fatos, não pode ser contrária à vontade de Deus, o autor dessas leis. As descobertas da ciência glorificam a Deus em lugar de rebaixá-lo, elas não destroem senão o que os homens têm construído sobre as ideias falsas que se tem feito de Deus. O Espiritismo não coloca então, como princípio absoluto, senão aquilo que é demonstrado pela evidência, ou que ressalta logicamente da observação. Tocando em todos os ramos da economia social, aos quais prestou o apoio de suas próprias descobertas, assimilará sempre todas as doutrinas progressivas, de qualquer ordem que elas sejam, chegadas ao estado de verdades práticas, e saídas do domínio da utopia, sem isso se suicidaria; em cessando de ser o que ele é, mentiria à sua origem e ao seu objetivo providencial. O Espiritismo, marchando com o progresso, não será jamais ultrapassado, porque, se novas descobertas lhe mostrarem que está em erro sobre um ponto, ele se modificará nesse ponto; se uma nova verdade se revela, ele a aceita.
Revista Espírita de 1869, pag. 258: O Espiritismo não é mais solidário com aqueles que prazam em se dizerem espíritas, do que a medicina o é com os charlatães que a exploram, nem do que a saudável religião o é com os abusos ou mesmo com os crimes cometidos em seu nome. Não reconhece por seus adeptos senão os que colocam em prática seus ensinamentos, isto é, que trabalham para sua própria melhora moral, esforçando-se em vencer suas más inclinações, ser menos egoístas e menos orgulhosos, mais doces, mais humildes, mais pacientes, mais benevolentes, mais caridosos para com o próximo, mais moderados em todas as questões, porque este é o sinal característico do verdadeiro Espírita.
Revista Espírita de 1869, pag. 25: O conhecimento das leis que regem o princípio espiritual se relaciona de uma maneira direta à questão do passado e do porvir do Homem. Sua vida está limitada à existência atual? Entrando neste mundo sai ele do nada, e reentra no nada ao deixá-lo? Já tinha vivido antes e viverá outra vez? Como viverá e em que condições? Em uma palavra, de onde veio e para onde irá? Por que está sobre a Terra e por que sofre? Tais são as questões que cada um se põe porque têm, para todo mundo, um interesse capital, e que nenhuma doutrina deu ainda uma solução racional. Isto que dá o Espiritismo, apoiado em fatos, satisfazendo às exigências da lógica e da justiça mais rigorosa, é uma das causas principais da rapidez de sua propagação. O Espiritismo não é uma concepção pessoal nem o resultado de um sistema preconcebido. É a resultante de milhares de observações feitas em todos os pontos do globo e que convergem para o centro que os colige e coordena. Todos os seus princípios constituintes, sem exceção, são deduzidos da experiência. A experiência sempre tem precedido a teoria. O Espiritismo, assim se pensa, desde seu início, tem raízes por toda parte; a história não oferece nenhum exemplo de uma doutrina filosófica ou religiosa que tenha, em dez anos, reunido um tão grande número de adeptos; e, entretanto não empregou, para se fazer conhecer, nenhum dos métodos vulgarmente em uso; propagou-se por si mesma, pelos simpatizantes que encontrou. É ainda evidente que a propagação do Espiritismo seguiu, desde sua origem, uma marcha constantemente ascendente, malgrado tudo que se fez para entravá-lo e desnaturar seu caráter, visando desacreditá-lo na opinião pública. É mesmo notável que tudo que se fez com esse propósito lhe favoreceu a difusão; o barulho que foi feito na ocasião levou as pessoas, que nunca haviam escutado dele falar, a conhecerem-no; quanto mais se o há difamado ou ridicularizado, quanto mais as declamações tenham sido violentas, mais se instigou a curiosidade; e como só podia sair ganhando no exame, resultou que seus adversários se fizeram, sem o querer, os seus ardentes propagadores; se as diatribes não lhe trouxeram nenhum prejuízo, foi porque, estudando-o em sua fonte verdadeira, se encontrou tudo diferente daquilo que havia sido sustentado. Na luta que sustentou, as pessoas imparciais constataram sua moderação: nunca usou de represálias contra os seus adversários nem devolveu injúria com injúria. O Espiritismo é uma Doutrina filosófica que tem consequências religiosas, como toda filosofia espiritual; por isso mesmo, toca nas bases fundamentais de todas as religiões: Deus, a alma e a vida futura; mas não é neste ponto uma religião constituída, visto que não há culto, nem rituais, nem templo, e que, entre seus adeptos, não há nenhum padre ou bispo. Essas qualificações são pura invenção da crítica. Só é espírita quem simpatiza com os princípios da Doutrina, e quem nela conforma sua conduta. É uma opinião, como qualquer outra, que cada um deve ter o direito de professar, como se o tem de ser judeu, católico, protestante, fourierista, sansimoniano, voltariano, cartesiano, deísta e mesmo materialista. O Espiritismo proclama a liberdade de consciência como um direito natural, e a reclama para os seus como para todo o mundo. Respeita todas as convicções sinceras, e demanda para si a reciprocidade. Da liberdade de consciência decorre o direito ao livre exame em matéria de fé. O espiritismo combate o princípio da fé cega, que impõe ao homem a abdicação de seu próprio julgamento; diz que toda fé imposta é sem raiz. É por isso que inscreveu na lista de suas máximas: “Não há fé inabalável senão aquela que pode enfrentar a razão face a face em todas as épocas da humanidade.” Consequente com seus princípios, o Espiritismo não se impõe a ninguém; ele quer ser aceito livremente e por convicção. Expõe suas doutrinas e recebe aqueles que veem a ele voluntariamente. Não procura tirar ninguém de suas convicções religiosas; não se dirige àqueles que têm uma fé e a quem essa fé satisfaz, mas àqueles que, não estando satisfeitos do que se lhes foi dado, procuram qualquer coisa melhor.
X X X
Para completar este estudo sobre Allan Kardec e sua obra, e precisar o propósito que o mestre queria assinar ao Espiritismo, cremos ser útil reproduzir, para terminar, as passagens seguintes do último capítulo de A Gênese – “Os tempos são chegados”:
A Gênese ponto 14 item 1: A vida espiritual é a vida normal e eterna do Espírito, e a encarnação não é senão uma forma temporária de sua existência. Exceto pela vestimenta exterior, há, pois, identidade entre os encarnados e os desencarnados; são as mesmas individualidades sob dois aspectos diferentes, pertencendo tanto ao mundo visível, quanto ao mundo invisível, se reencontrando seja num, seja no outro, convergindo num e no outro ao mesmo propósito, pelos meios apropriados à sua situação. Desta lei decorre aquela da perpetuidade da relação entre os seres; a morte não os separa e não dá término às suas relações simpáticas nem aos seus deveres recíprocos. Daí a SOLIDARIEDADE do todos por um, e de um por todos, daí também a FRATERNIDADE. Os homens não viverão felizes sobre a Terra senão quando esses dois sentimentos tiverem entrado em seus corações e nos seus costumes, porque então o conformarão a suas leis e suas instituições. Isto será um dos principais resultados da transformação que se opera. Mas como conciliar os deveres de solidariedade e da fraternidade com a crença de que a morte tornaria todos os homens estranhos uns aos outros? Pela lei da perpetuidade das relações que une todos os seres, o Espiritismo funda este duplo princípio sobre as próprias leis da natureza. Ele fez disso não só um dever, mas uma necessidade. Por aquela da pluralidade das existências, o homem se relaciona a tudo que fez e a tudo que fará aos homens do passado e aos homens do porvir; não pode mais dizer que não tem nada em comum com aqueles que morreram, uma vez que uns e outros se reencontram sem cessar, neste mundo e no outro, para ascenderem juntos a escada do progresso e se prestarem um apoio mútuo. A fraternidade não é mais circunscrita a alguns indivíduos que o acaso reúne durante a duração efêmera da vida; ela é perpétua como a vida do Espírito, universal como a humanidade, que constitui uma grande família em que todos os membros são solidários uns aos outros, qualquer que seja a época na qual morreram. Tais são as ideias que ressaltam do Espiritismo, e que ele suscitará entre todos os homens quando estiver universalmente disseminado, compreendido, ensinado e praticado. Com o Espiritismo, a fraternidade, sinônima da caridade pregada pelo Cristo, não é mais uma palavra vã; ela tem sua razão de ser. Do sentimento da fraternidade nasce aquele da reciprocidade e dos deveres sociais, de homem a homem, de pessoa a pessoa, de raça a raça; estes dois sentimentos bem compreendidos forçosamente farão as instituições mais proveitosas ao bem estar de todos.
A Gênese ponto 15 A fraternidade deve ser a pedra angular da nova ordem social; mas, não há fraternidade real, sólida, efetiva, se não estiver assentada sobre uma base inabalável; essa base é a fé, não a fé em tais ou tais dogmas particulares, que mudam com os tempos e os povos e que se apedrejam mutuamente, porque, em se anatematizando, alimentam o antagonismo; mas a fé nos princípios fundamentais que todo o mundo pode aceitar: Deus, a alma, o porvir, O PROGRESSO INDIVIDUAL, INDEFINIDO, A PERPETUIDADE DAS RELAÇÕES ENTRE OS SERES. Quando todos os homens estiverem convencidos de que Deus é o mesmo para todos, de que esse Deus, soberanamente justo e bom, não pode querer nada de injusto, que o mal vem dos homens e não dele se considerarão como os filhos do mesmo Pai e se estenderão as mãos. Essa a fé que o Espiritismo dá, e que será daqui por diante o eixo em torno do qual girará o gênero humano, quaisquer que sejam seus modos de adoração e suas crenças particulares, que o Espiritismo respeita, mas de que não se ocupa. Somente desta fé pode sair o verdadeiro progresso moral, porque somente ela oferece uma sanção lógica aos direitos legítimos e aos deveres; sem ela, o direito é determinado pela força; o dever, um código humano imposto pela pressão. Sem ela que é o homem? Um pouco de matéria que se dissolve, um ser efêmero que só passa; mesmo o gênio não é mais que uma chama que brilha um instante para se extinguir para sempre; não há, certamente, motivo para valorizá-lo, aos seus próprios olhos. Com tal pensamento, onde estão realmente os direitos e os deveres? Qual é o objetivo do progresso? Somente essa fé fez o homem sentir sua dignidade pela perpetuidade da progressão de seu ser, não em um porvir mesquinho e circunscrito à personalidade, mas grandioso e esplêndido: esse pensamento o eleva acima da Terra; ele se sente crescer sonhando que possui sua parte no universo; que esse universo é seu domínio que ele poderá percorrer um dia, e que a morte não fará dele uma nulidade, ou um ser inútil a si mesmo e aos outros. O progresso intelectual, realizado até este dia nas mais largas proporções, é um grande passo, e marca uma primeira fase da Humanidade; mas sozinho é impotente para regenerá-la; enquanto o homem estiver dominado pelo orgulho e o egoísmo, utilizará sua inteligência e seus conhecimentos para proveito de suas paixões e de seus interesses pessoais; por isso que os aplica no aperfeiçoamento de meios de prejudicar os outros e de se destruir entre si.
SOMENTE O PROGRESSO MORAL PODE ASSEGURAR AOS HOMENS A FELICIDADE NA TERRA, COLOCANDO UM FREIO ÀS PAIXÕES MÁS; SOMENTE ELA PODE FAZER REINAR ENTRE OS HOMENS A CONCÓRDIA, A PAZ, A FRATERNIDADE.




Conselhos, Reflexões e Máximas de Allan Kardec, Traduzido por Paulo A. Ferreira.
     ( Conseils, reflexions et  Maximes d’Allan Kardec,  editado por Le Centre Spirite Lionnais Allan Kardec)

terça-feira, 17 de maio de 2016

GLÂNDULAS


GLÂNDULAS

PINEAL
Para o filosofo René Descartes, a glândula pineal era a sede da alma. Para o senhor, conversando conosco no século XX, no tocante ao espírito, qual é a função da epífise?
- É quase a mesma coisa. Descartes; teve como que uma visão de parte da verdade, porquanto o ser humano tem na glândula pineal potente antena, em se falando das comunicações entre o Céu e a Terra. Se ela fosse vista em um médium espírita, em alta função evangélica, seria qual uma lâmpada acesa dentro da cabeça humana, de grande receptividade; no entanto, seu trabalho não é só esse; entra na emaranhada conexão com a pituitária e outros centros  sensíveis, que transformam as micro-ondas do comunicante em palavras e imagens, filtradas pelo espírito encarnado, e expressam-se na mensagem falada ou escrita, de maneira deslumbrante e feliz. Se a podemos chamar de sede da alma, transportemos para o córtex cerebral o centro energético de mais alta sensibilidade do corpo, como sendo o ninho do espírito, e esse, a ave de Deus.

HIPOCAMPO
Será o hipocampo da linguagem cientifica o que os espiritualistas chamam de inconsciente e consciente?
- Não. O consciente, o inconsciente e a consciência profunda são regiões estruturadas por Deus, na formação congênita do espírito, que se perdem na noite do tempo, para nós outros inconcebíveis. Se quiseres conhecer o espírito nas suas mínimas particularidades, haverás de conhecer o criador. No entanto, a avenida da evolução, para todos os seres, é livre. Poderemos pesquisar deduzir, aceitar e refutar, sem perder o amor que o Senhor tem a todos nós. O aprendizado metódico e seguro é a nossa meta. A alma, na sutileza de sua intimidade, registra com o perpassar dos evos o que fazemos e intentamos fazer, e a borracha do tempo é que força o espírito a tomar o verdadeiro caminho; limpará o errado, deixando somente o verdadeiro, para que possa servir de luz em todos os caminhos a percorrer, como conquista da chama imortal, filha de Deus. O hipocampo, da linguagem do mundo, apenas registra efeito pálido da realidade, como instrumental físico que serve ao espírito, na experiência da Terra.
Esperamos que o super-homem do futuro possa usar de todo o arquivo da consciência profunda, sem perda ara o consciente, quando lhe aprouver, pois a ele pertence aquilo que ele mesmo acumulou através de reencarnações sucessivas e em vivencias iluminadas das leis de Deus, enquanto o que fez fora delas, o próprio tempo se encarregou de destruir, pela magia da dor e pelas sábias colisões dos problemas.




Livro: Favos de Luz, psicografia de João Nunes Maia / ditado pelo Espírito Miramez, Editora Espírita Cristã Fonte Viva, Questões 06 e 07.

segunda-feira, 16 de maio de 2016

TOLERÂNCIA

TOLERÂNCIA

“Ele, porém, respondeu: senhor, deixa-a ainda este ano, até que eu escave ao redor dela, e lhe ponha adubo”.
 Lucas 
Cap. 13, v. 8.
Onde não existe a tolerância, desaparece por completo a esperança, e a caridade fica impedida de confortar os corações.
Cada um de nós representa uma figueira na imensa vinha de Deus, onde temos direitos e deveres. Fomos plantados no meio cósmico, para crescer e frutificar, pelos nossos próprios esforços, embora as bênçãos exteriores do agricultor divino nunca faltem.
O dono da vinha criou as leis com base nas funções da própria vida, e seus filhos maiores inspecionam o plantio da verdade, em todos os campos de germinação. Trazendo em seus corações a pureza do amor, em forma de variadas virtudes, os mensageiros divinos estruturaram, por ordem da Grande Luz, um reino que servisse de sustentáculo aos homens nas suas fraquezas, nas suas dores, nos seus conflitos. Esse recanto divino, mesmo no chão do mundo, tem o nome de Evangelho.
As leis representam juízes severos, mas justiceiros. Os filhos maiores, cheios de tolerância, e amor, imbuídos de misericórdia e plenos de discernimento, fazem o papel de reguladores de forças. Dão a cada um a quantidade que ele possa assimilar, sem se perturbar; absorver, sem se abater: apreender, sem se transtornar. A própria psicologia nos ensina que é sofrendo que a alma se torna mansa; é a dor que a faz amar com desapego; é o padecimento que a faz meditar com mais profundidade, na vida que leva e na morte que vem.
Eis porque, não deixamos de lembrar aos irmãos estudiosos que, quando a lei do retorno atinge um ser, a misericórdia não o esquece; a tolerância dos céus aproxima-se do seu coração. Não existe magia mais poderosa que a dor, para alargar a visão do espírito, possibilitando-lhe sentir Deus, amar a Deus, e buscar a Deus.
Cristo, regulador da lei do Senhor na Terra, Mestre por excelência e jardineiro da Divindade, narra a parir bola da figueira estéril, plantada em uma vinha, cujo dono, não encontrando o fruto desejado, intentou cortar. Mas o dedicado responsável pela vinha, com os poderes do amor, revestido da soberania imperturbável da tolerância, faz cumprir sua augusta missão de controlador da vida, servindo-se da própria vontade do Criador de todas as coisas.
A lei age sobre todos nós com uma justiça implacável, mas tolerante. Suponhamos por exemplo que um título por nós assinado, com data certa de vencimento, não possa ser pago à época aprazada. A intervenção de alguém que nos ama, e que possui condições para interceder por nós, conseguindo uma moratória em boas condições, representa a tolerância da vida para conosco, os filhos de Deus.
Como já dissemos, somos as figueiras na grande vinha de Deus, o Senhor Justiceiro, que criou a lei dos reinos todos. E Cristo, o filho maior é o jardineiro compassivo que, ao cuidar das plantas com toda a dedicação, nota que alguns estão sendo atacados pela própria natureza; interfere, com seus recursos, solicitando mais tempo e novas oportunidades para as figueiras humanas, na esperança de que elas possam vir a dar frutos, nessa mesma existência. Quando não consegue este resultado. plasma, em sua mais íntima estrutura, o amor, que servirá de alicerce para novas etapas.
Em todos os bastidores da vida, Deus estatuiu a lei justiceira. Mas, ao lado dela, com todos os poderes, colocou os filhos de seu coração, testificando amor e tolerância junto aos homens, a fim de que eles possam, assim, sentir a bondade do Pai celestial.
Se alguém te ofender, espera um pouco, e faz algo em beneficio dele que, de algum modo, também poderá ser útil a outros.
Se alguém só produz frutos corrompidos, ou está como a figueira estéril, tolera-o, como benfeitor, e aduba suas qualidades boas, na esperança de que, algum, dia, possa ele se incluir no grande pomar de Deus.
Se alguém torce a verdade, para que tu sofras, tolera em silêncio. Espera mais um pouco, e verás que amanhã estará tudo mudado.
Abençoemos nossos irmãos ignorantes e cuidemos deles com carinho, imbuídos de tolerância cristã. Se nos faltar algum ânimo, leiamos novamente esse versículo, que nos alegra, de forma especial:
“Ele, porém, respondeu: Senhor, deixa-a ainda este ano, até que eu escave ao redor dela, e lhe ponha adubo”.




Livro: Alguns ângulos dos ensinos do Mestre, psicografia de João Nunes Maia / ditado pelo Espírito Miramez , Editora O Consolador

segunda-feira, 9 de maio de 2016

SERIE BOA NOVA - FIDELIDADE A DEUS

FIDELIDADE A DEUS
Depois das primeiras prédicas de Jesus, respeito aos trabalhos ingentes que a edificação do d Deus existia dos seus discípulos, esboçou-se na fraterna comunidade um leve movimento e incompreensão. Que? Pois a Boa-Nova reclamaria tamanhos sacrifícios? Então o Senhor, que sondava o íntimo de seus companheiros diletos, os reuniu, uma noite, quando a turba os deixara a sós e já algumas horas haviam passado sobre o por do sol.
Interrogando-os vivamente, provocou a manifestação dos seus pensamentos e dúvidas mais íntimas. Após escutar-lhes as confidencias simples e sinceras, o Mestre ponderou:
– Na causa de Deus, a fidelidade deve ser uma das primeiras virtudes. Onde o filho e o pai que não desejem estabelecer, como ideal de união, a confiança integral e recíproca? Nós não podemos duvidar da fidelidade do Nosso Pai para conosco. Sua dedicação nos cerca os espíritos, desde o primeiro dia. Ainda não o conhecíamos e já ele nos amava. E, acaso, poderemos desdenhar a possibilidade da retribuição? Não seria repudiarmos o título de filhos amorosos, o fato de nos deixarmos absorver no afastamento, favorecendo a negação?
Como os discípulos o escutassem atento; bebendo-lhe os ensinos, o Mestre acrescentou:
– Tudo na vida tem o preço que lhe corresponde. Se vacilarem receosos ante as bênçãos o sacrifício e as alegrias do trabalho meditem nos tributos que a fidelidade ao mundo exige. O prazer não costuma cobrar do homem um imposto alto e doloroso? Quantos pagarão, em flagelações íntimas, o vaidoso e o avarento? Qual o prego que o mundo reclama ao gozador e ao mentiroso?
Ao clarão alvacento da Lua, como pai bondoso rodeado de seus filhinhos, Jesus reconheceu que os discípulos, diante das suas cariciosas perguntas, haviam transformado a atitude mental, como que iluminadas por súbito clarão.
Tìmidamente, Tiago, filho de Alceu, contou a história de um amigo que arruinara a saúde, por excessos nos prazeres condenáveis.
Tadeu falou de um conhecido que, depois de ganhar grande fortuna, se havia tornado avarento e mesquinho a ponto de privar-s do necessário, para multiplicar o número de suas moedas, acabando assassinado pelos ladrões.
Pedro recordou o caso de um pescador de sua intimidade, que sucumbira tràgicamente, por efeito de sua desmedida ambição.
Jesus, depois de ouvi-los, satisfeito, perguntou:
– Não achais enorme o tributo que o mundo exige dos que se apegam aos seus gozos e riquezas? Se o mundo pede tanto, porque não poderia Deus pedir-nos lealdade ao coração?
Trabalhamos agora pela instituição divina do seu reino na Terra; mas, desde quando estará o Pai trabalhando por nós? As interrogativas pairavam no espaço sem resposta dos discípulos, porque, acima de tudo, eles ouviam a que lhes dava o próprio coração. Do firmamento infinito os reflexos do luar se projetavam no lençol tranquilo do lago, dando a impressão de encantador caminho para o horizonte, aberto sobre as águas, por entre deslumbramentos de luz.
Enquanto os companheiros meditavam no que dissera Jesus, Tiago se lhe dirigiu, nestes termos:
– Mestre tem um amigo, de Corazin que vos ouviu a palavra santificante e desejava seguir-vos; porém, asseverou-me que o reino pregado pela vossa bondade está cheio de numerosos obstáculos, acrescentando que Deus deve mostrar-se a nós outros somente na Vitória e na ventura. Devo confessar que hesitei ante as suas observações, mas, agora, esclarecido pelos vossos ensinamentos, melhor vos compreendo e afirmo-vos que nunca esquecerei minha fidelidade ao reino!...
A voz do apóstolo, na sua confissão espontânea, se revelava tocada de entusiasmo doce e amigo e o Senhor, aproveitando a hora para a semeadura divina, exclamou bondoso:
– Tiago, nem todos podem compreender a verdade de uma só vez. Devemos considerar que o mundo está cheio de crentes que não entendem a proteção às céu, senão nos dias de tranquilidade e de triunfo. Nós, porém, que conhecemos a vontade suprema, temos que lhe seguir o roteiro. Não devemos pensar no Deus que concede, mas no Pai que educa; não no Deus que recompensa, sim no Pai que aperfeiçoa. Daí se segue que a nossa batalha pela redenção tem de ser perseverante e sem tréguas...
Nesse ínterim, todos os companheiros de apostolado, manifestando o interesse que os esclarecimentos da noite lhes causavam, se puseram a perguntar, com respeito e carinho.
– Mestre – exclamou um deles – não seria melhor fugirmos do mundo para, viver na incessante contemplação do reino?...
– Que diríamos do filho que se conservasse em perpétuo repouso, junto de seu pai que trabalha sem cessar, no labor da grande família? Respondeu Jesus.
– Mas, de que modo se há de viver como homem e como apóstolo do reino de Deus na face deste mundo. – inquiriu Tadeu.
– Em verdade – esclareceu o Messias – ninguém pode servir, simultaneamente, a dois senhores. Fora absurdo viver ao mesmo tempo para os prazeres condenáveis da Terra e para as virtudes sublimes do céu. O discípulo da Boa-Nova tem de servir a Deus, servindo à sua obra neste mundo. Ele sabe que se acha a laborar com muito esforço num grande campo, propriedade de seu Pai, que o observa com carinho e atenta com amor nos seus trabalhos.
Imaginemos que esse campo estivesse cheio de inimigos: por toda parte, vermes asquerosos, víboras peçonhentas, tratos de terra improdutiva. É certo que as farsas destruidoras reclamarão a indiferença e a submissão do filho de Deus; mas, o filho de coração fiel a seu Pai se lança ao trabalho com perseverança e boa vontade. Entrará em luta silenciosa com o meio, sofrer-lhe-á os tormentos com heroísmo espiritual, por amor do reino que traz no coração, plantará uma flor onde haja um espinho, abrirá uma senda; embora estreita, onde estejam em confusão os parasitos da Terra, cavará pacientemente, buscando as entranhas do solo para que surja uma gota d’água onde queime um deserto. Do íntimo desse trabalhador brotará sempre um cântico de alegria, porque Deus o ama e segue com atenção.
– Qual a primeira qualidade a cultivar no coração – perguntou um dos filhos de Zebedeu – para que nos sintamos plenamente identificados com a grandeza espiritual da tarefa?
– Acima de todas as coisas – respondeu o Mestre – é preciso ser fiel a Deus.
A pequena assembleia parecia altamente enlevada e satisfeita; mas, André inquiriu:
– Mestre, estes últimos dias, tenho-me sentido doente e receio não poder trabalhar como os demais companheiros. Como poderei ser fiel a Deus, estando enfermo?
– Ouvi. – Replicou o Senhor com certa ênfase.
– Nos dias de calma, é fácil provar-se fidelidade e confiança. Não se prova, porém, dedicação, verdadeiramente, senão nas horas tormentosas, em que tudo parece contrariar e perecer. O enfermo tem consigo diversas possibilidades de trabalhar para Nosso Pai, com mais altas probabilidades de êxito no serviço'. Tateando ou rastejando, busquemos servir ao Pai que está nos céus, porque em suas mãos divinas vive o Universo inteiro!...
“André, se algum dia teus olhos se fecharem para a luz da Terra, serve a Deus com a tua palavra e com os ouvidos; se ficares mudo toma, assim mesmo, a charrua, valendo-te das tuas mãos. Ainda que ficasses privado dos olhos e da palavra, das mãos e dos pés, poderias servir a Deus com a paciência e a coragem, porque a virtude é o verbo dessa fidelidade que nos conduzirá ao amor dos amores!”
O grupo dos apóstolos calara-se, impressionado, diante aquelas recomendações. O luar esplendia sobre as águas silenciosas. O mais leve ruído não traía o silêncio augusto da hora.
André chorava de emoção, enquanto os outros observavam a figura do Cristo, iluminada pelos clarões da Lua, deixando entrever um amoroso sorriso. Então, todos, impulsionados por soberana força interior, disseram, quase a um só tempo:
– Senhor, seremos fiéis!...
***
Jesus continuou a sorrir, como quem sabia a intensidade da luta a ser travada e conhecia a fragilidade das promessas humanas. Entretanto, do coração dos apóstolos jamais se apagou a lembrança daquela noite luminosa de Cafarnaum, aureolada pelo sentimento divino. Humilhados e perseguidos, crucificados na dor e esfolados vivos, souberam ser fiéis, através de todas as vicissitudes da Natureza, e, transformando suas angústias e seus trabalhos num cântico de glorificação, sob a eterna inspiração do Mestre renovaram a face do mundo.



Livro: Boa Nova, Psicografia Francisco C. Xavier, ditado pelo Espírito Irmão X (Humberto de Campos) , Ed FEB.

sexta-feira, 6 de maio de 2016

SERIE BOA NOVA - OS DISCÍPULOS

OS DISCÍPULOS
Frequentemente, era nas proximidades de Cafarnaum que o Mestre reunia a grande comunidade dos seus seguidores. Numerosas pessoas o aguardavam ao longo do caminho, ansiosas por lhe ouvirem a palavra instrutiva. Não tardou, porém, que ele compusesse o seu reduzido colégio de discípulos.
Depois de uma das suas pregações do novo reino, chamou os doze companheiros que, desde então, seriam os intérpretes de suas ações e de ensinos. Eram eles os homens mais humildes e simples do lago de Genesaré.
Pedro, André e Felipe eram filhos de Betsaida, de onde vinham igualmente Tiago e João, descendentes de Zebedeu. Levi, Tadeu e Tiago, filhos de Alfeu e sua esposa Cléofas, parenta de Maria, eram nazarenos e amavam a Jesus desde a infância, sendo muitas vezes chamados “os irmãos do Senhor”, à vista de suas profundas afinidades afetivas. Tomé descendia de um antigo pescador de Dalmanuta e Bartolomeu nascera de uma família laboriosa de Caná da Galiléia. Simão, mais tarde denominado “o Zelota”, deixara a sua terra de Canaan para dedicar-se à pescaria e somente um deles, Judas, destoava um pouco desse concerto, pois nascera em Iscariote e se consagrara ao pequeno comércio em Cafarnaum, onde vendia peixes e quinquilharias.
O reduzido grupo de companheiros do Messias experimentou a princípio certas dificuldades para harmonizar-se. Pequeninas contendas geravam a separatividade entre eles.
De vez em quando, o Mestre os surpreendia em discussões inúteis sobre qual deles seria o maior no reino de Deus: de outras vezes, desejavam saber qual, dentre todos, revelava sabedoria maior, no campo do Evangelho.
Levi continuava nos seus trabalhos da coletoria local, enquanto Judas prosseguia nos seus pequenos negócios, embora se reunissem diàriamente aos demais companheiros. Os dez outros viviam quase que constantemente com Jesus, junto às águas transparentes do Tiberíades, como se participassem de uma festa incessante de luz.
Iniciando-se, entretanto, o período de trabalhos ativos pela difusão da nova doutrina, o Mestre reuniu os doze em casa de Simão Pedro e lhes ministrou as primeiras instruções referentes ao grande apostolado.
***
De conformidade com a narrativa de Mateus, as recomendações iniciais do Messias aclaravam as normas de ação que os discípulos deviam seguir para as realizações que lhes competia concretizar.
– Amados – entrou Jesus a dizer-lhes, com mansidão extrema – não tornareis o caminho largo por onde anda toda gente, levada pelos interesses fáceis e inferiores; buscareis a estrada escabrosa e estreita dos sacrifícios pelo bem de todos. Também não penetrareis nos centros das discussões estéreis, à moda dos samaritanos, nos das contendas que nada aproveitam às edificações do verdadeiro reino nos corações com sincero esforço.
Ide antes em busca das ovelhas perdidas da casa de Nosso Pai, que se encontram em aflição e voluntàriamente desterradas de seu divino amor. Reuni convosco todos os que se encontram de coração angustiado e dizei-lhes, de minha parte, que é chegado o reino de Deus.
Trabalhe em curar os enfermos, limpar os leprosos, ressuscitar os que estão mortos nas sombras do crime ou das desilusões ingratas do mundo, esclareçam todos os espíritos que se encontram em trevas, dando de graça o que de graça vos é concedido.
Não exibais ouro ou prata em vossas vestimentas, porque o reino do céu reserva os mais belos tesouros para os simples.
Não ajunteis o supérfluo em alforges, túnicas ou alpercatas para o caminho, porque digno é o operário do seu sustento.
Em qualquer cidade ou aldeia onde entrardes buscai saber quem deseje aí os bens do céu, com sinceridade e devotamento a Deus, e reparti as bênçãos do Evangelho com os que sejam dignos, até que vos retireis.
Quando penetrardes nalguma casa, saudai-a com amor.
Se essa casa merecer as bênçãos de vossa dedicação, desça sobre ela a vossa paz; se, porém, não for digna, torne essa mesma paz aos vossos corações.
Se ninguém vos receber, nem desejar ouvir as vossas instruções, retirai-vos sacudindo o pó e vossos pés, isto é, sem conservardes nenhum rancor sem vos contaminardes da alheia iniquidade. Em verdade vos digo que dia virá em que menos rigor haverá para os grandes pecadores, do que para quantos procuram a Deus com os lábios da falsa crença, sem a sinceridade do coração.
É por essa razão que vos envio como ovelhas ao antro dos lobos, recomendando-vos a simplicidade das pombas e a prudência das serpentes Acautelai-vos, pois, dos homens, nossos irmãos, porque sereis entregues aos seus tribunais e sereis açoitados nos seus templos suntuosos, de onde está exilada a ideia de Deus.
Sereis conduzidos, como réus, à presença de governadores e reis, de tiranos e descrentes, a fim de testemunhardes a minha causa.
Mas, nos dias dolorosos da humilhação, não vos dê cuidado como haveis de falar, porque minha palavra estará convosco e sereis inspirados, quanto ao que houverdes de dizer.
Porque não somos nós, que falamos; o espírito amoroso de Nosso Pai é que fala em todos nós.
Nesses dias de sombra, em que se lutará no mundo por meu nome, o irmão entregará à morte o próprio irmão, o pai os filhos, espalhando-se nos caminhos o rastro sinistro dos lobos da iniquidade.
Os que me seguirem serão desprezados e odiados por minha causa, mas aquele que perseverar até ao fim, será salvo.
Quando, pois, fordes perseguidos numa cidade, transportai-vos para outra, porque em verdade vos afirmo que jamais estareis nos caminhos humanos sem que vos acompanhe o meu pensamento.
Se tendes de sofrer, considerai que também eu vim à Terra para dar o testemunho e não é o discípulo mais do que o mestre, nem o servo mais que o seu senhor.
Se o adversário da luz vai reunir contra mim as tentações e as zombarias, o ridículo e a crueldade, que não fará aos meus discípulos?
Todavia, sabeis que acima de tudo está o Nosso Pai e que, portanto, é preciso não temer, pois um dia, toda a verdade será revelada e todo o bem triunfará.
O que vos ensino em particular, difundi publicamente; porque o que agora escutais aos ouvidos será objeto de vossas pregações de cima dos telhados.
Trabalhai pelo reino de Deus e não temais os que matam o corpo, mas não podem aniquilar a alma ; temei antes os sentimentos malignos que mergulham o corpo e a alma no inferno da consciência.
Não se vendem dois passarinhos por um ceitil?
Entretanto, nenhum deles cai dos seus ninhos sem a vontade do nosso Pai. Até mesmo os cabelos de nossas cabeças estão contados.
Não temais, pois, porque um homem vale mais que muitos passarinhos.
Empregai-vos no amor do Evangelho e qualquer de vós que me confessar diante dos homens, eu o confessarei igualmente diante de meu Pai que está nos céus.
***
As recomendações de Jesus foram ouvidas ainda por algum tempo e, terminada a sua alocução, no semblante de todos perpassava a nota íntima da alegria e da esperança. Os apóstolos criam contemplar o glorioso porvir do Evangelho do Reino e estremeciam do júbilo de seus corações.
Foi quando Judas Iscariotes, como que despertando, antes de todos os companheiros, daquelas profundas emoções de encantamento, se adiantou para o Messias, declarando em termos respeitosos e resolutos:
– Senhor, os vossos planos são justos e preciosos; entretanto, é razoável considerarmos que nada poderemos edificar sem a contribuição de algum dinheiro.
Jesus contemplou-o serenamente e redarguiu:
– Será que Deus precisou das riquezas precárias para construir as belezas do mundo?
Em mãos que saibam dominá-lo, o dinheiro é um instrumento útil, mas nunca será tudo, porque, acima dos tesouros perecíveis, está o amor com os seus infinitos recursos.
Em meio da surpresa geral, Jesus, depois de uma pausa, continuou:
– No entanto, Judas, embora eu não tenha qualquer moeda do mundo, não posso desprezar o primeiro alvitre dos que contribuirão comigo para a edificação do reino de meu Pai, no espírito das criaturas. Põe em prática a tua lembrança, mas tem cuidado com a tentação das posses materiais. Organiza a tua bolsa de cooperação e guarda-a contigo; nunca, porém, procures o que ultrapassa o necessário.
Ali mesmo, pretextando a necessidade de incentivar os movimentos iniciais da grande causa, o filho de Iscariotes fez a primeira coleta entre os discípulos. Todas as possibilidades eram mínimas, mais alguns pobres denários foram recolhidos com interesse. O Mestre observava a execução daquela primeira providência com um sorriso cheio de apreensões enquanto Judas guardava cuidadosamente o fruto modesto de sua lembrança material.
Em seguida, apresentando a Jesus a bolsa minúscula, que se perdia nas dobras de sua túnica, exclamou satisfeito.
– Senhor, a bolsa é pequenina, mas constitui o primeiro passo para que se possa realizai alguma coisa...
Jesus fitou-o serenamente e retrucou em tom profético
– Sim, Judas, a bolsa é pequenina; contudo, permita Deus que nunca sucumbas ao seu peso!





Livro: Boa Nova, Psicografia Francisco C. Xavier, ditado pelo Espírito Irmão X (Humberto de Campos) , Ed FEB.