sexta-feira, 6 de maio de 2016

SERIE BOA NOVA - OS DISCÍPULOS

OS DISCÍPULOS
Frequentemente, era nas proximidades de Cafarnaum que o Mestre reunia a grande comunidade dos seus seguidores. Numerosas pessoas o aguardavam ao longo do caminho, ansiosas por lhe ouvirem a palavra instrutiva. Não tardou, porém, que ele compusesse o seu reduzido colégio de discípulos.
Depois de uma das suas pregações do novo reino, chamou os doze companheiros que, desde então, seriam os intérpretes de suas ações e de ensinos. Eram eles os homens mais humildes e simples do lago de Genesaré.
Pedro, André e Felipe eram filhos de Betsaida, de onde vinham igualmente Tiago e João, descendentes de Zebedeu. Levi, Tadeu e Tiago, filhos de Alfeu e sua esposa Cléofas, parenta de Maria, eram nazarenos e amavam a Jesus desde a infância, sendo muitas vezes chamados “os irmãos do Senhor”, à vista de suas profundas afinidades afetivas. Tomé descendia de um antigo pescador de Dalmanuta e Bartolomeu nascera de uma família laboriosa de Caná da Galiléia. Simão, mais tarde denominado “o Zelota”, deixara a sua terra de Canaan para dedicar-se à pescaria e somente um deles, Judas, destoava um pouco desse concerto, pois nascera em Iscariote e se consagrara ao pequeno comércio em Cafarnaum, onde vendia peixes e quinquilharias.
O reduzido grupo de companheiros do Messias experimentou a princípio certas dificuldades para harmonizar-se. Pequeninas contendas geravam a separatividade entre eles.
De vez em quando, o Mestre os surpreendia em discussões inúteis sobre qual deles seria o maior no reino de Deus: de outras vezes, desejavam saber qual, dentre todos, revelava sabedoria maior, no campo do Evangelho.
Levi continuava nos seus trabalhos da coletoria local, enquanto Judas prosseguia nos seus pequenos negócios, embora se reunissem diàriamente aos demais companheiros. Os dez outros viviam quase que constantemente com Jesus, junto às águas transparentes do Tiberíades, como se participassem de uma festa incessante de luz.
Iniciando-se, entretanto, o período de trabalhos ativos pela difusão da nova doutrina, o Mestre reuniu os doze em casa de Simão Pedro e lhes ministrou as primeiras instruções referentes ao grande apostolado.
***
De conformidade com a narrativa de Mateus, as recomendações iniciais do Messias aclaravam as normas de ação que os discípulos deviam seguir para as realizações que lhes competia concretizar.
– Amados – entrou Jesus a dizer-lhes, com mansidão extrema – não tornareis o caminho largo por onde anda toda gente, levada pelos interesses fáceis e inferiores; buscareis a estrada escabrosa e estreita dos sacrifícios pelo bem de todos. Também não penetrareis nos centros das discussões estéreis, à moda dos samaritanos, nos das contendas que nada aproveitam às edificações do verdadeiro reino nos corações com sincero esforço.
Ide antes em busca das ovelhas perdidas da casa de Nosso Pai, que se encontram em aflição e voluntàriamente desterradas de seu divino amor. Reuni convosco todos os que se encontram de coração angustiado e dizei-lhes, de minha parte, que é chegado o reino de Deus.
Trabalhe em curar os enfermos, limpar os leprosos, ressuscitar os que estão mortos nas sombras do crime ou das desilusões ingratas do mundo, esclareçam todos os espíritos que se encontram em trevas, dando de graça o que de graça vos é concedido.
Não exibais ouro ou prata em vossas vestimentas, porque o reino do céu reserva os mais belos tesouros para os simples.
Não ajunteis o supérfluo em alforges, túnicas ou alpercatas para o caminho, porque digno é o operário do seu sustento.
Em qualquer cidade ou aldeia onde entrardes buscai saber quem deseje aí os bens do céu, com sinceridade e devotamento a Deus, e reparti as bênçãos do Evangelho com os que sejam dignos, até que vos retireis.
Quando penetrardes nalguma casa, saudai-a com amor.
Se essa casa merecer as bênçãos de vossa dedicação, desça sobre ela a vossa paz; se, porém, não for digna, torne essa mesma paz aos vossos corações.
Se ninguém vos receber, nem desejar ouvir as vossas instruções, retirai-vos sacudindo o pó e vossos pés, isto é, sem conservardes nenhum rancor sem vos contaminardes da alheia iniquidade. Em verdade vos digo que dia virá em que menos rigor haverá para os grandes pecadores, do que para quantos procuram a Deus com os lábios da falsa crença, sem a sinceridade do coração.
É por essa razão que vos envio como ovelhas ao antro dos lobos, recomendando-vos a simplicidade das pombas e a prudência das serpentes Acautelai-vos, pois, dos homens, nossos irmãos, porque sereis entregues aos seus tribunais e sereis açoitados nos seus templos suntuosos, de onde está exilada a ideia de Deus.
Sereis conduzidos, como réus, à presença de governadores e reis, de tiranos e descrentes, a fim de testemunhardes a minha causa.
Mas, nos dias dolorosos da humilhação, não vos dê cuidado como haveis de falar, porque minha palavra estará convosco e sereis inspirados, quanto ao que houverdes de dizer.
Porque não somos nós, que falamos; o espírito amoroso de Nosso Pai é que fala em todos nós.
Nesses dias de sombra, em que se lutará no mundo por meu nome, o irmão entregará à morte o próprio irmão, o pai os filhos, espalhando-se nos caminhos o rastro sinistro dos lobos da iniquidade.
Os que me seguirem serão desprezados e odiados por minha causa, mas aquele que perseverar até ao fim, será salvo.
Quando, pois, fordes perseguidos numa cidade, transportai-vos para outra, porque em verdade vos afirmo que jamais estareis nos caminhos humanos sem que vos acompanhe o meu pensamento.
Se tendes de sofrer, considerai que também eu vim à Terra para dar o testemunho e não é o discípulo mais do que o mestre, nem o servo mais que o seu senhor.
Se o adversário da luz vai reunir contra mim as tentações e as zombarias, o ridículo e a crueldade, que não fará aos meus discípulos?
Todavia, sabeis que acima de tudo está o Nosso Pai e que, portanto, é preciso não temer, pois um dia, toda a verdade será revelada e todo o bem triunfará.
O que vos ensino em particular, difundi publicamente; porque o que agora escutais aos ouvidos será objeto de vossas pregações de cima dos telhados.
Trabalhai pelo reino de Deus e não temais os que matam o corpo, mas não podem aniquilar a alma ; temei antes os sentimentos malignos que mergulham o corpo e a alma no inferno da consciência.
Não se vendem dois passarinhos por um ceitil?
Entretanto, nenhum deles cai dos seus ninhos sem a vontade do nosso Pai. Até mesmo os cabelos de nossas cabeças estão contados.
Não temais, pois, porque um homem vale mais que muitos passarinhos.
Empregai-vos no amor do Evangelho e qualquer de vós que me confessar diante dos homens, eu o confessarei igualmente diante de meu Pai que está nos céus.
***
As recomendações de Jesus foram ouvidas ainda por algum tempo e, terminada a sua alocução, no semblante de todos perpassava a nota íntima da alegria e da esperança. Os apóstolos criam contemplar o glorioso porvir do Evangelho do Reino e estremeciam do júbilo de seus corações.
Foi quando Judas Iscariotes, como que despertando, antes de todos os companheiros, daquelas profundas emoções de encantamento, se adiantou para o Messias, declarando em termos respeitosos e resolutos:
– Senhor, os vossos planos são justos e preciosos; entretanto, é razoável considerarmos que nada poderemos edificar sem a contribuição de algum dinheiro.
Jesus contemplou-o serenamente e redarguiu:
– Será que Deus precisou das riquezas precárias para construir as belezas do mundo?
Em mãos que saibam dominá-lo, o dinheiro é um instrumento útil, mas nunca será tudo, porque, acima dos tesouros perecíveis, está o amor com os seus infinitos recursos.
Em meio da surpresa geral, Jesus, depois de uma pausa, continuou:
– No entanto, Judas, embora eu não tenha qualquer moeda do mundo, não posso desprezar o primeiro alvitre dos que contribuirão comigo para a edificação do reino de meu Pai, no espírito das criaturas. Põe em prática a tua lembrança, mas tem cuidado com a tentação das posses materiais. Organiza a tua bolsa de cooperação e guarda-a contigo; nunca, porém, procures o que ultrapassa o necessário.
Ali mesmo, pretextando a necessidade de incentivar os movimentos iniciais da grande causa, o filho de Iscariotes fez a primeira coleta entre os discípulos. Todas as possibilidades eram mínimas, mais alguns pobres denários foram recolhidos com interesse. O Mestre observava a execução daquela primeira providência com um sorriso cheio de apreensões enquanto Judas guardava cuidadosamente o fruto modesto de sua lembrança material.
Em seguida, apresentando a Jesus a bolsa minúscula, que se perdia nas dobras de sua túnica, exclamou satisfeito.
– Senhor, a bolsa é pequenina, mas constitui o primeiro passo para que se possa realizai alguma coisa...
Jesus fitou-o serenamente e retrucou em tom profético
– Sim, Judas, a bolsa é pequenina; contudo, permita Deus que nunca sucumbas ao seu peso!





Livro: Boa Nova, Psicografia Francisco C. Xavier, ditado pelo Espírito Irmão X (Humberto de Campos) , Ed FEB.

segunda-feira, 2 de maio de 2016

SÉRIE BOA NOV A - JESUS E O PRECURSOR

JESUS E O PRECURSOR
Após a famosa apresentação de Jesus aos doutores do templo de Jerusalém, Maria recebeu a visita de Isabel e de seu filho, em sua casinha pobre de Nazaré.
Depois das saudações habituais, no desdobramento dos assuntos familiares, as duas primas entraram a falar de ambas as crianças, cujo nascimento fora antecipado por acontecimentos singulares e cercado de estranhas circunstâncias. Enquanto o patriarca José atendia às últimas necessidades diárias de sua oficina humilde, entretinham-se as duas em curiosa palestra, trocando carinhosamente as mais ternas confidências maternais.
– O que me espanta – dizia Isabel com caricioso sorriso – é o temperamento de João, dado às mais funda meditações, apesar da sua pouca idade. Não raro, procuro-o inutilmente em casa, para encontrá-lo, quase sempre, entre as figueiras bravas, ou caminhando ao longo das estradas adustas, como se a pequena fronte estivesse dominada por graves pensamentos.
– Essas crianças, a meu ver – respondeu-lhe Maria, intensificando o brilho suave de seus olhos – trazem para a humanidade a luz divina de um caminho novo. Meu filho também é assim, envolvendo-me o coração numa atmosfera de incessantes cuidados. Por vezes, vou encontrá-la a sós, junto das águas, e, de outras, em conversação profunda com os viajantes que demandam a Samaria ou as aldeias mais distantes, nas adjacências do lago. Quase sempre, surpreendo-lhe a palavra caridosa que dirige às lavadeiras, aos transeuntes, aos mendigos sofredores... Fala de sua comunhão com Deus com uma eloquência que nunca encontrei nas observações dos nossos doutores e, constantemente, ando a cismar, em relação ao seu destino.
-Apesar de todos os valores da crença – murmurou Isabel, convicta – nós, as mães; temos sempre o espírito abalado por injustificáveis receios.
Como se e deixasse empolgar por amorosos temores, Maria continuou:
– Ainda há alguns dias, estivemos em Jerusalém, nas comemorações costumeiras, e a facilidade de argumentação com que Jesus elucidava os problemas, que lhe eram apresentados pelos orientadores do templo, nos deixou a todos receosos e perplexos, Sua ciência não pode ser deste mundo: vem de Deus, que certamente se manifesta por seus lábios amigos da pureza. Notando-lhe a respostas, Eleazar chamou o José, em particular, e o advertiu de que o menino parece haver nascido para a perdição de muitos poderosos em Israel.
Com a prima a lhe escutar atentamente a palavra, Maria prosseguiu, de olhos úmidos, após ligeira pausa :
- Ciente desse aviso, procurei Eleazar, a fim de interceder por Jesus, junto de suas valiosas relações com as autoridades do templo. pensei na sua infância desprotegida e receio pelo seu futuro. Eleazar prometeu interessar-se pela sua sorte; todavia, de regresso a Nazaré, experimentei singular multiplicação dos meus temores. Conversei com José, mais detidamente, acerca do pequeno, preocupada com o seu preparo conveniente para a vida!... entretanto, no dia que se seguiu às nossas íntimas confabulações, Jesus se aproximou de mim,pela manhã, e me interpelou : – “Mãe, que queres tu de mim‘? Acaso não tenho testemunhado minha comunhão com o Pai que está no Céu ?!” Altamente surpreendida com a sua pergunta, respondi-lhe hesitante : – “Tenho cuidado por ti, meu filho! Reconheço que necessitas de um preparo melhor para a vida...” Mas, como se estivesse em pleno conhecimento do que se passava em meu íntimo, o ponderou : “Mãe, toda preparação útil e generosa no mundo é preciosa; entretanto, eu já estou com Deus. Meu Pai, porém, deseja de nós toda a exemplificação que seja, boa e eu escolherei, desse modo, a escola melhor”. No mesmo dia, embora soubesse das belas promessas que os doutores do templo fizeram na sua presença a seu respeito, Jesus aproximou-se de José e lhe pediu, com humildade, o admitisse em seus trabalhos. Desde então, como se nos quisesse ensinar que a melhor escola para Deus e a do lar e a, do esforço próprio – concluiu a palavra materna, com singeleza – ele aperfeiçoa as madeiras da oficina, empunha o martelo e a enxó, enchendo a casa de ânimo, com a sua doce alegria!
Isabel lhe escutava atenta à narrativa, e, depois de outras pequenas considerações materiais, ambas observaram que as primeiras sombras da noite desciam na paisagem, acinzentando o céu sem nuvens.
A carpintaria já estava fechada e Jose buscava a serenidade do interior doméstico para o repouso.
As duas mães se entreolharam inquietas e perguntavam a si próprias para onde teriam ido às duas crianças.
***
Nazaré, com a sua paisagem, das mais belas de toda a Galiléia, é talvez ò mais formoso recanto da Palestina. Suas ruas humildes e pedregosas, suas casas pequeninas, suas lojas singulares se agrupam numa ampla concavidade em cima das montanhas, ao norte do Esdrelon. Seus horizontes são estreitos e sem interesse; contudo, os que subam um pouco além, até onde se localizam as casinholas mais elevadas, encontrarão para o olhar assombrado as mais formosas perspectivas. O céu parece alongar-se, cobrindo o conjunto maravilhoso, numa dilatarão infinita.
Maria e Isabel avistaram seus filhos, lado a, lado, sobre uma eminência 'banhada pelos derradeiros raios vespertinos. De longe, afigurou-se-lhes que os cabelos de Jesus esvoaçavam ao sopro caricioso das brisas do alto. Seu pequeno indicador mostrava a João as
paisagens que se multiplicavam a distância, com o um grande general que desse a conhecer as minudências dos seus planos a um soldado de confiança. Ante seus olhos surgiam as montanhas da Saneia, o cume de Magedo, as eminências de Gelboé, a figura esbelta do Tabor, onde, mais tarde, ficaria inesquecível o instante da Transfigurarão, o vale do rio sagrado do Cristianismo, os cumes de Rafed, o golfo de Khalfa, o elevado cenário do Pereu, num soberbo conjunto de montes e vales, ao lado das águas cristalinas.
Quem poderia saber qual a conversação solitária que se travara entre ambos?
Distanciados no tempo, devemos presumir que fosse, na Terra, a primeira combinação entre o amor e a verdade, para a conquista do mundo. Sabemos porem, que, na manhã imediata, em partindo o precursor na carinhosa companhia de sua, mãe, perguntou Isabel a Jesus, com gracioso interesse : – “não queres vir conosco?” – ao que o pequeno carpinteiro de Nazaré respondeu, profeticamente, com inflexão de profunda bondade'. – “João partirá primeiro”.
Transcorridos alguns anos, vamos encontrar o Batista na sua gloriosa tarefa de preparação do caminho à verdade, precedendo o trabalho divino do amor, que o mundo conheceria em Jesus - Cristo.
João, de fato, partiu primeiro, a fim de executar as operações iniciais para a grandiosa conquista. Vestido de peles e entanto de mel selvagem, esclarecendo com energia e deixando-se degolar em testemunho à, Verdade, ele precedeu. a lição de misericórdia e da bondade. O Medre do¿ mestres quis colocar a figura franca e áspera do seu profeta no limiar de seus gloriosas ensinos e, por isso, encontramos em João Batista um dos mais belos de todos os símbolos imortais do Cristianismo. Salomé representa a futilidade cio mundo, Herodes e sua mulher o convencionalismo político e o interesse particular. João era a verdade; e a verdade, na sua, tarefa de aperfeiçoamento, dilacera e magoa, deixando-se levar aos sacrifícios extremos.
Como a dor que precede As poderosas manifestações da luz no íntimo dos corações, ela recebe o bloco de mármore bruto e lhe trabalha as asperezas para que a obra do amor surja, em sua pureza divina. João Batista foi a voz clamante do deserto. Operário da primeira hora, é ele o símbolo rude da verdade que arranca as mais fortes raízes do mundo, para que o reino de Deus prevaleça nos corações. Exprimindo a austera disciplina que antecede a espontaneidade do amor, a luta para que se desfaçam as sombras do caminho, João é o primeiro sinal o cristão ativo, em guerra com as próprias imperfeições do seu mundo interior, a fim de estabelecer em si mesmo o santuário de sua realização com o Cristo. Foi por essa razão que dele disse Jesus: – “Dos nascidos de mulher, João Batista é o maior de todos.”





Livro: Boa Nova, Psicografia Francisco C. Xavier, ditado pelo Espírito Irmão X (Humberto de Campos) , Ed FEB.

domingo, 1 de maio de 2016

SÉRIE BOA NOVA - BOA NOVA

BOA NOVA
Os historiadores do Império Romano, sempre observaram com espanto os profundos contrastes da gloriosa época de Augusto.
Caio Júlio César Otávio chegara ao poder, não obstante o lustre de sua notável ascendência, por uma série de acontecimentos felizes. As mentalidades mais altas da antiga República não acreditavam no seu triunfo. Aliando-se contra a usurpação de Antônio, com os próprios conjurados que haviam praticado o assassínio de seu pai adotivo, suas pretensões foram sempre contrariadas por sombrias perspectivas. Entretanto, suas primeiras vitórias começaram com a instituição do triunvirato e, em seguida, os desastres de Antônio, no Oriente, lhe abriram inesperados caminhos.
Como se o mundo pressentisse uma abençoada renovação de valores no tempo, em breve todas as legiões se entregavam, sem resistência, ao filho do soberano assassinado.
Uma nova era principiara com aquele jovem enérgico e magnânimo. O grande império do mundo, como que influenciado por um conjunto de forças estranhas, descansava numa onda de harmonia e de júbilo, depois de guerras seculares e tenebrosas.
Por toda parte levantavam-se templos e monumentos preciosos. O hino de uma paz duradoura começava em Roma para terminar na mais remota de suas províncias, acompanhado de amplas manifestações de alegria por parte da plebe anônima e sofredora.
A cidade dos Césares se povoava de artistas, de espíritos nobres e realizadores. Em todos os recantos, permanecia a sagrada emoção de segurança, enquanto o organismo das leis se renovava, distribuindo os bens da educação e da justiça.
No entanto, o inesquecível Imperador era franzino e doente. Os cronistas da época referem-se, por mais de uma vez, às manchas que lhe cobriam a epiderme, transformando-se, de vez em quando, em dartros dolorosos. Otávio nunca foi senhor de uma saúde completa.
Suas pernas viviam sempre enroladas em faixas e sua caixa torácica convenientemente resguardada contra os golpes de ar que lhe motivavam incessantes resfriados. Com frequência, queixava-se de enxaquecas, que se faziam seguir de singulares abatimentos.
Não somente nesse particular padecia o imperador das extremas vicissitudes da vida humana. Ele, que era o regenerador dos costumes, o restaurador das tradições mais puras da família, o maior reorganizador do Império, foi obrigado a humilhar os seus mais fundos e delicados sentimentos de pai e de soberano, lavrando um decreto de banimento de sua única filha, exilando-a na ilha de Pandatária, por efeito da sua vida de condenáveis escândalos na Corte, sendo compelido, mais tarde, a tomar as mesmas providências em relação à sua neta.
Notou que a companheira amada de seus dias se envolvia, na intimidada doméstica, em contínuas questões de envenenamento dos seus descendentes mais diretos, experimentando ele, assim, na família, a mais angustiosa ansiedade do coração.
Apesar de tudo, seu nome foi dado ao século ilustre que o vira nascer. Seus numerosos anos de governo se assinalaram por inolvidáveis iniciativas. A alma coletiva do Império nunca sentira tamanha impressão de estabilidade e de alegria. A paisagem gloriosa de Roma jamais reunira tão grande número de inteligências. É nessa época que surgem Vergílio, Horácio, Ovídio, Salústio, Tito Lívio e Mecenas, como favoritos dos deuses.
Em todos os lugares lavravam-se mármores soberbos, esplendiam jardins suntuosos, erigiam-se palácios e santuários, protegia-se a inteligência, criavam-se leis de harmonia e de justiça, num oceano de paz inigualável. Os carros de triunfo esqueciam, por algum tempo, as palmas de sangue e o sorriso da deusa Vitória não mais se abria para os movimentos de destruição e morticínio.
O próprio Imperador, muitas vezes, em presidindo às grandes festas populares, com o coração tomado de angústia pelos dissabores de sua vida íntima, se surpreendeu, testemunhando o júbilo e a tranquilidade geral do seu povo e, sem que conseguisse explicar o mistério daquela onda interminável de harmonia, chorando de comoção, quando, do alto de sua tribuna dourada, escutava a famosa composição de Horácio, onde se destacavam estes versos e imorredoura beleza:
Ó Sol fecundo,
Que com teu carro brilhante
Abres e fechas o dia!...
Que surges sempre novo e sempre igual!
Que nunca possas ver
Algo maior do que Roma.
É que os historiadores ainda não perceberam na chamada época de Augusto, o século do Evangelho ou da Boa Nova. Esqueceram-se de que o nobre Otávio era também homem e não conseguiram saber que, no seu reinado, a esfera do Cristo se aproximava da Terra, numa vibração profunda de amor e de beleza. Acercavam-se de Roma e do mundo não mais espíritos belicosos, como Alexandre ou Aníbal, porém outros que se vestiram dos andrajos dos pescadores, para servirem de base indestrutível aos eternos ensinos do Cordeiro.
Imergiam nos fluidos do planeta os que preparariam a vinda do Senhor e os que se transformariam em seguidores humildes e imortais dos seus passos divinos.
É por essa razão que o ascendente místico da era de Augusto se traduzia na paz e no júbilo do povo que, instintivamente, se sentia no limiar de uma transformação celestial.
Ia chegar à Terra o Sublime Emissário. Sua lição de verdade e de luz ia espalhar-se pelo mundo inteiro, como chuva de bênçãos magníficas e confortadoras. A Humanidade vivia, então, o século da Boa Nova. Era a “festa do noivado” a que Jesus se referiu no seu ensinamento imorredouro.
Depois dessa festa dos corações, qual roteiro indelével para a concórdia dos homens, ficaria o Evangelho como o livro mais vivaz e mais formoso do mundo, constituindo a mensagem permanente do céu, entre as criaturas em trânsito pela Terra, o mapa das abençoadas altitudes espirituais, o guia do caminho, o manual do amor, da coragem e da perene alegria.
E, para que essas características se conservassem entre os homens, como expressão de sua sábia vontade, Jesus recomendou aos seus apóstolos que iniciassem o seu glorioso testamento com os hinos e os perfumes da Natureza, sob a claridade maravilhosa de uma estrela a guiar reis e pastores à manjedoura rústica, onde se entoavam as primeiras notas de seu cântico de amor, e o terminassem com a luminosa visão da Humanidade futura, na posse das bênçãos de redenção. É por esse motivo que o Evangelho de Jesus, sendo livro do amor e da alegria, começa com a descrição da gloriosa noite de Natal e termina com a profunda visão de Jerusalém libertada, entrevista por João, nas divinas profecias do Apocalipse.





Livro: Boa Nova, Psicografia Francisco C. Xavier, ditado pelo Espírito Irmão X (Humberto de Campos) , Ed FEB.

sábado, 30 de abril de 2016

NA ESCOLA DO EVANGELHO

NA ESCOLA DO EVANGELHO
Oferecendo este esforço modesto ao leitor amigo, julgo prudente endereçar-lhe uma explicação, quanto à gênese destas páginas.
Dentro deles, sou o primeiro e reconhecer que os meus temas não são os mesmos.
Os que se preocupam com a expressão fenomênica, da forma não encontrarão, talvez, o mesmo estilo. Em período algum, faço referências de sabor mitológico. E, naqueles velhos amigos que, como eu próprio aí no mundo, não conseguem atinar com, as realidades da sobrevivência, surpreendo, por antecipação, as considerações mais estranhas. Alguns perguntarão, com, certeza, se fui promovido a ministro evangélico.
Semelhante admiração pode ser natural, mais não será muito justa. O gosto literário sempre refletiu as condições da vida do Espírito. Não precisamos muitos exemplos para justificar o acerto. Minha própria atividade literária, na Terra, divide-se em duas fases essencialmente distintas. As páginas do Conselheiro XX são muito diversas das em que vazei as emoções novas que a dor, como lâmpada maravilhosa, me fazia descobrir, no país da minha alma.
Meu problema atual não é o de escrever para agradar, mas o de escrever com proveito.
Sei quão singelo é o esforço presente; entretanto, desejo que ele reflita, o me testemunho de admiração por todos os que trabalham, pelo Evangelho do Brasil.
Nas esferas mais próximas da Terra, os nossos labores por afeiçoar sentimentos, à exemplificação do Cristo, são também minuciosos e intensos. Escolas numerosas se multiplicam para os espíritos desencarnados. E eu, que sou agora um, discípulo humilde desses educandários de Jesus, reconheci que os planos espirituais têm também o seu folclore... Os efeitos heroicos e abençoados muitas vezes anônimos no mundo, praticados por seres desconhecidos, encerram aqui profundas lições, em que encontramos forças novas.
Todas as expressões evangélicas têm, entre nós, a sua história viva. Nenhuma delas é símbolo superficial. Inumeráveis observações sobre o Mestre e seus continuadores palpitam nos corações estudiosos e sinceros.
Dos milhares de episódios desse folclore do céu, consegui reunir trinta e trazer “o conhecimento do amigo generoso que me concede a sua atenção”. Concordo em que é pouco; mas, isso deve valer como tentativa útil, pois estou certo de que não me faltou o auxílio indispensável.
Hoje, não mais cogito de crer, porque sei. E aquele Mestre de Nazaré polariza igualmente as minhas esperanças. Lembro-me de que, um dia, palestrando com alguns amigos protestantes, notei que classificavam a Jesus como “rocha do século”. Sorri e passei, como os pretensos espíritos fortes de nossa época, aí no mundão. Hoje, porém, já não posso sorrir, nem passar. Sinto e “rocha,” milenária, luminosa e sublime, que nos sustenta o coração atolado no pântano de misérias seculares. E aqui, estou para lhe prestar o meu preito de reconhecimento com estas páginas simples, cooperando com os que trabalham devotadamente na sua causa divina, de luz e redenção.
Jesus vê que no vaso imundo de meu espírito penetrou uma gota de seu amor desvelado e compassivo. O homem perverso, que chegava da Terra, encontrou o raio de luz destinado à purificação de seu santuário. Ele ampara os meus pensamentos com a sua bondade sem limites. A ganga terrena ainda abafa, em meu coração, o ouro que me deu da sua misericórdia; mas, com,o Bartolomeu, já possuo o bom ânimo para enfrentar os inimigos de minha paz, que se abrigam em mim mesmo. Tenho a alegria do Evangelho, porque reconheço que o seu amor não me desampara. Confiado nessa proteção amiga e generosa, meu Espírito trabalha e descansa.
Agora, para consolidar a estranheza, dos que me leem, com o sabor de crítica, tão ao gosto do nosso tempo, justificando a substância real das narrativas deste livro, citarei o apóstolo Marcos, quando diz (4:34) : “E sem parábola nunca lhes falava; porém, tudo declarava em particular aos seus discípulos”; e o apóstolo João, quando afirma (21:25) : “Há, porem, ainda muitas outras coisas que Jesus fez e que, se cada uma de per si fosse escrita, cuido que nem ainda o mundo todo poderia conter os livros que se escrevessem”.
E é só. Como me sê, não faço referencia aos clássicos da literatura antiga ou contemporânea. Cito Marcos e João. E que existem, Espíritos esclarecidos e Espíritos evangelizados e eu, agora, pego a Deus que  abençoe a minha esperança de pertencer ao número destes últimos.




Livro: Boa Nova, Psicografia Francisco C. Xavier, ditado pelo Espírito Irmão X (Humberto de Campos) , Ed FEB.

quinta-feira, 28 de abril de 2016

A ESTRELA DE BELÉM

A ESTRELA DE BELÉM
Cristãos decididos e sinceramente interessados na elucidação do fenômeno que produziu a estrela de Belém, à semelhança dos investigadores materialistas hão recorrido, através da História, a matemáticos e astrônomos capacitados, ansiosos por uma resposta perfeitamente lógica e racional sobre o inusitado aparecimento do astro a que se referem os escritores evangélicos. E de quando em quando fiéis às pesquisas feitas nos mapas celestes, aqueles estudiosos tentam traçar diretrizes que clarifiquem, em definitivo, o insuspeito acontecimento, na noite santa em que ocorreu o Natal de Jesus, e posteriormente vista pelos Magos do Oriente, que por ela foram guiados.
Segundo alguns observadores, fora o Cometa de Halley que naquele dia e àquele período fazia-se visível por toda a Galiléia e parte oriental do país. Para outros era uma conjunção oportuna de astros que produziram refração na atmosfera, incidindo o facho luminoso sobre a manjedoura singela, que Ele dignificou com o Seu nascimento.
Conquanto possamos admitir uma ou outra hipótese, Jesus é, em síntese, a constelação dos astros divinos ergastulados temporariamente na forma humana para conviver com os homens, deixando pela atmosfera envolvente do Planeta o rastro luminescente da sua imersão, como mensagem de advertência reveladora.
Rei Divino — e não obstante, submeteu-se às conjunturas da transitória convivência humana para, sublime, lecionar humildade.
Construtor da Terra — todavia, deixou-se experimentar pelas circunstâncias ocasionais do ministério entre as criaturas, para ensinar a grandeza da renúncia.
Legislador Sublime — entretanto, aquiesceu sofrer as imposições da ignorância religiosa de Israel e os padrões arbitrários da política do Império Romano, facultando-se a decisão no jogo odioso da ética vulgar, a fim de que se cumprissem as Leis e os Profetas, na integridade das previsões n’Ele, todo amor!
Em toda a Sua jornada, à semelhança de astro que se arrebenta em luz na imensidão escura da noite, clareou os destinos dos homens, como obreiro infatigável, acendendo lâmpadas de esperança nos corpos alquebrados e nos tecidos gastos das almas, pelas constrições das paixões esmagadoras de todos os tempos.
Misturou-se à caterva dos que viviam à Sua hora e caminhou com os pés da aflição, sem permitir-se consumir ou contaminar pelas querelas mesquinhas, pelas imposições tradicionais ou pelas suspeitas manifestações da idiossincrasia a que se aferravam os que O cercavam continuamente.
Por um minuto sequer não se rebelou contra a miserabilidade que defrontava em toda a parte...
Arquiteto das estrelas dobrou-se, sereno, na marcenaria humilde para que o pão fosse honrado com o suor da Sua face e a estrutura da Nova Humanidade pudesse alicerçar-se no trabalho edificante, que é a mola mestra do progresso e da felicidade humana.
Mantendo incessante quão ininterrupto contato com o Pai e servindo pela aquiescência dos anjos que se Lhe submetiam, dialogou pulcro, demoradamente, com os Espíritos das sombras, abrindo-lhes os ouvidos e acendendo a luz nos seus olhos apagados, com a inteireza moral das Suas conquistas incomparáveis.
Antes, todavia, de descer aos homens, fez que Avatares do Seu Reino viessem ampliar as dimensões das fronteiras terrenas, preparando o solo do futuro.
E eles floresceram como superior manifestação da vida, ora na índia, disseminando o reencarnacionismo e perfumando com toda uma filosofia de paz e renúncia os continentes dos espíritos; ora na China, empreendendo os audaciosos voos da política sob as bases seguras da família, no lar e na sociedade, de modo a traduzir a porvindoura fraternidade entre os homens, com inequívoca força de amor e respeito ao dever; ora no Egito, rescendendo os sutis aromas da Imortalidade, nos santuários dos Templos e na intimidade das Escolas de Iniciação, mantendo acesas as flamas da verdade, mediante as comunicações entre os dois planos da vida; ora na Caldéia ou na Pérsia favorecendo com a esperança milhares de vidas estioladas sob o clangor da guerra; ora na Hélade ou em Roma criando a conceituação da beleza, da justiça, da legislação equilibrada e do ideal do bem.
Assim também por Israel, que por longos séculos de dor se fez depositária da Mensagem do Deus Único, transitaram esses Embaixadores Sublimes, irrigando com a linfa preciosa decorrente do intercâmbio espiritual os solos crestados dos espíritos sofridos, a fim de que Ele próprio viesse oportunamente imolar-se, para ensinar libertação total das limitações físicas e da opressão do barro humano.
Por isso, todos os Seus feitos empalidecem ante os Seus ditos, pois que as realizações no corpo são menores do que a vitalização da alma, em considerando que ninguém jamais vivera conforme Ele o fazia, transformando-se, Ele próprio, no caminho por onde deveriam rumar todos os homens na direção da Vida e da Verdade, que em suma Ele representava na Terra.
Mesmo assim, quando contemplava com lágrimas as dores do porvir do mundo e via o homem imerso na fragilidade do corpo carnal prometeu voltar, através do Consolador, que seria o liame perene de união com Ele até o fim dos tempos.
O mergulho que começou em Belém não terminou no Gólgota, nem desapareceu após a visão da Jerusalém Libertada, que o vidente de Patmos preludiou...
Em Jesus, o Herói Invencível, que na Sua grandeza superou a astúcia de Cambises, rei dos persas, a violência de Alexandre Magno, da Macedônia, a audácia de Cipião, o africano, e a estratégia de Júlio César, o divino Imperador, as armas foram a mansidão e o amor, a abnegação e a misericórdia, entretecendo com esses fios de luz a túnica nupcial do noivado intérmino com a Humanidade de todos os tempos, pela qual espera desde o princípio, até o instante da boda sublime, para a reunião numa grande família, em pleno reinado da paz!
A viagem fora longa para aquele casal, principalmente para aquela mulher grávida, durante quatro ou cinco dias, sacudida pelo trote da montaria...
Sucederam-se abismos e montes, subidas e descidas, quase às portas da Cidade Santa, chegando por fim a Belém.. .
... E em pleno fastígio do Império Romano, indicado por uma estrela, anunciado pelos anjos, nasceu Jesus!
Antes, e desde então, a Sua vida deverá ser examinada, em "espírito e verdade", para serem compreendidos e penetrados pelos olhos imateriais, os únicos capazes de vislumbrar o Seu Reino.
* * *
Seja qual for a hipótese respeitável sobre a estrela de Belém, a união dos Espíritos de Luz que mantinham o intercâmbio entre as duas Esferas formou um facho poderoso que indicava o lugar da tradição, em que Ele deveria começar o ministério entre os homens.
... Pastores e reis magos, todos videntes, convidados pelas Entidades Celestes, seguiram-na, cada um a seu turno, enquanto os cantores sublimes proclamavam:
"Glória a Deus nas alturas e paz na terra entre os homens de boa vontade!"





Livro A luz do mundo, Psicografia Divaldo P. Franco, ditado pelo Espírito Amélia Rodrigues ED. LEAL.

terça-feira, 26 de abril de 2016

EXTINÇÃO DO MAL


EXTINÇÃO DO MAL
Na didática de Deus, o mal não é recebido com a ênfase que caracteriza muita gente na Terra, quando se propõe a combatê-lo. 
Por isso, a condenação não entra em linha de conta nas manifestações da Misericórdia Divina. 
Nada de anátema, gritos, baldões ou pragas. 
A Lei de Deus determina, em qualquer parte, seja o mal destruído não pela violência, mas pela força pacífica e edificante do bem. 
A propósito, meditemos, o Senhor corrige: 
·         A ignorância: com a instrução; 
·         O ódio: com o amor; 
·         A necessidade: com o socorro; 
·         O desequilíbrio: com o reajuste; 
·         A ferida: com o bálsamo; 
·         A dor: com o sedativo; 
·         A doença: com o remédio; 
·         A sombra: com a luz; 
·         A fome: com o alimento; 
·         O fogo: com a água; 
·         A ofensa: com o perdão; 
·         O desânimo: com a esperança; 
·         A maldição: com a benção.
Somente nós, as criaturas humanas, por vezes, acreditamos que um golpe seja capaz de sanar outro golpe. 
Simples ilusão. 
O mal não suprime o mal. 
Em razão disso, Jesus nos recomenda amar os inimigos e nos adverte de que a única energia suscetível de remover o mal e extingui-lo é e será sempre a força suprema do bem. 


Espírito: Bezerra de Menezes, Psicografia de Chico Xavier. Livro: Brilhe Vossa Luz 
 http://www.oespiritismo.com.br/mensagens/ver.php?id1=484

domingo, 24 de abril de 2016

TEMPO METAL

TEMPO MENTAL
Na azáfama da vida moderna o aturdimento domina as criaturas humanas que procuram atender aos muitos compromissos, reais e imaginários, não lhes permitindo espaço mental para as reflexões saudáveis nem para as meditações de urgência indispensáveis a uma existência equilibrada.
A parafernália eletrônica facilitando a comunicação, especialmente na área da futilidade, com as exceções compreensíveis, inquieta os seus serventuários que se lhes transformam em escravos, telefonando para diálogos irrelevantes, enviando SMS/s, curiosamente olhando o FACEBOOK, TWITTER, WHATSAPP e outros mecanismos de mexericos e novidades, entregando-se aos jogos de violência ou consultando os sites que lhes atendem aos específicos tormentos, em nome do falso progresso tecnológico.
Certamente, vivia-se bem sem muitos dos apetrechos modernos, alguns de extravagante significado, mais apresentados como status sociais e econômicos, em razão das suas grifes de luxo e de ilusão, do que pelo valor da utilidade, responsáveis pela estimulação da ansiedade, dos jogos de interesse pessoal, das vaidades e das competições doentias.
A falsa necessidade de se acompanhar ao vivo tudo o que se passa no Planeta, especialmente na área das tragédias e das intrigas entre celebridades, suas doenças, suas paixões, suas ascensões e quedas impulsiona os tipos comuns a viverem atrelados, a todo o momento, aos instrumentos que lhes sacia a sede de frivolidade como forma disfarçada de fuga psicológica da realidade, escondendo os conflitos perversos que os afligem.
O ser humano desconhece-se enquanto permanece atento aos acontecimentos exteriores que envolvem outras pessoas, cujas imagens são mecanismos de transferência das próprias aflições e insegurança, tornando-as como ídolos ou modelos, invejados uns, enquanto detestados outros, por parecerem inalcançáveis...
O desfile dos deuses da alta comunicação midiática é contínuo, alguns sendo substituídos por outros mais audaciosos ou mais bem-remunerados que, incapazes de gerenciar os valores e a existência, atiram-se ao desbordamento das paixões servis, porque vivem saturados de bajuladores e de prazeres incessantes que lhes anulam a capacidade emocional de se sentir bem.
Com rapidez vivenciam o triunfo e logo após desaparecem em silêncio sepulcral, sendo trazidos de volta aos holofotes da fama somente quando transformados em fantasmas inditosos, chamando a atenção por escândalos ou acontecimentos desditosos que os multiplicadores de opinião vendem com entusiasmo e comentários chulos, quando não escabrosos...
E certo que proliferam admiráveis expressões de elevação moral e de dignificação humana, nesse contexto, como não poderia ser diferente, no entanto, é a grande massa, aquela que é dirigida habilmente pelo mercado consumidor, que se deixa arrastar pelo fascínio da modernidade com graves prejuízos para a saúde física, emocional e mental.
Os diálogos pessoais, no momento, cedem lugar às comunicações eletrônicas, o prazer da convivência entre os amigos é transferido para as mensagens ligeiras, ortograficamente incorretas e atentatórias à boa linguagem. Diz-se que são os novos tempos e, sem dúvida, trata-se de um novo período no processo sociológico e psicológico da Humanidade, lamentavelmente com resultados bastantes afugentem para os seus áulicos.
A falta de comunhão fraternal, de conversação edificante, de estudos sociais abrangentes com objetivos libertadores caracteriza o crepúsculo desta civilização, em um claro-escuro de sentimentos, enquanto surge nova madrugada anunciando outros valores que estão esquecidos, mas que são de sabor e significado permanente.
Nesta panorâmica, em consequência, não se dispõe de tempo físico e muito menos de natureza mental para as aquisições duradouras, aquelas que elevam os seres humanos às esferas sublimes do pensamento e da realização espiritual.
Mesmo quando surge algum espaço físico, havendo oportunidade de tempo cronológico, não existe o de natureza psíquica, porque a mente se encontra abarrotada de ideias e propostas, compromissos e complexidades futuristas, inquietando as pessoas que não desejam ficar ultrapassadas no contexto do grupo social insaciável em que se encontram situadas.
É necessário, dizem, estar bem informadas, desde os lugares onde a drogadição e os demais vícios são permitidos, aos redutos de luxo ou de miséria para o prazer exaustivo, assim como para tomar conhecimento de todas as ocorrências nas diversas tribos, gangues, clubes elegantes e de alto preço, apesar dos sucessos que ocorrem nos seus interiores e, de quando em quando, se tornam motivos de escândalos na mídia...
O ser humano é constituído de equipamentos eletrônicos muito delicados, cujo manejo exige habilidade e experiência, a fim de não gerar desarmonia no seu funcionamento.
A mente, que se exterioriza através da câmera cerebral, tem necessidade de harmonia, a fim de processar todos os acontecimentos que lhe dizem respeito ou aqueles que têm lugar à sua volta, de maneira a bem administrar a máquina orgânica.
Em razão disso, o pensamento saudável é essencial para uma existência equilibrada, sendo veículo dos recursos que proporcionam bem ou mal-estar, de acordo com a onda vibratória em que se expressa.
O atropelamento das ideias, a falta de amadurecimento psicológico, a ausência da reflexão podem ser comparadas ao fenômeno alimentar, mediante o qual o indivíduo sobrecarrega o estômago na ânsia de comer bem, gerando graves distúrbios digestivos de imediato. O mesmo ocorre nas áreas mental e comportamental.
Impossibilitada a mente de decodificar todos os fatos e informações que chegam ao arquipélago cerebral, apresentam-se a ansiedade, a impaciência, gerando descontrole nas neurocomunicações com resultados perturbadores para o discernimento, a memória, as aspirações iluminativas, a saúde integral...
O ser humano necessita de silêncio mental, de espaço físico para a autoidentificação, para o autodescobrimento.
Esse interregno entre as atividades irá propiciar-lhe melhor discernimento em torno dos objetivos existenciais, facultando-lhe experienciar os prazeres não desgastantes dos sentidos físicos, mas a fruição da alegria íntima de viver e de poder pensar com liberdade e altruísmo.
Quando se age sem pensar, inevitavelmente se é convidado a retroceder nas ações intempestivas, refazendo o caminho conquistado.
O silêncio íntimo, que permite ouvir-se a voz da consciência, é de alta relevância para uma existência feliz, porque permite saber-se o que realmente se deseja produzir e como fazê-lo de maneira excelente.
A azáfama desequilibra o excesso de ruídos, a multiplicidade de interesses desarmoniza, e o ser humano perde o endereço, o rumo da sua felicidade.
Preserva algum tempo mental para as tuas reflexões, não te deixando seduzir pelas vozes alteradas dos desconcertos emocionais tidos como festivos e promotores da alegria.
Resguarda-te na meditação diária, mesmo que seja por um espaço de tempo reduzido, mas de grande significado para o teu autocontrole, para as tuas decisões e realizações.
Não sobrecarregues as tuas paisagens mentais com as imagens violentas dos desejos infrenes e inferiores, com as imposições sociais e seus fetiches mentirosos, permitindo-te ser livre para pensar e para agir dentro dos padrões felicitadores da boa ética-moral que encontras nos ensinamentos de Jesus, que te aguarda após as refregas humanas...




Autor: Espírito Joanna de Ângelis, Psicografia de Divaldo Franco, livro: Liberta-te do Mal, Ed. LEAL