segunda-feira, 2 de maio de 2016

SÉRIE BOA NOV A - JESUS E O PRECURSOR

JESUS E O PRECURSOR
Após a famosa apresentação de Jesus aos doutores do templo de Jerusalém, Maria recebeu a visita de Isabel e de seu filho, em sua casinha pobre de Nazaré.
Depois das saudações habituais, no desdobramento dos assuntos familiares, as duas primas entraram a falar de ambas as crianças, cujo nascimento fora antecipado por acontecimentos singulares e cercado de estranhas circunstâncias. Enquanto o patriarca José atendia às últimas necessidades diárias de sua oficina humilde, entretinham-se as duas em curiosa palestra, trocando carinhosamente as mais ternas confidências maternais.
– O que me espanta – dizia Isabel com caricioso sorriso – é o temperamento de João, dado às mais funda meditações, apesar da sua pouca idade. Não raro, procuro-o inutilmente em casa, para encontrá-lo, quase sempre, entre as figueiras bravas, ou caminhando ao longo das estradas adustas, como se a pequena fronte estivesse dominada por graves pensamentos.
– Essas crianças, a meu ver – respondeu-lhe Maria, intensificando o brilho suave de seus olhos – trazem para a humanidade a luz divina de um caminho novo. Meu filho também é assim, envolvendo-me o coração numa atmosfera de incessantes cuidados. Por vezes, vou encontrá-la a sós, junto das águas, e, de outras, em conversação profunda com os viajantes que demandam a Samaria ou as aldeias mais distantes, nas adjacências do lago. Quase sempre, surpreendo-lhe a palavra caridosa que dirige às lavadeiras, aos transeuntes, aos mendigos sofredores... Fala de sua comunhão com Deus com uma eloquência que nunca encontrei nas observações dos nossos doutores e, constantemente, ando a cismar, em relação ao seu destino.
-Apesar de todos os valores da crença – murmurou Isabel, convicta – nós, as mães; temos sempre o espírito abalado por injustificáveis receios.
Como se e deixasse empolgar por amorosos temores, Maria continuou:
– Ainda há alguns dias, estivemos em Jerusalém, nas comemorações costumeiras, e a facilidade de argumentação com que Jesus elucidava os problemas, que lhe eram apresentados pelos orientadores do templo, nos deixou a todos receosos e perplexos, Sua ciência não pode ser deste mundo: vem de Deus, que certamente se manifesta por seus lábios amigos da pureza. Notando-lhe a respostas, Eleazar chamou o José, em particular, e o advertiu de que o menino parece haver nascido para a perdição de muitos poderosos em Israel.
Com a prima a lhe escutar atentamente a palavra, Maria prosseguiu, de olhos úmidos, após ligeira pausa :
- Ciente desse aviso, procurei Eleazar, a fim de interceder por Jesus, junto de suas valiosas relações com as autoridades do templo. pensei na sua infância desprotegida e receio pelo seu futuro. Eleazar prometeu interessar-se pela sua sorte; todavia, de regresso a Nazaré, experimentei singular multiplicação dos meus temores. Conversei com José, mais detidamente, acerca do pequeno, preocupada com o seu preparo conveniente para a vida!... entretanto, no dia que se seguiu às nossas íntimas confabulações, Jesus se aproximou de mim,pela manhã, e me interpelou : – “Mãe, que queres tu de mim‘? Acaso não tenho testemunhado minha comunhão com o Pai que está no Céu ?!” Altamente surpreendida com a sua pergunta, respondi-lhe hesitante : – “Tenho cuidado por ti, meu filho! Reconheço que necessitas de um preparo melhor para a vida...” Mas, como se estivesse em pleno conhecimento do que se passava em meu íntimo, o ponderou : “Mãe, toda preparação útil e generosa no mundo é preciosa; entretanto, eu já estou com Deus. Meu Pai, porém, deseja de nós toda a exemplificação que seja, boa e eu escolherei, desse modo, a escola melhor”. No mesmo dia, embora soubesse das belas promessas que os doutores do templo fizeram na sua presença a seu respeito, Jesus aproximou-se de José e lhe pediu, com humildade, o admitisse em seus trabalhos. Desde então, como se nos quisesse ensinar que a melhor escola para Deus e a do lar e a, do esforço próprio – concluiu a palavra materna, com singeleza – ele aperfeiçoa as madeiras da oficina, empunha o martelo e a enxó, enchendo a casa de ânimo, com a sua doce alegria!
Isabel lhe escutava atenta à narrativa, e, depois de outras pequenas considerações materiais, ambas observaram que as primeiras sombras da noite desciam na paisagem, acinzentando o céu sem nuvens.
A carpintaria já estava fechada e Jose buscava a serenidade do interior doméstico para o repouso.
As duas mães se entreolharam inquietas e perguntavam a si próprias para onde teriam ido às duas crianças.
***
Nazaré, com a sua paisagem, das mais belas de toda a Galiléia, é talvez ò mais formoso recanto da Palestina. Suas ruas humildes e pedregosas, suas casas pequeninas, suas lojas singulares se agrupam numa ampla concavidade em cima das montanhas, ao norte do Esdrelon. Seus horizontes são estreitos e sem interesse; contudo, os que subam um pouco além, até onde se localizam as casinholas mais elevadas, encontrarão para o olhar assombrado as mais formosas perspectivas. O céu parece alongar-se, cobrindo o conjunto maravilhoso, numa dilatarão infinita.
Maria e Isabel avistaram seus filhos, lado a, lado, sobre uma eminência 'banhada pelos derradeiros raios vespertinos. De longe, afigurou-se-lhes que os cabelos de Jesus esvoaçavam ao sopro caricioso das brisas do alto. Seu pequeno indicador mostrava a João as
paisagens que se multiplicavam a distância, com o um grande general que desse a conhecer as minudências dos seus planos a um soldado de confiança. Ante seus olhos surgiam as montanhas da Saneia, o cume de Magedo, as eminências de Gelboé, a figura esbelta do Tabor, onde, mais tarde, ficaria inesquecível o instante da Transfigurarão, o vale do rio sagrado do Cristianismo, os cumes de Rafed, o golfo de Khalfa, o elevado cenário do Pereu, num soberbo conjunto de montes e vales, ao lado das águas cristalinas.
Quem poderia saber qual a conversação solitária que se travara entre ambos?
Distanciados no tempo, devemos presumir que fosse, na Terra, a primeira combinação entre o amor e a verdade, para a conquista do mundo. Sabemos porem, que, na manhã imediata, em partindo o precursor na carinhosa companhia de sua, mãe, perguntou Isabel a Jesus, com gracioso interesse : – “não queres vir conosco?” – ao que o pequeno carpinteiro de Nazaré respondeu, profeticamente, com inflexão de profunda bondade'. – “João partirá primeiro”.
Transcorridos alguns anos, vamos encontrar o Batista na sua gloriosa tarefa de preparação do caminho à verdade, precedendo o trabalho divino do amor, que o mundo conheceria em Jesus - Cristo.
João, de fato, partiu primeiro, a fim de executar as operações iniciais para a grandiosa conquista. Vestido de peles e entanto de mel selvagem, esclarecendo com energia e deixando-se degolar em testemunho à, Verdade, ele precedeu. a lição de misericórdia e da bondade. O Medre do¿ mestres quis colocar a figura franca e áspera do seu profeta no limiar de seus gloriosas ensinos e, por isso, encontramos em João Batista um dos mais belos de todos os símbolos imortais do Cristianismo. Salomé representa a futilidade cio mundo, Herodes e sua mulher o convencionalismo político e o interesse particular. João era a verdade; e a verdade, na sua, tarefa de aperfeiçoamento, dilacera e magoa, deixando-se levar aos sacrifícios extremos.
Como a dor que precede As poderosas manifestações da luz no íntimo dos corações, ela recebe o bloco de mármore bruto e lhe trabalha as asperezas para que a obra do amor surja, em sua pureza divina. João Batista foi a voz clamante do deserto. Operário da primeira hora, é ele o símbolo rude da verdade que arranca as mais fortes raízes do mundo, para que o reino de Deus prevaleça nos corações. Exprimindo a austera disciplina que antecede a espontaneidade do amor, a luta para que se desfaçam as sombras do caminho, João é o primeiro sinal o cristão ativo, em guerra com as próprias imperfeições do seu mundo interior, a fim de estabelecer em si mesmo o santuário de sua realização com o Cristo. Foi por essa razão que dele disse Jesus: – “Dos nascidos de mulher, João Batista é o maior de todos.”





Livro: Boa Nova, Psicografia Francisco C. Xavier, ditado pelo Espírito Irmão X (Humberto de Campos) , Ed FEB.

domingo, 1 de maio de 2016

SÉRIE BOA NOVA - BOA NOVA

BOA NOVA
Os historiadores do Império Romano, sempre observaram com espanto os profundos contrastes da gloriosa época de Augusto.
Caio Júlio César Otávio chegara ao poder, não obstante o lustre de sua notável ascendência, por uma série de acontecimentos felizes. As mentalidades mais altas da antiga República não acreditavam no seu triunfo. Aliando-se contra a usurpação de Antônio, com os próprios conjurados que haviam praticado o assassínio de seu pai adotivo, suas pretensões foram sempre contrariadas por sombrias perspectivas. Entretanto, suas primeiras vitórias começaram com a instituição do triunvirato e, em seguida, os desastres de Antônio, no Oriente, lhe abriram inesperados caminhos.
Como se o mundo pressentisse uma abençoada renovação de valores no tempo, em breve todas as legiões se entregavam, sem resistência, ao filho do soberano assassinado.
Uma nova era principiara com aquele jovem enérgico e magnânimo. O grande império do mundo, como que influenciado por um conjunto de forças estranhas, descansava numa onda de harmonia e de júbilo, depois de guerras seculares e tenebrosas.
Por toda parte levantavam-se templos e monumentos preciosos. O hino de uma paz duradoura começava em Roma para terminar na mais remota de suas províncias, acompanhado de amplas manifestações de alegria por parte da plebe anônima e sofredora.
A cidade dos Césares se povoava de artistas, de espíritos nobres e realizadores. Em todos os recantos, permanecia a sagrada emoção de segurança, enquanto o organismo das leis se renovava, distribuindo os bens da educação e da justiça.
No entanto, o inesquecível Imperador era franzino e doente. Os cronistas da época referem-se, por mais de uma vez, às manchas que lhe cobriam a epiderme, transformando-se, de vez em quando, em dartros dolorosos. Otávio nunca foi senhor de uma saúde completa.
Suas pernas viviam sempre enroladas em faixas e sua caixa torácica convenientemente resguardada contra os golpes de ar que lhe motivavam incessantes resfriados. Com frequência, queixava-se de enxaquecas, que se faziam seguir de singulares abatimentos.
Não somente nesse particular padecia o imperador das extremas vicissitudes da vida humana. Ele, que era o regenerador dos costumes, o restaurador das tradições mais puras da família, o maior reorganizador do Império, foi obrigado a humilhar os seus mais fundos e delicados sentimentos de pai e de soberano, lavrando um decreto de banimento de sua única filha, exilando-a na ilha de Pandatária, por efeito da sua vida de condenáveis escândalos na Corte, sendo compelido, mais tarde, a tomar as mesmas providências em relação à sua neta.
Notou que a companheira amada de seus dias se envolvia, na intimidada doméstica, em contínuas questões de envenenamento dos seus descendentes mais diretos, experimentando ele, assim, na família, a mais angustiosa ansiedade do coração.
Apesar de tudo, seu nome foi dado ao século ilustre que o vira nascer. Seus numerosos anos de governo se assinalaram por inolvidáveis iniciativas. A alma coletiva do Império nunca sentira tamanha impressão de estabilidade e de alegria. A paisagem gloriosa de Roma jamais reunira tão grande número de inteligências. É nessa época que surgem Vergílio, Horácio, Ovídio, Salústio, Tito Lívio e Mecenas, como favoritos dos deuses.
Em todos os lugares lavravam-se mármores soberbos, esplendiam jardins suntuosos, erigiam-se palácios e santuários, protegia-se a inteligência, criavam-se leis de harmonia e de justiça, num oceano de paz inigualável. Os carros de triunfo esqueciam, por algum tempo, as palmas de sangue e o sorriso da deusa Vitória não mais se abria para os movimentos de destruição e morticínio.
O próprio Imperador, muitas vezes, em presidindo às grandes festas populares, com o coração tomado de angústia pelos dissabores de sua vida íntima, se surpreendeu, testemunhando o júbilo e a tranquilidade geral do seu povo e, sem que conseguisse explicar o mistério daquela onda interminável de harmonia, chorando de comoção, quando, do alto de sua tribuna dourada, escutava a famosa composição de Horácio, onde se destacavam estes versos e imorredoura beleza:
Ó Sol fecundo,
Que com teu carro brilhante
Abres e fechas o dia!...
Que surges sempre novo e sempre igual!
Que nunca possas ver
Algo maior do que Roma.
É que os historiadores ainda não perceberam na chamada época de Augusto, o século do Evangelho ou da Boa Nova. Esqueceram-se de que o nobre Otávio era também homem e não conseguiram saber que, no seu reinado, a esfera do Cristo se aproximava da Terra, numa vibração profunda de amor e de beleza. Acercavam-se de Roma e do mundo não mais espíritos belicosos, como Alexandre ou Aníbal, porém outros que se vestiram dos andrajos dos pescadores, para servirem de base indestrutível aos eternos ensinos do Cordeiro.
Imergiam nos fluidos do planeta os que preparariam a vinda do Senhor e os que se transformariam em seguidores humildes e imortais dos seus passos divinos.
É por essa razão que o ascendente místico da era de Augusto se traduzia na paz e no júbilo do povo que, instintivamente, se sentia no limiar de uma transformação celestial.
Ia chegar à Terra o Sublime Emissário. Sua lição de verdade e de luz ia espalhar-se pelo mundo inteiro, como chuva de bênçãos magníficas e confortadoras. A Humanidade vivia, então, o século da Boa Nova. Era a “festa do noivado” a que Jesus se referiu no seu ensinamento imorredouro.
Depois dessa festa dos corações, qual roteiro indelével para a concórdia dos homens, ficaria o Evangelho como o livro mais vivaz e mais formoso do mundo, constituindo a mensagem permanente do céu, entre as criaturas em trânsito pela Terra, o mapa das abençoadas altitudes espirituais, o guia do caminho, o manual do amor, da coragem e da perene alegria.
E, para que essas características se conservassem entre os homens, como expressão de sua sábia vontade, Jesus recomendou aos seus apóstolos que iniciassem o seu glorioso testamento com os hinos e os perfumes da Natureza, sob a claridade maravilhosa de uma estrela a guiar reis e pastores à manjedoura rústica, onde se entoavam as primeiras notas de seu cântico de amor, e o terminassem com a luminosa visão da Humanidade futura, na posse das bênçãos de redenção. É por esse motivo que o Evangelho de Jesus, sendo livro do amor e da alegria, começa com a descrição da gloriosa noite de Natal e termina com a profunda visão de Jerusalém libertada, entrevista por João, nas divinas profecias do Apocalipse.





Livro: Boa Nova, Psicografia Francisco C. Xavier, ditado pelo Espírito Irmão X (Humberto de Campos) , Ed FEB.

sábado, 30 de abril de 2016

NA ESCOLA DO EVANGELHO

NA ESCOLA DO EVANGELHO
Oferecendo este esforço modesto ao leitor amigo, julgo prudente endereçar-lhe uma explicação, quanto à gênese destas páginas.
Dentro deles, sou o primeiro e reconhecer que os meus temas não são os mesmos.
Os que se preocupam com a expressão fenomênica, da forma não encontrarão, talvez, o mesmo estilo. Em período algum, faço referências de sabor mitológico. E, naqueles velhos amigos que, como eu próprio aí no mundo, não conseguem atinar com, as realidades da sobrevivência, surpreendo, por antecipação, as considerações mais estranhas. Alguns perguntarão, com, certeza, se fui promovido a ministro evangélico.
Semelhante admiração pode ser natural, mais não será muito justa. O gosto literário sempre refletiu as condições da vida do Espírito. Não precisamos muitos exemplos para justificar o acerto. Minha própria atividade literária, na Terra, divide-se em duas fases essencialmente distintas. As páginas do Conselheiro XX são muito diversas das em que vazei as emoções novas que a dor, como lâmpada maravilhosa, me fazia descobrir, no país da minha alma.
Meu problema atual não é o de escrever para agradar, mas o de escrever com proveito.
Sei quão singelo é o esforço presente; entretanto, desejo que ele reflita, o me testemunho de admiração por todos os que trabalham, pelo Evangelho do Brasil.
Nas esferas mais próximas da Terra, os nossos labores por afeiçoar sentimentos, à exemplificação do Cristo, são também minuciosos e intensos. Escolas numerosas se multiplicam para os espíritos desencarnados. E eu, que sou agora um, discípulo humilde desses educandários de Jesus, reconheci que os planos espirituais têm também o seu folclore... Os efeitos heroicos e abençoados muitas vezes anônimos no mundo, praticados por seres desconhecidos, encerram aqui profundas lições, em que encontramos forças novas.
Todas as expressões evangélicas têm, entre nós, a sua história viva. Nenhuma delas é símbolo superficial. Inumeráveis observações sobre o Mestre e seus continuadores palpitam nos corações estudiosos e sinceros.
Dos milhares de episódios desse folclore do céu, consegui reunir trinta e trazer “o conhecimento do amigo generoso que me concede a sua atenção”. Concordo em que é pouco; mas, isso deve valer como tentativa útil, pois estou certo de que não me faltou o auxílio indispensável.
Hoje, não mais cogito de crer, porque sei. E aquele Mestre de Nazaré polariza igualmente as minhas esperanças. Lembro-me de que, um dia, palestrando com alguns amigos protestantes, notei que classificavam a Jesus como “rocha do século”. Sorri e passei, como os pretensos espíritos fortes de nossa época, aí no mundão. Hoje, porém, já não posso sorrir, nem passar. Sinto e “rocha,” milenária, luminosa e sublime, que nos sustenta o coração atolado no pântano de misérias seculares. E aqui, estou para lhe prestar o meu preito de reconhecimento com estas páginas simples, cooperando com os que trabalham devotadamente na sua causa divina, de luz e redenção.
Jesus vê que no vaso imundo de meu espírito penetrou uma gota de seu amor desvelado e compassivo. O homem perverso, que chegava da Terra, encontrou o raio de luz destinado à purificação de seu santuário. Ele ampara os meus pensamentos com a sua bondade sem limites. A ganga terrena ainda abafa, em meu coração, o ouro que me deu da sua misericórdia; mas, com,o Bartolomeu, já possuo o bom ânimo para enfrentar os inimigos de minha paz, que se abrigam em mim mesmo. Tenho a alegria do Evangelho, porque reconheço que o seu amor não me desampara. Confiado nessa proteção amiga e generosa, meu Espírito trabalha e descansa.
Agora, para consolidar a estranheza, dos que me leem, com o sabor de crítica, tão ao gosto do nosso tempo, justificando a substância real das narrativas deste livro, citarei o apóstolo Marcos, quando diz (4:34) : “E sem parábola nunca lhes falava; porém, tudo declarava em particular aos seus discípulos”; e o apóstolo João, quando afirma (21:25) : “Há, porem, ainda muitas outras coisas que Jesus fez e que, se cada uma de per si fosse escrita, cuido que nem ainda o mundo todo poderia conter os livros que se escrevessem”.
E é só. Como me sê, não faço referencia aos clássicos da literatura antiga ou contemporânea. Cito Marcos e João. E que existem, Espíritos esclarecidos e Espíritos evangelizados e eu, agora, pego a Deus que  abençoe a minha esperança de pertencer ao número destes últimos.




Livro: Boa Nova, Psicografia Francisco C. Xavier, ditado pelo Espírito Irmão X (Humberto de Campos) , Ed FEB.

quinta-feira, 28 de abril de 2016

A ESTRELA DE BELÉM

A ESTRELA DE BELÉM
Cristãos decididos e sinceramente interessados na elucidação do fenômeno que produziu a estrela de Belém, à semelhança dos investigadores materialistas hão recorrido, através da História, a matemáticos e astrônomos capacitados, ansiosos por uma resposta perfeitamente lógica e racional sobre o inusitado aparecimento do astro a que se referem os escritores evangélicos. E de quando em quando fiéis às pesquisas feitas nos mapas celestes, aqueles estudiosos tentam traçar diretrizes que clarifiquem, em definitivo, o insuspeito acontecimento, na noite santa em que ocorreu o Natal de Jesus, e posteriormente vista pelos Magos do Oriente, que por ela foram guiados.
Segundo alguns observadores, fora o Cometa de Halley que naquele dia e àquele período fazia-se visível por toda a Galiléia e parte oriental do país. Para outros era uma conjunção oportuna de astros que produziram refração na atmosfera, incidindo o facho luminoso sobre a manjedoura singela, que Ele dignificou com o Seu nascimento.
Conquanto possamos admitir uma ou outra hipótese, Jesus é, em síntese, a constelação dos astros divinos ergastulados temporariamente na forma humana para conviver com os homens, deixando pela atmosfera envolvente do Planeta o rastro luminescente da sua imersão, como mensagem de advertência reveladora.
Rei Divino — e não obstante, submeteu-se às conjunturas da transitória convivência humana para, sublime, lecionar humildade.
Construtor da Terra — todavia, deixou-se experimentar pelas circunstâncias ocasionais do ministério entre as criaturas, para ensinar a grandeza da renúncia.
Legislador Sublime — entretanto, aquiesceu sofrer as imposições da ignorância religiosa de Israel e os padrões arbitrários da política do Império Romano, facultando-se a decisão no jogo odioso da ética vulgar, a fim de que se cumprissem as Leis e os Profetas, na integridade das previsões n’Ele, todo amor!
Em toda a Sua jornada, à semelhança de astro que se arrebenta em luz na imensidão escura da noite, clareou os destinos dos homens, como obreiro infatigável, acendendo lâmpadas de esperança nos corpos alquebrados e nos tecidos gastos das almas, pelas constrições das paixões esmagadoras de todos os tempos.
Misturou-se à caterva dos que viviam à Sua hora e caminhou com os pés da aflição, sem permitir-se consumir ou contaminar pelas querelas mesquinhas, pelas imposições tradicionais ou pelas suspeitas manifestações da idiossincrasia a que se aferravam os que O cercavam continuamente.
Por um minuto sequer não se rebelou contra a miserabilidade que defrontava em toda a parte...
Arquiteto das estrelas dobrou-se, sereno, na marcenaria humilde para que o pão fosse honrado com o suor da Sua face e a estrutura da Nova Humanidade pudesse alicerçar-se no trabalho edificante, que é a mola mestra do progresso e da felicidade humana.
Mantendo incessante quão ininterrupto contato com o Pai e servindo pela aquiescência dos anjos que se Lhe submetiam, dialogou pulcro, demoradamente, com os Espíritos das sombras, abrindo-lhes os ouvidos e acendendo a luz nos seus olhos apagados, com a inteireza moral das Suas conquistas incomparáveis.
Antes, todavia, de descer aos homens, fez que Avatares do Seu Reino viessem ampliar as dimensões das fronteiras terrenas, preparando o solo do futuro.
E eles floresceram como superior manifestação da vida, ora na índia, disseminando o reencarnacionismo e perfumando com toda uma filosofia de paz e renúncia os continentes dos espíritos; ora na China, empreendendo os audaciosos voos da política sob as bases seguras da família, no lar e na sociedade, de modo a traduzir a porvindoura fraternidade entre os homens, com inequívoca força de amor e respeito ao dever; ora no Egito, rescendendo os sutis aromas da Imortalidade, nos santuários dos Templos e na intimidade das Escolas de Iniciação, mantendo acesas as flamas da verdade, mediante as comunicações entre os dois planos da vida; ora na Caldéia ou na Pérsia favorecendo com a esperança milhares de vidas estioladas sob o clangor da guerra; ora na Hélade ou em Roma criando a conceituação da beleza, da justiça, da legislação equilibrada e do ideal do bem.
Assim também por Israel, que por longos séculos de dor se fez depositária da Mensagem do Deus Único, transitaram esses Embaixadores Sublimes, irrigando com a linfa preciosa decorrente do intercâmbio espiritual os solos crestados dos espíritos sofridos, a fim de que Ele próprio viesse oportunamente imolar-se, para ensinar libertação total das limitações físicas e da opressão do barro humano.
Por isso, todos os Seus feitos empalidecem ante os Seus ditos, pois que as realizações no corpo são menores do que a vitalização da alma, em considerando que ninguém jamais vivera conforme Ele o fazia, transformando-se, Ele próprio, no caminho por onde deveriam rumar todos os homens na direção da Vida e da Verdade, que em suma Ele representava na Terra.
Mesmo assim, quando contemplava com lágrimas as dores do porvir do mundo e via o homem imerso na fragilidade do corpo carnal prometeu voltar, através do Consolador, que seria o liame perene de união com Ele até o fim dos tempos.
O mergulho que começou em Belém não terminou no Gólgota, nem desapareceu após a visão da Jerusalém Libertada, que o vidente de Patmos preludiou...
Em Jesus, o Herói Invencível, que na Sua grandeza superou a astúcia de Cambises, rei dos persas, a violência de Alexandre Magno, da Macedônia, a audácia de Cipião, o africano, e a estratégia de Júlio César, o divino Imperador, as armas foram a mansidão e o amor, a abnegação e a misericórdia, entretecendo com esses fios de luz a túnica nupcial do noivado intérmino com a Humanidade de todos os tempos, pela qual espera desde o princípio, até o instante da boda sublime, para a reunião numa grande família, em pleno reinado da paz!
A viagem fora longa para aquele casal, principalmente para aquela mulher grávida, durante quatro ou cinco dias, sacudida pelo trote da montaria...
Sucederam-se abismos e montes, subidas e descidas, quase às portas da Cidade Santa, chegando por fim a Belém.. .
... E em pleno fastígio do Império Romano, indicado por uma estrela, anunciado pelos anjos, nasceu Jesus!
Antes, e desde então, a Sua vida deverá ser examinada, em "espírito e verdade", para serem compreendidos e penetrados pelos olhos imateriais, os únicos capazes de vislumbrar o Seu Reino.
* * *
Seja qual for a hipótese respeitável sobre a estrela de Belém, a união dos Espíritos de Luz que mantinham o intercâmbio entre as duas Esferas formou um facho poderoso que indicava o lugar da tradição, em que Ele deveria começar o ministério entre os homens.
... Pastores e reis magos, todos videntes, convidados pelas Entidades Celestes, seguiram-na, cada um a seu turno, enquanto os cantores sublimes proclamavam:
"Glória a Deus nas alturas e paz na terra entre os homens de boa vontade!"





Livro A luz do mundo, Psicografia Divaldo P. Franco, ditado pelo Espírito Amélia Rodrigues ED. LEAL.

terça-feira, 26 de abril de 2016

EXTINÇÃO DO MAL


EXTINÇÃO DO MAL
Na didática de Deus, o mal não é recebido com a ênfase que caracteriza muita gente na Terra, quando se propõe a combatê-lo. 
Por isso, a condenação não entra em linha de conta nas manifestações da Misericórdia Divina. 
Nada de anátema, gritos, baldões ou pragas. 
A Lei de Deus determina, em qualquer parte, seja o mal destruído não pela violência, mas pela força pacífica e edificante do bem. 
A propósito, meditemos, o Senhor corrige: 
·         A ignorância: com a instrução; 
·         O ódio: com o amor; 
·         A necessidade: com o socorro; 
·         O desequilíbrio: com o reajuste; 
·         A ferida: com o bálsamo; 
·         A dor: com o sedativo; 
·         A doença: com o remédio; 
·         A sombra: com a luz; 
·         A fome: com o alimento; 
·         O fogo: com a água; 
·         A ofensa: com o perdão; 
·         O desânimo: com a esperança; 
·         A maldição: com a benção.
Somente nós, as criaturas humanas, por vezes, acreditamos que um golpe seja capaz de sanar outro golpe. 
Simples ilusão. 
O mal não suprime o mal. 
Em razão disso, Jesus nos recomenda amar os inimigos e nos adverte de que a única energia suscetível de remover o mal e extingui-lo é e será sempre a força suprema do bem. 


Espírito: Bezerra de Menezes, Psicografia de Chico Xavier. Livro: Brilhe Vossa Luz 
 http://www.oespiritismo.com.br/mensagens/ver.php?id1=484

domingo, 24 de abril de 2016

TEMPO METAL

TEMPO MENTAL
Na azáfama da vida moderna o aturdimento domina as criaturas humanas que procuram atender aos muitos compromissos, reais e imaginários, não lhes permitindo espaço mental para as reflexões saudáveis nem para as meditações de urgência indispensáveis a uma existência equilibrada.
A parafernália eletrônica facilitando a comunicação, especialmente na área da futilidade, com as exceções compreensíveis, inquieta os seus serventuários que se lhes transformam em escravos, telefonando para diálogos irrelevantes, enviando SMS/s, curiosamente olhando o FACEBOOK, TWITTER, WHATSAPP e outros mecanismos de mexericos e novidades, entregando-se aos jogos de violência ou consultando os sites que lhes atendem aos específicos tormentos, em nome do falso progresso tecnológico.
Certamente, vivia-se bem sem muitos dos apetrechos modernos, alguns de extravagante significado, mais apresentados como status sociais e econômicos, em razão das suas grifes de luxo e de ilusão, do que pelo valor da utilidade, responsáveis pela estimulação da ansiedade, dos jogos de interesse pessoal, das vaidades e das competições doentias.
A falsa necessidade de se acompanhar ao vivo tudo o que se passa no Planeta, especialmente na área das tragédias e das intrigas entre celebridades, suas doenças, suas paixões, suas ascensões e quedas impulsiona os tipos comuns a viverem atrelados, a todo o momento, aos instrumentos que lhes sacia a sede de frivolidade como forma disfarçada de fuga psicológica da realidade, escondendo os conflitos perversos que os afligem.
O ser humano desconhece-se enquanto permanece atento aos acontecimentos exteriores que envolvem outras pessoas, cujas imagens são mecanismos de transferência das próprias aflições e insegurança, tornando-as como ídolos ou modelos, invejados uns, enquanto detestados outros, por parecerem inalcançáveis...
O desfile dos deuses da alta comunicação midiática é contínuo, alguns sendo substituídos por outros mais audaciosos ou mais bem-remunerados que, incapazes de gerenciar os valores e a existência, atiram-se ao desbordamento das paixões servis, porque vivem saturados de bajuladores e de prazeres incessantes que lhes anulam a capacidade emocional de se sentir bem.
Com rapidez vivenciam o triunfo e logo após desaparecem em silêncio sepulcral, sendo trazidos de volta aos holofotes da fama somente quando transformados em fantasmas inditosos, chamando a atenção por escândalos ou acontecimentos desditosos que os multiplicadores de opinião vendem com entusiasmo e comentários chulos, quando não escabrosos...
E certo que proliferam admiráveis expressões de elevação moral e de dignificação humana, nesse contexto, como não poderia ser diferente, no entanto, é a grande massa, aquela que é dirigida habilmente pelo mercado consumidor, que se deixa arrastar pelo fascínio da modernidade com graves prejuízos para a saúde física, emocional e mental.
Os diálogos pessoais, no momento, cedem lugar às comunicações eletrônicas, o prazer da convivência entre os amigos é transferido para as mensagens ligeiras, ortograficamente incorretas e atentatórias à boa linguagem. Diz-se que são os novos tempos e, sem dúvida, trata-se de um novo período no processo sociológico e psicológico da Humanidade, lamentavelmente com resultados bastantes afugentem para os seus áulicos.
A falta de comunhão fraternal, de conversação edificante, de estudos sociais abrangentes com objetivos libertadores caracteriza o crepúsculo desta civilização, em um claro-escuro de sentimentos, enquanto surge nova madrugada anunciando outros valores que estão esquecidos, mas que são de sabor e significado permanente.
Nesta panorâmica, em consequência, não se dispõe de tempo físico e muito menos de natureza mental para as aquisições duradouras, aquelas que elevam os seres humanos às esferas sublimes do pensamento e da realização espiritual.
Mesmo quando surge algum espaço físico, havendo oportunidade de tempo cronológico, não existe o de natureza psíquica, porque a mente se encontra abarrotada de ideias e propostas, compromissos e complexidades futuristas, inquietando as pessoas que não desejam ficar ultrapassadas no contexto do grupo social insaciável em que se encontram situadas.
É necessário, dizem, estar bem informadas, desde os lugares onde a drogadição e os demais vícios são permitidos, aos redutos de luxo ou de miséria para o prazer exaustivo, assim como para tomar conhecimento de todas as ocorrências nas diversas tribos, gangues, clubes elegantes e de alto preço, apesar dos sucessos que ocorrem nos seus interiores e, de quando em quando, se tornam motivos de escândalos na mídia...
O ser humano é constituído de equipamentos eletrônicos muito delicados, cujo manejo exige habilidade e experiência, a fim de não gerar desarmonia no seu funcionamento.
A mente, que se exterioriza através da câmera cerebral, tem necessidade de harmonia, a fim de processar todos os acontecimentos que lhe dizem respeito ou aqueles que têm lugar à sua volta, de maneira a bem administrar a máquina orgânica.
Em razão disso, o pensamento saudável é essencial para uma existência equilibrada, sendo veículo dos recursos que proporcionam bem ou mal-estar, de acordo com a onda vibratória em que se expressa.
O atropelamento das ideias, a falta de amadurecimento psicológico, a ausência da reflexão podem ser comparadas ao fenômeno alimentar, mediante o qual o indivíduo sobrecarrega o estômago na ânsia de comer bem, gerando graves distúrbios digestivos de imediato. O mesmo ocorre nas áreas mental e comportamental.
Impossibilitada a mente de decodificar todos os fatos e informações que chegam ao arquipélago cerebral, apresentam-se a ansiedade, a impaciência, gerando descontrole nas neurocomunicações com resultados perturbadores para o discernimento, a memória, as aspirações iluminativas, a saúde integral...
O ser humano necessita de silêncio mental, de espaço físico para a autoidentificação, para o autodescobrimento.
Esse interregno entre as atividades irá propiciar-lhe melhor discernimento em torno dos objetivos existenciais, facultando-lhe experienciar os prazeres não desgastantes dos sentidos físicos, mas a fruição da alegria íntima de viver e de poder pensar com liberdade e altruísmo.
Quando se age sem pensar, inevitavelmente se é convidado a retroceder nas ações intempestivas, refazendo o caminho conquistado.
O silêncio íntimo, que permite ouvir-se a voz da consciência, é de alta relevância para uma existência feliz, porque permite saber-se o que realmente se deseja produzir e como fazê-lo de maneira excelente.
A azáfama desequilibra o excesso de ruídos, a multiplicidade de interesses desarmoniza, e o ser humano perde o endereço, o rumo da sua felicidade.
Preserva algum tempo mental para as tuas reflexões, não te deixando seduzir pelas vozes alteradas dos desconcertos emocionais tidos como festivos e promotores da alegria.
Resguarda-te na meditação diária, mesmo que seja por um espaço de tempo reduzido, mas de grande significado para o teu autocontrole, para as tuas decisões e realizações.
Não sobrecarregues as tuas paisagens mentais com as imagens violentas dos desejos infrenes e inferiores, com as imposições sociais e seus fetiches mentirosos, permitindo-te ser livre para pensar e para agir dentro dos padrões felicitadores da boa ética-moral que encontras nos ensinamentos de Jesus, que te aguarda após as refregas humanas...




Autor: Espírito Joanna de Ângelis, Psicografia de Divaldo Franco, livro: Liberta-te do Mal, Ed. LEAL

quinta-feira, 21 de abril de 2016

DOAÇÕES ESPIRITUAIS

DOAÇÕES ESPIRITUAIS
 Feliz daquele que destaca uma parcela do que possui, a benefício dos semelhantes!
Bem-aventurado aquele que dá de si próprio!
Através de todos os filtros do bem, o amor é sempre o mesmo,mas, enquanto as dádivas materiais, invariavelmente benditas, suprimem as exigências exteriores, as doações de espírito interferem no íntimo, dissipando as trevas que se acumulam no reino da alma.
Dolorosa a tortura da fome, terrível a calamidade moral.
Divide o teu pão com as vítimas da penúria, mas estende fraternas mãos aos que vagueiam mendigando o esclarecimento e o consolo que desconhecem. Não precisas procurá-los, de vez que te cercam em todos os ângulos do caminho... São amigos e por vezes te ferem com supostas atitudes de crueldade, quando apenas te esmolam conforto, comunicando-te, em forma de intemperança mental, as chamas de sofrimento que lhes calcinam os corações; categorizam-se por adversários e criam-te problemas, não por serem perversos, mas porque lhes faltam ainda as luzes do entendimento; aparecem por pessoas entediadas, que dispõem de todas as vantagens humanas para serem felizes, mas a quem falta uma voz verdadeiramente amiga, capaz de induzi-las a descobrir a tranquilidade e a alegria, através da sementeira das boas obras; surgem na figura de criaturas consideradas indesejáveis e viciosas, cujo desequilíbrio nada mais é que a expectativa frustrada do amparo afetivo que suplicaram em vão!...
Para atender aos que carecem de apoio físico, é preciso bondade; no entanto, para arrimar os que sofrem necessidades da alma, é preciso bondade com madureza.
Se já percebes que nem todos estão no mesmo degrau evolutivo, auxilia com a tua palavra ou com o teu silêncio, ou com o teu gesto ou com a tua decisão no plantio da união e da concórdia, da esperança e do otimismo, no terreno em que vives!...
Compreender e compreender para a sustentação da lavoura do bem que se cobrirá de frutos para a felicidade geral.
Não te digas em solidão para fazer tanto... Refletindo em nossos deveres, antes as doações espirituais, lembremo-nos de Jesus. Nos dias de fome da turba inquieta, reunia-se o Divino mestre com os amigos para beneficiar a milhares; entretanto, na hora do extremo sacrifício, quando lhe cabia socorrer as vítimas da ignorância e do ódio, da violência e do fanatismo, ele sozinho fez o donativo de si mesmo, em favor de milhões.
DESPORTOS
Se há esportes que auxiliam o corpo, há esportes que ajudam a alma...
A marcha do dever retamente cumprido.
A regata do suor no trabalho.
O exercício do devotamento ao estudo.
O salto do esforço, acima dos obstáculos.
A maratona das boas obras.
O torneio da gentileza.
O mergulho no silêncio, diante da injúria.
O nado da paciência nas horas difíceis.
A ginástica da tolerância perante as ofensas.
O Voo do pensamento às esferas superiores.
A demonstração de resistência moral nas provas de cada dia.
Todos esses desportos do espírito podem ser praticados em todas as idades e condições.
E creia que qualquer campeonato num deles será prêmio de luz em seu coração, a brilhar para sempre.


E – Cap. IX – Item 7
L – Questão 893

Temas Estudados:
Aparência e realidade
Bondade e madureza de espírito
Caridade material e caridade moral
Compreensão e felicidade
Dádivas
Esporte da alma



Livro Estude e Viva, Psicografia Francisco C. Xavier e Waldo Vieira, ditado pelos Espíritos André Luiz e Emmanuel, Ed FEB.

quarta-feira, 20 de abril de 2016

SÉRIE BOA NOVA - AMOR E RENÚNCIA



AMOR E RENÚNCIA
O manto da noite caía de leve sobre a paisagem de Cafarnaum e Jesus, depois de uma das grandes assembleias populares do lago, se recolhia à casa de Pedro em companhia do apóstolo. Com a sua palavra divina havia tecido luminosos comentários em torno dos mandamentos de Moisés; Simão, no entanto, ia pensativo como se guardasse uma dúvida no coração.
Inquirido com bondade pelo Mestre, o apóstolo esclareceu:
— Senhor, em face dos vossos ensinamentos; como deveremos interpretar a vossa primeira manifestação, transformando a água em vinho, nas bodas de Caná?  Não se tratava de uma festa mundana?  O vinho não iria cooperar para o desenvolvimento da embriaguez e da gula?
Jesus compreendeu o alcance da interpelação e sorriu.
— Simão — disse ele — conheces a alegria de servir a um amigo?
Pedro não respondeu pelo que o Mestre continuou:
— As bodas de Caná foram um símbolo da nossa união na Terra. O vinho, ali, foi bem o da alegria com que desejo selar a existência do Reino de Deus nos corações. Estou com os meus amigos e amo-os a todos. Os afetos d’alma, Simão, são laços misteriosos que nos conduzem a Deus. Saibamos santificar a nossa afeição, proporcionando aos nossos amigos o máximo da alegria; seja o nosso coração uma sala iluminada onde eles se sintam tranquilos e ditosos. Tenhamos sempre júbilos novos que os reconfortem, nunca contaminemos a fonte de sua simpatia com a sombra dos pesares! As mais belas horas da vida são as que empregamos em amá-los, enriquecendo- lhes as satisfações íntimas.
Contudo, Simão Pedro, manifestando a estranheza que aquelas advertências lhe causavam, interpelou ainda o Mestre, com certa timidez:
— E como deveremos proceder quando os amigos não nos entendam, ou quando nos retribuam com ingratidão? Jesus pôs nele o olhar lúcido e respondeu:
— Pedro, o amor verdadeiro e sincero nunca espera recompensas. A renúncia é o seu ponto de apoio, como o ato de dar é a essência de sua vida. A capacidade de sentir grandes afeições já é em si mesma um tesouro. A compreensão de um amigo deve ser para nós a maior recompensa. Todavia, quando a luz do entendimento tardar no espírito daqueles a quem amamos, deveremos lembrar-nos de que temos a sagrada compreensão de Deus, que nos conhece os propósitos mais puros. Ainda que todos os nossos amigos do mundo se convertessem, um dia, em nossos adversários, ou mesmo em nossos algozes, jamais nos poderiam privar da alegria infinita de lhes haver dado alguma coisa!...
E com o olhar absorto na paisagem crepuscular, onde vibravam sutis harmonias, Jesus ponderou, profeticamente:
- O vinho de Caná poderá, um dia, transformar-se no vinagre da amargura; contudo, sentirei, mesmo assim, júbilo em absorvê-lo, por minha dedicação aos que vim buscar para o amor do Todo-Poderoso.
Simão Pedro, ante a argumentação consoladora e amiga do Mestre, dissipou as suas derradeiras dúvidas, enquanto a noite se apoderava do ambiente, ocultando o conjunto das coisas no seu leque imenso de sombras.
***
Muito tempo ainda não decorrera sobre essa conversação, quando o Mestre, em seus ensinos, deixou perceber que todos os homens, que não estivessem decididos a colocar o Reino de Deus acima de país, mães e irmãos terrestres, não podiam ser seus discípulos.
No dia desses novos ensinamentos, terminados os labores evangélicos, o mesmo apóstolo interpelou o Senhor, na penumbra de suas expressões indecisas:
– Mestre, como conciliar estas palavras tão duras com as vossas anteriores observações, relativamente aos laços sagrados entre os que se estimam?!
Sem deixar transparecer nenhuma surpresa Jesus esclareceu:
– Simão, a minha palavra não determina que o homem quebre os elos santos de sua vida; antes exalta os que tiverem a verdadeira fé para colocar o poder de Deus acima de todas as coisas e de todos os seres da criação infinita.
Não constitui o amor dos pais uma lembrança da bondade permanente de Deus?
Não representa o afeto dos filhos um suave perfume do coração?!
Tenho dado aos meus discípulos o título de amigos, por ser o maior de todos.
“O Evangelho – continuou o Mestre, estando o apóstolo a ouvi-la, atentamente – não pode condenar os laços de família, mas coloca acima deles o laço indestrutível da paternidade de Deus. O reino do céu no coração deve ser o tema central de nossa vida.” Tudo mais é acessório. A família, no mundo, está igualmente subordinada aos imperativos dessa, edificação.
Já pensaste Pedro, no supremo sacrifício de renunciar?
Todos os homens sabem conservar, são raros os que sabem privar-se. Na construção do reino de Deus, chega um instante de separação, que é necessário se saiba suportar com sincero, desprendimento. E essa separação não é apenas a que se verifica pela morte do corpo, muitas vezes proveitosa e providencial, mas também a das posições estimáveis no mundo, a da família terrestre, a do viver nas paisagens queridas, ou, então, a de uma alma bem-amada que preferiu ficar a distância, entre as flores venenosas de um dia!...
“Ah! Simão, quão poucos sabem partir, por algum tempo, do lar tranquilo, ou dos braços adorados de uma afeição, por amor ao reino que é o tabernáculo da vida eterna!! Quão poucos saberão suportar a calunia, o apodo, a indiferença, por desejarem permanecer dentro de suas criações individuais, cerrando ouvidos à advertência do céu para que se afastem tranquilamente!... Como são raros os que sabem ceder e partir em silêncio, por amor ao reino, esperando o instante em que Deus se pronuncia! Entretanto, Pedro, ninguém se edificará, sem conhecer cada virtude de saber renunciar com alegria, em obediência à vontade de Deus, no momento oportuno, compreendendo a sublimidade de seus desígnios. Por essa razão, os discípulos necessitam aprender a partir e a esperar onde as determinações de Deus os conduzam, porque a edificação do reino do céu no coração dos homens deve constituir a preocupação primeira, a aspiração mais nobre da alma, as esperanças centrais do espírito!..
Ainda não havia anoitecido. Jesus, porém, deu por concluídas as suas explicações, enquanto as mãos calosas do apóstolo passavam, de leve, sobre os seus olhos úmidos.
***
Dando o testemunho real de seus ensinamentos, o Cristo soube ser, em todas as circunstâncias, o amigo fiel e dedicado. Nas elucidações de João, vemo-lo a exclamar: – “Já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor; tenho-vos chamado amigos, porque vos revelei tudo quanto ouvi de meu Pai!” E, na narrativa de Lucas, ouvimo-lo dizer, antes da hora extrema: – “Tenho desejado anuías ente comer convosco esta Páscoa, antes da minha paixão”.
Ninguém no mundo já conseguiu elevar à altura em que o Senhor as colocou a beleza e a amplitude doe elos afetivos, mesmo porque a sua obra inteira é a de reunir, pelo amor, todas as nações e todos os homens, no círculo divino da família universal. Mas, também, por demonstrar que o reino de Deus deve constituir a preocupação primeira das almas, ninguém. como ele soube retirar-se das posições, no instante oportuno em que obedecia aos desígnios divinos. Depois da magnífica vitória da entrada em Jerusalém, é traído por um dos discípulos amados; negam-no os seus seguidores e companheiros; suas ideias são tidas como perversoras e revolucionárias; é acusado como bandido e feiticeiro; sua morte passa por ser a de um ladrão.
Jesus, entretanto, ensina às criaturas, nessa hora suprema, a excelsa virtude de retirar-se com a solidão dos homens, mas com a proteção de Deus. Ele, que transformara toda a Galiléia numa fonte divina; que se levantara com desassombro contra as hipocrisias do farisaísmo do tempo; que desapoiara os cambistas, no próprio templo de Jerusalém, como advogado enérgico e superior de todas as grandes causas da verdade e do bem, passa, no dia do Calvário, em espetáculo para o povo, com a alma num maravilhoso e profundo silêncio.
Sem proferir a mais leve acusação, caminha humilde, coroado de espinhos, sustendo nas mãos uma cana imunda à guisa de cetro, vestindo a túnica da ironia, sob as cusparadas dos populares exaltados, de faces sangrentas e passas vacilantes, sob o peso da cruz, vilipendiado, sem articular uma queixa.
No momento do Calvário, Jesus atravessa as ruas de Jerusalém, como se estivesse diante da humanidade inteira, ensinando a virtude da renuncia por amor do reino de Deus, revelando ser essa a sua derradeira lição.



Livro: Boa Nova, Psicografia Francisco C. Xavier, ditado pelo Espírito Irmão X (Humberto de Campos) , Ed FEB.