Os preocupados vivem
entorpecidos no hoje por quererem controlar, com seus pensamentos e com sua imaginação,
os fatos do amanhã.
As tarefas evolutivas executadas por nós na Terra fazem parte de um
processo dinâmico que levará nossas almas ainda por inúmeras encarnações. A
Vida não tem outro objetivo senão o de doação, de proteção e de recursos, para
que possamos atingir uma estabilidade íntima que nos assegure a clareza e a
serenidade mental, elementos imprescindíveis que nos facilitarão o progresso espiritual.
Se acreditarmos, porém, que nossa felicidade ou infelicidade
venha de coisas externas, do acaso ou das mãos de outras pessoas, estaremos dificultando nosso
crescimento e amadurecimento interior.
A criatura que atingiu a lucidez espiritual já adquiriu a capacidade de
compreender a eficiência com que a Natureza age em todos nós. Ela se conduz
no cotidiano, pacificada e serena, pois percebeu que está constantemente
ganhando recursos da Vida Excelsa, mesmo quando atravessa o que consideramos “transtornos
existenciais”. Ao mesmo tempo, aprendeu que, por mais que se preocupe
a reunião de todas essas preocupações não poderá mudar coisa alguma em sua vida.
“... O Espírito na escolha das provas que queira sofrer (...) escolhe,
de acordo com a natureza de suas faltas, as que o levem à expiação destas e a
progredir mais depressa.” (21)
A Providência Divina agindo em nós faz com que saibamos exatamente o que
precisamos escolher para nosso aprimoramento interior. Para que a consciência
da criatura tenha uma boa absorção ou uma sensível abertura para o aprendizado
é preciso que adquira senso e raciocínio, noção e atributos, todos extraídos
das suas provas e expiações, ou seja, das diversas experiências vivenciais.
Ainda encontramos nesta questão: “uns impõem a si mesmos uma vida de
misérias e privações (...) outros preferem experimentar as tentações da riqueza
e do poder (...) muitos, finalmente, se decidem a experimentar suas forças nas
lutas que terão de sustentar em contato com o vício.”
Por que então a nossa desmedida preocupação com o
destino dos outros?
Por que tentamos forçar as coisas para que aconteçam?
As almas estão vivenciando o útil e o necessário para o desenvolvimento
de suas potencialidades naturais e divinas. Podemos; orientar, amar, apoiar, ajudar, mas jamais
achar que sabemos melhor como as coisas devem ser e como as criaturas devem se comportar.
No entanto, é importante não
confundirmos preocupação com prudência ou cautela. A previdência e o
planejamento, para que possamos atingir um futuro promissor, são desejos
naturais dos homens de bom senso.
Na realidade, preocupação quer dizer aflição e imobilização
do presente por causa de um suposto fato que poderá acontecer, ou ainda uma
suspeita de que uma decisão poderá causar ruína ou perda.
A preocupação excessiva com fatos em geral e com o bem-estar das pessoas
está alicerçada, em muitas ocasiões, em um mecanismo psicológico chamado “autodistração”.
Os preocupados têm dificuldade de concentração no momento presente e, por isso, fazem com que a consciência se
desvie do foco da experiência para a periferia, isto é, vivem entorpecidos no
hoje por quererem controlar, com seus pensamentos e com sua imaginação, os
fatos do amanhã.
Esse desvio da atenção é uma busca deliberada de distração do indivíduo;
é uma forma de impedir
a si próprio de ver o que precisa perceber em seu mundo interior.
Quando dizemos que nos preocupamos com os outros, quase sempre estamos nos abstraindo:
— das
atitudes que não temos coragem de tomar;
— das
responsabilidades que não queremos assumir;
— das
carências afetivas que negamos a nós mesmos;
— dos
atos incoerentes que praticamos e não admitimos;
— dos
bloqueios mentais que possuímos e não aceitamos.
Deslocamos todos os nossos
esforços, atenção e potencialidades para socorrer, proteger, salvar, convencer
e aconselhar nossos “companheiros de viagem”, esquecendo
muitas vezes, propositadamente ou não, nossa primeira e mais importante tarefa
na Terra: a nossa transformação interior.
É incontestável que a preocupação jamais nos preservará das angústias do
amanhã, apenas colocará obstáculos às nossas realizações do presente.
Não devemos nem podemos forçar mudanças de atitudes nas pessoas. Em
realidade, só podemos modificar a nós mesmos. Nosso
livre-arbítrio nos confere possibilidades de uso particular com o fim
específico de retificarmo-nos, porém não nos dá o direito de querer modificar os outros.
Acreditamos, ainda assim, que temos o poder de exigir que os outros
pensem como nós e que podemos interferir nas manifestações dos adultos que nos
cercam. Por mais queridos que nos sejam, não
nos é lícito dissuadi-los de suas decisões e posturas de vida.
Cada um se expressa perante a
existência como pode. Assim, suas criações, desejos, metas e objetivos são
coerentes com seu grau evolutivo. Qualquer tipo de coação em um modo de ser é profundo desrespeito.
Confiemos na Paternidade Universal que rege a todos, visto que preocupação, em síntese, é desconfiança nas Leis da Vida.
Não nos compete determinar ou dirigir as decisões alheias, nem mesmo temos o
direito de convencer ninguém ou censurar as opções de vida de quem quer que
seja.
Por que condenar os atos e as atitudes de alguém que o próprio “Criador
do Universo” deixou livre para decidir?
Por que sofrer ou preocupar-se com isso?
X.X.X
Toda vida em nós e fora de nós está em constante ritmicidade.
Por que, então, desrespeitar os mecanismos de que se utilizam as leis
divinas na evolução?
Por que nos afligirmos e tentarmos mudar o imutável?
Nossa percepção, hoje, nos esclarece sobre os fatos do ontem, talvez
sobre acontecimentos da semana anterior ou, possivelmente, sobre eventos quase
esquecidos de anos passados.
Tudo ocorre dentro de um perfeito sincronismo tempo/espaço. Não adianta
nos preocuparmos com o nosso processo de aprendizado nem com o dos outros,
pois, se alguém não está conseguindo caminhar convenientemente agora, é porque
lhe falta algo a fazer, ou mesmo, coisas a aprender. No Universo, tudo obedece
a um ritmo natural; as raízes de nossa evolução corporal/espiritual estão
arraigadas nas íntimas relações com a Natureza. Em nível mais profundo, somos
parte dela.
Vivenciamos conscientemente, a todo instante, os ciclos da Natureza com
nossas emoções e sentimentos. Experimentamos desânimo e abatimento no
transcurso de um longo período de estiagem; porém, quando a chuva cai, a nossa
sensação é de alegria e prazer; ou, durante as tempestades, nossas impressões
oscilam desde a apreensão até o medo. Sentimos a alma leve e feliz com o
surgimento do sol, nos dias calmos e iluminados.
Há um tempo para tudo. Em verdade, os ritmos que nos governam são
inerentes à vida.
Também nós, os espíritos domiciliados ou não na Terra física,
identificamos nossos ritmos internos através das sensações da dor e do prazer,
a fim de avaliarmos o “grau de acerto” de nossos atos e decisões.
Dia e noite, primavera e inverno, amanhecer e entardecer são fases da
Natureza, atuando diretamente nos ritmos de nossas ocupações e procedimentos do
cotidiano.
Em verdade, a nossa identificação com a Vida Superior se plenifica
quando harmonizamos nossos ritmos internos com os ritmos externos da Natureza.
Propõe o professor Rivail aos Nobres Emissários: “Os seres que
habitam cada mundo hão todos alcançado o mesmo nível de perfeição?” E os Espíritos respondem à
questão com sabedoria: “Não, dá-se em cada um o que ocorre na Terra: uns
Espíritos são mais adiantados do que outros.” (22)
Os ritmos interiores dos indivíduos se prendem ao nível
evolucional/espiritual de cada um, e toda a vida no Universo está dentro de uma
ordem perfeita. Tanto os astros da abóbada celeste, como os seres microscópicos
do nosso planeta, todos são regidos por uma Divina Ordem, que mantém
trajetórias e órbitas perfeitamente alinhadas, como também os ritmos e os
propósitos coerentes com o grau de necessidade e progresso das criaturas e das
demais criações.
Embora os ritmos biológicos de uma pessoa difiram completamente dos
ritmos de outros seres, podemos encontrar ritmos orgânicos semelhantes em
membros de uma mesma espécie. A ação de inspirar resulta com exata precisão em
seu reverso, a ação de expirar. Esta sucessão ou alternância produz um ritmo.
Quando suprimimos um deles, o outro também desaparecerá, pois se submetem
mutuamente.
Por que aquilo que nos parece tão evidente na respiração nos passa
despercebido, ou mesmo sem análise alguma, nos outros campos do conhecimento
humano?
Os pulmões sustentam a vida orgânica descarregando periodicamente
bióxido de carbono e absorvendo oxigênio, que é levado pelo sangue, vitalizando
as células, invariavelmente. As atividades celulares nos tecidos permanecem num
constante estado de multiplicação, e a respiração é contínua e compassada.
Certos ritmos que nos dirigem são considerados como qualidades inerentes
à vida e não podem ser impostos pela exterioridade.
O músculo cardíaco apresenta ritmo espontâneo. As batidas do coração
dispõem de seus próprios marca passos. Na aurícula direita, um minúsculo
nódulo, conhecido como “sinus”, à feição de um timoneiro numa antiga embarcação
romana, possui uma tarefa gigante: marca o ritmo das batidas no “barco da vida”.
As células nervosas do cérebro detonam frequentes impulsos que, por sua vez,
repercutem na ritmicidade das ondas cerebrais, que podem ser registradas pelo eletroencefalograma.
Em todo reino vegetal e
animal, a função sexual é um fenômeno periódico, desde a polinização das
plantas até o ciclo menstrual das mulheres — que é o resultado direto do
aumento e diminuição dos hormônios num ritmo mais ou menos mensal.
Se pudéssemos observar o interior de alguém que está
correndo, veríamos, com certa regularidade, a contração de grupos alternados de
músculos. Os chamados “flexores” se contraem, fazendo dobrar as articulações;
os “extensores” se contraem, fazendo endireitar as articulações.
Toda vida em nós e fora de nós está em constante ritmicidade.
Por que, então, desrespeitar os mecanismos de que se utilizam as leis
divinas na evolução?
Por que nos afligimos e tentarmos mudar o imutável?
Como é importante caminhar, passo após passo, acompanhando nosso próprio
“compasso existencial”
e percebendo a hora propícia de mudança!
O dia de hoje nos fornecerá exatamente as oportunidades de que
precisamos para compor com estrofes e versos harmônicos o “poema de nossa vida”,
cuja métrica foi antecipadamente determinada por nós no ontem. Nossas
experiências da vida não acontecem por acaso.
O Planejamento Divino nada faz
sem um desígnio proveitoso; tudo tem sua razão de ser. Não é preciso desespero,
nem preocupação; tudo acontece como tem que acontecer.
Referencias:
21 LE-264 – Que é o que dirige o
Espírito na escolha das provas que queira sofrer?
“Ele escolhe, de acordo com a natureza de suas faltas, as que o levem à
expiação destas e a progredir mais depressa. Uns, portanto, impõem a si mesmos
uma vida de misérias e privações, objetivando suportá-las com coragem; outros
preferem experimentar as tentações da riqueza e do poder; muito mais perigosas,
pelos abusos e má aplicação a que podem dar lugar; pelas paixões inferiores que
uma e outros desenvolvem; muitos, finalmente, se decidem a experimentar suas
forças nas lutas que terão de sustentar em contato com o vício.”
22 LE- 179 – Os seres que habitam cada
mundo hão todos alcançado o mesmo nível de perfeição?
“Não;
dá-se em cada um o que ocorre na Terra: uns Espíritos são mais adiantados do
que outros.”
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