APRENDENDO A PERDOAR[1]
“Se
perdoardes aos homens as faltas que eles fazem contra vós, vosso Pai celestial
vos perdoará também vossos pecados, mas se não perdoardes aos homens quando
eles vos ofendem, vosso Pai, também, não vos perdoará os pecados.”
Evangelho Segundo Espiritismo
- Capítulo 10, item 2.
Nosso conceito de perdão tanto pode facilitar
quanto limitar nossa capacidade de perdoar.
Por
possuirmos crenças negativas de que perdoar é “ser apático” com os erros
alheios, ou mesmo, é aceitar de forma passiva tudo o que os outros nos fazem, é
que supomos estar perdoando quando aceitamos agressões, abusos, manipulações e
desrespeito aos nossos direitos e limites pessoais, como se nada tivesse
acontecendo.
Perdoar
não é apoiar comportamentos que nos tragam dores físicas ou morais, não é
fingir que tudo corre muito bem quando sabemos que tudo em nossa volta está em
ruínas. Perdoar não é “ser conivente” com as condutas inadequadas de parentes e
amigos, mas ter compaixão, ou seja, entendimento maior através do amor
incondicional. Portanto, é um “modo de viver.
O
ser humano, muitas vezes, confunde o “ato de perdoar” com a negação dos
próprios sentimentos, emoções e anseios, reprimindo mágoas e usando supostamente
o “perdão” como desculpa para fugir da realidade que, se assumida, poderia como
conseqüência alterar toda uma vida de relacionamento.
Uma das ferramentas básicas para alcançarmos o perdão real é mantermos a certa “distância
psíquica” da pessoa-problema, ou das discussões, bem como dos diálogos mentais
que giram de modo constante no nosso psiquismo, porque estamos engajados
emocionalmente nesses envolvimentos neuróticos.
Ao desprendermo-nos mentalmente, passamos a usar de modo construtivo
os poderes do nosso pensamento, evitando os “deveria ter falado ou agido” e
eliminando de nossa produção imaginativa os acontecimentos infelizes e
destrutivos que ocorreram conosco.
Em muitas
ocasiões, elaboramos interpretações exageradas de suscetibilidade e caímos em
impulsos estranhos e desequilibrados, que causam em nossa energia mental uma
sobrecarga, fazendo com que o cansaço tome conta do cérebro. A exaustão íntima é profunda.
A
mente recheada de idéias desconexas dificulta o perdão, e somente desligando-nos
da agressão ou do desrespeito ocorrido é que o pensamento sintoniza com as
faixas da clareza e da nitidez, no processo denominado “renovação da atmosfera
mental”.
É fator imprescindível, ao “separar-nos”
emocionalmente de acontecimentos e de criaturas em desequilíbrio, a terapia da
prece, como forma de resgatar a harmonização de nosso “halo mental”. Método
sempre eficaz restaura-nos os sentimentos de paz e serenidade, propiciando-nos
maior facilidade de harmonização interior.
A
qualidade do pensamento determina a “ideação” construtiva ou negativa, isto é,
somos arquitetos de verdadeiros “quadros mentais” que circulam sistematicamente
em nossa própria órbita áurica. Por nossa capacidade de “gerar imagens” ser
fenomenal, é que essas mesmas criações nos fazem ficar presos em “monos-idéia”.
Desejaríamos tanto esquecer, mas somos forçados a lembrar, repetidas vezes,
pelo fenômeno “produção conseqüência”.
Desligar-se ou desconectar-se não é um
processo que nos torna insensíveis e frios, como criaturas totalmente
impermeáveis às ofensas e críticas e que vivem sempre numa atmosfera do tipo “ninguém
mais vai me atingir ou machucar”.
Desligar-se quer dizer deixar de
alimentar-se das emoções alheias, desvinculando-se mentalmente dessas relações
doentias de hipnoses magnéticas, de alucinações íntimas, de represálias, de
desforras de qualquer matiz ou de problemas que não podemos solucionar no
momento.
Ao
soltar-nos vibracionalmente desses contextos complexos, ao desatarnos desses
fluidos que nos amarram a essas crises e conflitos existenciais, poderemos ter
a grande chance de enxergar novas formas de resolver dificuldades com uma visão
mais generalizada das coisas e de encontrar, cada vez mais, instrumentos
adequados para desenvolvermos a nobre tarefa de nos compreender e de
compreender os outros.
Quando acreditamos que cada ser humano
é capaz de resolver seus dramas e é responsável pelos seus feitos na vida,
aceitamos fazer esse “distanciamento” mais facilmente, permitindo que ele seja
e se comporte como queira, dando-nos também essa mesma liberdade.
Viver
impondo certa “distância psicológica” às pessoas e às coisas problemáticas
sejam entes queridos difíceis, sejam companheiros complicados, não significa que deixaremos de nos
importar com eles, ou de amá-los ou de perdoar-lhes, mas sim que
viveremos sem enlouquecer pela ânsia de tudo compreender, padecer, suportar e
admitir.
Além do
que, desligamento nos motiva ao perdão com maior facilidade, pelo grau de
libertação mental, que nos induz a viver sintonizado; em nossa própria vida e
na plena afirmação positiva de que “tudo deverá tomar o curso certo, se minha
mente estiver em serenidade”.
Compreendendo
por fim que, ao
promovermos “desconexão psicológica”, teremos sempre mais habilidade e
disponibilidade para perceber o processo que há por trás dos comportamentos
agressivos, o que nos permitirá não reagir da maneira como o fazíamos,
mas olhar “como é e como está sendo feito” nosso modo de nos relacionar com os
outros. Isso nos leva, conseqüentemente, a começar a entender a “dinâmica do
perdão”.
Uma das
mais eficientes técnicas de perdoar é retomar o vital contato com nós mesmos,
desligando-nos de toda e qualquer “intrusão mental”, para logo em seguida
buscar uma real empatia com as pessoas. Deixamos de; ser vítimas de forças fora
de nosso controle para
transformar-nos em pessoas que criam sua própria realidade de vida,
baseadas não nas críticas e ofensas do mundo, mas na sua percepção da verdade e
na vontade própria.
[1] Fonte: Livro – Renovando Atitudes – ditado do
Espírito Hammed, psicografia de Francisco
do Espírito Santo Neto, Boa Nova Editora e Distribuidora, 5.“ edição