O excesso de rigidez e severidade faz com que criemos um
padrão mental que influenciará os outros para que nos tratem da mesma forma
como os tratamos.
Teimosia é uma forma de rigidez da personalidade. É um
apego obstinado às próprias ideias e gostos, nunca admitindo insuficiências e
erros.
Conviver com criaturas que estão sempre com a razão, que
acreditam que nasceram para ensinar ou salvar todo mundo e que jamais
transgridem a nada, é viver relacionamentos desgastantes e insatisfatórios.
Quase sempre, fugimos desses indivíduos dogmáticos,
incapazes de aceitar e considerar um ponto de vista diferente do seu. Nesses
relacionamentos, ficamos confinados à representação de papéis
instrutor-aprendiz, orientador-orientado, mentor-pupilo. Somente escutamos,
nunca podemos expressar nossa opinião sobre os eventos e as experiências que
compartilhamos.
As pessoas teimosas vão ao excesso do desrespeito, por não
darem o devido espaço para as diferenças pessoais que existem nos amigos e
familiares.
“... pelos vossos excessos,
chegais à saciedade e vos punis a vós mesmos.” (39)
Os limites traçados pela natureza nos ensinam onde e
quando devemos parar, bem como por onde e quando devemos seguir. A natureza
respeita nossos dons próprios, ou seja, nossa individualidade. Assim, devemos
também aceitar e respeitar nosso jeito exclusivo de ser, bem como a de todos
aqueles com quem compartilhamos a existência terrena.
O excesso de rigidez e severidade faz com que criemos um
padrão mental que influenciará os outros para que nos tratem da mesma forma
como os tratamos. Poderemos ainda, no futuro, provocar em nós um sentimento de
autopunição, pois estaremos usando para conosco o mesmo tratamento de
austeridade e dureza. O arrependimento se associa à culpa, nascendo daí uma
vontade de nos redimir pelos excessos cometidos, o que acarreta uma necessidade
de expiação — o indivíduo se compraz com o próprio sofrimento.
Nossos limites se expressam de maneira específica e
ninguém pode exigir igualdade de pensamento e ação de outro ser humano.
Respeitando nossa singularidade, aprenderemos a respeitar a singularidade dos
outros e sempre cairemos no excesso, quando não aceitarmos nosso ritmo de crescimento,
bem como o do próximo.
Segundo Alfred Adler, a “compensação” é um dos métodos de defesa do ego
e consiste num fenômeno psicológico que busca contrabalançar e dissimular
nossas tendências inconscientes por nós consideradas reprováveis e que tentam
vir à nossa consciência.
Os excessos de todo gênero funcionam, na maioria das vezes,
como disfarce psicológico para compensar nossas tendências interiores.
Exageramos posturas e inclinações na tentativa de simular um caráter oposto.
Atitudes exageradas de um indivíduo significam, quase sempre, o
contrário do que ele declara.
Excesso de pudor – compensação de desejos sexuais normais
reprimidos.
Excesso de
afabilidade – compensação de
agressividade mal elaborada.
Excesso de
alimentação – compensação de insegurança
ou necessidade de proteção.
Excesso de religião – compensação de dúvidas desmoralizadoras
existentes na inconsciência.
Excesso de dominação – compensação de fragilidade e desamparo
interior.
Atrás de todo excesso ou rigidez se encontra a não
aceitação da naturalidade da vida, fora e dentro de nós mesmos.
.X.X.X
Os erros são quase que inevitáveis para quem quer avançar e crescer.
São acidentes de percurso, contingências do processo evolutivo que todos
estamos destinados a vivenciar.
Quando agimos erroneamente é porque não sabemos como fazer melhor. Ninguém,
de forma deliberada, tem o desejo de ser infeliz; portanto, ninguém escolhe o
pior. Os feitos e as atitudes peculiares de cada criatura estão intimamente
ligados a seu desenvolvimento físico, mental, social e moral.
Nossa maturidade
espiritual é adquirida através das
experiências evolutivas no decorrer de todos os tempos, seja na atualidade,
seja no pretérito distante.
Tudo o que fazemos está relacionado com nossa idade astral.
Inquestionavelmente, fazemos agora o que de melhor poderíamos fazer, porque
estamos agindo e pensando conforme nossas convicções interiores; aliás, ela (a idade astral) é gradativa, pois está vinculada às nossas percepções evolutivas.
As criaturas que agem com austeridade em determinada circunstância acreditam que aquela é a
melhor opção a tomar. Porém, quando o amadurecimento conduz-las a ter uma
melhor noção a respeito dos relacionamentos humanos, elas assimilarão novas
maneiras de se comportar e passarão a agir de forma coerente com seu novo
entendimento. A concepção de bem se amplia de acordo com nosso desenvolvimento
espiritual.
A proposta cristã “pagar o
mal com o bem” sugere: castigar por castigar não transforma a criatura para o
bem, mas somente o amor é capaz de sublimar e educar as almas.
A pena de morte é uma rigidez dos costumes humanos. Propõe
matar o corpo físico como punição pelas faltas cometidas, com o esquecimento,
porém, de que somente transfere a problemática para outras faixas da vida e
cria revolta e desarmonia no ser em correção.
A dor apenas terá função dentro dos imperativos da vida, enquanto
os homens não aceitarem que somente o amor muda e renova as criaturas.
O projeto da Vida Maior é
conscientizar-nos, não sentenciar.
Nosso planeta está
repleto de criaturas intelectualizadas
e influentes, mas nem por isso sábias e habilitadas para todas as coisas. Por
mais inteligente que seja o ser humano, sempre haverá um universo de coisas que
ele desconhece.
Muitas pessoas
matam, roubam e mentem sem
vacilação alguma, mas será que sabem perfeitamente que isso não é certo?
Estar no intelecto
não é a mesma coisa que estar na
profundeza da alma. Ter informações e receber orientações não é a mesma coisa
que integralizar o ensinamento, ou mesmo, saber por inteiro.
“... O homem julga
necessária uma coisa, sempre que não descobre outra melhor. À proporção que se
instrui, vai compreendendo melhormente o que é justo e o que é injusto e
repudia os excessos cometidos, nos tempos de ignorância, em nome da justiça.” (40)
Os erros são quase que inevitáveis para quem quer avançar e
crescer. São acidentes de percurso, contingências do processo evolutivo que
todos estamos destinados a vivenciar.
Em vez de
repelirmos nossos erros,
deveríamos analisá-los atentamente como se fossem verdadeiros objetos de arte,
evitando, assim, futuros comprometimentos.
Deus permite que o
erro integre o nosso caminho. Aliás, ele
faz parte das nossas condições evolutivas, para que possamos aprender e
assimilar as experiências da vida. Os erros são ocorrências consideradas
admissíveis pela legislação do Criador.
Deus não condena ou
castiga ninguém, mas o oposto: instituiu leis
harmoniosas e justas que nos conduzirão fatalmente à felicidade plena, apesar
de nossas faltas e desacertos.
Por que então usar de rigidez perante os acontecimentos da vida?
Referencias:
39 LE - 713 – Traçou
a Natureza limites aos gozos?
“Traçou, para vos indicar o limite do necessário. Mas,
pelos vossos excessos, chegais à saciedade e vos punis a vós mesmos.”
40 LE - 762 - A pena de morte, que pode
vir a ser banida das sociedades civilizadas, não terá sido de necessidade.
em épocas menos adiantadas?
Necessidade não é o termo. O homem julga necessária
uma coisa, sempre que não descobre outra melhor. À proporção que se instrui,
vai compreendendo melhormente o que é justo e o que é injusto e repudia os
excessos cometidos, nos tempos de ignorância, em nome da justiça.
Lindos e valiosos ensinamentos.
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