A criatura materialista
precisa crer que é superior, para compensar sua crença na insignificância da existência
ou na falta de sentido em que vive.
Complexo de inferioridade consiste em conjunto de ideias que foram
recalcadas no inconsciente da criatura em tenra idade, associadas às já
existentes pelas experiências obtidas em vidas pretéritas. Ele age sobre a
conduta humana, provocando sentimentos gratuitos de culpa, excessiva carga
emotiva relacionada a pensamentos de baixa estima, frequente sensação de inadequação
e constante frustração em decorrência da desvalorização da capacidade e
habilidade pessoal.
Para melhor entendimento de nossas considerações, definiremos o termo “recalque”
ou “repressão” como um processo psíquico através do qual; recordações,
sentimentos, ideias e desejos inaceitáveis ou desagradáveis são excluídos da
consciência, permanecendo apenas no inconsciente.
Alfred Adler, austríaco, um dos grandes nomes da psicanálise, médico,
psiquiatra e psicólogo renomado, elucidou: “Subentendemos que, atrás das
atitudes daqueles que se apresentam perante os outros com uma postura de
superioridade, é possível a existência de um sentimento de inferioridade.”
Segundo a psicologia adleriana, cada pessoa possui um “estilo de vida”.
Esse estilo é que motiva o indivíduo, através de impulsos sociais, a buscar o
seu natural desenvolvimento e aperfeiçoamento. Na teoria de Adler, o “estilo de
vida” forma-se na primeira infância e quase não se altera depois. Ele dizia que
a maneira pessoal de o indivíduo se comportar, de se vestir, de se expressar ou
de falar, ou melhor, sua forma de ser era a consequência desse “estilo”
adotado.
Concordando em parte com essa teoria, gostaríamos de acrescentar que o
somatório dos múltiplos “estilos de vida” vivenciada nas diversas existências
da alma humana, adicionado ao da infância atual, forma a real motivação que vai
gerar nossas ações e atitudes. Somos, portanto, nós mesmos quem criamos nossas
experiências, podendo assim modificar ou não os padrões de nossa vida.
Em muitas ocasiões, as pessoas tentam compensar esse
sentimento de inferioridade, adotando formas de viver em que exageram e exaltam
a própria personalidade. Tendência
à arrogância, delírio megalomaníaco, preferência pela ostentação fazem parte do
cortejo daqueles que possuem uma interiorizada depreciação de si mesmos.
Todos nós acolhemos em nossa
intimidade não apenas crenças individuais, mas também as que nos foram
transmitidas pela família e pela sociedade em vários níveis. Desde um gesto, um
olhar ou uma expressão corporal até formas de conduta ou de verbalização, todos
nós assimilamos as crenças alheias através de uma comunicação que poderíamos
denominar de “contagiante”.
Muitas almas, devido à sua imaturidade espiritual,
deixaram-se contagiar por crenças materialistas, no decorrer dos séculos e nos
diversos lugares onde viveram. Aceitaram as doutrinas filosóficas que defendem
o ceticismo e que atribuem como causa ou origem da vida as propriedades íntimas
da matéria. São as “crenças do acaso”, que atribuem a tudo um acontecimento
fortuito ou aleatório.
Na Parte I, capítulo I, questão 8, de “O Livro dos Espíritos”,
encontramos que seria um absurdo atribuir “a formação primária a uma
combinação fortuita da matéria, ou, por outra, ao acaso (...) A harmonia
existente no mecanismo do Universo (...) revela um poder inteligente (...)
o acaso é cego e não pode produzir os efeitos que a inteligência produz. Um
acaso inteligente já não seria acaso.” (36)
Aprofundando nossas
observações podemos considerar que a base
de todo complexo de inferioridade inicia-se no materialismo, ou seja, na crença
do nada.
Quando cremos que tudo provém do acaso e que nada existe senão o que os
olhos físicos conseguem visualizar, iniciamos em nós o processo de
inferioridade. Criamos, a partir daí, um “estilo de vida” inconsciente, baseado
em que “não somos nada” e, em nossas profundezas, consideramos ser o produto
momentâneo do acaso. Rejeitamos a riqueza incomensurável de nosso mundo
interior e do Universo e não acreditamos na plenitude da Vida Mais Alta, porque
desprezamos a Perfeita Ordem Divina. Ignoramos a essência sagrada que habita em
nós e lutamos contra uma suposta má sorte, que nos fataliza a desgastar enorme
quantidade de energia, por não reconhecermos as Leis Naturais que regulam tudo
e todos.
O poeta e prosador francês François Marie Arouet, dito Voltaire,
escreveu com muita propriedade: “O acaso não é, não pode ser, senão a causa
ignorada de um efeito desconhecido.”
Quando a pretensão e o orgulho
tomam conta de nossos atos, nossa maneira de ser passa a fundamentar-se numa constante
supercompensação negativa de nosso sentimento de inferioridade, por
acreditarmos que somos, simplesmente, uma “combinação fortuita da matéria”.
A criatura materialista
precisa crer que é superior, para compensar sua crença na insignificância da
existência ou na falta de sentido em que vive. O ser espiritualizado acredita que não é pior nem melhor do que os
outros, porque percebe e age com seus sentidos voltados para a Eternidade e
sabe que cada pessoa é tão boa quanto pode ser, conforme seu grau evolutivo.
No entanto, o materialista prossegue em sua jornada, crescendo e
descobrindo que o caminho da felicidade é uma trilha que o leva para “dentro de
si mesmo” e conduz até a Fonte Verdadeira, libertando-o da prisão dos sentidos
para plenitude existencial.
A providência primeira e essencial, para que possamos nos curar do
sentimento de baixa estima ou inferioridade, é a convicção na imortalidade das almas e na pluralidade
das existências, somada à crença de que somos seres espirituais criados
plenos e completos, vivendo uma experiência humana com o objetivo de nos
conscientizarmos dessa nossa plenitude inata. As providências seguintes a serem
tomadas deverão ser reflexões sobre as causas de nossos sentimentos de
inferioridade, o modo como foram adquiridos e as crenças que os motivaram.
É essencial lembrar-nos de que sempre é possível alterar ou transformar nosso “estilo de vida”.
Para tanto, não duvidemos de nossas aptidões e vocações naturais, nem
questionemos, sistematicamente, nossas forças interiores. Para obtermos
autoconfiança, somente é preciso reivindicarmos, valorosamente, o que já existe
em nós por direito divino.
X.X.X.X
O sentimento de inferioridade ou de baixa estima associa as criaturas a uma
resignação exagerada, a um autodesleixo ou descuido das coisas pessoais.
O sentimento de autopiedade pode nos tornar doentes fisicamente. Uma
espécie de “invalidez psíquica” envolve-nos a existência e, a partir daí,
sentimo-nos inferiores e incapazes, levados a uma perda total da confiança em
nós mesmos.
A piedade aqui referenciada é
o sofrimento moral de pesar ou a aflição que sentimos por autopunição. Ter pena ou dó, em muitas circunstâncias, pode
não ser um sentimento verdadeiro, mas sim uma obrigação social aprendida, a ser
demonstrada diante do infortúnio alheio.
No entanto, a sensação que experimentamos de amor, permeada de respeito
e afeição pelos outros, revela-nos os reais sentimentos denominados de
benevolência e de compaixão.
A baixa estima ou autopiedade pode-nos levar a ser vítimas de nós mesmos,
pois estaremos somatizando essas emoções negativas em forma de doenças. Os
sintomas da enfermidade podem ser considerados a forma física de expressar uma
atitude interna, ou mesmo um conflito. Portanto, doentes não são somente as
vítimas inocentes de algum desarranjo da Natureza, mas também os facilitadores
de sua própria moléstia.
Os acontecimentos em si mesmos nunca têm muito sentido; precisamos
aprender a discernir o que há por trás do aspecto físico, ou seja, atingir o
conteúdo metafísico das coisas. A importância e a mensagem de um fato ou de um
acontecimento somente aparecem clarificados, quando interpretados em sua
significação; é isso que nos permite a compreensão completa de seu sentido.
Quando deixamos de interpretar as ocorrências da vida e o
seguimento natural que implicará seu destino, nossa existência mergulhará numa
total falta de sentido.
A doença sempre tem uma intencionalidade e um objetivo,
surgindo nas criaturas de baixa estima a fim de alertá-las de que existe uma
descompensação psíquica (seu sentimento de inferioridade) e da necessidade de harmonizá-la.
Os traços psicológicos dos indivíduos que sentem autopiedade são reconhecidos
pela ausência de experiências interiores. Eles possuem uma restrita visão de
seu ritmo interno, não valorizam seu mundo íntimo nem desenvolvem seu potencial
inato, quer dizer, suas capacidades latentes (intuição, inspiração, percepção).
“Deus criou todos os Espíritos simples e
ignorantes, isto é, sem saber. (...) os Espíritos, em sua origem, seriam como as crianças,
ignorantes e inexperientes, só adquirindo pouco a pouco os conhecimentos de que
carecem com o percorrerem as diferentes fases da vida.” (37)
O que acontece é que estamos
saindo da inconsciência para a consciência, da transitoriedade para a
permanência, da personalidade para a individualidade, da razão para a intuição,
do estar para o ser. Eis o processo de evolução das almas!
Portanto, pela ignorância e simplicidade inatas, não quer dizer que
somos inferiores por criação divina. Filhos de Deus são perfectíveis (possuem o
germe da perfeição); não foram criados inferiores, mas sem ciência de si
mesmos. Simples significa — básico, espontâneo, natural e primário. Ignorante —
aquele que não tem consciência de si mesmo. Temos, portanto, a explicação da
analogia (“seriam como as crianças”) feita pelos Espíritos Iluminados na
questão em estudo.
Todas as nossas capacidades e ideias
criativas estão potencialmente presentes, mas os seres precisam apenas de tempo para integrá-las em definitivo.
O nosso desenvolvimento espiritual consiste, unicamente, na modificação da
nossa maneira de ver, e isso nada mais é do que a expressão de uma nova visão
de nós mesmos e do Universo.
O sentimento de inferioridade ou de baixa estima associa as criaturas a
uma resignação exagerada, a um autodesleixo ou descuido das coisas pessoais. A
perda do senso de autovalorização é também consequência do sentimento de
inferioridade, que remete os indivíduos à vivência entre “hábitos cronometrados”
e a uma “mecanização dos costumes”.
O maior sentido de
nossa encarnação é a conscientização da riqueza de nosso mundo interior. Somos essências divinas em busca da
perfeição, cujo caminho é o autodescobrimento.
Aqui estão algumas afirmações
que, se observadas com atenção, poderão nos ajudar a reconquistar a
autoconfiança perdida:
— somos potencialmente capazes de tomar decisões sem ter que recorrer a
intermináveis conselhos;
— possuímos urna individualidade divina completamente distinta da dos
outros;
— fazemos as coisas porque gostamos, não para agradar as pessoas;
— encontraremos sempre novos relacionamentos; por isso, não temos medo
de ser abandonados;
— usaremos, constantemente, de nosso bom senso;
portanto, as críticas e as desaprovações não nos atingirão com facilidade;
— tomaremos nossas próprias decisões, respeitando, porém, as dos outros;
— confiaremos na Luz Maior que há em nós; ela sempre nos guiará pelos
melhores caminhos.
Certa vez, um pai desesperado trouxe seu filho até o Mestre, para que
fosse curado... “E Jesus disse-lhe: Se tu podes crer, tudo é
possível ao que crê. E logo o pai do menino, clamando, com lágrimas, disse: Eu creio
Senhor! Ajuda a minha incredulidade.” (38)
Devemos, pois,
todos nós juntos, aproveitando dessas
palavras, repetir: “Senhor, ajuda-nos em nossa incredulidade!”, cientes de que
depende exclusivamente de nossa vontade vencer os obstáculos da baixa estima
que nos impeçam de alcançar a plenitude das realizações pessoais.
Referencias:
36 LE - 8 – Que se deve pensar da opinião dos
que atribuem a formação primária a uma combinação fortuita da matéria, ou, por
outra, ao acaso?
“Outro absurdo! Que homem de bom-senso pode considerar o acaso um ser
inteligente? E, demais, que é o acaso? Nada,”
Nota – A harmonia existente no mecanismo do Universo patenteia combinações e
desígnios determinados e, por isso mesmo, revela um poder inteligente. Atribuir
a formação primária ao acaso é insensatez, pois que o acaso é cego e não pode
produzir os efeitos que a inteligência produz, Um acaso inteligente já não
seria acaso.
37 LE - 115 – Dos Espíritos, uns terão sido criados bons e outros maus?
“Deus criou todos os Espíritos simples e ignorantes,
isto é, sem saber. A cada um deu determinada missão,
com o fim de esclarecê-los e de os fazer chegar
progressivamente à perfeição, pelo conhecimento da verdade, para aproximá-los
de si Nesta perfeição é que eles encontram a pura e eterna felicidade. Passando
pelas provas que Deus lhes impõe é que os Espíritos adquirem aquele
conhecimento. Uns aceitam submissos essas provas e chegam mais depressa à meta
que lhes foi assinada. Outros só a suportam murmurando e, pela falta em que
desse modo incorrem, permanecem afastados da perfeição e da prometida
felicidade.”
LE - 115-a – Segundo o que acabais de dizer, os Espíritos, em sua
origem, seriam como as crianças, ignorantes e inexperientes, só adquirindo
pouco a pouco os conhecimentos de que carecem com o percorrerem as diferentes
fases da vida?
“Sim, a comparação é boa. A criança rebelde se
conserva ignorante e imperfeita. Seu aproveitamento depende da sua major ou
menor docilidade. Mas, a vida do homem tem termo, ao passo que a dos Espíritos
se prolonga ao infinito.
38 - Marcos
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