O amor
propicia o desapego a tendências negativas, pessoas, coisas e utilidades.
Indispensável tornar o amor um estado de espírito, uma
condição natural no processo de crescimento interior, uma fatalidade que deve
ser conseguida quanto antes.
À medida que se posterga a vivência desse sentimento,
que é força vital e dinamizadora, o sentido existencial padece hipertrofia de
finalidade, porque destituído de riqueza, de aspirações do belo, do bom, do
libertador. Mesmo que vicejem tais aspirações, apresentam-se debilitadas,
porque procedem dos sentidos físicos, de ambições egoístas, de necessidades
para o prazer, sem o contributo valioso e de profundidade, que tem por base o
Espírito em si mesmo e suas legítimas ambições de imortalidade e triunfo sobre
as vicissitudes e amarras com a retaguarda.
Amar deve significar a aspiração máxima do ser que
transborda de emoções relevantes e deseja reparti-las a mancheias, como quem
distribui luz objetivando a vitória sobre toda treva, qualquer sombra.
Essa força, que domina o coração e se expande mediante
as ações, altera por completo o rumo da existência física, concedendo-lhe um
colorido especial e uma finalidade superior, que deve ser buscada sem cansaço,
adornada de otimismo e de paz.
Trazer esse amor para todos os momentos da vida, é
torná-la digna de ser experienciada, capaz de ser transformada em triunfo.
A Humanidade sempre teve expoentes desse amor, que lhe
constituíram razão de desenvolvimento e de conquistas em todos os setores do
processo de crescimento moral, intelectual, artístico, cultural, tecnológico,
religioso, espiritual, sem cujo contributo, por certo, as criaturas ainda se
encontrariam às faixas primitivas do processo da evolução.
Foram esses homens e mulheres forjados no amor e
distribuidores de amor, que se olvidaram de si mesmos, que promoveram a espécie
aos patamares de que hoje desfruta.
Não pensaram primeiro em si, mas desenvolveram
interiormente a capacidade de doação, de tal forma que o bem geral
constituiu-lhes o motivo para que lutassem estoicamente, vencendo os próprios
limites e dificuldades, de maneira que a enfermidade, a intolerância, o atraso
moral e mental dos seus coevos não se lhes transformaram em impedimento para a
construção do mundo melhor. E mesmo quando
se lhes exigiam a existência, deram-na, fiéis à confiança e certeza de que o
seu era o trabalho de libertação das massas e de promoção da sociedade.
Tornaram-se modelos porque demonstraram que a felicidade é mais risonha
quando objetiva o próximo sem detença, oferecendo-lhe motivações para existir e
seguir adiante, conquistando espaços de harmonia. Isso ocorre porque, toda vez que alguém se
ilumina pela chama do amor, oferece mais claridade ao mundo, torna-o melhor e
enseja que outras vidas também se clarifiquem, libertando-se dos atavismos
cruéis da ignorância, do preconceito, da crueldade.
O amor é sempre feito de compaixão e torna-se finalidade essencial da
vida por expressar valores que não se amontoam, que não enferrujam e ninguém
consegue roubar, porque se encontram à disposição de todo aquele que os deseje
possuir, recebendo-os jovialmente e de maneira especial.
O nosso amor modifica a estrutura da sociedade, que se encontra vitimada
pelas guerras e por diversas calamidades que geram sofrimento e alucinação.
Com a contribuição do amor, modificam-se essas condições, e, graças à
Ciência e à Tecnologia que aproximam criaturas e povos, ninguém mais desconhece
as necessidades que afligem o mundo, permanecendo indiferente ao seu destino
amargo.
Assim, qualquer contribuição de afeto, por pensamento, mediante palavras
e através de atos, encarrega-se de tornar menos densa a psicosfera em que se
movimentam os seres, menos venenoso o ódio que campeia desenfreado, mais
animador o espírito de competitividade sem os extremos de dominação e de
arbitrariedade.
Isso porque o amor é destituído de vilania e de interesses doentios.
O amor propicia o desapego a
tendências negativas, pessoas, coisas e utilidades.
É imparcial e generoso para com tudo e com todos, não se permitindo
prender, escravizar-se ou reter, impedindo o avanço de outrem, a realização pessoal
do ser amado, nem acumulando recursos amoedados ou não, que se transformam em
cárcere de sofrimento.
Nesse cometimento em favor do desapego, vale ressaltar que o mais difícil
é a libertação das impressões perturbadoras que remanescem no imo como herança
do passado infeliz, transformando-se em ressentimentos, ódios, angústias,
ciúmes, que necessitam ser superados.
É comum negar-se essas vivas expressões perniciosas do caráter, recalcando-as,
sem as eliminar, o que lhes permite reaparecer com frequência, dominando as
paisagens interiores e asfixiando as aspirações da felicidade.
Um esforço honesto para reconhecer-lhes a presença dominadora auxilia no
empreendimento pela sua superação. Aceitar a sua existência não significa
concordar com as manifestações que irrompem com periodicidade, mas substituir,
lentamente que seja, porém com denodo, cada uma dessas paixões nefastas,
abrindo espaços para o surgimento dos valores positivos, do amor que deverá
predominar.
Nesse campo emocional, que está sendo arado com bondade e coragem de
produzir melhor, desponta então à alegria, a paz, a vida exuberante, que passam
a substituir aqueles cruéis inimigos da plenitude.
O amor preenche os vazios interiores, fazendo que desapareçam as falsas
necessidades externas. Por isso, amplia-se sempre no rumo do infinito, envolvendo
aqueles que se encontram próximos como a todos quantos se situam a distância.
Quando atinge o seu clímax, tem características idênticas em relação
àqueles aos quais se direciona, sem privilégios nem imposições.
Por isso renuncia, ensinando que a posse excessiva é crime contra a escassez
dominante.
Da mesma forma, demonstra que os atavismos perversos, a que muitos
indivíduos se vinculam, necessitam ser deixados à margem, superados e
substituídos, sem saudades ou tormentos, abrindo veredas a experiências novas e
a realizações pacificadoras.
É certo que tal providência exige coragem e combatividade, espírito que
anseia pelo progresso e se ama, tomando a decisão de não mais permanecer na
retaguarda do processo evolutivo, em razão da lucidez mental de que se sente
possuidor.
O desapego material é importante na desincumbência do esforço por amar,
no entanto, mais grave e significativo é o de natureza emocional, em referência
aos vícios, às tendências primitivas, aos sentimentos inferiores.
Não dês guarida à atração do mal, seja como for que se te apresente.
Ama-te, a ponto de te transformares em exemplo de vitória sobre a inferioridade
moral, tornando-te cooperador do esforço que outros envidem no mesmo sentido.
Assim, compreenderás quanto é difícil para o próximo libertar-se daquilo
que nele te desagrada, em face do que em ti igualmente a outros perturba.
Esse amor, que se
inicia no teu esforço, em
breve tomará conta de ti com tal força que não mais haverá espaço interior
senão para amar e servir.
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