É preciso saber lidar com nossas emoções; não devemos nos censurar por senti-las, mas
sim julgar a decisão do que faremos com elas.
Reparação é o ato de compensar ou ressarcir prejuízos
que causamos, não apenas aos outros mas também a nós mesmos, através de
posturas inadequadas e injustas.
Necessitamos reparar as atitudes desonestas que tivemos perante nós
mesmos, para ressarcir-nos dos abalos que promovemos contra nossas próprias
convicções e para compensar-nos da deslealdade com nosso modo de ser e com
nossos valores íntimos.
Devemo-nos conscientizar do quanto estivemos abrindo mão
de nossos sentimentos, pensamentos, emoções e necessidades em favor de alguém,
somente para receber aprovação e consideração.
Quantas vezes asfixiamos e negamos nossas emoções diante de
acontecimentos que nos machucaram profundamente. Relegar essa parte de nós e
ignorá-la pode se tomar um tanto desagradável e destrutivo em nossas vidas.
Viver o direito de sentirmos nossas emoções equivale a ser honestos com
nós mesmos. Elas nos ajudam no processo de auto descobrimento e estão
vinculadas a estruturas importantes de nossa vida mental, como os pensamentos
cognitivos e as nossas intuições.
O hábito de rejeitarmos, freqüentemente, as energias emocionais fará com
que percamos a capacidade de sentir corretamente; e, sem a interpretação dos
sentimentos, não poderemos promover a reparação de nossas faltas.
Para repará-las, é preciso estar predispostos a dizer o que
pensamos e a escolher com independência.
Para repará-las, é necessário termos a liberdade de sentir o
que sentimos e de viver segundo nossas próprias emoções.
Para resgatar nossas faltas conosco e com os outros, é
imperioso, antes de tudo, desbloquear nossa consciência para que possamos ter
um real entendimento do que e como estamos fazendo as coisas em nossa vida.
Há em nós um mecanismo psicológico regulado pelo nosso grau evolutivo,
que assimila os fatos ou os ensinamentos de acordo com nossas conquistas nas
áreas da percepção e do entendimento. Nossa incapacidade para absorver certos
aspectos da vida deve-se a causas situadas nas profundezas da nossa
consciência, que está em constante aprendizado e ascensão espiritual.
Portanto, não devemos nos culpar por fatos negativos do passado, pois
tudo o que
fizemos estava ao nível de nossa compreensão à época em que eles ocorreram.
“(...) poderemos ir resgatando as nossas faltas (...) reparando-as.
Mas, não creiais que as resgateis mediante algumas privações pueris, ou
distribuindo em esmolas o que possuirdes (...)
Deus “não dá valor a um
arrependimento estéril, sempre fácil e que apenas custa o esforço de bater no
peito” (57), assim reavaliando antigas emoções e resgatando
sentimentos passados, a fim de transformá-los para melhor. Desse modo,
reconquistamos a perdida postura interior de “vida própria” e promovemos a
modificação de nossas atitudes equivocadas perante as pessoas.
Emoções não são erradas ou pecaminosas, elas não são os atos em si, pois
sentir raiva é muito diferente de cometer uma brutalidade.
Para repararmos, é preciso saber lidar com nossas emoções; não
devemos nos censurar por senti-las, mas sim julgar a decisão do que faremos com
elas. Advertimos, porém, que não estamos sugerindo que as emoções devam
controlar nossos comportamentos. Ao contrário, acreditamos que, se não
permitirmos senti-las, não saberemos como tê-las sob nosso controle.
Admitindo-as e submetendo-as ao nosso código de valores éticos, ao nosso
intelecto e à nossa razão, saberemos comandá-las convenientemente, pois o
resultado da repressão de nossas reações emocionais será uma progressiva
tendência a estados depressivos.
Funciona deste modo uma das possíveis trajetórias da depressão: diante
de um sentimento de dor, fatalmente experimentamos emoções, ou seja, reações
energéticas provenientes dos instintos naturais. São denominadas “emoções
básicas”, conhecidas comumente como medo e raiva. Essas reações energéticas
nascem como impulso de defesa para nos proteger da ameaça de dor que uma agressão
pode nos causar. Se a emoção for de raiva, o organismo enfrenta a fonte da dor;
quando é de medo, contorna e foge do perigo. Ambas aceleram o sistema nervoso
simpático e, conseqüentemente, a glândula supra-renal para que produza energia
suficiente para a luta ou para a fuga. Se essas emoções (raiva ou medo) forem
julgadas moralmente como negativas, elas poderão ser transformadas em
sentimento de culpa, levando-nos a uma auto condenação. Quando reprimidas, quer
dizer, quando não expressadas convenientemente nem aceitas, nós as negamos
distorcendo os fatos, para não tomarmos consciência. Tanto a repressão
sistemática quanto os compulsivos julgamentos negativos dessas emoções naturais
geram a depressão.
Não são simplesmente as “privações pueris”, as “distribuições
de esmolas” e o ato de “bater no peito” que transformarão o íntimo
de nossas almas. Para verdadeiramente repararmos nossas faltas, é preciso, acima de tudo, que
façamos uma viagem interior, mediante uma “crescente consciência”, para
identificar os atos e acontecimentos incorretos que praticamos/vivenciamos e associá-los
com os sentimentos e as emoções que os influenciaram. A partir daí,
equilibrá-los.
Reparar nossas faltas com nós mesmos e com os outros é a fórmula
feliz de evitar o sofrimento.
X.X.X
Somos também Natureza; possuímos as estações da alegria, do entusiasmo,
da moderação e do desânimo, assim como as da primavera, do verão, do outono e
do inverno.
Em muitas circunstâncias, podemos considerar a depressão como natural
período de transição. São tempos de mudança e crescimento, épocas de tristeza
que antecedem novos horizontes de amadurecimento do ser em constante processo
de evolução.
Os fenômenos naturais da vida sucedem, organizados, em ciclos
determinados. Os períodos de troca dos antigos conceitos por outros tantos mais
novos e melhores para o nosso momento atual fazem parte desse ciclo natural da
consciência humana. Porque somos também Natureza; possuímos as estações da
alegria, do entusiasmo, da moderação e do desânimo, assim como as da primavera,
do verão, do outono e do inverno.
Aprendendo com a Natureza entre as observações das leis que regem os
ecossistemas, é que deixaremos as atmosferas cinzentas da depressão passar para
fixarmo-nos nos dias de sol e de alegria, que voltarão a brilhar.
Os elementos da Natureza não se encontram separados, mas tendem a se
combinar em sistemas mais complexos, estabelecidos a partir de uma série de
associações físicas e biológicas.
Através das relações de permutas constantes, eles adquirem uma espécie
de “vida coletiva”, o que lhes dá uma habilidade para se auto-organizarem e
auto-reproduzirem ao longo do tempo. A esse fenômeno a Ecologia denomina “ecossistema”.
O pensamento ecológico procura investigar algumas das leis que regulam e formam
os mecanismos ecossistêmicos.
Vamos descrever as que consideramos mais importantes para as nossas
ponderações neste estudo:
1) A “diversidade” – Quanto maior a multiplicidade de elementos existentes no
ecossistema, maior sua capacidade de se auto-regular, pois maiores serão as
propriedades com que ele contará para reorganizar os elementos num novo
equilíbrio.
2) A “interdependência” – Na unidade funcional do ecossistema tudo
está conectado com tudo, de tal modo que não poderemos tocar num elemento
isolado sem atingirmos o conjunto. Assim também ocorre com o corpo humano, já
que não se pode abalar um órgão sem envolver todo o organismo.
3) A “reciclagem” – Todo elemento natural liberado no ambiente é reintroduzido de alguma
forma pelos ecos sistema. Através desses reaproveitamentos é que os resíduos
biológicos permanecem circulando e sendo reproduzidos numa espécie de ciclo
fechado. É isso que permite a sobrevivência desse imenso complexo ecológico.
“... O homem, tendo tudo o que há nas plantas e
nos animais, domina todas as outras classes por uma inteligência especial,
indefinida, que lhe dá a consciência do seu futuro, a percepção das coisas extra
materiais e o conhecimento de Deus.” (58)
Por sermos parte desse grandioso espetáculo da Natureza e possuirmos a
capacidade de entendê-lo racionalmente, é que deveríamos ser os primeiros a
considerar a sagrada naturalidade que há em nós, bem como a perceber,
conscientemente, seu processo atuando em nossa intimidade.
A seguir, algumas conexões entre as leis ou regras de funcionamento dos
ecossistemas, que nos ensinarão a regular nosso ritmo
de vida para não voltarmos aos velhos padrões de pensamentos depressivos:
1) Na “diversidade” de novos conhecimentos filosóficos, religiosos
ou científicos e na análise de diversos modos de definir a realidade das coisas
é que aumentaremos a capacidade de auto regular-nos emocionalmente para
restabelecermos um novo equilíbrio existencial.
2) Na “interdependência” da vida social, mas nunca no isolamento, é que
extrairemos as experiências de que necessitamos para sair do marasmo, pois é
nas relações de permuta constante na vida coletiva que aprenderemos que tudo
está relacionado com tudo. Devemos descobrir nossas similaridades com toda a
obra da Criação. Ninguém será feliz sozinho, pois o homem é apenas uma parcela
dessa grande sinfonia da evolução da vida na Terra.
3) Na “reciclagem” de todos os elementos que as experiências da vida nos oferecem, o reaproveitamento
deverá ser feito indistintamente, tanto para os que chamamos bons quanto para
os que consideramos maus. Alegria e tristeza são nossos companheiros de viagem,
estão sempre nos ensinando algo na caminhada evolucional. Tudo tem seu próprio
valor e lugar na existência; por isso, não devemos tentar afastar de forma
irrefletida as nuvens negras que impedem, momentaneamente, que a luz nos
alcance. A vida na Terra ainda é um jogo de luzes e sombras. Tudo na vida tem
um fim utilitário para crescermos integralmente.
A reflexão atenta a esses apontamentos permite-nos entender melhor
nossos ciclos depressivos, recolhendo assim as abençoadas sementes da “arte de
viver”.
Referencias:
57 LE 1000 – Já desde esta vida poderemos ir
resgatando as nossas faltas?
“Sim, reparando-as. Mas, não creiais que as resgateis mediante algumas
privações pueris, ou distribuindo em esmolas o que possuirdes depois que
morrerdes, quando de nada mais precisais. Deus não dá valor a um arrependimento
estéril, sempre fácil e que apenas custa o esforço de bater no peito. A perda
de um dedo mínimo, quando se esteja prestando um serviço, apaga mais faltas do
que o suplício da carne suportado durante anos, com objetivo exclusivamente
pessoal. “Só por meio do bem se repara o mal e a reparação nenhum mérito
apresenta, se não atinge o homem nem no seu orgulho, nem nos seus interesses
materiais.
“De que serve, para sua justificação, que restitua, depois de morrer; os
bens mal adquiridos, quando se lhe tornaram inúteis e deles tirou todo o
proveito? “De que lhe serve privar-se de alguns gozos fúteis, de algumas superfluidades,
se permanece integral o dano que causou a outrem?
“De que lhe serve, finalmente, humilhar-se diante de Deus, se, perante
os homens, conserva o seu orgulho?”
56 LE 585 – Que pensais da divisão da Natureza
em três reinos, ou melhor, em duas classes: a dos seres orgânicos e a dos
inorgânicos? Segundo alguns, a espécie humana forma uma quarta classe. Qual
destas divisões é preferível?
“Todas são boas, conforme o ponto de vista. Do ponto de vista material,
apenas há seres orgânicos e inorgânicos. Do ponto de vista moral, há
evidentemente quatro graus.”
Nota – Esses quatro graus apresentam, com efeito, caracteres determinados,
muito embora pareçam confundir-se nos seus limites extremos. A matéria inerte,
que constituí o reino mineral, só tem em si uma força mecânica. As plantas, ainda
que compostas de matéria inerte sejam dotadas de vitalidade. Os animais, também
compostos de matéria inerte e igualmente dotados de vitalidade, possuem, além
disso, uma espécie de inteligência instintiva, limitada, e a consciência de sua
existência e de suas individualidades. O homem, tendo tudo o que há nas plantas
e nos animais, domina todas as outras classes por uma inteligência especial,
indefinida, que lhe dá a consciência do seu futuro, a percepção das coisas extra
materiais e o conhecimento de Deus.
Diz o ditado: que somos o que pensamos, e diante de tudo isso, devemos em nosso dia a dia vigiar as nossas atitudes, as nossas emoções, não se culpar pelos sentimentos bons, ou seja amar as pessoas, que por afinidade nós damos bem. Estamos neste mundo de meu Deus para sofrer e sim para sermos felizes e com sua felicidade, fazer os que te rodeiam felizes também.
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