Jesus viveu o amor a si mesmo, à medida que se
entregava ao próximo, a Humanidade.
O amor que se deve oferecer ao próximo é consequência
natural do amor que se reserva a si mesmo, sem cuja presença muito difícil será
a realização plena do objetivo da afetividade.
Somente quando a
pessoa se ama é que pode ampliar o sentimento
nobre, distribuindo-o com aquelas que a cercam, bem como o estendendo
aos demais seres vivos e à mãe Natureza.
O amor a si mesmo deve ser desenvolvido através da
meditação e da autoanálise, porque, ínsito no ser, necessita de estímulos
para desdobrar-se, enriquecendo a vida.
Esse autoamor é
constituído pelo respeito que cada qual se deve ofertar, trabalhando em favor dos valores
éticos que lhe jazem latentes e merecem ser ampliados, de forma que se
transformem em luzes libertadoras da ignorância e em paz de espírito que
impregne as outras vidas.
Sem esse amor a si mesmo, a pessoa não dispõe de recursos para encorajar o seu
próximo no empreendimento da autovalorização e do auto crescimento, detendo-se nas sensações mais
grosseiras do imediatismo, longe dos estímulos dignificantes e
libertadores.
O amor a si mesmo
dá dimensão emocional sobre a responsabilidade que se deve manter pela existência e sobre o
esforço para dignificá-la a cada instante, aprofundando conhecimentos e
sublimando emoções, direcionadas sempre para as mais elevadas faixas da
Espiritualidade.
Dessa forma, é fácil preservar-se as conquistas
interiores e desenvolvê-las mediante a aplicação dos códigos da fraternidade e
da compaixão, da caridade e do perdão.
A
consciência de si mesmo, inspirada pelo
autoamor torna-se lúcida quanto aos enganos cometidos, ensejando-se
oportunidade de reparação, ao tempo em que faculta ao próximo a compreensão das
suas dificuldades na busca da felicidade.
Compreendendo a finalidade da existência terrena, a pessoa desperta para o amor a si mesma, trabalha sem desespero,
confia sem inquietação, serve sem humilhação, produz sem servilismo e avança
sem tensões perturbadoras no rumo dos objetivos essenciais da vida.
O amor a si mesmo contribui para a valorização das conquistas
logradas e torna-se estímulo para novos tentames com vistas à realização de uma
existência plena.
Ninguém, que se disponha a
amar sem resolver as inquietações internas, que lhe produzem desamor, que conspiram contra
a autoestima, conseguirá o desiderato.
Invariavelmente a falta do amor a si mesmo decorre de conflitos que remanescem
da infância mal amada, de frustrações acumuladas e de projetos que não se
consumaram conforme foram anelados, dando surgimento aos complexos de inferioridade, a
insegurança e a fugas psicológicas.
Muitas vezes, a pessoa que se
não ama, encontra motivos frívolos para justificar o sentimento de vazio
existencial, transferindo para o próximo àquilo que gostaria de desfrutar ou de
possuir.
São detalhes físicos, que parecem retirar o conforto e a satisfação pessoal,
na aparência ou na constituição, dificuldades de inteligência, posição social,
problemas na saúde que, sem dúvida, não merecem maior consideração, e deverão
ser enfrentados de maneira positiva, diferente, proporcionando estímulos para
novos enfrentamentos, vitória a vitória.
Durante muito tempo, a pessoa coleciona o azinhavre da insatisfação
consigo mesma, atribuindo-se fracassos que, em realidade, jamais ocorreram,
infelicidades que não têm justificação, quando fazem comparações com outras
pessoas que acredita; ditosas e sem problemas.
Em uma atitude
conflitiva, tenta amar-se, em luta
feroz por acumular dinheiro, conseguir destaque na sociedade, tornar-se
importante, invejada... Entrega-se ao trabalho exaustivo, inconscientemente para
fugir à sua realidade, ou supondo-se insubstituível no desempenho da tarefa ou
realização a que se entrega.
Ao começar a amar-se, descobrem que são as pequenas coisas, aquelas
aparentemente sem grande importância, que constituem significados alentadores.
Momentos de solidão para autoanálise e reflexão,
instantes de prece silenciosa, refazimento através da música, de caminhadas
tranquilas, de carícias a crianças ou animais, de cuidados com plantas, flores
e adornos vivos, sentindo a vida fluir de todo lado.
Em outras ocasiões, conversações edificantes, destituídas de
objetivos imediatistas, cuidados com a alma, preservando-lhe a lucidez em
relação aos deveres e aos compromissos que lhe dizem respeito.
A seguir, torna-se necessária uma avaliação daquilo que é útil em relação ao que
é secundário e a que se atribui significado exagerado.
O amor a si mesmo desempenha uma ação auto terapêutica, porque liberta dos conflitos de
autopunição, de autocensura e de autocompaixão.
A compreensão dos próprios limites e possibilidades enseja um sentimento
de alegria pelo já conseguido e de encorajamento em relação ao que ainda pode
ser alcançado.
No cultivo desse propósito, o egoísmo não consegue alojamento, porque
não há a ambição de posse ou de domínio, de superioridade ou de vitória, senão
sobre as próprias paixões perturbadoras.
Jesus viveu o amor a si mesmo,
à medida que se entregava ao próximo, à Humanidade.
Nunca se
permitiu descurar da tarefa para a qual veio ao mundo.
Jamais se facultou transferir o culto do dever, mesmo
quando perseguido, caluniado, vigiado pelos adversários gratuitos.
Não se facultou a tristeza ou a depressão, embora não faltassem
motivos e circunstâncias para conduzi-lo ao desânimo.
Impertérrito manteve-se afável com os enfermos e cansativos companheiros
de ministério, dócil ante as misérias morais dos doentes da alma compadecidos
da ignorância que vigia em toda parte, confiante em Deus em todos os instantes,
até mesmo no Calvário...
...E por conhecer a grandeza de que era
constituído não falhou, não temeu, não deixou de amar, embora desamado, injuriado e aparentemente
vencido, terminando por vencer todas as injunções perversas e seus sequazes.
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