BOA NOVA
Os historiadores do Império Romano, sempre observaram com espanto
os profundos contrastes da gloriosa época de Augusto.
Caio Júlio César Otávio chegara ao poder, não obstante o lustre de
sua notável ascendência, por uma série de acontecimentos felizes. As
mentalidades mais altas da antiga República não acreditavam no seu triunfo.
Aliando-se contra a usurpação de Antônio, com os próprios conjurados que haviam
praticado o assassínio de seu pai adotivo, suas pretensões foram sempre
contrariadas por sombrias perspectivas. Entretanto, suas primeiras vitórias começaram
com a instituição do triunvirato e, em seguida, os desastres de Antônio, no Oriente,
lhe abriram inesperados caminhos.
Como se o mundo pressentisse uma abençoada renovação de valores no
tempo, em breve todas as legiões se entregavam, sem resistência, ao filho do
soberano assassinado.
Uma nova era principiara com aquele jovem enérgico e magnânimo. O
grande império do mundo, como que influenciado por um conjunto de forças
estranhas, descansava numa onda de harmonia e de júbilo, depois de guerras
seculares e tenebrosas.
Por toda parte levantavam-se templos e monumentos preciosos. O
hino de uma paz duradoura começava em Roma para terminar na mais remota de suas
províncias, acompanhado de amplas manifestações de alegria por parte da plebe
anônima e sofredora.
A cidade dos Césares se povoava de artistas, de espíritos nobres e
realizadores. Em todos os recantos, permanecia a sagrada emoção de segurança,
enquanto o organismo das leis se renovava, distribuindo os bens da educação e
da justiça.
No entanto, o inesquecível Imperador era franzino e doente. Os
cronistas da época referem-se, por mais de uma vez, às manchas que lhe cobriam
a epiderme, transformando-se, de vez em quando, em dartros dolorosos. Otávio
nunca foi senhor de uma saúde completa.
Suas pernas viviam sempre enroladas em faixas e sua caixa torácica
convenientemente resguardada contra os golpes de ar que lhe motivavam
incessantes resfriados. Com frequência, queixava-se de enxaquecas, que se
faziam seguir de singulares abatimentos.
Não somente nesse particular padecia o imperador das extremas
vicissitudes da vida humana. Ele, que era o regenerador dos costumes, o
restaurador das tradições mais puras da família, o maior reorganizador do
Império, foi obrigado a humilhar os seus mais fundos e delicados sentimentos de
pai e de soberano, lavrando um decreto de banimento de sua única filha,
exilando-a na ilha de Pandatária, por efeito da sua vida de condenáveis
escândalos na Corte, sendo compelido, mais tarde, a tomar as mesmas
providências em relação à sua neta.
Notou que a companheira amada de seus dias se envolvia, na intimidada
doméstica, em contínuas questões de envenenamento dos seus descendentes mais
diretos, experimentando ele, assim, na família, a mais angustiosa ansiedade do
coração.
Apesar de tudo, seu nome foi dado ao século ilustre que o vira
nascer. Seus numerosos anos de governo se assinalaram por inolvidáveis
iniciativas. A alma coletiva do Império nunca sentira tamanha impressão de
estabilidade e de alegria. A paisagem gloriosa de Roma jamais reunira tão
grande número de inteligências. É nessa época que surgem Vergílio, Horácio,
Ovídio, Salústio, Tito Lívio e Mecenas, como favoritos dos deuses.
Em todos os lugares lavravam-se mármores soberbos, esplendiam
jardins suntuosos, erigiam-se palácios e santuários, protegia-se a
inteligência, criavam-se leis de harmonia e de justiça, num oceano de paz
inigualável. Os carros de triunfo esqueciam, por algum tempo, as palmas de
sangue e o sorriso da deusa Vitória não mais se abria para os movimentos de destruição
e morticínio.
O próprio Imperador, muitas vezes, em presidindo às grandes festas
populares, com o coração tomado de angústia pelos dissabores de sua vida
íntima, se surpreendeu, testemunhando o júbilo e a tranquilidade geral do seu
povo e, sem que conseguisse explicar o mistério daquela onda interminável de harmonia,
chorando de comoção, quando, do alto de sua tribuna dourada, escutava a famosa
composição de Horácio, onde se destacavam estes versos e imorredoura beleza:
Ó Sol fecundo,
Que com teu carro brilhante
Abres e fechas o dia!...
Que surges sempre novo e sempre igual!
Que nunca possas ver
Algo maior do que Roma.
É que os historiadores ainda não perceberam na chamada época de
Augusto, o século do Evangelho ou da Boa Nova. Esqueceram-se de que o nobre
Otávio era também homem e não conseguiram saber que, no seu reinado, a esfera
do Cristo se aproximava da Terra, numa vibração profunda de amor e de beleza.
Acercavam-se de Roma e do mundo não mais espíritos belicosos, como Alexandre ou
Aníbal, porém outros que se vestiram dos andrajos dos pescadores, para servirem
de base indestrutível aos eternos ensinos do Cordeiro.
Imergiam nos fluidos do planeta os que preparariam a vinda do
Senhor e os que se transformariam em seguidores humildes e imortais dos seus
passos divinos.
É por essa razão que o ascendente místico da era de Augusto se
traduzia na paz e no júbilo do povo que, instintivamente, se sentia no limiar
de uma transformação celestial.
Ia chegar à Terra o Sublime Emissário. Sua lição de verdade e de
luz ia espalhar-se pelo mundo inteiro, como chuva de bênçãos magníficas e
confortadoras. A Humanidade vivia, então, o século da Boa Nova. Era a “festa do
noivado” a que Jesus se referiu no seu ensinamento imorredouro.
Depois dessa festa dos corações, qual roteiro indelével para a
concórdia dos homens, ficaria o Evangelho como o livro mais vivaz e mais
formoso do mundo, constituindo a mensagem permanente do céu, entre as criaturas
em trânsito pela Terra, o mapa das abençoadas altitudes espirituais, o guia do
caminho, o manual do amor, da coragem e da perene alegria.
E, para que essas características se conservassem entre os homens,
como expressão de sua sábia vontade, Jesus recomendou aos seus apóstolos que
iniciassem o seu glorioso testamento com os hinos e os perfumes da Natureza,
sob a claridade maravilhosa de uma estrela a guiar reis e pastores à manjedoura
rústica, onde se entoavam as primeiras notas de seu cântico de amor, e o
terminassem com a luminosa visão da Humanidade futura, na posse das bênçãos de
redenção. É por esse motivo que o Evangelho de Jesus, sendo livro do amor e da
alegria, começa com a descrição da gloriosa noite de Natal e termina com a
profunda visão de Jerusalém libertada, entrevista por João, nas divinas
profecias do Apocalipse.
Livro:
Boa Nova, Psicografia Francisco C. Xavier, ditado pelo Espírito Irmão X (Humberto de Campos) , Ed FEB.
Evangelho o livro mais vivaz e mais formoso do mundo!
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