As religiões foram criadas para retirar as criaturas da
convenção e transportá-las à espiritualização, mas, na atualidade, algumas religiões se transformaram nas próprias
convenções sociais.
Inúmeras crenças
religiosas têm sido imensamente nocivas ao desenvolvimento das criaturas, pois usam frequentemente a culpa como forma de
atemorizar. Com isso, obtêm a submissão dos indivíduos, conduzindo-os a
seu bel-prazer.
Utiliza-se de comportamentos manipuladores baseados em
crenças punitivas. Um dos conceitos mais apregoados é o de que a Divina
Providência age através do castigo e da vingança e de que Deus, quando se
decepciona conosco, impede-nos de desfrutar e participar das benesses do Reino
dos Céus.
“A doutrina do fogo eterno (...) não
produzirá bom resultado. (...) Se ensinardes coisas que mais tarde a razão
venha a repeli!; causareis uma impressão que não será duradoura, nem salutar” (28)
As religiões foram criadas para retirar as criaturas da convenção e
transportá-las à espiritualização, mas, na atualidade, algumas religiões se
transformaram nas próprias convenções sociais.
Abordaremos agora algumas
mensagens que produzem culpa e consequentemente infelicidade no íntimo das
criaturas:
“Vocês desobedeceram às leis divinas, mas, se sofrerem bastante; talvez seja
perdoado”.
“Vocês não entrarão na Casa de Deus, a menos que se sacrifiquem muito
pelos necessitados”.
“Se vocês amassem ao Pai, não ousariam ter a atitude que tiveram”.
A culpa é frequentemente difundida
por religiosos ortodoxos de forma consciente e até mesmo inconsciente, como
meio de, produzindo temor nos fiéis, estabelecer dependência religiosa e determinar
comportamentos e posturas de vida que acreditam serem corretas e convenientes
às suas “nobres causas missionárias”.
Esquecem-se, porém, de que cada ser tem uma idade astral,
que lhe permite ver e compreender a existência de forma específica e privativa.
Também não se lembram de que a totalidade das culpas de um indivíduo não poderá
transformar seu comportamento passado nem mesmo suas atitudes do presente.
Portanto, a única forma possível de levá-lo a uma transformação interior é a
mudança de entendimento e de atitude.
Somente através de uma real conscientização é que se
estabelece o processo de amadurecimento das criaturas. Em outras palavras, tal conscientização se dá
pelo somatório de suas experiências vivenciadas através do tempo, nunca pela
imposição ou pelo receio.
“Sacrifique-se pelos
necessitados” poderá ser uma recomendação equivocada, quando endereçada a uma
pessoa psicologicamente fragilizada, pois, se ela não consegue nem mesmo ajudar
a si mesma, obviamente se sentirá culpada por não conseguir ajudar o próximo.
Ela até poderá estar provida de boa vontade e tentar fazer alguma coisa, mas
não conseguirá efetuar uma real ajuda, visto que é tão necessitada que dentro
de si não há senão escuridão e desequilíbrio. Então, como poderá cooperar convenientemente
com os outros?
Só poderemos prestar auxílio a alguém que estiver se afogando se
soubermos nadar. Como ajudá-lo, se estivermos também nos afogando?
Na realidade, criaturas imaturas se consideram profundamente
culpáveis, porque valorizam em excesso o que os outros dizem e pensam. Por lhes
faltar independência interior, nem sempre reúnem condições de julgar seu
próprio comportamento, pensamentos e emoções, responsabilizando-se pelas consequências
que tais atos causam sobre elas.
Não creem que Deus lhes fala diretamente; ao contrário, necessitam de homens que se autodenominam
“iluminados”, para conduzi-las, conforme julgue correto e justo. São infelizes.
Quando não se culpam, atribuem
culpa aos outros. Não percebe que são elas
mesmas que; determinam o seu destino!
A culpa não encontraria abrigo em nossa alma, se tivéssemos uma ampla
fé no amor de Deus por nós e se acreditássemos que Ele habita em nosso âmago e
sabe que somos tão bons e adequados quanto permite nosso grau de conhecimento e
de entendimento sobre nossa vida interior e também exterior.
.X.X.X.
Aprenderam a vestir a túnica de “super-heróis”, tentando
satisfazer e suprir as necessidades da família, e se culpavam quando não
conseguiam resolver esses problemas.
Sábios são aqueles que acumularam conhecimentos não
somente através do estudo das ciências, mas também pela prática e pela
observação.
Sabedoria, portanto, é a soma de nossos conhecimentos
coerentes obtidos em contato com os diversos acontecimentos da vida; não apenas
o que foi adquirido pela instrução acadêmica, mas, acima de tudo, pelas experimentações,
vivências, atividades e realizações nas mais variadas áreas, seja na atual
existência, seja nas múltiplas encarnações que tivemos pelas noites dos tempos.
Sensatez, prudência,
desempenho e erudição são patrimônios intransferíveis da alma humana, alicerçados
na intimidade do próprio ser.
Dessa maneira, podemos entender que, quanto mais impedirmos as pessoas com as quais
convivemos de agir e de pensar por si mesmas, mais estaremos dificultando suas
oportunidades de amadurecimento e de crescimento espiritual. Os empreendimentos
que os outros elegeram como os melhores para si deverão ser respeitados, pois
os direitos naturais do homem lhes garantem a possibilidade de tomar decisões,
errar, aprender, crescer, mudar e julgar a si mesmos.
Problemas são estímulos que a Vida nos apresenta para nos
autoconhecer. Portanto, os fatos de nossa existência possuem valores
imprescindíveis para nosso desenvolvimento interior e são de importância
fundamental para o nosso interagir em face desses mesmos acontecimentos.
Alguns de nós aprendemos
que deveríamos ser responsáveis pela felicidade dos outros, usando uma
postura de “tomar conta”, ou seja, de supervisionar, comandar, insistir,
seduzir, chorar, acusar, subornar, espionar, produzindo culpa em nós e nos
outros e pedindo intervenções milagrosas, a fim de redimirmos e salvarmos as
almas de nossos entes mais queridos.
Muitos indivíduos trazem um comportamento psicológico
inadequado, adquirido desde a mais tenra idade, pela longa convivência com
familiares difíceis e criaturas problemáticas que se diziam incapazes de se
cuidar e se defender. Em decorrência disso, essas
crianças assumiram responsabilidades que não lhes pertenciam e, para que
pudessem sobreviver emocionalmente no lar em desajuste, aprenderam a vestir a
túnica de “super-heróis”, tentando satisfazer e suprir as necessidades da
família, e se culpavam quando não conseguiam resolver esses problemas.
Passaram a viver para controlar e proteger pais, irmãos, outros
parentes, amigos e conhecidos à sua volta, preocupando-se, neurótica e
compulsoriamente, em solucionar as dificuldades ou equacionar a vida dessas
pessoas.
Desenvolveram ao longo do tempo relacionamentos
doentios, nunca se preocupando com o que
eles próprios sentem ou desejam, mas somente se interessando por aquilo que os
outros estão sentindo e pensando. Trazem como lema “sua dificuldade é meu
problema” ou “sua vontade é minha vontade”, assumindo obrigações pelo
bem-estar, comportamento, decisões, emoções, pensamentos ou mesmo pelo destino
de outras pessoas.
Não estamos nos referindo a atos de verdadeira caridade, compaixão e
bondade, em que realmente a assistência é requisitada e desejada, mas sim ao ato neurótico de “tomar
conta”. Por acreditarmos que as pessoas são “vítimas do mundo” e
incapazes de cuidar de si mesmas, assumimos essa atitude salvacionista. Podemos
traduzi-la como uma maneira de agir subestimando a capacidade dos indivíduos de
crescer e evoluir. Capacidade essa que herdamos por direito divino.
A Providência
Divina nos convoca a ser participantes na vida dos outros, jamais controladores.
“Tem meios o homem de distinguir por si mesmo
o que é bem do que é mal. (...) Deus lhe deu a inteligência para distinguir um
do outro.” (29)
Através da inteligência e do livre-arbítrio, ele consegue discernir e
optar entre um e outro.
A Onipresença Divina nos garante Deus em toda parte, como também dentro
de cada um de nós, e nos concede missões equivalentes ao nosso degrau
evolutivo. Portanto, “Deus em nós” guia-nos sempre de maneira que possamos
solucionar dificuldades apropriadas às nossas possibilidades evolutivas. Não
devemos utilizar indevidamente a palavra “caridade” como justificativa para continuarmos
a fazer aos outros; o que eles sabem, podem e são
capazes de fazer.
Dessa forma, procuremos não distorcer a mensagem de Jesus Cristo sobre o
“amor ao próximo”, visto que o auxílio real entre as criaturas estão alicerçados
nas trocas benéficas a que todos nós somos convocados a realizar, mas devemos aprender quando não der e quando não executar tarefas
da responsabilidade de outras pessoas, pois isso também faz parte da “Lei do Amor”.
Referencias:
28 LE - 974 Donde procede a doutrina do fogo eterno?
“Imagem, semelhante a tantas outras, tomada como realidade.”
LE - 974-a – Mas, o temor desse fogo não produzirá bom
resultado?
“Vede se serve de freio, mesmo entre os que o ensinam. Se ensinardes
coisas que mais tarde a razão venha a repelir; causareis uma impressão que não
será duradoura, nem salutar.”
29 LE - 631 – Tem meio o homem de
distinguir por si mesmo o que é bem do que é mal?