Em pleno século 20 homens
existem que ainda defendem com ardor a pena capital para certos criminosos e,
em vários casos, o direito de matar.
Pela regra argumentam que o
sexto mandamento não pode ser interpretado em sentido absoluto, já que o próprio Deus teria estatuído
uma série de circunstâncias e de motivos em que o assassínio seria não apenas lícito,
mas até aconselhável ou necessário.
Surgem, então, citações do V.
T. quais as seguintes: “Se algum boi escornear homem ou mulher, que morra, será
apedrejado, e não se comerão as suas carnes; o dono do boi, contudo, será
inocente. Mas se o boi já era
escorneador e o seu
dono foi conhecedor disso e não o encurralou, matando homem ou mulher, o boi
será apedrejado e também o seu dono morrerá.”
“A feiticeira não deixarás
viver.”
“Todo aquele que se deitar com
animal, morrerá.”
“O que sacrificar aos deuses,
e não só ao Senhor, será morto.” (Êxodo)
“Se um homem tiver um filho
contumaz e insolente, que não está pelo que seu pai e sua mãe lhe ordenam, e,
castigado, recusar com desprezo obedecer-lhes, pegarão nele e o levarão aos
anciães daquela cidade e, à porta onde se fazem os juízos, lhes dirão: Este
nosso filho é rebelde e contumaz, despreza as nossas admoestações, passa a vida
em comezainas, dissoluções e banquetes.
O povo da cidade o apedrejará
e ele morrerá, para que assim tireis o mal do meio de vós. (Deuteronômio)
Ainda segundo o Velho
Testamento, Moisés teria recebido, diretamente de Deus, ordens taxativas e
peremptórias para eliminar os transgressores da fé judaica e os adversários do
povo judeu, como se vê nos seguintes excertos:
“Estando os filhos de Israel
no deserto, acharam um homem apanhando lenha no dia de sábado, o qual foi
metido em prisão, porque ainda não se sabia o que deviam fazer com ele. Disse
então o Senhor a Moisés: Este homem morra de morte, todo o povo o apedreje fora
do arraial. Toda a congregação o lapidou, e o tal homem morreu, como o Senhor
ordenara a Moisés.” (Números, 15: 32-36)
“Das cidades destas nações que
o Senhor teu Deus te dá em herança, nenhuma coisa que tem fôlego deixarás com
vida, antes de destruí-las, para que não vos ensinem as abominações que fizeram
a seus deuses, e peque contra o Senhor vosso Deus.” (Deuteronômio)
Não é de se admirar, portanto,
que, seguindo à risca tais prescrições, os reis de Israel tenham praticado os
crimes mais horripilantes.
Uma pequena amostra: Ajuntou
David todo o povo e marchou contra Rabbath: e depois de combatida, a tomou... E
trazendo os seus moradores, os mandou serrar, e que passassem por cima deles
carroças ferradas, e que os fizessem em pedaços com cutelos, e os botassem em
fornos de cozer tijolo.
“Assim o fez com todas as
cidades dos amonitas, etc.” (II
Reis, 12:29-31.)
Se tais sentenças procedessem
realmente de Deus — agora somos nós que o dizemos — não haveria porque hesitarmos na prática de
qualquer assassínio, visto que o (mau) exemplo viria de cima.
Já é tempo, entretanto, de sabermos que tudo o que se
contém na Bíblia, em contraposição ao Decálogo, não é e nem poderia ser de
origem divina, mas tão somente preceitos humanos, quase sempre
outorgados por Moisés para o povo judeu e para aquela época de ignorância e
barbarismo.
Tanto assim que o Cristo,
várias vezes, após fazer referência a eles, acrescentava: “eu, porém, vos digo”, e
se punha a ensinar coisas diametralmente opostas.
Efetivamente, Aquele que ditou
o NÃO MATARÁ e “em quem não há mudança nem sombra de variação”, segundo o
apóstolo Tiago, não poderia contradizer-se, ordenando alhures: “mata, destrói,
extermina!”
Não se encontra, em todo o
Evangelho, uma só passagem que autorize o uso da violência, nem mesmo uma
palavra ofensiva, quanto mais o assassínio!
E a Doutrina Espírita, (LE
748) em tudo conforme com a moral cristã, proclama que, mesmo quando agredido e
em situação extremamente difícil, cabe ao homem
apenas o direito de defender-se, de modo que possa preservar sua vida,
nunca o de atentar contra a de seu agressor, pois, qualquer que seja a
hipótese, é preferível morrer a ter que matar.