Um indivíduo constantemente raivoso, estressado, pode
apresentar os mesmos sintomas de um portador de ódio ou de uma mágoa crônica.
Revista Internacional
de Espiritismo – p. 132 a 134 - Abril/2016
Definir emoções e sentimentos não é uma
tarefa fácil. Isto, logicamente,
também acontece com a raiva e o ódio.
É tão difícil defini-los, que mesmo os indivíduos que
os sentem não conseguem expressá-los adequadamente, por isso existem inúmeras
definições para ambos.
Todas as emoções, tanto as negativas quanto as positivas, estão
presentes no homem. A raiva é um exemplo negativo. É instintiva e tem como
objetivo a auto preservação, a defesa contra um estímulo agressor. É protetora,
mas deve ser muito bem extravasada e canalizada frente a esse estímulo. Não deve ser de forma alguma, armazenada
além de um limite, pois pode provocar diversos sintomas no seu portador.
Muitos acham que o ódio é um sentimento mais profundo que a raiva e a
mágoa, uma raiva mais branda. Conclui-se por este raciocínio que estão numa
mesma linha de sentimentos e o que varia é a sua intensidade.
Mas será que é isso mesmo? Acreditamos que não. A raiva é uma emoção (relaciona-se com a ideia que se faz do estímulo, da
situação) e o ódio é um sentimento (é o sentir a ideia). Portanto, são diferentes. Podem estar interligados, mas não é a mesma
coisa. Alguns exemplos nos auxiliam nesse entendimento:
1. Um grupo de pessoas se irmana contra outro considerado
inimigo, deflagrando ataques movidos pelo ódio e, comumente, essa situação
termina numa guerra, como assistimos atualmente em diversas partes do mundo.
2. Alguém sofre uma ofensa e guarda uma mágoa do ofensor.
3. No trânsito um cidadão dirigindo o seu automóvel é
fechado por outro. É acometido por intensa emoção e muitas vezes ocorrem
xingamentos, como vemos rotineiramente e já pode ter acontecido com qualquer um
de nós.
Nos dois primeiros exemplos o sentimento ocorreu entre pessoas, enquanto
no terceiro ocorreu numa situação estressante. Neste último caso não houve um
direcionamento de pessoa para pessoa. Na maioria das vezes ninguém sabe quem
fechou ou foi fechado no trânsito. Em minutos a situação pode ser esquecida.
Nos outros dois exemplos ocorreu um sentimento de ódio interpessoal. Assim,
podemos delinear o ódio e a mágoa dirigidos para um objeto-pessoa e a raiva
dirigida para situações. Por isto é comum ouvirmos: está com ódio ou mágoa de
quem? Por que ou do que está com raiva?
Em algum momento de nossas vidas, quase todos já estivemos com raiva
intensa (como o exemplo da situação no trânsito), pode surgir à vontade de agredir o próximo, sem
saber precisamente quem. Neste mesmo exemplo, se as pessoas envolvidas no
acidente de trânsito se encontrar para discutir o ocorrido, além da raiva (emoção) da
situação; pode ocorrer o sentimento de ódio daquele que se sentiu ofendido
contra o seu ofensor. Vejam: pessoa para pessoa – ódio. Comumente é essa a seqüência:
primeiro a emoção, depois o sentimento. A raiva, depois o ódio.
A energia da raiva se dissipa quando a situação estressante termina e
tende a enfraquecer-se mesmo que a situação seja relembrada. Mesmo em grau
extremo – o ataque de raiva – a explosão força negativa tende a diminuir
gradativamente e muitas vezes, horas depois, nem se lembra do que
aconteceu. O
ódio é uma força avassaladora, extremamente negativa e dirigida
a alguém. A imagem internalizada desse alguém, quando relembrada, alimenta
continuamente essa força. O ódio pode atenuar-se e transformar-se em mágoa
crônica, mas mesmo sendo uma força de pouca intensidade é perniciosa, minando a
energia vital e provocando o desequilíbrio energético da alma, o qual é
repassado ao corpo físico, gerando sintomas físicos e psíquicos. Cabe aqui
aquela famosa frase: “ódio é tomar um copo de veneno e querer que o outro
morra”.
Lembramos ainda do sentimento extremo do ódio
conhecido como ira, um dos sete pecados capitais da Igreja Católica.
Com esses conhecimentos podemos dizer que a mágoa, o ódio e a ira estão
numa mesma linha de sentimento e variam conforme a intensidade. A raiva também
pode adquirir uma intensidade extrema, emoção que conhecemos como ataque de
raiva.
Temos a consciência que o ódio, uma força negativa e avassaladora, se
contrapõe ao sentimento do amor, de força positiva e indescritível. Está na
mesma linha de sentimento em sentidos opostos. Durante a vida, conforme o que
ela nos oferece e escolhemos, ficamos
andando sobre essa linha. Necessitamos de conhecimentos e de práticas
salutares para que nos aproximemos mais do amor. As dificuldades para nos
situarmos nessa posição positiva se dão por conta de nossas deficiências,
entendidas como imperfeições, principalmente o orgulho e o egoísmo,
bloqueadoras da nossa chegada ao amor.
Muitos perguntam se a raiva e o ódio devem ser tratados. É claro que
tudo que desarmoniza o homem (corpo e espírito) deve ser tratado.
Um indivíduo constantemente raivoso, estressado, pode apresentar os
mesmos sintomas de um portador de ódio ou de uma mágoa crônica. Aliás, a mágoa é um dos fatores mais
encontrados nos estados depressivos. Os sintomas mais freqüentemente
exteriorizados pelo corpo são: irritação, dificuldade de atenção e
concentração, sono perturbado, uma gama de sintomas depressivos e de
ansiedade. Note-se que esses sintomas podem provocar problemas no trabalho (desatenção e desconcentração), na vida familiar e social. Muitas pessoas necessitam
de ajuda de profissionais especializados e capacitados (psicólogo e/ou psiquiatra). O tratamento espiritual pode ser de grande valia,
pois traz conhecimentos sempre visando ao
equilíbrio do corpo e do espírito.
Como superar?
Lidar com a raiva e o ódio não é tarefa fácil. Geralmente as pessoas
lidam com essa emoção e sentimento de forma negativa, ou seja, explodem, perdem
o controle de si, se precipitam e perdem a razão. Outras vezes, abaixam a
cabeça, dizem amém a tudo e engolem muitos sapos. Nem tanto lá, nem tanto cá –
observar o equilíbrio.
A Doutrina Espírita é incisiva e direta ao recomendar que todos, devem
lidar com a raiva e o ódio de modo positivo, sem reprimir, sem explodir, sem se prejudicar. Como? Pode alguém pensar que se trata de um milagre,
mas não é. São ensinamentos que, quando bem praticados, com certeza, aliviam a
energia negativa presente nos afetos negativos.
Alguns
passos para este objetivo:
1. Externar os sentimentos e as emoções negativas na hora
certa (para não realimentar a força negativa), do jeito certo (com
muita compreensão), na medida certa (sem exaltação e agressividade) e com a pessoa certa (o
estímulo). Deve saber dizer não. Muitas
vezes, dizer não é cuidar de si, é enfrentar o problema.
2. Pensar lógica e racionalmente se o estímulo (situação ou alguém) tem o valor real que a ele está sendo dado. Pergunte a si: vale à pena
perturbar a minha saúde física e psíquica por esse estímulo? Qual valor
que estou dando ao meu bem-estar?
3. Desapegar-se do passado que traz raiva, mágoa e
sentimento de vingança.
4. Mudanças dos padrões de pensamento para admitir que
ninguém é vítima de ninguém e sim da própria constituição espiritual.
5. Identificar a origem dos sentimentos negativos, isto
é, os estímulos prejudiciais, para poder administrá-los melhor.
Notar que na raiva, na mágoa e no
ódio, a força negativa presente gira em circuito fechado de pensamentos,
emoções e sentimentos (auto-obsessão), prejudicando
o equilíbrio energético do ser humano. Nesta condição o campo fica propício a
influências externas: os obsessores.
A Doutrina Espírita, através de sua vasta literatura, nos presenteia com
conselhos maravilhosos dos mentores espirituais para combatermos as emoções e
sentimentos negativos.
Vejamos alguns; do Espírito André Luiz1, na cristalina
mediunidade de Chico Xavier:
1. Cada pessoa vê os problemas da vida em ângulo
diferente. Dê aos outros a liberdade de pensar, tanto quanto você é livre para
pensar como deseja.
2. Respeitemos a opinião do inimigo, porque é possível
que seja ele portador de verdades que ainda desconhecemos, até mesmo em relação
a nós.
3. Reconheçamos o fato de que, muitas vezes, chegamos a
odiar simplesmente porque a pessoa não adota os nossos pontos de vista.
4. A crítica dos outros só poderá trazer-lhe prejuízo se
você consentir.
5. Se alguém feriu você, perdoe imediatamente, frustrando
o mal no nascedouro.
6. A melhor maneira de aprender a desculpar os erros
alheios é reconhecer que também somos humanos capazes de errar, talvez mais
desastradamente que os outros.
7. O adversário em que você julga encontrar um modelo de
perversidade, talvez seja um doente necessitando de compreensão.
8. Quanto mais avança a ciência médica mais compreende
que o ódio, mágoa em forma de vingança, condenação, ressentimento, inveja ou
hostilidade está na raiz de numerosas doenças e que o único remédio eficaz
contra semelhantes calamidades da alma é o perdão no veículo do amor.
Livro: Sinal Verde. Espírito André Luiz / XAVIER,
Francisco Cândido; Ed. Uberaba/MG: CEC,
1999, p. 36, 37 e 56.