PROBLEMAS DA EVOLUÇÃO
A
semente, portadora de vida, quando colocada para germinação, experimenta a
compressão do solo e sua umidade, desenvolvendo os fatores adormecidos e
passando a vigorosas transformações celulares. Intumesce-se e, dirigida pela
fatalidade biológica, desata a vida sob nova forma, convertendo-se em vegetal,
para repetir-se, ininterruptamente, em futuras sínteses...
A
criatura humana, de alguma forma fadada à perpetuação da espécie e à sua
plenificação, encarna-se, reencarna-se, repetindo as façanhas existenciais até
atingir o clímax que a aguarda. Em cada etapa nova remanescem as ocorrências da
anterior, em uma cadeia sucessória natural. E através desse mecanismo os êxitos
abrem espaços a conquistas mais amplas e complexas, assim como o fracasso em
algum comportamento estabelece processos que impõem problemas no desenvolvimento
dos cursos que prosseguem adormecidos.
Esmagada
pelas evocações inconscientes do agravamento da experiência, ou sem
elas, a criatura caracteriza-se, psicologicamente, por atitudes de ser fraco
ou forte, segundo James, como decorrências do treinamento na luta a
que foi submetida, podendo, bem ou mal, enfrentar os dissabores ou as propostas
de crescimento e graças a essa conduta se torna feliz ou atormentada.
Ninguém
se encontra isento do patrimônio de si mesmo como resultado dos próprios atos.
São eles os responsáveis diretos por todas as ocorrências da marcha evolutiva,
o que constitui grande estímulo para o ser, liberando-o dos processos de
transferência de responsabilidade para outrem ou para os fatores
circunstanciais, sociais, que normalmente são considerados perturbadores.
Mesmo
quando os imperativos genéticos inculpem situações orgânicas ou psíquicas
constritoras no indivíduo, esses se derivam da conduta pessoal anterior, e
devem ser considerados como estímulos ou métodos corretivos, educacionais, a
que as Leis da Vida recorrem para o aprimoramento dos seres humanos.
O estado
de humanidade já é conquista valiosa no curso da evolução; no entanto, é o
passo inicial de nova ordem de valores, aguardando os estímulos para desdobra-los
todos, que jazem adormecidos — Deus
em nós — para a aquisição da angelitude.
Da
insensibilidade inicial à percepção primária, dessa à sensibilidade, ao
instinto, à razão, em escala ascendente, o psiquismo evolve, passando à
intuição e atingindo níveis elevados de interação com a Mente Cósmica.
Os
indivíduos, no entanto, mergulhados no processo do crescimento, raramente se
dão conta de que o sofrimento, que é fator de aprimoramento, ainda constitui
instrumento de evolução, em se considerando o estágio de humanidade.
Assim
posto, o autoconhecimento desempenha relevante papel no adestramento do ser para
a sua superação e perfeita sintonia com a paz.
Nesse
desiderato, são investidos os mais expressivos recursos psicológicos e morais,
de modo a serem alcançadas as metas que se sucedem, patamar a patamar, até
alcançarem o nível de libertação interior.
Mediante
esse comportamento surgem os problemas, as dificuldades naturais que fazem
parte do desempenho pessoal e da sua estruturação psicológica.
Quando
imaturo, o ser lamenta-se, teme e transforma o instrumento de educação em
flagelo que o dilacera, tornando-se desventurado pela rebeldia ou entrega de
ânimo, negando-se à luta e autodestruindo-se, sem se dar conta.
Surge,
então, como decorrência da sua falta de valor moral, os transtornos depressivos
ou de bipolaridade, que o conduzem a lamentável estado de autoabandono,
portanto, de autocídio.
Há
pessoas que afirmam ter problemas, por cultivá-los sem cessar,
transferindo-se de uma dificuldade para outra, vitimadas pelo egoísmo, pela
autocomiseração, pelo amor-próprio exacerbado.
Há
aqueles que têm problemas e não se encontram dispostos a enfrentá-los, a
solucioná-los, esperando que outros o façam, porque se consideravam isentos de
acontecimentos dessa ordem, negando-se, mesmo sem o perceberem, à mudança de
estágio evolutivo.
Outros há,
que vivem sob problemas; preservando-os mediante transferências
psicológicas continuadas, assim adiando as soluções no tempo e no lugar,
ignorando-os e ignorando-se. Esses cultivadores da ilusão fantasiam-se de
felizes até os graves momentos, quando irrompem as cobranças da vida -
orgânicas, sociais, econômicas, emocionais -, encontrando-os entorpecidos e
distantes da realidade.
Na
maioria das vezes, porém, as pessoas são os problemas, que não
solucionam nos pequenos desafios, mas os transformam em impedimentos, assim
deixando-se consumir por desequilíbrios íntimos nos quais se realizam psicologicamente.
É lícito
e natural que cada pessoa se considere humana, isto é, com direito aos
erros e aos acertos, não incólume, não especial.
Quando
erra, repara; quando acerta, cresce.
A
evolução ocorre através de vários e repetidos mecanismos de erro e acerto, desde
os primeiros passos até a firmeza de decisão e de marcha.
Reflexão
e diálogo, honestidade para consigo mesmo e para com o seu próximo, esforço
constante para a identificação dos limites e ampliação deles constituem
terapias e métodos para transformar os problemas em soluções, as dificuldades em
experiências vitoriosas, crescendo sem cessar.
O ser
psicológico, amadurecido, ama e confia, fitando o alvo e avançando para ele,
sem ter, nem ser problema na própria trajetória.
Livro: Autodescobrimento,
uma busca interior / Divaldo P. Franco, pelo Espírito Joana de Angeles, Editora
LEAL.