PARÁBOLA DA FIGUEIRA QUE SECOU[1]
“No dia
seguinte, saindo eles de Betânia, teve fome. Vendo ao longe uma figueira que
tinha folhas, foi ver se, porventura, acharia nela alguma coisa.
Aproximando-se, nada achou senão folhas; porque ainda não era tempo de figos.
Disse-lhe: Nunca jamais coma alguém fruto de ti; e seus discípulos ouviram
isto.” “Quando chegava a tarde saíram da cidade. Ao passarem de manhã, viram
que a figueira estava seca até a raiz. Pedra, lembrando-se, disse-lhe: Olha,
Mestre, secou-se a figueira que amaldiçoaste!”
(Marcos,
XI, 12-14 – 19-21.)
Antes de
estudarmos esta passagem, uma consideração se apresenta às nossas vistas. Esta
figueira não será a mesma que serviu de comparação ao Mestre para a exposição
da sua Parábola, cap. XIII, 6 a 9 do Evangelho de Lucas?
Cremos
que sim, porque senão não haveria motivo para tão sumária execução. Se a
própria Parábola da Figueira Estéril ensina a necessidade de cultivo, de concerto,
de reparo, de fertilização com adubos, antes de toda e qualquer resolução
decisiva, como, de momento, sem os requisitos preceituados neste ensinamento,
Jesus resolveu fulminar a árvore que se achava bem enfolhada, bem “copada”?
Para
o leitor, insciente do sentido espiritual das Escrituras, outra dificuldade se
mostra com a aparente contradição entre a narração do texto de Marcos e a de
Mateus. Este diz: “No mesmo instante secou a figueira.” (Mateus XXI, 18 a 22);
aquele: “Pela manhã, viram que a figueira estava seca até a raiz.”
Entretanto,
essa contradição é só aparente. Os antigos, quando se exprimiam sobre a duração
de um fato, de uma coisa, de um fenômeno qualquer, não eram explícitos, como
nós somos. Por exemplo, a palavra que traduzimos por eternidade, queria dizer
um tempo incalculável, indeterminado, de longa duração. A Escritura fala de
meses de trinta anos em vez de meses de trinta dias. Acresce ainda a
circunstância de que; a hora dos hebreus abrangia, cada uma, três das nossas.
Para a
expressão “no mesmo instante”, aplicada ao tempo em que a figueira secou, o
período de cinco horas cabe perfeitamente, se compreendermos o modo enfático
com que foi pronunciada, porque uma árvore, mesmo que cortada pela raiz, não
secará nesse espaço de tempo.
Naturalmente
não era a primeira vez que Jesus e os seus discípulos viam aquela figueira. Por
três anos consecutivos viram-na sem frutos, e mesmo depois de estercada ela
permaneceu estéril. Do que Jesus se aproveitou para demonstrar, aos que tinham
de ser seus seguidores, o poder de que se achava revestido e o alto saber que o
orientava.
Acode-nos
uma lembrança também interessante. Diz Marcos que “a árvore não tinha senão
folhas, porque não era tempo de figos.” Ora, esta figueira, forçosamente devia
pertencer ao número daquelas árvores que dão fruto o ano inteiro; tanto mais
que a parábola fala de cultivo e de adubo à mesma aplicada. Se considerarmos o
clima daquela região, veremos que é perfeitamente admissível a nossa hipótese.
A região fria está quase adstrita ao Norte, nas montanhas do Líbano. A
proporção que se desce para Efraim, Manasses e Judá, a temperatura sobe, e
aumenta ainda mais para os lados de Sharon e nas costas do Mediterrâneo,
tocando o grau tropical no Vale do Jordão e no Mar Morto. Por essas bandas é
que se deveria encontrar a figueira, por ser mesmo o terreno mais fértil para plantações.
A figueira, aparentemente, estaria bem
situada. Por que não dava frutos? Adubos não lhe faltaram, cuidados não lhe
foram regateados! Por que seria que só lhe vinham tronco, galhos e folhas?
Com
certeza, aquele circuito onde ela se achava era improdutivo, e improdutivo de
tal modo que nem os adubos lhe venciam a esterilidade.
Ou então
a semente era “chocha”, era de fundo estéril, tornando-se-lhe inúteis todos os
cuidados.
Seja como
for, o ensino de Jesus é muito significativo, por haver escolhido uma árvore, a
fim de melhor gravar no ânimo de seus discípulos a lição que lhes queria
transmitir, bem assim às gerações que deveriam estudar nos Evangelhos a Verdade
que orienta e salva.
É
instrutivo porque, havendo o Mestre tomado por ponto de comparação uma figueira,
deixou bem claro que a lei de Deus, estendendo-se a toda a criação e sendo
eterna, irrevogável, tanto têm ação sobre as árvores, os animais, como sobre as
criaturas humanas.
Essa lei, que rege na figueira a produção
dos frutos, é a mesma que rege nos homens a produção das boas obras.
Uma
árvore sem frutos é uma árvore inútil, estéril, que não trabalha.
Uma alma
também sem virtudes é semelhante à figueira, na qual Jesus não encontra frutos.
Há, portanto, frutos de árvores e frutos de
almas; frutos que alimentam corpos e frutos que alimentam espíritos; todos são
frutos indispensáveis à vida, tanto dos corpos, como das almas.
A
figueira, por não ter frutos, secou, embora bem enraizada, de tronco bem
formado, de galhos bem ramificados, de copa bem enfolhada.
Assim
também o espírito, o homem, a mulher, e até as crianças sem bons sentimentos,
sem virtudes divinas, sem ações caritativas, generosas, celestiais, estejam
embora vestidos de seda, recamados de brilhantes, reluzentes de ouro, hão de
forçosamente sofrer as mesmas conseqüências ocorridas à figueira que, por não
dar frutos, secou ao império da Palavra de Jesus.
Desta explicação resulta a necessidade de praticar-nos sempre boas ações,
e, em nossos corações, fazermos provisão dos Ensinos Celestiais, para que o
Verbo de Deus se traduza por generosas ações.
Entretanto,
a Palavra de Deus não é só moral, é também sabedoria; e se analisarmos por esta
face a seca da figueira, chegaremos à conclusão de que a Palavra de Jesus não era simples palavra, mas também
ação.
Jesus,
durante a sua missão terrestre, foi sempre acompanhado de uma grande falange de
Espíritos que executavam suas ordens. Quando Jesus disse à figueira: nunca
jamais coma alguém fruto de ti”, alguns desses espíritos, com o poder de que
dispunham, fizeram secar a figueira, assim como nós o faríamos aquecendo o seu tronco.
O
centurião, em cuja casa Jesus curou, à distância, um servo que estava
paralítico, compreendeu bem o poder de Jesus e por certo sabia dos auxiliares
que com Ele agiam, quando disse: “Eu também tenho soldados às linhas ordens, e
digo a um: vai ali, e ele vai; a outro: vem cá, e ele vem; ao meu servo: faze
isto, e ele o faz.”
Com isso,
o centurião teria feito ver a Jesus que conhecia o seu poder, a milícia que o
acompanhava e os servos prontos a executarem suas ordens.
[1] Fonte: Livro Parábolas e Ensinos de Jesus – Cairbar
Schutel, Gráfica da Casa Editora o
Clarim, 1ª Edição - 1928 (Livro em pdf capturado no www.autoresespiritasclassicos.com