QUEIXAS[1]
Espanca a nuvem da queixa com os instrumentos de segurança plena, e
apaga a fogueira da impulsividade que te impele aos atos impensados,
afastando-se dos deveres para com a vida.
A queixa pode ser comparada a um ácido perigoso que sempre produz dano.
Na reclamação surge a maledicência que encoraja a calúnia, fomentando o
desrespeito.
Todos guardam compromissos com o passado, que ressurgem no presente como
espinheiros da aflição, retificando erros, corrigindo distonias, reforçando a
segurança.
Em razão disso, toda dificuldade pode ser considerada como favor da Lei
Divina, concedendo ensejo à simplificação e aos reajustes da alma.
Aquilo que se nos afigura provação indébita é,
somente, resgate indispensável.
O obstáculo que nos cerceia o avanço, impedindo-nos o êxito na terra,
embora passageiro, pode ser aceito como dádiva da vida ou favor Celeste.
Não vitalizes desse modo, os próprios problemas com a dilatação da queixa.
Enquanto reclamamos,
espalhamos o nosso amargor, difundindo o lado negativo da oportunidade de
reparação, ofertando desânimo e tristeza.
Cada alma reclama um coração que saiba
escutar, e amigos que se disponham a ouvir, num testemunho de solidariedade.
No entanto, enquanto a queixa, em forma de revolta íntima, flui pelos
nossos lábios, desperdiçamos o favor da hora, gastando indebitamente o tempo
precioso de realizar e produzir em favor de nós mesmos.
O queixoso aclimata-se à
lamentação e emaranha-se nos cordéis da teia em que se prende.
Guarda sempre o azedume.
Carrega noite no espírito.
Enquanto se detém no vão escuro do amor-próprio ferido, a pérola dos
minutos muda de lugar, deixando-o de mãos vazias.
Reclamar pode ser traduzido na linguagem do dever como rebeldia, e a
queixa; pode ser interpretada como insubordinação.
Não vale muito fugir
ao ressarcimento na dor,
complicando o problema, que retornará como fornalha de fogo e aflição para a
devida solução. A tarefa não executada volverá, hoje ou amanhã, para o necessário
refazimento.
Ultrajado e preso entre zombarias e bofetões, o Senhor desceu do Monte
das Oliveiras cercado por sequazes do poder temporal, que ostentavam varapaus e
archotes, para o supremo escárnio, sendo recolhido ao presídio, em absoluto silêncio,
no qual buscava comungar com o Pai, haurindo, na Fonte Divina, a força para a
vitória final.
Envolve nos tecidos do silêncio
as tuas amarguras como Ele mesmo o fez.
Guarda na alma o compromisso com o sofrimento, serenamente, de espírito
robusto e coração confiante, arrimado à tolerância.
A fonte gentil vence a lama do fundo, para atender ao sedento que lhe
roga linfa cristalina.
Vence as dificuldades onde que as encontres, e atravessa o sitio
lodacento em que te demoras.
Não apresentes queixas à
cordialidade dos amigos que te buscam.
Não te animarias a oferecer àqueles a quem amas, borralho e cinza nos vasos
da afeição, nem vinagre ou fel na taça da amizade.
A queixa cria pessimismo e
estimula a ociosidade.
Ajusta o espírito à disciplina que corrige, para que a espontaneidade
enfloresça os teus atos.
Honra os teus amigos com a esperança mediante um
sorriso confiante.
Estende a palavra afável a quem te cerca de afeição, porquanto, embora
esse coração amigo te pareça um bom ouvinte, abastecido de força e coragem, é, possivelmente,
alguém lutando consigo mesmo, à cata de que lhe oferte o lenitivo que parece possuir, para
a dor do coração que se encontra em chaga aberta.