PENITENCIÁRIAS 1
Coincidindo com a crise prisional no país, encontro na sabedoria
de Amália Domingo Soler, no fabuloso livro A
Luz do Caminho,
que está esgotado e logo estará reeditado, o notável capítulo A
Eterna Justiça,
que parece foi escrito para a atualidade do país, embora escrito a mais de um
século. Faço aqui pequenas transcrições parciais do citado capítulo:
1)
Você
então acredita que com suas prisões se consegue a cura do criminoso? É um
equívoco gravíssimo, porque, como regra geral, seus condenados são homens
quando entram nos calabouços, mas ali se convertem em feras indomáveis (...);
2)
(...)
se dobram o corpo sob o poder do chicote, não dobram seu Espírito, pois
continuamente se está vendo que os crimes mais terríveis, que os atentados mais
cruéis, que o ódio mais concentrado, quem os sente ou os comete?
3)
Eis
como funciona a corrigenda de um criminoso de ontem, e não é porque seja um
monstro da iniquidade, mas porque matou, sem estudar a natureza do seu crime,
as leis o condenaram a alguns anos de prisão.
4)
(...)
entrou na prisão aturdido, surpreso e assustado por sua própria obra; entrou
como aprendiz, como se costuma dizer, na oficina dos crimes e saiu mestre
consumado, o que prova que seus castigos violentos produzem um resultado
completamente negativo, o que não ocorreria se os criminosos fossem tratados
como se tratam os enfermos.
5)
(...)
embora falte muito para que os enfermos pobres sejam tratados nos hospitais com
as considerações e atenções devidas, não os golpeiam e não os submetem a
continuados jejuns para curar suas doenças; dão-lhes medicamentos, alimentos,
fazem operações que, conquanto dolorosas, têm por objetivo separar o membro
gangrenado do resto do corpo, para que este se conserve saudável.
6)
Ora,
se assim tratam as enfermidades do organismo, com relativo acerto e com o sadio
desejo de conseguir a cura completa, por que não fazem o mesmo com as
enfermidades da alma?
7)
Que
vocês pensam que são os criminosos? (...) cada um deles apresenta distinta
enfermidade (...) quanta diferença existe na origem da criminalidade!
8)
Curar
a doença por meio de um tratamento geral é como se num hospital cheio de
enfermos, cada um com sua doença particular, dessem a todos o mesmo
medicamento, pretendendo que se curasse com o mesmo remédio o tuberculoso
incurável e aquele que somente tivesse uma leve febre.
9)
Dia
chegará (...) em que suas horríveis prisões serão substituídas por casas de
saúde, onde os criminosos serão julgados, não por juízes, mas por sábios
psiquiatras, e cada ser que cometa um delito será um livro aberto no qual o
médico encarregado de sua cura lerá constantemente.
10)
A
doçura é o modo de corrigir os culpados; (...) os crimes diminuirão à medida
que os criminosos sejam considerados doentes em estado gravíssimo que
necessitam de especiais cuidados e múltiplas atenções, e de alguém que os
ensine a trabalhar e, o que é mais difícil, a amar o trabalho (...)
11)
Que
diferentes resultados obterá o sistema penitenciário de que se fará uso nos
séculos vindouros!
Nossas autoridades precisam conhecer
uma sábia orientação dessa natureza. O império do materialismo, da indiferença
e o predomínio do egoísmo formam esse quadro complexo que estamos enfrentando
no país. Daí a imperiosa necessidade da expansão da visão imortalista da vida,
que não se resume a algumas décadas nesse corpo frágil que utilizamos.
Concluo com trecho no final do
capítulo:
“(...) eduquem-nos (...)
para que comecem a ser úteis a seus semelhantes, porque toda água que se dá aos
sedentos, encontrá-la-ão depois em gotas de precioso bálsamo que lhes servirá
mais tarde de alimento e vida (...)”.
Não é o grande desafio da
nação?
Até onde vamos com nossa indiferença?
Multiplicam-se os condenados e penitenciários, esquecidas as
autoridades do poder da educação (e sua estrutura, claro!).
Que, curiosamente, começa em casa, antes do berço, no aconchego
familiar, no exemplo dos pais e no Evangelho do Cristo, único capaz de formar
autênticos homens de bem.