terça-feira, 13 de outubro de 2020

APRENDENDO A PERDOAR

 APRENDENDO A PERDOAR[1]

 

“Se perdoardes aos homens as faltas que eles fazem contra vós, vosso Pai celestial vos perdoará também vossos pecados, mas se não perdoardes aos homens quando eles vos ofendem, vosso Pai, também, não vos perdoará os pecados.”

Evangelho Segundo Espiritismo

- Capítulo 10, item 2.

 

Nosso conceito de perdão tanto pode facilitar quanto limitar nossa capacidade de perdoar.

Por possuirmos crenças negativas de que perdoar é “ser apático” com os erros alheios, ou mesmo, é aceitar de forma passiva tudo o que os outros nos fazem, é que supomos estar perdoando quando aceitamos agressões, abusos, manipulações e desrespeito aos nossos direitos e limites pessoais, como se nada tivesse acontecendo.

Perdoar não é apoiar comportamentos que nos tragam dores físicas ou morais, não é fingir que tudo corre muito bem quando sabemos que tudo em nossa volta está em ruínas. Perdoar não é “ser conivente” com as condutas inadequadas de parentes e amigos, mas ter compaixão, ou seja, entendimento maior através do amor incondicional. Portanto, é um “modo de viver.

O ser humano, muitas vezes, confunde o “ato de perdoar” com a negação dos próprios sentimentos, emoções e anseios, reprimindo mágoas e usando supostamente o “perdão” como desculpa para fugir da realidade que, se assumida, poderia como conseqüência alterar toda uma vida de relacionamento.

Uma das ferramentas básicas para alcançarmos o perdão real é mantermos a certa “distância psíquica” da pessoa-problema, ou das discussões, bem como dos diálogos mentais que giram de modo constante no nosso psiquismo, porque estamos engajados emocionalmente nesses envolvimentos neuróticos.

Ao desprendermo-nos mentalmente, passamos a usar de modo construtivo os poderes do nosso pensamento, evitando os “deveria ter falado ou agido” e eliminando de nossa produção imaginativa os acontecimentos infelizes e destrutivos que ocorreram conosco.

Em muitas ocasiões, elaboramos interpretações exageradas de suscetibilidade e caímos em impulsos estranhos e desequilibrados, que causam em nossa energia mental uma sobrecarga, fazendo com que o cansaço tome conta do cérebro. A exaustão íntima é profunda.

A mente recheada de idéias desconexas dificulta o perdão, e somente desligando-nos da agressão ou do desrespeito ocorrido é que o pensamento sintoniza com as faixas da clareza e da nitidez, no processo denominado “renovação da atmosfera mental”.

É fator imprescindível, ao “separar-nos” emocionalmente de acontecimentos e de criaturas em desequilíbrio, a terapia da prece, como forma de resgatar a harmonização de nosso “halo mental”. Método sempre eficaz restaura-nos os sentimentos de paz e serenidade, propiciando-nos maior facilidade de harmonização interior.

A qualidade do pensamento determina a “ideação” construtiva ou negativa, isto é, somos arquitetos de verdadeiros “quadros mentais” que circulam sistematicamente em nossa própria órbita áurica. Por nossa capacidade de “gerar imagens” ser fenomenal, é que essas mesmas criações nos fazem ficar presos em “monos-idéia”. Desejaríamos tanto esquecer, mas somos forçados a lembrar, repetidas vezes, pelo fenômeno “produção conseqüência”.

Desligar-se ou desconectar-se não é um processo que nos torna insensíveis e frios, como criaturas totalmente impermeáveis às ofensas e críticas e que vivem sempre numa atmosfera do tipo “ninguém mais vai me atingir ou machucar”.

Desligar-se quer dizer deixar de alimentar-se das emoções alheias, desvinculando-se mentalmente dessas relações doentias de hipnoses magnéticas, de alucinações íntimas, de represálias, de desforras de qualquer matiz ou de problemas que não podemos solucionar no momento.

Ao soltar-nos vibracionalmente desses contextos complexos, ao desatarnos desses fluidos que nos amarram a essas crises e conflitos existenciais, poderemos ter a grande chance de enxergar novas formas de resolver dificuldades com uma visão mais generalizada das coisas e de encontrar, cada vez mais, instrumentos adequados para desenvolvermos a nobre tarefa de nos compreender e de compreender os outros.

Quando acreditamos que cada ser humano é capaz de resolver seus dramas e é responsável pelos seus feitos na vida, aceitamos fazer esse “distanciamento” mais facilmente, permitindo que ele seja e se comporte como queira, dando-nos também essa mesma liberdade.

Viver impondo certa “distância psicológica” às pessoas e às coisas problemáticas sejam entes queridos difíceis, sejam companheiros complicados, não significa que deixaremos de nos importar com eles, ou de amá-los ou de perdoar-lhes, mas sim que viveremos sem enlouquecer pela ânsia de tudo compreender, padecer, suportar e admitir.

Além do que, desligamento nos motiva ao perdão com maior facilidade, pelo grau de libertação mental, que nos induz a viver sintonizado; em nossa própria vida e na plena afirmação positiva de que “tudo deverá tomar o curso certo, se minha mente estiver em serenidade”.

Compreendendo por fim que, ao promovermos “desconexão psicológica”, teremos sempre mais habilidade e disponibilidade para perceber o processo que há por trás dos comportamentos agressivos, o que nos permitirá não reagir da maneira como o fazíamos, mas olhar “como é e como está sendo feito” nosso modo de nos relacionar com os outros. Isso nos leva, conseqüentemente, a começar a entender a “dinâmica do perdão”.

Uma das mais eficientes técnicas de perdoar é retomar o vital contato com nós mesmos, desligando-nos de toda e qualquer “intrusão mental”, para logo em seguida buscar uma real empatia com as pessoas. Deixamos de; ser vítimas de forças fora de nosso controle para transformar-nos em pessoas que criam sua própria realidade de vida, baseadas não nas críticas e ofensas do mundo, mas na sua percepção da verdade e na vontade própria.



[1] Fonte: Livro – Renovando Atitudes – ditado do Espírito Hammed, psicografia de Francisco do Espírito Santo Neto, Boa Nova Editora e Distribuidora, 5.“ edição

sábado, 26 de setembro de 2020

PARÁBOLA DA FIGUEIRA QUE SECOU

 

PARÁBOLA DA FIGUEIRA QUE SECOU[1]

 

“No dia seguinte, saindo eles de Betânia, teve fome. Vendo ao longe uma figueira que tinha folhas, foi ver se, porventura, acharia nela alguma coisa. Aproximando-se, nada achou senão folhas; porque ainda não era tempo de figos. Disse-lhe: Nunca jamais coma alguém fruto de ti; e seus discípulos ouviram isto.” “Quando chegava a tarde saíram da cidade. Ao passarem de manhã, viram que a figueira estava seca até a raiz. Pedra, lembrando-se, disse-lhe: Olha, Mestre, secou-se a figueira que amaldiçoaste!”

(Marcos, XI, 12-14 – 19-21.)

Antes de estudarmos esta passagem, uma consideração se apresenta às nossas vistas. Esta figueira não será a mesma que serviu de comparação ao Mestre para a exposição da sua Parábola, cap. XIII, 6 a 9 do Evangelho de Lucas?

Cremos que sim, porque senão não haveria motivo para tão sumária execução. Se a própria Parábola da Figueira Estéril ensina a necessidade de cultivo, de concerto, de reparo, de fertilização com adubos, antes de toda e qualquer resolução decisiva, como, de momento, sem os requisitos preceituados neste ensinamento, Jesus resolveu fulminar a árvore que se achava bem enfolhada, bem “copada”?

Para o leitor, insciente do sentido espiritual das Escrituras, outra dificuldade se mostra com a aparente contradição entre a narração do texto de Marcos e a de Mateus. Este diz: “No mesmo instante secou a figueira.” (Mateus XXI, 18 a 22); aquele: “Pela manhã, viram que a figueira estava seca até a raiz.”

Entretanto, essa contradição é só aparente. Os antigos, quando se exprimiam sobre a duração de um fato, de uma coisa, de um fenômeno qualquer, não eram explícitos, como nós somos. Por exemplo, a palavra que traduzimos por eternidade, queria dizer um tempo incalculável, indeterminado, de longa duração. A Escritura fala de meses de trinta anos em vez de meses de trinta dias. Acresce ainda a circunstância de que; a hora dos hebreus abrangia, cada uma, três das nossas.

Para a expressão “no mesmo instante”, aplicada ao tempo em que a figueira secou, o período de cinco horas cabe perfeitamente, se compreendermos o modo enfático com que foi pronunciada, porque uma árvore, mesmo que cortada pela raiz, não secará nesse espaço de tempo.

Naturalmente não era a primeira vez que Jesus e os seus discípulos viam aquela figueira. Por três anos consecutivos viram-na sem frutos, e mesmo depois de estercada ela permaneceu estéril. Do que Jesus se aproveitou para demonstrar, aos que tinham de ser seus seguidores, o poder de que se achava revestido e o alto saber que o orientava.

Acode-nos uma lembrança também interessante. Diz Marcos que “a árvore não tinha senão folhas, porque não era tempo de figos.” Ora, esta figueira, forçosamente devia pertencer ao número daquelas árvores que dão fruto o ano inteiro; tanto mais que a parábola fala de cultivo e de adubo à mesma aplicada. Se considerarmos o clima daquela região, veremos que é perfeitamente admissível a nossa hipótese. A região fria está quase adstrita ao Norte, nas montanhas do Líbano. A proporção que se desce para Efraim, Manasses e Judá, a temperatura sobe, e aumenta ainda mais para os lados de Sharon e nas costas do Mediterrâneo, tocando o grau tropical no Vale do Jordão e no Mar Morto. Por essas bandas é que se deveria encontrar a figueira, por ser mesmo o terreno mais fértil para plantações.

A figueira, aparentemente, estaria bem situada. Por que não dava frutos? Adubos não lhe faltaram, cuidados não lhe foram regateados! Por que seria que só lhe vinham tronco, galhos e folhas?

Com certeza, aquele circuito onde ela se achava era improdutivo, e improdutivo de tal modo que nem os adubos lhe venciam a esterilidade.

Ou então a semente era “chocha”, era de fundo estéril, tornando-se-lhe inúteis todos os cuidados.

Seja como for, o ensino de Jesus é muito significativo, por haver escolhido uma árvore, a fim de melhor gravar no ânimo de seus discípulos a lição que lhes queria transmitir, bem assim às gerações que deveriam estudar nos Evangelhos a Verdade que orienta e salva.

É instrutivo porque, havendo o Mestre tomado por ponto de comparação uma figueira, deixou bem claro que a lei de Deus, estendendo-se a toda a criação e sendo eterna, irrevogável, tanto têm ação sobre as árvores, os animais, como sobre as criaturas humanas.

Essa lei, que rege na figueira a produção dos frutos, é a mesma que rege nos homens a produção das boas obras.

Uma árvore sem frutos é uma árvore inútil, estéril, que não trabalha.

Uma alma também sem virtudes é semelhante à figueira, na qual Jesus não encontra frutos.

Há, portanto, frutos de árvores e frutos de almas; frutos que alimentam corpos e frutos que alimentam espíritos; todos são frutos indispensáveis à vida, tanto dos corpos, como das almas.

A figueira, por não ter frutos, secou, embora bem enraizada, de tronco bem formado, de galhos bem ramificados, de copa bem enfolhada.

Assim também o espírito, o homem, a mulher, e até as crianças sem bons sentimentos, sem virtudes divinas, sem ações caritativas, generosas, celestiais, estejam embora vestidos de seda, recamados de brilhantes, reluzentes de ouro, hão de forçosamente sofrer as mesmas conseqüências ocorridas à figueira que, por não dar frutos, secou ao império da Palavra de Jesus.

Desta explicação resulta a necessidade de praticar-nos sempre boas ações, e, em nossos corações, fazermos provisão dos Ensinos Celestiais, para que o Verbo de Deus se traduza por generosas ações.

Entretanto, a Palavra de Deus não é só moral, é também sabedoria; e se analisarmos por esta face a seca da figueira, chegaremos à conclusão de que a Palavra de Jesus não era simples palavra, mas também ação.

Jesus, durante a sua missão terrestre, foi sempre acompanhado de uma grande falange de Espíritos que executavam suas ordens. Quando Jesus disse à figueira: nunca jamais coma alguém fruto de ti”, alguns desses espíritos, com o poder de que dispunham, fizeram secar a figueira, assim como nós o faríamos aquecendo o seu tronco.

O centurião, em cuja casa Jesus curou, à distância, um servo que estava paralítico, compreendeu bem o poder de Jesus e por certo sabia dos auxiliares que com Ele agiam, quando disse: “Eu também tenho soldados às linhas ordens, e digo a um: vai ali, e ele vai; a outro: vem cá, e ele vem; ao meu servo: faze isto, e ele o faz.”

Com isso, o centurião teria feito ver a Jesus que conhecia o seu poder, a milícia que o acompanhava e os servos prontos a executarem suas ordens.



[1] Fonte: Livro Parábolas e Ensinos de Jesus – Cairbar Schutel, Gráfica da Casa Editora o Clarim, 1ª Edição - 1928   (Livro em pdf capturado no www.autoresespiritasclassicos.com

PARÁBOLA DA CANDEIA

 

PARÁBOLA DA CANDEIA[1]

 

“Ninguém, depois de acender uma candeia, a cobre com um raso ou a põe debaixo de uma cama; pelo contrário, coloca-a sobre um velador, a fim de que os que entram vejam a luz. Porque não há coisa oculta que não venha a ser manifesta; nem coisa secreta que se não haja de saber e vir à luz. Vede, pois, como ouvis; porque ao que tiver, ser-lhe-á dado; e ao que não tiver, até aquilo que pensa ter, ser-lhe-á tirado.”

(Lucas, VIII, 16-18.)

“E continuou Jesus: Porventura vem a candeia para se pôr debaixo do módio ou debaixo da cama? Não é antes para se colocar no velador? Porque nada está oculto senão para ser manifesto; e nada foi escondido senão para ser divulgado. Se alguém tem ouvidos de ouvir, ouça. Também  lhes disse: Atenta! no que ouvis. A medida de que usais, dessa usarão convosco: e ainda se vos acrescentará. Pois ao que tem, ser-lhe-á dado; e ao que não tem, até aquilo que pensa ter, ser-lhe-á tirado.”

(Marcos, IV, 21-25.)

A Luz é indispensável à vida material e à vida espiritual.

Sem luz não há vida; a vida é luz quer na esfera física, quer na esfera psíquica.

Apague-se o Sol, fonte das luzes materiais; e o mundo deixará incontinente, de existir.

Esconda-se a luz da sabedoria e da Religião sob o módio da má fé ou do preconceito, e a Humanidade não dará mais um passo; ficará estatelada debatendo-se em trevas.

Assim, pois, tão ridículo é acender uma candeia[2] e colocá-la debaixo da cama, como conceber ou receber um novo conhecimento, uma verdade nova e ocultá-los aos nossos semelhantes.

Acresce ainda que; não é tão difícil encontrar o que se escondeu porque “não há coisa oculta que não venha a ser manifesta”. Mais hoje, mais amanhã, um vislumbre de claridade denunciará a existência da candeia que está sob o leito ou sob o módio, e que desapontamento sofrerá o insensato que aí a colocou!

A recomendação feita na parábola é que a luz deve ser posta no velador a fim de que todos a vejam, por ela se iluminem, ou, então, para que essa luz seja julgada de acordo com a sua claridade.

Uma árvore má não pode dar bons frutos”; e o combustível inferior não dá, pela mesma razão, boa luz. Julga-se a árvore pelos frutos e o combustível pela claridade; pela pureza da luz que dá.

A luz do azeite não se compara com a do petróleo, nem esta com a do acetileno; mas todas juntas não se equiparam à eletricidade.

Seja como for, é preciso que a luz esteja no velador, para se distinguir uma da outra. Dar a necessidade do velador.

No sentido espiritual, que é justamente o em que Jesus falava, todos os que receberam a Luz da sua Doutrina precisam mostrá-la, não a esconderem sob o módio do interesse, nem sob o leito da hipocrisia.

Quer seja fraca, média ou forte; ilumine na proporção do azeite, do petróleo, do acetileno ou da eletricidade, o mandamento é: “Que a vossa luz brilhe diante dos homens, para que, vendo as vossas boas obras (que são as irradiações dessa luz) glorifiquem o vosso Pai que está nos Céus.”

Ter luz e não fazê-la iluminar, é colocá-la sob o módio; é o mesmo que não a ter; e aquele que não a tem e pensa ter, até o que parece ter ser-lhe-á tirado. Ao contrário, “aquele que tem, mais lhe será dado”, isto é, aquele que usa o que tem em proveito próprio e de seus semelhantes, mais lhe será dado. A chama de uma vela não diminui, nem se gasta o seu combustível por acender cem velas; ao passo que estando apagada é preciso que alguém a acenda para aproveitar e fazer aproveitar sua luz.

Uma vela acendendo cem velas aumenta a claridade, ao passo que, apagada, mantém as trevas. E como temos obrigação de zelar, não só por nós como pelos nossos semelhantes, incorremos em grande responsabilidade pelo uso da “medida” que fizemos; se damos um dedal não podemos receber um alqueire; se uma oitava não pode contar com um quilo em restituição, e, se nada damos o que havemos de receber?

A luz não pode permanecer sob o módio, nem debaixo da cama. A candeia, embora matéria inerte, nos ensina o que devemos fazer, para que a Palavra do Cristo permaneça em nós, possamos dar muitos frutos e sejamos seus discípulos.

Assim, o fim da luz é iluminar e o do sal é conservar e dar sabor.

Sendo os discípulos de Jesus luz e sal, mister se faz que ensinem, esclareçam, iluminem, ao mesmo tempo que lhes cumpre conservar no ânimo de seus ouvintes, de seus próximos, a santa doutrina do Meigo Rabino, valendo-se para isso do espírito que lhe dá o sabor moral para ingerirem esse pão da vida que verdadeiramente alimenta e sacia.

Assim como a luz que não ilumina e o sal que não conserva, para nada prestam, assim, também, os que se dizem discípulos do Cristo e não cumprem os seus preceitos nem desempenham a tarefa que lhes está confiada, só servem para serem lançados fora da comunhão espiritual e serem pisados pelos homens.

A candeia sob o módio não ilumina; o sal insípido não salga, não conserva, nem dá sabor.



[1] Fonte: Livro Parábolas e Ensinos de Jesus – Cairbar Schutel, Gráfica da Casa Editora o Clarim, 1ª Edição - 1928   (Livro em pdf capturado no www.autoresespiritasclassicos.com

[2] Lâmpada formada por um recipiente, com um bico pelo qual passa a extremidade de um pavio, que se enche com óleo para queimar. https://www.dicio.com.br/candeia/

quinta-feira, 10 de setembro de 2020

CONTIGO MESMO

 CONTIGO MESMO[1]

““...O dever começa precisamente no ponto em que ameaçais a felicidade ou a tranqüilidade do vosso próximo; termina no limite que não gostaríeis de ver ultrapassado em relação a vós mesmos... ”

Evangelho Segundo o Espiritismo – Cap. 17 item 7

Como decifrar o dever?

De que maneira observar o dever íntimo impresso na consciência, diante de tantos deveres sociais, profissionais e afetivos que muitas vezes nos impõem caminhos divergentes?

Efetivamente, nasceste e cresceste apenas para ser único no mundo.

Em lugar algum existe alguém igual a tua maneira de ser; portanto, não podes perder de vista essa verdade, para encontrar o dever que te compete diante da vida.

Teu primordial compromisso é contigo mesmo, e tua tarefa mais importante na Terra, para a qual és o único preparado, é desenvolver tua individualidade no transcorrer de tua longa jornada evolutiva.

A preocupação com os deveres alheios provoca teu distanciamento das próprias responsabilidades, pois não concretizas teus ideais nem deixas que os outros cumpram com suas funções. Não nos referimos aqui à ajuda real, que é sempre importante, mas à intromissão nas competências do próximo, impedindo-o de adquirir autonomia e vida própria.

Assumir deveres dos outros é sabotar os relacionamentos que poderiam ser prósperos e duradouros. Por não compreenderes bem teu interior, é que te comparas aos outros, esquecendo-te de que nenhum de nós está predestinado a receber, ao mesmo tempo, os mesmos ensinamentos e a fazer as mesmas coisas, pois existem inúmeras formas de viver e de evoluir. Lembra-te de que deves importar-te somente com a tua maneira de ser.

Não podemos nos esquecer de que aquele que se compara com os outros acaba se sentindo elevado ou rebaixado. Nunca se dá o devido valor e nunca se conhece verdadeiramente.

Teus empenhos íntimos deverão ser voltados apenas para tua pessoa, e nunca deverás tentar acomodar pontos de vista diversos, porque, além de te perderes, não ajustarás os limites onde começa a ameaça à tua felicidade, ou à felicidade do teu próximo.

Muitos acreditam que seus deveres são corrigir e reprimir as atitudes alheias. Vivem em constantes flutuações existenciais por não saberem esperar o fluxo da vida agir naturalmente.

Asseveram sempre que suas obrigações são em “nome da salvação” e, dessa forma, controlam as coisas ou as forçam acontecer, quando e como querem.

Dizem: “Fazemos isso porque só estamos tentando ajudar”. Forçam eventos, escrevem roteiros, fazem o que for necessário para garantir que os atores e as cenas tenham o desempenho e o desenlace que determinaram e acreditam, insistentemente, que seu dever é salvar almas, não percebendo que só podem salvar a si próprios.

Nosso dever é redescobrir o que é verdadeiro para nós e não esconder nossos sentimentos de qualquer pessoa ou de nós mesmos, mas sim ter liberdade e segurança em nossas relações pessoais, para decidirmos seguir na direção que escolhemos. Não “devemos” ser o que nossos pais ou a sociedade querem nos impor ou definir como melhor. Precisamos compreender que nossos objetivos e finalidades de vida têm valor unicamente para nós; os dos outros, particularmente para eles.

Obrigação pode ser conceituada como sendo o que deveríamos fazer para agradar as pessoas, ou para nos enquadrar no que elas esperam de nós; já o dever é um processo de auscultar a nós mesmos, descortinando nossa estrada interior, para, logo após, materializá-la num processo lento e constante.

Ao decifrarmos nosso real dever, uma sensação de auto-realização toma conta de nossa atmosfera espiritual, e passamos a apreciar os verdadeiros e fundamentais valores da vida, associados a um prazer inexplicável.

Lembremo-nos da afirmação do espírito Lázaro em “O Evangelho Segundo o Espiritismo”: “O dever é a obrigação moral, diante de si mesmo primeiro, e dos outros em seguida”.[2]



[1] Fonte: Livro – Renovando Atitudes – ditado do Espírito Hammed, psicografia de Francisco do Espírito Santo Neto, Boa Nova Editora e Distribuidora, 5.“ edição[2] O Evangelho Segundo o Espiritismo - Capítulo 17º, item 7.

segunda-feira, 7 de setembro de 2020

TEMPOS DA IGNORÂNCIA

 

TEMPOS DA IGNORÂNCIA[1]

“... Muito se pedirá àquele a quem se tiver muito dado, e se fará prestar maiores contas àqueles a quem se tiver confiado mais coisas.

“... Somos nós, pois, também cegos? Jesus lhes respondeu: Se fôsseis cegos, não teríeis pecado; mas agora dizeis que vedes e é por isso que vosso pecado permanece em vós.”

Evangelho Segundo o Espiritismo – Cap. 18, itens 10 A 11

 

Lucas relata em Atos dos Apóstolos a seguinte orientação de Paulo de Tarso: “Deus não leva em conta os tempos da ignorância”[2].  Em outras oportunidades, confirmou também que “muito se pedirá àquele que muito recebeu”[3], quer dizer, o agravamento das faltas é proporcional ao conhecimento que se possui.

Compreendemos, dessa forma, que somos todos nós protegidos pela nossa “ignorância”, pois somente seremos avaliados pela Divina Providência, de conformidade com as possibilidades do “saber” e “sentir”, isto é, segundo a nossa maneira de ver a nós próprios e o mundo que nos rodeia.

As leis espirituais que dirigem a vida são sábias e justas e adaptam-se particularmente a cada criatura, levando em conta suas individualidades.

O eminente psicólogo e pedagogo suíço Jean Piaget, responsável pela teoria de que o desenvolvimento das crianças propicia seu aprendizado, dizia que elas são diferentes entre si, que cada uma tem seu jeito de crescer e de se realizar como indivíduo, e que todos, poderíamos ajudá-las nesse crescimento, porém nunca impondo formas generalizadas e semelhantes.

Piaget ensinava que cada criança pensa e interpreta o mundo com seu peculiar pensamento e com suas possibilidades orgânicas e mentais, quase sempre heterogêneas.

Encontramos no mundo atual; modernos métodos pedagógicos que seguem esse raciocínio, levando em conta que cada indivíduo, para assimilar sua realidade de vida, é portador de um processo psicológico de aprendizagem próprio. Cada um percebe de forma dissemelhante os estímulos da Vida, decodifica-os e em seguida os reelabora, formando assim sua própria individualidade.

Por outro lado, encontramos também na reencarnação a guarida desses métodos de ensino, pois ela se baseia na multiplicidade de experiências ocorridas nos diversos avatares por onde a alma percorre seus caminhos vivenciais, como um ser individual.

As diversidades do nosso tempo de criação, nossas heranças reencarnatórias, experiências emocionais e mentais, ambientes sociais onde ocorrem essas mesmas experiências, estruturas sexuais, masculinas ou femininas, e motivações várias desenvolvidas na atualidade particularizam os seres humanos com vocações, tendências, interesses, grau de raciocínio e discernimento “sui generis”.

Relativos e não generalizados devem ser os modos de ver as coisas e as pessoas. O próprio direito penal classifica e pune os crimes dentro dos padrões do “intencional” ou “doloso”, “passional” ou “ocasional”.

Por que o poder inteligente que nos rege iria julgar-nos sem levar em conta nosso “tempo da ignorância” e nossa relatividade?

Como educar ou avaliar genericamente, usando o mesmo critério, crianças que receberam uma educação cheia de energia e vida, ensinadas a questionar e criar; a ter curiosidade e admiração pela natureza; e outras que só vivenciaram discussões, agressões e comportamentos medíocres por entre odores de bebidas alcoólicas e nicotina, sem uma visão saudável de Deus; ao contrário, temerosa, distorcida, adquirida através da crença de um ser ameaçador e temperamental?

O Amor de Deus programou-nos simples inicialmente para permitir que nos desenvolvêssemos, de forma gradativa, até atingir maiores plenitudes e totalidades.

Temos, pois, que seguir essa programação da Natureza, ou seja, caminhar dentro desse projeto estabelecido pelas leis universais para atingirmos a nossa integração como seres espirituais.

Esse processo evolucional nos mostra que podemos estar um pouco atrás, ou adiante, das criaturas, embora cada uma delas tenha suas características próprias e certas de acordo com sua idade astral.

Nesse decurso evolutivo, todos nós passamos por fases de egoísmo e orgulho até atingirmos mais tarde as grandes virtudes da alma. Consideremos, portanto, que não seremos censurados por estar nessas fases “primitivas”, porque o que chamamos de “defeito” ou “inferioridade” seja, talvez, a passagem por esses ciclos iniciantes onde estagiamos.

Lembremos que essas “fases” ou “ciclos” não foram criados por nós, mas pelos desígnios de Deus, que regem a Natureza como um todo.

Coisas inadequadas que vemos em outras pessoas podem ser naturais nelas, ou mesmo do “tempo da sua ignorância”, e representam características próprias de sua etapa evolucional na estrada por onde todos transitaram, alguns mais avançados e outros na retaguarda.

A vida moderna nos deu raciocínio e reflexão, maturação intelectual e um desenrolar de novas descobertas, ensinando-nos formulações racionais surpreendentes para que melhor pudéssemos compreender os métodos de evolução e progresso em nós mesmos e no Universo.

Não somos responsáveis por aquilo que não sabemos, não sofreremos um castigo por atos ou atitudes que ignoramos.

Talvez essas idéias de punição, alienatórias, sejam os frutos da incapacidade de nossa reflexão sobre a Bondade Divina, O que chamamos de “sofrimento” é simplesmente “resultado” de nossa falta de habilidade para desenvolver as coisas corretamente, pois na vida não existem “prêmios” nem “castigos”, somente as conseqüências dos nossos atos.

Vale, porém, considerar que, à medida que nossa consciência se expande e maior lucidez se faz em nossa mente, maiores serão nossos compromissos perante a existência.

“Se fôsseis cegos, não teríeis pecado; mas agora dizeis que vedes e é por isso que vosso pecado permanece em vós”.[4]

Podemos pretextar ignorância, mas se tivermos consciência de nossos feitos isso sempre será levado em conta.

Avaliemos atentamente: os tesouros da alma que já integramos nos obrigarão a prestar maiores ou menores contas perante a Vida Maior.

 

  

 



[1] Fonte: Livro – Renovando Atitudes – ditado do Espírito Hammed, psicografia de Francisco do Espírito Santo Neto, Boa Nova Editora e Distribuidora, 5.“ edição

[2] Atos 17:30.

[3] Lucas 12:48.

[4] João 9:41.

quinta-feira, 3 de setembro de 2020

SER FELIZ

 

SER FELIZ[1]

“... Assim, pois, aqueles que pregam ser a Terra a única morada do homem, e que só nela, e numa só existência, lhe é permitido atingir o mais alto grau das felicidades que a sua natureza comporta, iludem-se e enganam aqueles que os escutam...”

Evangelho Segundo o Espiritismo – Cap. 05, item 20

As estradas que nos levam à felicidade fazem parte de um método gradual de crescimento íntimo cuja prática só pode ser exercitada pausadamente, pois a verdadeira fórmula da felicidade é a realização de um constante trabalho interior.

Ser feliz não é uma questão de circunstância, de estarmos sozinhos ou acompanhados pelos outros, porém de uma atitude comportamental em face das tarefas a que viemos desempenhar na Terra.

Nosso principal objetivo é progredir espiritualmente e, ao mesmo tempo, tomar consciência de que os momentos felizes ou infelizes de nossa vida são o resultado direto de atitudes distorcidas ou não, vivenciadas ao longo do nosso caminho.

No entanto, por acreditarmos que cabe unicamente a nós a responsabilidade pela felicidade dos outros, acabamos nos esquecendo de nós mesmos. Como conseqüência; não administramos, não dirigimos e não conduzimos nossos próprios passos.

Tomamos como jugo, deveres que não são nossos e assumimos compromissos que pertencem ao livre-arbítrio dos outros. O nosso erro começa quando zelamos pelas outras pessoas e as protegemos, deixando de segurar as rédeas de nossas decisões e de nossos caminhos.

Construímos castelos no ar, sonhamos e sonhamos irrealidades, convertemos em mito a verdade e, por entre ilusões românticas, investimos toda a nossa felicidade em relacionamentos cheios de expectativas coloridas, condenando-nos sempre a decepções crônicas.

Ninguém pode nos fazer felizes ou infelizes, somente nós mesmos é que regemos o nosso destino. Assim sendo, sucessos ou fracassos são subprodutos de nossas atitudes construtivas ou destrutivas.

A destinação do ser humano é ser feliz, pois todos foram criados para desfrutar a felicidade como efetivo patrimônio e direito natural.

O ser psicológico está fadado a uma realização de plena alegria, mas por enquanto a completa satisfação é de poucos, ou seja, somente daqueles que já descobriram que não é necessário compreender como os outros percebem a vida, mas sim como nós a percebemos, conscientizando-nos de que cada criatura tem uma maneira única de ser feliz.

Para sentir as primeiras ondas do gosto de viver, basta aceitar que cada ser humano tem um ponto de vista que é válido, conforme sua idade espiritual.

Para ser feliz basta entender que a felicidade dos outros é também a nossa felicidade, porque todos somos filhos de Deus, estamos todos sob a Proteção Divina e formamos um único rebanho, do qual, conforme as afirmações evangélicas, nenhuma ovelha se perderá.

É sempre fácil demais culparmos um cônjuge, um amigo ou uma situação pela insatisfação de nossa alma, porque pensamos que, se os outros se comportassem de acordo com nossos planos e objetivos, tudo seria invariavelmente perfeito.

Esquecemos, porém, que o controle absoluto sobre as criaturas não nos é vantajoso e nem mesmo possível.

A felicidade dispensa rótulos, e nosso mundo seria mais repleto de momentos agradáveis se olhássemos as pessoas sem limitações preconceituosas, se a nossa forma de pensar ocorresse de modo independente e se avaliássemos cada indivíduo como uma pessoa singular e distinta.

Nossa felicidade baseia-se numa adaptação satisfatória à nossa vida social, familiar, psíquica e espiritual, bem como numa capacidade de ajustamento às diversas situações vivenciais.

Felicidade não é simplesmente a realização de todos os nossos desejos; é antes a noção de que podemos nos satisfazer com nossas reais possibilidades.

Em face de todas essas conjunturas e de outras tantas que não se fizeram objeto de nossa presente reflexões; consideramos que o trabalho interior que produz felicidade não é, obviamente, meta de uma curta etapa, mas um longo processo que levará muitas existências, através da Eternidade, nas muitas moradas da Casa


[1] Fonte: Livro – Renovando Atitudes – ditado do Espírito Hammed, psicografia de Francisco do Espírito Santo Neto, Boa Nova Editora e Distribuidora, 5.“ edição

terça-feira, 1 de setembro de 2020

TUA MEDIDA

 TUA MEDIDA[1]

“Não julgueis, afim de que não sejais julgados, porque vós sereis julgados segundo houverdes julgado os outros, e se servirá para convosco da mesma medida da qual vos servistes para com eles.”

Evangelho Segundo o Espiritismo – Cap. 10, item 11

 

Toda opinião ou juízo que desenvolvemos no presente está intimamente ligado a fatos antecedentes.

Quase sempre, todos estamos vinculados a fatores de situações pretéritas, que incluem atitudes de defesa, negações ou mesmo inúmeras distorções de certos aspectos importantes da vida. Tendências ou pensamentos julgadores estão sedimentados em nossa memória profunda, são subprodutos de uma série de conhecimentos que adquirimos na idade infantil e também através das vivências pregressas.

Censuras, observações, admoestações, superstições, preconceitos, opiniões, informações e influências do meio, inclusive de instituições diversas, formaram em nós um tipo de “reservatório moral” - coleção de regras e preceitos a ser rigorosamente cumpridos -, do qual nos servimos para concluir e catalogar as atitudes em boas ou más.

Nossa concepção ético-moral está baseada na noção adquirida em nossas experiências domésticas, sociais e religiosas, das quais nos servimos para emitir opiniões ou pontos de vista, a fim de harmonizarmos e resguardarmos tudo aquilo em que acreditamos como sendo “verdades absolutas”. Em outras palavras, como forma de defender e proteger nossos “valores sagrados”, isto é, nossas aquisições mais fortes e poderosas, que nos servem como forma de sustentação.

Em razão disso, os freqüentes julgamentos que fazemos em relação às outras pessoas nos informam sobre tudo aquilo que temos por dentro.

Explicando melhor, a “forma” e o “material” utilizado para sentenciar os outros residem dentro de nós.

Melhor do que medir ou apontar o comportamento de alguém seria tomarmos a decisão de visualizar bem fundo nossa intimidade, e nos perguntarmos onde está tudo isso em nós. Os indivíduos podem ser considerados, nesses casos, excelente espelho, no qual veremos quem somos realmente. Ao mesmo tempo, teremos uma ótima oportunidade de nos transformar intimamente, pois estaremos analisando as características gerais de nossos conceitos e atitudes inadequadas.

Só poderemos nos reabilitar ou reformar até onde conseguimos nos perceber; ou seja, aquilo que não está consciente em nós; dificilmente conseguiremos reparar ou modificar.

Quando não enxergamos a nós mesmos, nossos comportamentos perante os outros não são totalmente livres para que possamos fazer escolhas ou emitir opiniões. Estamos amarrados a formas de avaliação, estruturadas nos mecanismos de defesa - processos mentais inconscientes que possibilitam ao indivíduo manter sua integridade psicológica através de uma forma de “auto-engano.”

Certas pessoas, simplesmente por não conseguirem conviver com a verdade, tentam sufocar ou enclausurar seus sentimentos e emoções, disfarçando-os no inconsciente.

Em todo comportamento humano existe uma lógica, isto é, uma maneira particular de raciocinar sobre sua verdade; portanto, julgar, medir e sentenciar os outros, não se levando em conta suas realidades, mesmo sendo consideradas preconceituosas; neuróticas ou psicóticas é não ter bom senso ou racionalidade, pois na vida somente é válido e possível o “auto-julgamento”.

Não obstante, cada ser humano descobre suas próprias formas de encarar a vida e tende a usar suas oportunidades vivenciais, para tornar-se tudo aquilo que o leva a ser um “eu individualizado”.

Devemos reavaliar nossas idéias retrógradas, que estreitam nossa personalidade, e, a partir daí, julgar os indivíduos de forma não generalizada, apreciando suas singularidades, pois cada pessoa tem uma consciência própria e diversificada das outras tantas consciências.

Julgar uma ação é diferente de julgar a criatura. Posso julgar e considerar a prostituição moralmente errada, mas não posso e não devo julgar a pessoa prostituída. Ao usarmos da empatia, colocando-nos no lugar do outro, “sentindo e pensando com ele”, em vez de “pensar a respeito dele”, teremos o comportamento ideal diante dos atos e atitudes das pessoas.

Segundo Paulo de Tarso, “é indesculpável o homem, quem quer que seja, que se arvora em ser juiz. Porque julgando os outros, ele condena a si mesmo, pois praticará as mesmas coisas, atraindo-as para si, com seu julgamento”.

O “Apóstolo dos Gentios” manifesta-se claramente, evidenciando nessa afirmativa que todo comportamento julgador estará, na realidade, estabelecendo não somente uma sentença, ou um veredicto, mas, ao mesmo tempo, um juízo, um valor, um peso e uma medida de como julgaremos a nós mesmos.

Essencialmente, tudo aquilo que decretamos ou sentenciamos tornar-se-á nossa “real medida”: como iremos viver com nós mesmos e com os outros.

O ser humano é um verdadeiro campo magnético, atraindo pessoas e situações, as quais se sintonizam amorosamente com seu mundo mental, ou mesmo de forma antipática com sua maneira de ser. Dessa forma, nossas afirmações prescreverão as águas por onde a embarcação de nossa vida deverá navegar.

Com freqüência, escolhemos, avaliamos e emitimos opiniões e, conseqüentemente, atraímos tudo àquilo que irradiamos. A psicologia diz que uma parte considerável desses pensamentos e experiências, os quais usamos para julgar e emitir pareceres, acontece de modo automático, ou seja, através de mecanismos não perceptíveis. É quase inconsciente para a nossa casa mental o que escolhemos ou opinamos, pois, sem nos dar conta; acreditamos estar usando o nosso “arbítrio”, mas, na verdade, estamos optando por um julgamento predeterminado e estabelecido por “arquivos que registram tudo o que nos ensinaram a respeito do que deveríamos fazer ou não, sobre tudo que é errado ou certo.

Poder-se-á dizer que um comportamento é completamente livre para eleger um conceito eficaz somente quando as decisões não estão confinadas a padrões mentais rígidos e inflexíveis, não estão estruturadas em conceitos preconceituosos e não estão alicerçadas em idéias ou situações semelhantes que foram vivenciadas no passado.

Nossos julgamentos serão sempre os motivos de nossa liberdade ou de nossa prisão no processo de desenvolvimento e crescimento espiritual.

Se criaturas afirmarem “idosos não têm direito ao amor”, limitando o romance só para os jovens, elas estarão condenando-se a uma velhice de descontentamento e solidão afetiva, desprovida de vitalidade.

Se pessoas declararem “homossexualidade é abominável” e, ao longo do tempo, se confrontarem com filhos, netos, parentes e amigos que têm algum impulso homossexual, suas medidas estarão estabelecidas pelo ódio e pela repugnância a esses mesmos entes queridos.

Se indivíduos decretarem “jovens não casam com idosos”, estarão circunscrevendo as afinidades espirituais a faixas etárias e demarcando suas afetividades a padrões bem estreitos e apertados quanto a seus relacionamentos.

Se alguém subestimar e ironizar “o desajuste emocional dos outros”, poderá, em breve tempo, deparar-se em sua própria existência com perplexidades emocionais ou dilemas mentais que o farão esconder-se, a fim de não ser ridicularizado e inferiorizado, como julgou os outros anteriormente.

Se formos juízes da “moral ideológica” e “sentimental”, sentenciando veementemente o que consideramos como “erros alheios”, estaremos nos condenando ao isolamento intelectual, bem como ao afetivo, pela própria detenção que impusemos aos outros, por não deixarmos que eles se lançassem a novas idéias e novas simpatias.

“Não julgueis, a fim de que não sejais julgados”, ou mesmo, “se servirá para convosco da mesma medida da qual vos servistes para com eles”, quer dizer, alertemo-nos quanto a tudo aquilo que afirmamos julgando, pois no “auditório da vida” todos somos “atores” e “escritores” e, ao mesmo tempo, “ouvintes” e “espectadores” de nossos próprios discursos, feitos e atitudes.

Para sermos livres realmente e para nos movermos em qualquer direção com vista à nossa evolução e crescimento como seres eternos; é necessário observarmos e concatenarmos nossos “pesos” e “medidas”, a fim de que não venhamos a sofrer constrangimento pela conduta infeliz que adotarmos na vida em forma de censuras e condenações diversas.



[1] Fonte: Livro – Renovando Atitudes – ditado do Espírito Hammed, psicografia de Francisco do Espírito Santo Neto, Boa Nova Editora e Distribuidora, 5.“ edição